sábado, 19 de maio de 2012

Avaliação: funções e práticas 4 — os riscos (sem limite de palavras) ou "The Rump Steak Strikes Back"

Novo texto do professor António Mouzinho:


É sempre uma boa surpresa passar ao texto «de apoio» seguinte: tal como um programa de televisão que é seguido, religiosamente, por ódio de estimação, assim se abre, a salivar, de olhos fixos, injetados de sangue, e um rosnar cavo — o texto de apoio desconhecido…
Nunca os autores desta forma curiosa de entretenimento que é «Avaliação: funções e práticas» nos deixam desapontados. Vejamos o novo textozinho, intitulado «Explicitação de Critérios — exigência fundamental de uma avaliação ao serviçoda aprendizagem»:
É redigido por dois senhores que não conheço: João Barbosa e Vítor Alaiz, sob coordenação de outro meu desconhecido: Carlos Cardoso. Bem. Como sou gente ignorante, isto não é crítica. É facto.
Avaliação ao serviço da aprendizagem? Muito bem, também.
O conteúdo, agora… e a revelação! Como em casos anteriores, os professores — que nós somos — são tratados como imbecis sem leituras, nem experiência. Bom: começo a perceber que é uma tipologia de abordagem (um paradigma, como diriam alguns que apanharam a Semiologia em 3.ª ou 8.ª geração). Visa, possivelmente, um amasso prévio, no sentido de tornar a matéria mais permeável aos bons fluidos. Como aqueles bifes que levam umas marretadas antes de passar à frigideira.
Depois, começa o discurso peculiar do costume. Cito:
A avaliação escolar tem sido dominada pelo ideal da medição objectiva. Nesta perspectiva pressupõe-se que é possível quantificar com rigor as aprendizagens realizadas. Para tal basta, utilizando rigorosos instrumentos de medida, comparar, no final de um período de aprendizagem, mais ou menos longo, os produtos obtidos pelos alunos (em geral resultados de provas ou de testes de papel e lápis) com os objectivos previamente definidos.
Assim entendida, a avaliação realiza-se apenas em determinados momentos de balanço, é pontual e acaba por constituir um interregno nas actividades de ensino-aprendizagem sem nelas se integrar.
Mas esta perspectiva tem vindo a ser posta em causa, fundamentalmente a partir de duas objecções:
- a de que se preocupa mais com a hierarquização e selecção dos alunos do que com o que eles efectivamente aprendem;
- a de não permitir uma intervenção sistemática no sentido de melhorar as aprendizagens enquanto elas ocorrem (ou não ocorrem).
Tais objecções podem resumir-se numa só: quando orientada pelo paradigma da medida, a avaliação não está ao serviço da aprendizagem.
Pim!, diria o Almada.
Como é de calcular, o discurso segue no mesmo tom, digno de metodólogo de sobrolho franzido para estagiário desmazelado.
Pensei eu (que, sublinho, sou de facto gente ignorante): então e estes senhores, que escreveram isto em 1994, não terão mudado de ideias? Não terão aprendido mais nada? E jogando com Leonor Santos (another playersame paradigm, como diria o poeta da moda), será o Hadji 92 muito melhor, ou pior, que o Hadji 97? E o novo Barca-Velha 2004, virá como?
Será que ninguém que usou estes textos com alguns anitos (penso, porque o de Leonor Santos não vem datado, apenas se tropeçando num Jorro 2000 que nos deixa reverentes) se deu ao trabalho de rever velhos conceitos?
Será que ninguém refrescou ideias sobre Promoção da Aprendizagem Através dos Testes? Será que ninguém ouviu falar de Instrução Direta versus Aprendizagem por Descoberta? Será que alguém se dá ao trabalho de olhar para o lado? Será que alguém com este tipo de atitude está em posição de amassar bifes?
Não quero irritar pessoas com listagens bibliográficas fastidiosas: cito duas pequenas mas sumarentas publicações, e quem quiser que mergulhe nas extensas bibliografias que aí surgem: são algo como resumos de duas conferências da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), de 2011: Em causa: aprender a aprender — Porto: Porto Editora, 2011; O valor do ensino experimental — Porto: Porto Editora, 2011. Interessantíssimas comunicações, entretanto, as de Paula Carneiro, da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa e David Klahr, da Universidade de Carnegie Mellon, cujos temas citei no parágrafo anterior: têm aplicação muito direta a todas as observações precedentes.
Será que os bifes ficam quietos e não ripostam? Ou se fosse filme, seria "The Rumpsteak Strikes Back"?
António Mouzinho
P.S.: Colegas — é verdade, o tema da partilha: eu partilho tudo. E vou de fim de semana…

2 comentários:

José Batista da Ascenção disse...

Caríssimo e Digníssimo Colega António Mouzinho

Pois estou precisamente às voltas com a "coisa" na

formação obrigatória a que o GAVE sujeita os

classificadores (forçados e não pagos) dos exames

nacionais.

Se não morrer desta admito que não morra mais.

As dores? Para quê falar delas?

E estou precisamente a rever o "eduquês em discurso

direto" e as suas passagens mais significativas.

Como vou desatar o nó?

Será que acabo expulso da própria ação?

Medo medo da classificação não tenho - será o que

for e pronto. Até posso deitar o diploma fora...

Mas a alma sangra. E isso dói. Corrói. Mói.

Tritura. Aruína. Desfaz.

Será que o senhor ministro da educação tem

conhecimento?

Há alguma esperança para nós?

Não. Não creio que haja.

Suponho que o texto de Leonor Santos é este:

Santos, L. (2008). Dilemas e desafios da avaliação reguladora. DEFCUL, CIE, DIF,
Projeto AREA. Disponível em
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/msantos/2007.pdf

O dos outros senhores é:

Barbosa, J. e Alaiz, V. (1994). Explicitação de Critérios – exigência fundamental de
uma avaliação ao serviço da aprendizagem. Pensar Avaliação, melhorar a
aprendizagem. IIE. 1994.

José Batista da Ascenção disse...

Lá em cima: Arruína, em vez de "Aruína".

Arruína mesmo.

A sério.

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