"... temos tendência, para nosso próprio conforto metodológico e para atingir
os objetivos "rentáveis" que nos são determinados, a comportarmo-nos como
usurários: é preciso que haja rendimento, e o mais rápido possível!
Eu ensino-lhe uma lição hoje à tarde e você tem que recitá-la amanhã.
Isto, evidentemente, é necessário para criar nas crianças o hábito da regularidade
no trabalho, mas é perfeitamente insuficiente para me dar a garantia de que
essa lição será assimilada e que restará alguma coisa dela em dez anos."
Daniel Pennac. Entrevista da Label France, Abril de 2000.
Mesmo os professores e outros profissionais de educação que legitimamente se preocupam em melhorar o que se faz nas suas escolas, os muitos que se empenham “de alma e coração” para que os alunos aprendam, terão vontade de dizer: Basta de avaliação das instituições!
É esta e mais aquela entidade que usa estes e mais aqueles critérios, que cria esta e mais aquela plataforma informática, que exige estas e mais aquelas evidências, que propõe estas e mais aquelas ponderações e hierarquizações... Isto a multiplicar por várias entidades, todas a exigir...
A escola não serve para promover corridas desenfreadas para se chegar onde (só) essas entidades avaliativas, suportadas pelas mais diversas instituições e operacionalizadas pelos seus próprios órgãos, querem que se chegue.
A escola, para o ser, precisa de um rumo esclarecido, claro e estável. Rumo que solicita de tempo e de paz. O ensino e a aprendizagem, bem como a investigação e os benefícios que dela podem derivar exigem isso: tempo e paz.
Este comentário é a propósito de mais um ranking das universidades. Desta vez, mundial, acarinhado e divulgado pela Comissão Europeia, que se apresenta como um “guia mais completo, aproximado da realidade”, porque “assente em mais factores do que aqueles que habitualmente são considerados nas listas do mesmo género.”
Passo por cima do “mais completo” e do “assente em mais factores” para me interrogar sobre a pretensão de aproximação à realidade: a realidade que aqui está em causa, revelada com base em rankings!?
Sem entrar em exercícios pós-modernos de pensamento, nesta coisa de rankings, a realidade tem significados diversos, que são, pelo menos em parte, construídos, e, pelo menos em parte, dependentes do discurso dos intervenientes. No caso, a famosa interrogação de Paul Watzlawick – “a realidade é real?” – tem razão de ser.
Adianta-se que vão “ser avaliadas a qualidade de investigação, do ensino e da aprendizagem, a orientação internacional, o sucesso obtido na transferência de conhecimento (através da criação de parcerias com empresas, por exemplo) e o envolvimento na região em que as instituições estão inseridas”. Só isto! quando os sistemas de ensino europeus se afundam, quando os alunos do ensino superior deixam de poder pagar propinas, são disponibilizados milhões.
O leitor encontra aqui o artigo da jornalista Graça Barbosa Ribeiro, em que me baseei, com mais pormenores acerca do assunto.
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2 comentários:
Caríssima Professora
Faz tempo que "a realidade deixou de ser real". Anda muita "Cecilia Giménez" (de saias e de calças..)tentando "restaurá-la" com grande zelo, afinco e convicção.
É só dar-lhes crédito e deixá-las actuar. O resultado não lhes faz impressão e o mal que façam atribuem-no inevitavelmente a terceiros.
Por mais que borrem a pintura, que é o que sabem fazer.
Por causas análogas está o nosso país como está: na justiça, na educação, na administração pública e... em tudo o resto.
Como podia ser diferente nas universidades?
A avaliar até pela atitude de alguns que, mais ou menos analfabetos, se dizem diplomados por elas, quer tenham lá andado ou não...
Noutros casos, como se sabe, é a noção de universidade que foi tão afectada tão afectada que só serve para envergonhar o nome daquelas que ainda se podem orgulhar da condição.
Bom, um breve comentário. Nas Universidades há muito trabalho supostamente de "investigação" que pouca aplicação prática terá, em que muitos recursos investidos terão um retorno muito reduzido.
Desde logo, a ligação às empresas. Muito do conhecimento e investigação é de pouca utilidade prática e aplicação nas empresas. Claro que é fundamental a investigação teórica, mas deveria haver, na minha opinião, um maior equilíbrio e cuidado na questão das interfaces entre as universidades (e politécnicos) e a industria.
Outro ponto: os rankings. Há na verdade muitos rankings, as universidades europeias não aparecem praticamente no top 20, sendo as americanas as que obtêm melhor pontuação. Será que isso é mesmo assim? Acho bem que haja um lóbi por parte da UE no sentido de defender as suas instituições, assim como fazem os americanos ou os asiáticos (com os chineses à cabeça). Quem não deve não teme, quanto mais avaliações, melhor.
My 2 cents :)
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