terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O homem sem dinheiro nenhum

Em Portugal, nos últimos dias, depois da notícia de uma rapariga que viveu feliz durante um ano com cerca de mil euros, ouvi falar de um homem que viveu sem dinheiro nenhum durante o mesmo período de tempo. Não consegui perceber se a felicidade era também o seu estado de alma, mas retive que tenciona contar a sua "experiência" em livro...

Procurei mais informação acerca do tal homem e apareceu-me outro, de quem este parece seguir as pisadas: um tal Mark Boyle, com formação em economia e ex-empresário que, qual pecador arrependido, em vez de entrar num mosteiro, "fundou o movimento mundial de Freeconomy". Isto para mostrar que aquilo que é realmente importante na vida distancia-se do vil metal.

Tornou-se escritor e activista, colabora em jornais e revistas de nomeada, tem um blogue e um website, aparece numa entrada da wikipédia, etc. Fundou uma comunidade, a "Freeconomy Community" com milhares de seguidores...

Para solidificar tudo isto, publicou um manifesto rematado com uma forte imagem (ao lado), escreveu um livro, e outro e mais outro... Para a nossa língua está traduzido pelo menos "Um homem sem dinheiro".

Não, não... estes livros não são gratuitos, custam dinheiro... É que mesmo o "homem sem dinheiro" sabe que a moda de contar a "sua própria experiência de vida" tornou-se num bom negócio...

Quando, no mundo ocidental, a maioria das pessoas é arrastada para um estado de pobreza, quando se exterminam os sistemas públicos de saúde, de educação, de justiça a que poderia aceder, estes arrebatados entusiasmos pelo "pé descalço", como o último e incontornável reduto de alegria etérea, ainda que inocentes (admitamos que o seja) podem tornar-se legitimadores das piores medidas políticas (ou de outra natureza...). E, nessa medida, os seus mentores deviam procurar moderação, e confrontar-se com alguma crítica social.

4 comentários:

José Batista disse...

São os que prescindem de dinheiro quando (e porque) nada de fundamental lhes falta. E assim mesmo fazem negócio para angariar algum.
Fossem eles pobres de Portugal e veriam...

augusto kuettner disse...

Sem duvida :

E, nessa medida, os seus mentores deviam procurar moderação, e confrontar-se com alguma crítica social.

Cisfranco disse...

A mim isso não me faz confusão nenhuma. Se querem viver assim que vivam. A que já não sou indiferente é por vezes a forma acrítica e demagógica como apresentam tais notícias, Ao fim e ao cabo isso vende audiências. Não há outra hipótese, gasta quem quer.

Catarina disse...

Claro que nada disto é inocente. Até porque essa «vida feliz sem dinheiro» depende SEMPRE da existência de outras pessoas, muitas outras pessoas, infelizes e com algum dinheiro... Além disso, viver sem dinheiro por opção (e acabar por ganhar uma pipa de massa com isso) é muito diferente de ser roubado descaradamente que é o que nos está a acontecer!

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