Não se pode pois esperar destas pessoas que saiam do conforto das suas abstracções escolares e juvenis, para o mundo que não cabe num qualquer "trabalho de casa". É por isso que o marxismo vulgar, que, sem saberem, lhes molda o pensamento, os faz falar da crise e da pobreza de forma meramente "infraestrutural": pobreza é fome, é não ter casa, é dormir na rua, é tudo aquilo que exige assistência. A pobreza para eles é apenas grande escassez material e remete para um universo assistencialista, com imagens de sopa dos pobres modernizadas, de IPSS que dão pão, roupa e cobertores, da benemerência severa e moralizadora do Estado apenas para os "mais pobres e necessitados". Tudo o resto é perdulário.
Saliente-se que esta forma de ver a pobreza não é muito diferente da que aparece nas reportagens televisivas, porque o universo de experiência e mentalidade de muitos políticos não difere do dos jornalistas. Andaram 30 anos sem ver um pobre, e agora que se fala deles procuram-no com a força do estereótipo. Um pobre, acham eles, é pouco mais do que um mendigo que não pede, mas que se pode perceber pelo modo, tom, face, roupa, que é pobre. Depois há todo um conjunto de reportagens sobre a "pobreza envergonhada", mas elas são casuísticas e por definição feitas com quem não "se envergonha" da sua pobreza. Na pobreza procuram o espectáculo mediático, nada mais.
Estes pobres do estereótipo aliam a sua pobreza a serem humildes e amochados: não protestam, agradecem. Os pobres que aparecem no imaginário discursivo dos políticos e de jornalistas nunca são os pobres perigosos, não vivem em Setúbal, nem no Cerco do Porto, porque nesses a condição de perigosos oculta a de pobres e estão incluídos numa categoria particular, a dos que não querem trabalhar, ou que são subsídio-dependentes, ou drogados e traficantes, mais as suas famílias, ou que são grupos criminosos oriundo de minorias de que não se pode falar, como os ciganos ou os negros dos subúrbios. Não é que não haja alguma verdade nestas caraterizações, mas elas são mais um ecrã de ocultação do que um conhecimento da realidade.
domingo, 6 de janeiro de 2013
Discurso político-jornalístico
Por sugestão do leitor José Batista, disponibiliza-se um texto de José Pacheco Pereira, intitulado "Os convidados da mesa de Natal dos Portugueses", de onde se retirou o seguinte extracto:
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5 comentários:
Professora Helena Damião;
Os trogloditas da burguesia de que nos fala o Professor Bento de Jesus Caraça ainda existem! e isso é um problema!
Mas, como dizia o Professor “Vivemos no meio de uma realidade que é mais forte do que as construções metafisicas ou as guitarradas ao luar doutros.”
[…] “Poderá perguntar-se, porém, dado que assim é, de facto, e visto que o argumento orçamental não colhe, qual é a razão porque se não dá esse pequeno passo da extensão da gratuidade ao ensino secundário e superior. A razão está simplesmente nisto – na necessidade de conservar, para a classe dos que podem pagar, o monopólio da cultura e consequentemente, da direcção da sociedade.
A isto costuma objectar-se que, pelo sistema de bolsas de estudo, hoje mais ou menos corrente em toda a parte, todo o indivíduo, realmente capaz, pode ascender, venha donde vier, ao mais alto grau de cultura; há mesmo, em todos os países, sempre pronto, um «stock» de exemplos, mais ou menos bastos, de notabilidades, a ilustrar a afirmação. É verdade; esquecem-se, porém, dois pequenos pormenores – o de perguntar quantos valores individuais se têm perdido no anonimato nivelador da incultura; o de verificar quantos, dos que chegaram lá acima, se conservaram fiéis à sua origem e, pelo caminho, se não bandearam, por acção dos vários meios de que o aparelho dispõe, com os interesses dos que mandam. Acresce ainda que os sistemas de bolsas colocam os que as recebem na dependência dos que as dispensam, o que pode levar a arbitrariedades na sua distribuição. O direito à cultura deve ser realmente reconhecido como um direito inerente ao homem, e não como um favor, mais ou menos disfarçado, da administração pública. Razão têm, de sobejo, aqueles trogloditas da burguesia que clamam – a escola será de classe enquanto o rico pagar o ensino que lhe ministram. E a isto pode acrescentar-se – e no dia em que o rico não pagar, isto é, em que for instituída a gratuidade, estará criada uma condição necessária, notem V.Ex.as bem, apenas necessária, para que a Escola deixe de ser de classe.”
Cordialmente,
Professora Helena Damião;
“Esta concepção – a de que cada povo seja governado pelos melhores – implica, para sua completa realização, o aproveitamento de todas as energias e exige, portanto, que todos passem pela fieira da selecção. Isto é, a proposição referente à selecção tem como corolário esta outra - todos devem ser obrigados a frequentar a escola e a ir nela até onde as suas capacidades o permitam e exijam.” [Bento de Jesus Caraça – Escola Única].
Não será para mim uma surpresa se, o senhor Professor José Batista, o senhor Pacheco Pereira, o Senhor Guilherme Valente e mais burgueses (grandes defensores da Escola de Classe) vierem reclamar “que todos devem passar pela fieira da selecção” ... mesmo que estes senhores não defendam o ensino gratuito em todos os níveis - não lhes falta coragem para isso, e não tenha duvidas que o fazem senhora Professora Helena Damião, e exigindo para isso, pasme-se!!! que o povo deve ser governado pelos melhores.
Quanto ao texto do José Pacheco Pereira, o 'post' digo-lhe apenas isto: “Como pode falar de Amor quem nunca amou?”
Cordialmente,
Substimar a plenitude alheia é diminuir-se perante os demais.
Senhora Cláudia da Silva Tomazi;
Fico com a ideia, porventura errada, de que a senhora me pretende dizer alguma coisa e não sabe bem o quê ou sequer como começar !!! mas contudo permita-me apreciar o seu breve comentário, pois que, agora sou eu que tenho algo para lhe dizer.
A senhora diz que “Substimar a plenitude alheia é diminuir-se perante os demais.”.
Ora como a senhora sabe eu não subestimo a plenitude alheia de ninguém, aliás, eu denuncio-a sempre que é preciso, o que é bem diferente.
Denuncio a plenitude do sr. José Manuel Durrão Barroso, do sr. José Pacheco Pereira no que à plenitude de fazer a guerra lhes diz respeito; denuncio a plenitude do sr. Mário Soares que se mostrou solidário com quem deu ordem para lançar a bomba atómica sobre a humanidade, querendo dizer que se fosse ele fazia a mesma coisa... enfim, estou sempre pronto, como a senhora Tomazi pode ver, para denunciar as plenitudes alheias, e não é por isso que fico diminuído, creio, esperando com isso também não ficar diminuído aos seus olhos...
Cordialmente,
De bom grado vosso entusiasmo sr. Idelfonso Dias. E, diga-se da oportunidade que se encerra, creio que concordamos que a humanidade é um expediente nem tórrido mas, agradável.
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