O ano de 1913 foi marcado por inúmeros avanços no conhecimento científico e na tecnologia. Cem anos depois verificamos que essas descobertas permitem-nos compreender melhor o universo. Por exemplo, ao ligarmos qualquer equipamento electrónico estamos a usufruir do avanço no conhecimento sobre a natureza “íntima do átomo” verificado em 1913. De facto, são desse ano três artigos seminais do físico e prémio Nobel dinamarquês Niels Bohr (1-3).
Publicados na revista Philosophical Magazine, é nestes três artigos, sobre a constituição do átomo e das moléculas, que Bohr descreve as suas propostas
para o comportamento do átomo, segundo o modelo atómico proposto em 1911 por
Ernest Rutherford.
O modelo de Bohr propõe que os electrões orbitam o núcleo
atómico em órbitas precisas e que eles libertam ou absorvem quantidades fixas
de energia ao transitarem de uma órbita para outra.
Bohr estende ao universo íntimo do átom a teoria quântica formulada por Max Planck em
1900. Os “quanta” de energia captados ou emitidos nas transições electrónicas são "grãos" de radiação electromagnética (como a luz visível, as
ondas de rádio e as micro-ondas entre outras). Bohr propõe ainda, na alvorada da
física nuclear, que o fenómeno designado por decaimento beta (uma emissão
“espontânea” de um electrão ou positrão por um núcleo de um átomo
instável) é um processo nuclear.
Numa outra área do conhecimento, mais precisamente o da bioquímica, 1913
ficou para a história como o ano em que se identificou uma substância que mais
tarde se designaria por vitamina A, ou retinol.
Recorde-se, a propósito, que 1912 tinha sido marcado pela cunhagem por
Casimir Funk do termo “vitamina” (a amina vital) para o “factor
alimentar acessório” e pela formulação, por Hopkins e Funk, da “hipótese da deficiência vitamínica”, que propunha que a ausência, num dado sistema
orgânico, de quantidades suficientes de uma certa vitamina, poderia levar ao
desenvolvimento de uma determinada doença.
Neste contexto bioquímico, no ano seguinte, o de 1913, é descoberto um “factor
alimentar acessório” solúvel em groduras, importante para o crescimento do rato
(Mus musculus), animal que tinha sido introduzido em 1909 por Little como modelo animal
experimental nos estudos laboratoriais.
Curioso, mas não único na história da ciência, o facto de a descoberta de
ter sido efectuada, de forma independente, por duas equipas de cientistas. Por
um lado, Lafayette
Mendel e Thomas Osborne (4), por outro lado, Elmer McCollum e Marguerite Davis
(5), comunicaram uma observação similar utilizando ratos alimentados com
extractos de gema de ovo e de manteiga.
McCollum e Davis enviaram o artigo com os
resultados para publicação três semanas antes de Mendel e Osborne fazerem o
mesmo. Ainda mais singular, os dois artigos foram publicados no mesmo número (o 15)
do “Journal of Biological Chemistry”! A descoberta foi creditada a McCollum e Davis pelo facto
de o artigo destes ter sido recebido primeiro.
Cem
anos depois, continuamos a estudar o papel da vitamina A como essencial para a
manutenção de um bom estado de saúde. Um dos aspectos mais fulcrais é o de o composto
que dela deriva no nosso organismo (o ácido retinóico) permitir a visão, uma
vez que é a componente funcional de proteínas (rodopsinas) existentes na retina
dos nossos olhos. Excitada pela radiação eletromagnéctica do espetro visível da
luz solar, entendemos o seu funcionamento também pela contribuição de Bohr para a compreensão das transições electrónicas nos átomos e moléculas.
Sem elas o leitor não
estaria a ver este texto.
António
Piedade
Referências
1. Niels Bohr (1913). "On the
Constitution of Atoms and Molecules, Part I". Philosophical
Magazine 26: 1–24.
2. Niels Bohr (1913). "On the
Constitution of Atoms and Molecules, Part II Systems Containing Only a Single
Nucleus". Philosophical Magazine 26 (153):
476–502.
3.
Niels Bohr (1913). "On
the Constitution of Atoms and Molecules, Part III Systems containing several
nuclei". Philosophical Magazine 26: 857–875.
4. Osborne TB, Mendel LB. The relation of growth to the chemical constituents of the diet. J Biol Chem 1913;15:311-326.
5. McCollum EV, Davis M. The necessity of certain lipins in the diet during growth. J Biol Chem 1913;15:167-175.
4 comentários:
Muito bem.
E, afinal, com "jeitinho", até podemos considerar reforçada a afirmação popular que diz que "comer cenouras faz os olhos bonitos"...
A respeito da contribuição humanística, este modelo atômico seria em definitivo o divisor de águas.
Excelente.É interessante observar a evoluçao do modelo de Bohr até o atual modelo.
É claro que podería-mos chegar até, lá. Dizer, seria apenas exemplificar através de fórmula, e convenção, e para elém de muito estudo, ad maxima ciencia. Creio que o papai do céu, ouve-nos.
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