quinta-feira, 31 de maio de 2012

Mais danos causados pelo tabaco


Sem Ciência Não Há Futuro


 Veja no link abaixo:

http://peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=CienFut

AS ESCOLAS QUE PRECISAMOS E PORQUE AS NÃO TEMOS


Agora que o "eduquês" volta a assomar, é oportuno transcrever excertos da autoria de E. D. HIRSH, Jr., E. D. do seu  livro "The Schools We Need; And Why We Don't Have Them". New York: Anchor Books, 1996/99:

" "Capacidade de pensamento crítico." A frase implica uma habilidade para analisar ideias e resolver problemas, ao mesmo tempo que se tem uma posição intelectual suficientemente independente e "crítica" relativamente à autoridade de modo a pensar as coisas por si mesmo. É um admirável objectivo educacional para os cidadãos de uma democracia, tendo sido defendida nos Estados Unidos desde o tempo de Jefferson. A capacidade de pensar criticamente é um objectivo que pode ser aceite por todos os teóricos norte-americanos da educação.  Mas é um objectivo que pode facilmente ser demasiado simplificado e transformado em "slogan". Na tradição progressiva que actualmente domina as nossas escolas, "pensamento crítico" veio necessariamente contrabalançar o ensino de "meros factos" que, de acordo com a caricatura dominante, põe alunos encarneirados a absorver esses factos dos compêndios ou de aulas expositivas. O pensamento crítico, por contraste, é associado com a aprendizagem activa e de descoberta, e com a atitude independente e autónoma que é desejável para os cidadãos de uma democracia. Concebido nesta tradição progressivista, o pensamento crítico pertence à concepção de educação como ferramenta formalística, que supõe que uma atitude de espírito crítico, ligada com a capacidade de ler a ideia principal e de integrar as coisas, é a principal componente da capacidade de espírito crítico.  Esta concepção instrumental é, no entanto, um modelo inadequado de pensamento no mundo real. O espírito independente tem sempre como pressuposto a existência de conhecimentos relevantes: uma pessoa não pode pensar criticamente a menos que possua bastantes conhecimentos relevantes acerca do assunto em debate. O pensamento crítico não consiste meramente em dar uma opinião. A oposição entre "pensamento crítico" e "simples factos" é um profundo erro empírico. O senso comum e a psicologia cognitiva sustentam o ponto de vista jeffersoniano de que o pensamento crítico depende sempre dos conhecimentos factuais.» (p.247).

" "Ensino centrado na criança", ou "escola centrada no estudante", para abranger níveis de escolaridade maiores. A expressão é a autodescrição da educação progressiva, tal como vem em "A Escola Centrada na Criança" de Rugg ("The Child-Centered School", 1928). A ideia é resumida na frase "ensine-se a criança, e não a matéria". A oposição entre ensino centrado na criança e ensino centrado na matéria implica que o ensino com foco na matéria tende a ignorar os sentimentos, os interesses e a individualidade da criança. Os progressivistas descrevem a instrução centrada no assunto como consistindo num formato de lições recitativas, escuta passiva, prática sem pensar e aprendizagem rotineira, e dirigida apenas para problemas académicos que não têm um interesse intrínseco para a criança.  A oposição entre matéria e criança implica que a tónica na primeira equivale a uma escolaridade desumana e ineficaz. Este quadro não passa de uma caricatura. A observação mostrou, pelo contrário, que as crianças estão mais interessadas num bom ensino de matéria programática do que num ensino de orientação afectiva centrado no aluno. A posição contra a matéria programática é essencialmente anti-intelectual. A dicotomia entre matéria e criança tem com excessiva frequência resultado no insucesso a ensinar às crianças as matérias e competências de que elas precisam. Um tal desaire não pode, sob nenhuma forma rigorosa de linguagem, ser descrito como "centrado na criança".» (p.244-245).

"Aprendizagem por descoberta". Refere-se ao método de ensino que monta projectos ou co0loca problemas tais que os estudantes conseguem descobrir o conhecimento sozinhos, por meio de experiências práticas e resolução de problemas, mais do que através de manuais e lições. Os progressivistas fizeram desse ensino a principal ou mesmo exclusiva forma de ensino a começar pelo "método de projecto" . É inquestionável que a aprendizagem pela descoberta, feita pelo próprio e exigindo muito tempo e esforço,  é mais capaz de ser retida do que o conhecimento passado verbalmente. É também verdade que o conhecimento  adquirido num contexto realista como parte de um esforço para resolver um problema será provavelmente conhecimento bem compreendido e integrado. Sem dúvida que a aprendizagem por descoberta é um método efectivo - mas só quando funciona. Há duas contrariedades de peso à confiança preponderante ou exclusiva neste método. Em primeiro lugar, nem sempre os estudantes fazem sozinhos as descobertas que alguém julga que iriam fazer; de facto, por vezes fazem "descobertas" erradas. Portanto, é essencial seguir os estudantes para verificar se o objectivo desejado foi atingido e, se não, para o atingir por métodos directos. Em segundo lugar, a aprendizagem pela descoberta revelou-se muito ineficiente. Não só os estudantes não conseguem por vezes ganhar os conhecimentos e competências que se esperava que ganhassem, mas também não chegam lá suficientemente depressa. A pesquisa sobre métodos de ensino tem mostrado consistentemente que a aprendizagem por descoberta é o método menos eficaz de instrução no reportório do professor.» (Id., p.250).

" "Aprendizagem holística". Uma termos para a aprendizagem na sala de aula organizada em torno de problemas integrados, semelhantes aos que existem na vida real projectos em vez de ser em torno de disciplinas ligadas a matérias padrão. A aprendizagem holística da matemática, por exemplo, integra-a com situações da vida do dia a dia e com assuntos de outras disciplinas. Entre as vantagens esperadas da aprendizagem holística estão: 1) maior motivação das crianças baseada no facto de elas conseguirem ver a relevância das aprendizagens, que são parte de contextos maiores ou mais realistas, e 2) um meio mais natural de aprendizagem tal como aqueles que podem ser ganhos da própria experiência de vida.  A organização holística do ensino é muits vezes combinada com a "aprendizagem pela descoberta". A "aprendizagem holística" tem essencialmente o mesmo significado que a "aprendizagem temática" e o "método de projecto". Não se limita, porém, a projectos ao estilo progressivista. A aprendizagem holística. contextualizada tem sido sempre uma parte da instrução baseada em disiciplinas padrão, como acontece quando a história americana é combinada com a arte americana para fornecer um sentimento mais nítido do passado. O uso exclusivo de métodos holísticos ou naturalistas revelou-se menos efectivo do que apenas o seu uso esparso no quadro de pedagogias mais focadas e dirigidas a objectivos. Tal como a maior parte dos métodos progressivistas, não é a técnica em si, mas o seu uso indiscriminado, confiando que os métodos naturalistas levam automaticamente a melhores resultados, que tornou ineficaz maior parte do ensino holístico.» (p.254).

TRÊS ANOS DE “AS ARTES ENTRE AS LETRAS”


Meu artigo que acaba de sair no número de aniversário de "As Artes entre as Letras":

O tempo tem muita pressa. Foi o que pensei quando recebi o convite da Nassalete Miranda para a festa do 3.º aniversário do jornal cultural As Artes Entre As Letras. Ainda outro dia assistíamos, com a saída do número um, ao parto, e já temos a criança, desenvolta, no jardim de infância, qualquer dia a entrar para a escola. Está a crescer e a aparecer. Precisa, claro, de mais alimentação e mimos, mas vai crescer ainda mais.

Tão pouco tempo volvido e já As Artes Entre as Letras ganhou um lugar destacado no nosso panorama cultural, um lugar que é reconhecido por todos que o têm visto crescer e aparecer. Como, afinal, as publicações crescem bem mais rapidamente do que as pessoas, o jornal pode já ser considerado adulto, pelo lugar que alcançou no espaço público. Hoje não se pode ter uma ideia do que é a cultura portuguesa, especialmente a norte, sem o ler com a devida atenção. É um jornal que reflecte a cultura e faz cultura, verdadeiramente imprescindível num tempo de crise.

A cultura é vista pelo jornal no seu sentido mais amplo, que é o único que hoje faz sentido. As artes em geral mas também as ciências são parte da “cultura humana” (a expressão, título de um livro do filósofo espanhol Jesús Mosterín, parece pleonástica, mas reflecte o moderno conhecimento científico de que outros seres vivos, com quem partilhamos muitos genes, são capazes de manifestações culturais). Na sociedade humana contemporânea, bem mais do que na sociedade pretérita, artes e ciências convivem, informando-se e enriquecendo-se mutuamente. Longe vamos dos tempos da polémica das “duas culturas” do literato e cientista C. P. Snow. Ao contrário do que essa refrega sugeria, a cultura humana não são duas, mas uma só. Apesar da pluralidade das suas formas, a origem e o destinatário dela é sempre o ser humano. Foram as artes e as ciências que ajudaram o homo a ficar sapiens. O dramaturgo e poeta romano Terêncio não perdeu actualidade: Sou homem pois nada do que é humano me é estranho. Por outro lado, tem-se alargado a ideia de que sentidos e sentimentos estéticos estão no âmago não só das obras artísticas mas também das obras científicas: Na ciência, reconhece-se muitas vezes o verdadeiro apenas porque é belo.

Parabéns à Nassalete Miranda, que tem liderado a equipa que tem feito crescer o jornal. Parabéns a todos os colaboradores. Eu próprio, que, por férias sabáticas, tenho andado arredio da colaboração regular, prometo voltar em breve, para ajudar a promover o convívio entre as artes e as ciências.

31 de maio: Dia mundial sem tabaco


quarta-feira, 30 de maio de 2012

NATURAL LAW: CATHOLIC INSTITUTIONS SUE THE OBAMA ADMINISTRATION

 
Do WHAT’S NEW,  de Robert L. Park, 30 May 2012   

"The lawsuit argues that the Obama healthcare plan violates the religious  freedom of Catholic institutions by requiring them to cover the contraception costs of employees.  In the eyes of the Church, artificial contraception violates the doctrine of Natural Law.  If sexual intercourse cannot lead to procreation it removes the sovereignty of God over Creation. Try thinking that through while having sex. What are the odds of the Church winning its suit?  The Church hasn't won a case based on Natural Law since 1633 when the Inquisition forced Galileo to recant his belief in a heliocentric universe."

ENTREVISTA DE CARLOS FIOLHAIS SOBRE COIMBRA

Transcrevo, ligeiramente encurtada, uma entrevista que dei a 24 de Março de 2011, na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, a Nádia Costa, estudante de Design Gráfico que acaba de concluir o seu Mestrado com um belo livro sobre Coimbra:

 P- O que é para si Coimbra? 

R- Coimbra é o sítio onde vivo, é uma cidade agradável para viver. Não é muito grande, não é muito pequena, tem o tamanho certo. Coimbra começa por ser, para mim e para muita gente, a Universidade. A colina principal está coroada pela Universidade. Uma inscrição em latim, por cima da porta da Biblioteca Joanina diz: “Esta Biblioteca coroa a fronte da cidade”. Coimbra tem.portanto, no seu sítio mais alto (outras cidades têm um castelo, Coimbra já teve), a Universidade, com a Joanina e a Torre como marcas distintivas. Uma pessoa vem de longe e vê o casario com a Joanina e a Torre.

Coimbra não é a cidade onde nasci, pois nasci em Lisboa, na Maternidade Alfredo da Costa, uma verdadeira “fábrica de portugueses”. Mas, com sete anos, vim para Coimbra acompanhando os meus pais. Não me perguntaram, mas acho que fizeram bem. Estudei aqui na escola primária, no liceu e na universidade. Depois estive na Alemanha quase quatro anos, e depois também nos Estados Unidos, um ano. Fora isso tenho meio século de Coimbra. Coimbra é bem mais antiga, mas comigo tem meio século.

É uma cidade que, de certo modo,  representa o país. O país é agradável para viver, tal como a cidade, apesar dos problemas que encontramos. Encontramo-los no país e encontramo-los aqui. Coimbra é uma espécie de “Portugal em pequenino”; tem o melhor e o pior de Portugal. A Universidade é, de certo, uma das coisas muito boas da cidade. Há  sítios da universidade que são de excelência até a nível, não apenas nacional mas também internacional. Mas não é preciso sair da cidade, para encontrar ilhas de pobreza. O nosso país é, infelizmente, assim, um país de grandes contrastes.

Encontramos aqui alguns edifícios muito bem recuperados, como a Torre, que está bonita, e encontramos edifícios a cair aos bocados. Portugal é assim: capaz do melhor e do pior, os dois ao lado um do outro. Em Coimbra existem monumentos bem conservados, como por exemplo, além da Torre, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, mas também há outros mal conservados, por exemplo Santa Clara-a-Nova. A Santa aqui está ao contrário, a Velha está Nova e a Nova está Velha... Em Coimbra há o Museu da Ciência, que já ganhou um prémio europeu, mas há também, quase ao pé, o Museu Académico, que está fechado ou quase. Coimbra tem o Jardim Botânico, um sitio excelente, mas muito perto tem o Parque de Santa Cruz, ao abandono. Coimbra tem partes de médico e partes de monstro…


Por falar de medicina, Coimbra é um sítio avançado na saúde, área em que oferece serviços de primeira qualidade, mas é também um sítio onde, por vezes, queremos tirar um simples radiografia e demoramos horas. Coimbra é capaz do melhor e do pior, tal como o país.

P- Coimbra é então o reflexo do país?

R-Sim. Aliás, já foi capital do país quando os cristãos vieram do norte para o sul. O actual Paço das Escolas, na primeira dinastia, foi  a casa de vários reis. Há uma centralidade de Coimbra que é histórica, para além de geográfica. Coimbra é, de algum modo, o centro do centro. Nem é litoral, nem interior. Nem é planície, nem é montanha. Situa-se onde acaba a planície e começa a montanha. Em meia hora podemos estar na praia ou na serra. É curioso que do ponto de vista da paisagem natural natural haja em Portugal grande variedade e Coimbra proporcione imediatamente essa variedade.


P- Pode dar exemplos dos problemas da cidade?

R- Falei da centralidade da Universidade. Mas esta, por vezes, e nem sempre a culpa é dela, actualmente até pouca culpa é dela, tem-se ligado mal com a cidade. Sempre houve esta separação entre os doutores  e os futricas. Uma das coisas que sempre me impressionou é que uma pessoa, mal fique licenciada, ou mesmo antes, já seja chamada de doutora. Esta estratificação social é nítida em Coimbra e conduz a uma separação até do ponto de vista futebolístico. A Académica é a equipa dos doutores, embora agora já não tanto, e o União de Coimbra é a equipa dos futricas. Coimbra só poderia melhorar se se entrosasse mais, se conseguisse esbater os contrastes sociais. Por outras palavras, temos um presidente da câmara, que toma em princípio conta da cidade, e temos um reitor, que gere uma cidade à parte. O reitor governa uma mini-cidade de muitos professores, funcionários e, sobretudo, estudantes, ao todo cerca de 23.000 pessoas numa cidade de 100.000 habitantes. Um quarto da cidade está na Universidade. A capacidade que a Universidade tem de mobilização de pessoas de fora, principalmente de jovens, devia ser uma força transformadora, criativ, da cidade, mas isso não se nota muito. As cidades actuais transformam-se não tanto por construir por fazer um prédio mais alto mas por serem capazes de mostrar ambição no domínio cultural, de exibirem a sua diferença no plano cultural. Por serem diferentes são sítios onde apetece ir. A A1 tem uma placa que diz “cidade do conhecimento”. É melhor que “cidade museu”, como estava antes, mas acho que talvez devesse dizer “cidade da ciência e da cultura”. Era por aí que Coimbra devia marcar a diferença.

P- E não marca?

R- Sim, há coisas em que marca. Temos aqui, por exemplo, um centro de neurociências e biologia celular: temos uma incubadora de empresas ligada à universidade, o Instituto Pedro Nunes, que é uma das melhoresa nível mundial; temos empresas ligadas ao software, absolutamente extraordinárias como a Critical Software; temos um supercomputador, a "Milipeia", que é o maior do país; temos uma série de coisas muito boas na ciência. Naquilo que depende mais da Universidade, como a ciência, vemos um certo avanço. Na cultura, área em que deveria haver um caminhar conjunto entre a Universidade e a cidade, a ligação não se vê. A capacidade de transformação que os estudantes têm, a criatividade que neles reside, não são aproveitadas da melhor maneira. Há várias iniciativas até, mas não há uma “movida cultural” em Coimbra. E  a responsabilidade é muito mais da cidade, que está encolhida, sem projecto cultural, do que da Universidade, que tem crescido nesta área. A Universidade, apesar de tudo, ainda é o sítio onde se vão fazendo coisas bastante interessantes. Na Associação Académica há grupos que promovem as mais variadas actividades culturais, um trabalho que acaba por não ter a caixa de ressonância que devia ser a cidade. Vemos grupos de teatro com pequenos públicos, que não conseguem fazer coisas que chamem pessoas de fora; há bons espectáculos que não têm, porém, a dimensão e o impacto para trazer gente de fora. Coimbra devia ser bastante mais exigente para consigo no domínio da cultura.

P- Pode dar-me exemplos de problemas da cidade?

R- O Estádio Municipal de Coimbra é um verdadeiro monstro. A câmara municipal está endividada até ao pescoço por ter feito uma aposta completamente errada no estádio. E os responsáveis não são punidos pela opinião pública. Parece que toda a gente acha bem que se tenha feito um estádio de 30.000 pessoas onde só vão 3000, se forem. Isso devia ter uma solução. Estamos todos a pagar uma coisa que não serve praticamente para nada. Qualquer solução seria melhor do que manter aquele OVNI, uma estrutura gigante que pousou naquele sítio da cidade e que não há meio de levantar voo e ir para o sítio extraterrestre de onde veio. É feiíssimo, desfigurou a maior praça da cidade em favor de um centro comercial.  Um outro caso é a penitenciária de Coimbra. Tem mais de cem anos e as condições são absolutamente desumanas. Hoje em dia, as prisões não se fazem no meio das cidades. São necessárias, mas não no meio de uma zona verde, entre o Parque de Santa Cruz e o Jardim Botânico. Se aquela prisão desaparecesse, o que é muito fácil, tínhamos ali um um parque verde excelente. Uma parte do edifício podia-se até aproveitar. Eu propus que se fizesse uma Casa do Conhecimento. Mas só vejo pequena política. Nunca se poderá mudar aquilo se não houver uma ideia e uma vontade política forte. E estes são apenas dois exemplos, o estádio e a penitenciária, de cancros da cidade. 

P- Coimbra tem cancros?

R- Sim, eu nunca fui à penitenciária, até porque nunca fui preso, e não vou ao estádio, para não contribuir para o desatino, mas os dois estão à vista de todos. Por outro lado, a construção do Centro Comercial Fórum é inenarrável. Há uma torre que  macaqueia a torre da universidade. É um sítio que podia jogar com a paisagem da margem esquerda de Coimbra, mas que a destruiu. Outro sítio que não está bem é a Rua da Sofia, que já foi uma rua nobre. Estão aí algumas igrejas e colégios do tempo em que D. João III trouxe a Universidade para Coimbra, mas está tudo semi-abandonado. O trânsito não faz sentido, a rua devia ser entregue aos peões. A Baixa tem um casario algo decrépito, agravado agora por terem feito um buraco para o metro passar e não se saber se o metro vai ou não passar por esse buraco. Provavelmente, com a crise, não haverá metro nenhum e, portanto, ficará o buraco. A Alta também tem prédios que estão a cair e dever-se-ia actuar. Bem sei que é mais fácil de dizer do que de fazer, mas as cidades históricas têm de cuidar do seu património. Oxalá a candidatura à UNESCO proporcione uma transformação. Já começou a haver na Universidade. Mas, lá está, a separação entre Universidade e cidade: falta o resto. A cidade praticamente não entrou na candidatura. A Sé Velha não deveria também ser parte do património mundial?

P- O que se podia fazer na Baixa?

R-  Se for a uma praça chamada do Arnado, não encontra a dita Praça, mas sim um bloco preto com o tamanho da praça. Isso visto da Torre parece inacreditável. Nunca foi demolido, não sei porquê. Pode-se dizer: foi no tempo do PREC que deixaram construir aquilo. Pois foi, mas uma coisa que deixaram fazer agora, e não há PREC nenhum, foi as Torres do Mondego, que estragaram o postal ilustrado que era a vista de Coimbra de Santa Clara. Faz sombra sobre o pavilhão de Hannover do Siza Vieira e do Souto Moura. As obras estão embargadas, mas o Parque Verde, que foi bem recuperado, com uma ponte pedonal emblemática, está ensombrado por aquela mini-Manhattan, entalada entre uma via-férrea e um rio. O objectivo é o lucro e não a qualidade de vida. Outro cancro!

A Estação Velha não tem ponta por onde se lhe pegue. Qualquer cidade  tem uma estação de comboios melhor do que aquela. Passa-se por cima da linha, o estacionamento é inapropriado, as bichas de táxi são inefáveis. Isso é uma coisa que está tal  e qual como no século XIX, parece um museu ferroviário. Em equipamentos públicos, Coimbra parece não saber que uma cidade tem de ter uma estação ferroviária, um tribunal, etc.

P- E a Alta?

R- O Estado Novo fez algo muito criticável. As obras na Alta arrasaram uma cidade medieval, para fazerem prédios mussolínicos. Enfim, está feito, está feito, mas se me tivessem perguntado teria recomendado algo um bocadinho diferente. Das reconstruções recentes, a do Museu da Ciência está muito bem feita. Temos coisas pelas quais vale a pena vir a Coimbra, e que deveríamos publicitar mais. À Biblioteca Joanina vem muita gente, mas pode vir mais. Podemos projectar o Museu da Ciência e a Biblioteca Joanina ainda mais, reforçando o circuito turístico. A cidade sempre foi uma cidade de ciência e sempre foi uma cidade do livro, de editores, autores, livrarias e bibliotecas.  O Museu Nacional Machado de Castro, ao lado, está fechado há demasiado tempo. Deveria também ser mais ligado ao resto. O potencial que aqui existe é incrível. Perto do rio, Santa Clara-a-Velha e a Quinta das Lágrimas são dois dos bons sítios de Coimbra.  

P-  Coimbra pode ser considerada uma cidade de lutas?

R- Sim. Coimbra tem alguma tradição nesse aspecto. A juventude que habita a universidade é irreverente, lutadora. A Geração de 70 quis mudar o país sem o ter conseguido: Antero Quental, Eça de Queirós, etc. Mas mais tarde, chamaram-se “Vencidos da Vida”. Queriam tornar Portugal mais europeu, na altura o modelo era França, iam à Estação Velha buscar caixotes de livros franceses. Depois veio a República e a Universidade levou uma reforma grande, passou a ter concorrência. Acabou a Faculdade de Teologia e criou-se a de Letras. Alguns dos políticos da 1.ª República foram professores aqui. No Estado Novo, Coimbra esteve muito ligada a figuras do regime. Salazar foi aqui professor e Coimbra ficou com essa marca. Mas houve, em 1969, uma revolta estudantil que, de facto, foi premonitória do 25 de Abril  que ocorreu cinco anos depois. O 25 de Abril também passou por aqui, como é evidente. Eu lembro-me bem disso, pois era estudante na altura. Hoje em dia, os movimentos estudantis não me parecem nem grandes nem ambiciosos. Os estudantes teriam porventura mais razões para se revoltarem do que julgam. A chamada Geração à Rasca, expressando descontentamento por causa do trabalho precário e do desemprego, fez grandes manifestações em Lisboa e Porto, mas em Coimbra quase não houve nada.

 P- Os estudantes, hoje em dia, não estão a actuar como seria de esperar?

R- Os estudantes de Coimbra têm uma coisa muito boa:  estarem reunidos na Associação Académica, que representa todos os estudantes, e que é  a maior do país e  uma das mais antigas do mundo. Acho que, se a Associação Académica quisesse, muita coisa poderia mudar, até ao nível do funcionamento da universidade e da cidade, coisas concretas que têm a ver com a vida dos estudantes. Mas parece que muitos se preocupam mais com o fado e a festa.

P- Vê Coimbra a cores ou a preto e branco? 

R- Há zonas a preto e branco e outras a cores. Tem sítios a preto e branco, que é preciso colorir. E tem sítios a cores onde é preciso não borrar a pintura. Há a hipótese de fazer um excelente quadro. A localização, o tamanho, os meios, por exemplo, bibliotecas, laboratórios, de serviços, etc. são magníficos. O objectivo de Coimbra poderia ser emular Cambridge, uma cidade tranquila para estudar, mas também um sítio de grande progresso. Cambridge é um sítio efervescente, com indústria de software,  biotecnologia,  coisas que Coimbra já começou a ter. Eu sou optimista e estou em crer que o quadro, daqui por uns tempos, vai melhorar, o país todo vai melhorar. Não me preocupa tanto o que falta fazer, preocupa-me, isso sim, não haver planos para fazer. O bloqueio da vontade é o pior dos bloqueios. Mas tem bom remédio.

Conferências de Quartzo Hialino

Informação chegada ao De Rerum Natura.


ORQUESTRAS DE SOPROS E DE CORDAS

Informação chegada ao De Rerum Natura.



A FECHAR O CICLO “SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA”, DAS QUINTAS DO CONSERVATÓRIO, FICAMOS HONROSAMENTE EM CASA, COM A APRESENTAÇÃO DAS JOVENS E ENTUSIASMANTES ORQUESTRAS DE SOPROS E DE CORDAS COMPOSTAS POR ALUNOS DA ESCOLA DE MÚSICA DE COIMBRA. 

Bilhetes à venda no Conservatório de Música de Coimbra:
3.ª e 4.ª feira – 18h00 - 20h00 / 5.ª – a partir das 16h00.

Preço dos bilhetes:
3,00 € / 2,00 € 
(sócios A2C2; estudantes E.S. Quinta das Flores e Conservatório de Música de Coimbra).

segunda-feira, 28 de maio de 2012

"Eis a minha religião" (Abraham Lincoln)


Frase de Abraham Lincoln.

"A PROFESSORA, OS PORCOS E OS CISNES"


PONTO FINAL NO "EDUQUÊS"?

Um caso recentemente tratado (dois textos de António Mouzinho e carta aberta aom ministro de Maria da Graça Martins) de uma erupção do "eduquês" no Ministério da Educação e Ciência foi, aparentemente, resolvido através deste comunicado do GAVE:
 

"Considerando que os textos apresentados nesta formação têm uma orientação marcada por conceções de avaliação muito particulares, não refletindo a diversidade de conceções sobre a avaliação mais recentes, e atendendo ainda ao facto de não implicarem qualquer orientação do GAVE no sentido da adoção de práticas únicas em matéria de avaliação escolar, a apreciação crítica que se propõe como uma das tarefas que integram o relatório final não terá de traduzir as ideias expressas nos referidos textos.

Esta apreciação passa a ser facultativa, privilegiando ou devendo privilegiar, caso já tenha sido ou ainda venha a ser realizada, a diversidade de pontos de vista expressos pelos professores no fórum, reveladores de posicionamentos críticos distintos dos expressos na referida documentação.

Adicionalmente, ou em alternativa, o relatório final, a apresentar até ao dia 14 de setembro, pode privilegiar reflexões pessoais que se centrem em intervenções que, no contexto da sala de aula, possam contribuir para uma efetiva melhoria da aprendizagem dos alunos e, consequentemente, sustentar melhores resultados na avaliação externa, assegurando a manutenção de padrões de exigência adequados.

Mais se informa que os descritores apresentados para a classificação da apreciação crítica serão reformulados e brevemente enviados a todos os formadores, para que deles deem conhecimento aos seus formandos."

DO AVESSO

Meu retrato "do avesso" feito pela jornalista Carina Fonseca e saído ontem  na revista "Notícias Magazine", que acompanha o DN e o JN


Professor catedrático no Departamento de Física da Universidade de Coimbra, Carlos Fiolhais, de 55 anos, mantém o seu papel de divulgador da ciência. “Gosto de dar a ciência às pessoas, de lhes dizer que a ciência é bela, não é aquela senhora feia que alguns julgam que é, com a qual não se pode ter uma relação”.

PESSOAL
Ano de nascimento 1956
Naturalidade Lisboa
Residência actual Coimbra
Estado civil Casado
Liceu D. João III, em Coimbra (actual José Falcão)
Formação Física, licenciatura em Coimbra e doutoramento em Frankfurt
Primeiro trabalhoAos 18 anos, como monitor, ajudando nos trabalhos de laboratório”
Em criança queria ser...Físico nuclear, por causa dos mistérios do núcleo atómico. E fui.”
Se não fosse físico… Seria escritor
Defeito Dispersão
Na mochila Um Molleskin
Mania Responder a tudo e a todos

VIDA PROFISSIONAL
Quem o inspirou  Os pais, Rómulo de Carvalho e Einstein.
Trabalhos de que mais se orgulha Um artigo científico que teve cerca de 10 mil citações, o mais citado de um autor português.

VIDA MUNDANA
Gadget iPhone
Relógio Tommy Hilfiger, comprado num avião. Está parado por falta de pilha
Perfume Hugo Boss
Cabeleireiro Ilídio Design, em Coimbra
Cores Sou daltónico
Roupa  Não liga muito.
Calçado Sapatos de vela
Lojas Livrarias e quiosques.
Extravagância “Já me tem acontecido comprar livros que já tinha”

MESA
Restaurantes Casa de Pasto Dona Especiaria, do Chef Gil, em Coimbra. E a Taberna, idem
Prato preferido Cozido à portuguesa
Sobremesa Arroz-doce
Bebidas Tintos da Bairrada

GOSTOS
Cientistas Albert Einstein e Carl Sagan
Música Clássica (Bach, Carlos Seixas, Gershwin, Kurt Weill) e Jazz (Ella Fitzgerald, Louis Armstrong, Mário Laginha)
O que anda a ouvir António Pinho Vargas, Prémio Universidade de Coimbra  
O que anda a ler Matemática em Portugal , de Jorge Buescu, da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Galileu na Prisão, de Ronald Numbers (editor), da Gradiva. The Swerve How the Renaissance began,  de Stephen Greenblatt
Escritores Eça de Queirós, Fernando Pessoa, Luiz Pacheco, Gonçalo M. Tavares e António Lobo Antunes
Designer de moda A sobrinha Mafalda, que estuda Design de Moda em Guimarães
Fotógrafos Helmut Newton e Jan Saudek
Arquitecto João Mendes Ribeiro

CINEMA
Filme de vida 2001: Odisseia no espaço
Realizadores Stanley Kubrick e Woody Allen
Actrizes Rachel Weisz e Scarlett Johansson

TEMPOS LIVRES
Hobbies Ler e viajar (mais para Norte do que para Sul)
Viagem de sonho Noruega
Desporto Pedestrianismo (“Fui espeleólogo em tempos idos”)
Clube  Académica de Coimbra

LUGARES
CidadesCoimbra, Lisboa, Frankfurt e New Orleans, one vivi. Mas gosto também de Madrid, Londres e Estocolmo”
Hotéis “Estive há pouco no Eurostars Rio Douro, em Castelo de Paiva, com vistas para o rio e marina fluvial. E, por falar em vistas, já estive no Grand Hyatt de Hong Kong
Jardim Botânico, em Coimbra.
Café do Museu da Ciência, em Coimbra
Praia Gala, na Figueira da Foz

MEDIA
Televisão “Substituí pela Net”
Série The Big Bang Theory
Rádios TSF e Antena 2
Jornais portugueses Público e Sol
Revistas “Todas as de divulgação científica. Dou-as ao Centro Ciência Viva Rómulo de Carvalho”
Blogue “O meu, De Rerum Natura

Foto - nos anos 90 na China (foi uma das publicadas) 

domingo, 27 de maio de 2012

Células-tronco do sangue do cordão umbilical?

Em meio à expectativa pela chegada do bebê, os pais hoje costumam se ver diante de um dilema: congelar ou não as células-tronco do sangue do cordão umbilical do recém-nascido?

O procedimento, que ocorre ainda na sala de parto, pode ser feito de duas formas: por meio de uma empresa privada, para uso exclusivo do bebê, ou através de um banco público. Neste caso, o material fica disponível para qualquer paciente que dele necessite. Apesar de alguns bancos privados argumentarem que aquele punhado de células funcionará como um seguro-saúde caso o recém-nascido venha a sofrer, no futuro, de doenças como diabetes ou Alzheimer, sua utilização ainda é bem restrita. "Por enquanto, o único uso clínico comprovado é o transplante de medula óssea", explica a geneticista Mayana Zatz, pesquisadora da Universidade de São Paulo. Para esclarecer dúvidas sobre o congelamento das células do cordão, VEJA ouviu cinco especialistas no assunto.

Quais são as diferenças entre os bancos públicos e os privados?
Coordenados pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), os bancos públicos coletam e armazenam células de cordão em maternidades conveniadas, sejam elas ligadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), como é o caso do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, sejam elas privadas, a exemplo do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. O serviço é gratuito e o material fica disponível para doação. Ao contrário dos bancos públicos, os privados cobram, em média, 3 000 reais pela coleta e 600 reais de anuidade pelo armazenamento das células. Nesse caso, elas são de uso exclusivo da criança

Toda amostra de sangue de cordão coletada é viável para uso?
Não. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a amostra deve ter, no mínimo, 500 milhões de células-tronco viáveis e estar livre de contaminações. Nos bancos públicos, 60% do material coletado é dispensado após uma minuciosa triagem — se os testes revelarem propensão genética a algum tipo de doença, por exemplo, aquela amostra não será útil para ninguém. Já nos bancos privados, o descarte é de apenas 2% (caso em que se reembolsa o cliente). Embora as regras para bancos públicos sejam mesmo mais rígidas, os especialistas consideram essa discrepância demasiado grande. "A própria análise do material congelado pode danificá-lo. Portanto, só saberemos de fato de sua viabilidade quando houver necessidade de uso", diz o biólogo Daniel Coradi, da Anvisa

Em que tipos de tratamento o sangue do cordão é utilizado?
Por enquanto, apenas no transplante de medula óssea. Isso porque esse material é, sim, riquíssimo em células-tronco, mas apenas em um tipo delas: as hematopoiéticas — capazes, pelo que se sabe até o momento, de formar única e exclusivamente células sanguíneas. "Cerca de 0,1% das células presentes no sangue de cordão pertence ao grupo das mesenquimais — essas, sim, com potencial de originar músculos, ossos, cartilagem e gordura", explica o hematologista Luís Fernando Bouzas, diretor do Centro de Transplante de Medula Óssea do Inca. Em um estudo publicado em 2008, porém, a geneticista Mayana Zatz demonstrou que, em cada dez amostras de sangue de cordão, apenas uma continha células mesenquimais."Acho bobagem congelar o sangue de um bebê para uso privado. Primeiro, porque temos células-tronco em diversos tecidos, inclusive na polpa dentária. Segundo, porque o risco de ele desenvolver anemia grave ou leucemia é muito baixo. E, se isso vier a acontecer, não se recomenda o uso do cordão do próprio paciente", diz a geneticista

Quais são as chances de uma criança vir a utilizar as células do próprio cordão?
De acordo com a Sociedade Americana de Transplante de Sangue e Medula Óssea, as chances são de 0,04% nos primeiros vinte anos de vida. "Menos de 15% das crianças que desenvolvem leucemia linfoblástica aguda — doença sanguínea mais comum nessa fase — precisam de um transplante.
E, quando isso ocorre, o sangue do cordão do próprio paciente é contraindicado", diz o médico Carmino Antonio de Souza, presidente da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular. Mais um porém: uma amostra de sangue de cordão é suficiente apenas para o tratamento de uma pessoa com até 50 quilos. No caso dos bancos públicos, quando não se encontra um doador adulto compatível, opta-se pelo uso de mais de uma unidade de cordão. Outra situação em que o congelamento é recomendado é quando o recém-nascido tem um irmão que pode ser salvo caso haja compatibilidade genética. "Mas, nessas situações, os próprios bancos públicos fazem a coleta", explica a hematologista Andrea Kondo, do Hospital Albert Einstein.

Fonte: Revista Veja( Gabriella Sandoval)

A cultura do inumano

«Outro aspeto que torna desumanos os direitos culturais é o facto de a condição cultural árabe, judaica, muçulmana, corsa, basca, sérvia, americana, ocidental, etc, os colocarem acima da condição humana. É aqui que a ilusão cultural provoca os maiores estragos: quando acreditamos que somos humanos apenas por temos uma cultura e não por natureza, sempre que encerramos a dignidade humana na sua origem étnica, religiosa, nacional ou imperial. Deixamos então de entender a expressão “cultura” como um aperfeiçoamento livre de nós próprios, mas como uma entrega da consciência a um primado determinista» (Hélé Béji, 2006).

Um post recente em que Helena Damião critica, com oportunidade, a oferta de proposta curriculares, por parte do Ministério da Educação, centradas em “culturas” específicas, por essas ofertas colidirem com valores fundamentais, levou-me a recordar um texto de Hélé Béji, intelectual tunisina, antiga professora da Faculdade de Tunis e fundadora do Colégio Internacional desta cidade, que tem investigado sobretudo nas áreas da antropologia e da descolonização.

Uma das características mais perturbantes da pós-modernidade é a multiplicidade das racionalidades num processo de atomização da razão que a própria razão não compreende. Sobretudo se se faz assentar num multiculturalismo, provocador de inúmeras centralidades, e numa espécie de atomização conflituante, quando é certo que é a própria razão cultural que compreende, aceita e promove o referido multiculturalismo.

A emergência e valorização das mais diversas culturas pela descentralização que fazem da tradicional cultura europeia são, obviamente, um factor positivo. «Os povos descolonizados souberam provocar o renascimento da sua tradição voltando a encontrar o seu ponto cardeal, o seu Oriente (“orientar” significa etimologicamente implantar um edifício na direção do Oriente). Foi deste modo que apareceram os conceitos de negritude, arabismo, judaísmo, islamismo, etc. que, recordo, exemplificam paradoxalmente a própria filosofia das Luzes, no seu princípio do direito a governar-se a si próprio» (Hélé Béji, 2006, 59).

A valorização das realidades culturais, correndo paralelamente à reivindicação emancipatória dos antigos povos colonizados ou dependentes do modelo ocidental, conduziu a que diversos movimentos edificassem uma poderosa fundamentação ideológica, em boa medida assente em especificidades dessas realidades. Os estudos de etnologia e de etnografia vieram, por outro lado, sensibilizar para tais especificidade e, portanto, para a razão de ser de cada uma delas, aceitando e promovendo a sua dignificação.

Mas, por má consciência nossa ou por efeito dos movimentos de pêndulo a que certas coisas estão sujeitas, o Ocidente tem-se desmobilizado do sentido crítico, da racionalidade, de modelos intelectuais, de padrões estéticos, de valores morais, enfim, de um conjunto de níveis (logo, de exigências) a que a humanidade chegou. Com essa desmobilização desvitalizamos os referentes, enfraquecemo-los, fazemo-los regredir…

Passada a fase de penitência a que o Ocidente europeu se submeteu por consciência de culpa, de muitos, e de rancor transformado em ideologia, de muitos outros, é altura de recuperarmos o equilíbrio. Porque, se as especificidades culturais são um factor de identidade dos povos, podem ser também razão para o enclausuramento de todos, e de domínio da maioria por pequenos grupos de fervorosos sacerdotes laicos transformados em opressores tão obscurantistas quanto aqueles que combateram. «O pluralismo, a diversidade e a diferença, à partida tão fecundos, tornam-se germes de discriminação, tão virulentos e intolerantes como uma ideologia racial», diz Hélé Bedji.

E, mais, podem transformar-se numa blindagem à circulação das ideias e à análise das razões, transformando-se em fatores de alienação: «Como a cultura se substituiu ao racial, cada cultura, forte ou fraca, é atualmente uma apologia de si mesmo, que nenhuma razão consegue criticar, uma vez que cada uma reclama a sua própria razão. Já nenhuma neutralidade consegue arbitrar, uma vez que cada cultura fixa as suas próprias regras de jogo; já nenhuma lei consegue julgar, uma vez que cada cultura cria os seus próprios direitos a partir das suas próprias convicções».

Todos nós temos sido confrontados com o poder afirmativo e até arrogante de certas “tradições”, frequentemente contra toda a lógica e toda a racionalidade, como afirmação de um “direito” que ninguém tem o direito de contestar, ou que a irracionalidade mantém, impante e incontestável. Mesmo quando não se trata de tradição alguma, é uma invencionice de última hora, ou é o resultado de uma escolha arbitrária de pessoas ou grupos.

Há exemplos para todos os gostos, desde as praxes académicas em universidades de tenra idade até aos touros de morte em Barrancos; desde a circuncisão dos rapazes e a ablação do clitóris às raparigas, na África, aos abortos dos fetos femininos, na Índia, porque as ecografias já permitem evitar o antigo assassínio das crianças de sexo feminino. Tudo “tradições” ou especificidades culturais que uma mentalidade cultivada e evoluída não encontra razões para poder aceitar. Como diz, ainda, Hélé Béji: «O despertar das tradições desnaturou-se, porque os direitos da tradição são muitas vezes utilizados, nos países descolonizados, não para fins de igualdade e de liberdade, mas de submissão, de obediência e de medo.

Esquecemo-nos, com demasiada frequência, de dizer que o islamismo armado fez muitas mais vítimas nos próprios países muçulmanos do que nos cristãos (contam-se mais de 100.000 mortos na Argélia). Conclui-se que o pertencer a uma mesma cultura ou a uma mesma religião não é uma garantia de tolerância ou de felicidade política».

O Ministério da Educação tem pois de ter cuidado com estas coisas. As questões de educação são mais complexas e importantes que o simples e cómodo seguir o politicamente correto e ir atrás da “evidência” das ideias feitas. Para isso temos que chegue na maior parte da comunicação social, nos políticos demagogos e em todos os opinadores de esquina. Educar é exigir inteligente e adequadamente a partir de padrões de qualidade. E os níveis culturais e humanísticos a que chegámos foram obtidos à custa de inumeráveis esforços, trabalhos e desejos de perfeição, não podendo, pois, ser deixados à guarda de mentalidades levianas, desleixadas ou incultas.

Efectivamente, o Ocidente tem que (voltar a) capacitar-se de que, apesar das desgraças do Mundo, muitas provocadas por ele, serem um fator recorrente, há enormes progressos, não só nos domínios científicos e tecnológicos, mas também ao nível dos valores civilizacionais, alguns dos quais estão na base dos próprios movimentos de libertação de povos submetidos, europeus e outros. Na base desses valores está a razão e os seus princípios de pensamento e a possibilidade maravilhosa de todos os seres humanos se entenderem.

Há, pois, valores a que a Humanidade já chegou, que dão de nós uma ideia e que nos projetam para níveis superiores aos de cada cultura, enquanto entidade idiossincrática. Ora isto, pela sua vocação universalizante constitui um fator de valorização e de defesa de cada ser humano e de todos os seres humanos. É bom que quem tem responsabilidades educativas não se esqueça disso.

Referência: Béji. H. (2006). A cultura do inumano. In Jérôme Bindé. Para onde vão os valores? Lisboa: Instituo Piaget, 57-64.  

João Boavida

As primeiras mulheres matemáticas na Universidade de Coimbra

Informação chegada ao De Rerum Natura.

No dia 30 de Maio, às 15h00, no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, realiza-se uma  palestra sobre as primeiras mulheres matemáticas na Universidade de Coimbra. O palestrante é João Luis Nunes, professor da Escola Secundária de Cantanhede, investigador deste assunto.

O nome de Domitilla Hormizinda Miranda de Carvalho (ao lado), natural de Travanca, Villa da Feira, distrito de Aveiro, diz-nos alguma coisa? Talvez não… Sabe-se que em muitas partes do mundo (todas?) as mulheres chegaram tarde (demasiado?) a muitos sítios. Portugal não foi exceção… À mais antiga universidade do país, a primeira mulher a cursar matemática chegou em 1891. Será que foi bem recebida? E as que se lhe seguiram? Eram muitas? Deram nas vistas? Algumas obtiveram tão bons ou melhores resultados do que os seus colegas homens?

Nesta palestra pretende-se analisar dados referentes  às mulheres que cursaram matemática na Universidade de Coimbra entre 1891 e 1960: de onde vinham, o que as motivava, os desafios que enfrentaram...

Já agora, Domitilla foi a pioneira das pioneiras.

O HÉLIO VAI ACABAR?


Destaque para a coluna What's New do físico Robert Park:

HELIUM CRISIS: THE WORLD IS RUNNING OUT OF HELIUM. 
Physicists, it must be acknowledged, have a certain reverence for "helium," 
the second element in the periodic table, without which the 20th century 
revolution in physics would never have taken place. There is no substitute 
and the supply is nonrenewable. Helium exists on Earth today only as a 
product of radioactive decay of heavy nuclei in the crust of our nascent 
planet.  It accumulated in the same underground geologic formations that 
trap natural gas (methane). At a maximum concentration of 2.7%, natural-gas 
wells represent the only practical large-scale source of helium. North 
America has more helium than any other region of the world, but is also by 
far the biggest consumer.  When it's gone, it will be gone forever – unless 
we succeed in generating power by deuterium fusion. In that case helium may 
again be abundant, but that day is a long way off.  In 1925 a Federal 
Helium Reserve was created in Amarillo, TX as a strategic supply of gas for 
airships. By the 1950s helium had become essential to electronics 
development but huge amounts were being squandered by NASA on low priority 
tasks such as purging the fuel tanks of shuttle rockets. However, most 
members of Congress remain unaware of its use for anything other than 
inflating party balloons. Over the objections of the American Physical 
Society, which urged an increase in the helium reserve, the 1996 Helium 
Preservation Act ordered the Interior Department to liquidate the Federal 
Helium Reserve by 2015. What then?
 
Robert Park 

HUMOR - DNA 3


HUMOR - DNA 2


HUMOR - DNA 1


O DNA DO ATLETA OLÍMPICO

Estudos sobre Espiritualidade na Universidade

As responsabilidades da tolerância, que sustentam nossos direitos e nossas liberdades, e preservam o tecido social, são incumbências de todos nós. Não as devemos procurar no exterior de nós mesmos: as respostas e a riqueza da esperança humana residem dentro de cada criança. Graças a uma educação para todos, adquirida durante toda a vida, podemos edificar atitudes novas em todos os seres humanos, jovens e velhos. O que importa, no fim das contas, não é o mundo que deixaremos para nossos filhos, mas os filhos que deixaremos para o mundo!

quinta-feira, 24 de maio de 2012

O SISTEMA EDUCATIVO NUMA ENCRUZILHADA


Meu artigo de opinião saído hoje no jornal Público:

“Imaginamos o que desejamos, queremos o que imaginamos e, por fim, acreditamos no que queremos” – Bernard Shaw.

Portugal, afectado por grave e generalizada crise, parece querer encontrar lenitivo numa esperança sebastianista que resolva todos os problemas que afectam os portugueses cansados da política e dos seus governantes. Mas as manhãs quentes de nevoeiro sucedem-se,  a lembrarem climas tropicais, e nada de aparecer um D. Sebastião que lhes levante o ânimo.

Ora, como não podia deixar de ser, esta crise afecta o sistema educativo nacional, que se encontra numa verdadeira encruzilhada sem saber o rumo a seguir, numa declarada e grave situação de desemprego a subir entre os próprios licenciados e em que os  governantes se desentendem nas suas consequências.

Assim, com optimismo, o primeiro-ministro, Passos Coelho, vê no desemprego uma oportunidade;  Vitor Gaspar, Ministro das Finanças, com realismo, um drama.

Mas quem estará mais capacitado para se pronunciar sobre os efeitos do desemprego são todos aqueles que sentem na carne o látego impiedoso desta verdadeira chaga social . Ainda por estes dias se viu na televisão jovens engenheiros portugueses desesperados por falta de emprego a procurarem uma possível solução na emigração para países escandinavos.

Ora, sabendo-se que as estruturas educativas (do ensino infantil ao universitário) condicionam o estado de vitalidade de um país, reflectindo as suas virtudes e os seus defeitos, o seu dinamismo e a sua inércia, a sua riqueza e a sua pobreza, sendo um verdadeiro banco de dados do respectivo desenvolvimento, seja ele científico, técnico e económico, não pode ou deve Portugal continuar a assistir a uma política educativa que tarda em consolidar uma personalidade forte independente da influência de partidos políticos, no Governo ou na oposição, que correm o risco  de se deixarem influenciar pelas suas clientelas sem sequer darem o benefício da dúvida a quem detém nas mãos a pasta da Educação, não lhe concedendo, com isso,  sequer, paz de espírito para redireccionar os caminhos percorridos pelos seus antecessores.

E, muito menos, o sistema educativo deve ser vítima de um sindicalismo de grandes massas que toca a charanga para dar a conhecer na rua aquilo que querem fazer crer ser os respectivos problemas  em benefício  corporativista dos associados de mais de dezena e meia de sindicatos de professores ( em recorde, não sei se mesmo, mundial) a puxarem a brasa à sua sardinha como se os interesses (já para não falar na dignidade) dos docentes se esgotassem em questões meramente laborais ou em eternizarem os dirigentes sindicais nos seus lugares, segundo chegam a dizer ou dar a entender, em sacrifício de verdadeiros missionários deste milénio.

Não me parece ser esta a forma correcta de ajudar os políticos de boa vontade que se não deixem cilindrar pelas engrenagens trituradoras de interesses inconfessáveis. Ou seja, políticos que  encarem este pequeno rectângulo e o seu sistema educativo como capazes de fazer face a uma livre circulação de mão-de-obra especializada no competitivo mundo da Comunidade Europeia, que continua a alargar as suas fronteiras numa economia mundial de vasos comunicantes e em convulsão espasmódica num caldeirão a fervilhar que se estende de uma Europa que se julgava suficientemente desenvolvida para poder fazer face a economias emergentes em outros continentes em que as questões do ensino não se perdem em longas dissertações académicas, embora bem-vindas se não exaltarem um descarado facilitismo científico e pedagógico em palavreado tão ao jeito do chamado “eduquês”.

A contrario, sou da opinião que o objectivo do nosso sistema educativo não deve descurar o velho aviso de Mao-Tsé-Tung, vindo da China uma das maiores potências económicas actuais do globo:” Um caminho demasiado plano não desenvolve os músculos das pernas”.

Rui Baptista, co-autor do blogue De Rerum Natura.

24 de maio: Uma data muito especial para Copérnico e Lattes


terça-feira, 22 de maio de 2012

Muito ruído no Oceano!...

Novo post de Margarida Milheiros:


Nem todo o dióxido de carbono libertado na queima de combustíveis se mantém na atmosfera. Pelo menos um quarto é “absorvido” (dissolvido) pelos oceanos, que funcionam como uma espécie de reserva. Mas o dióxido de carbono dissolvido na água do mar faz descer o seu pH, e está a ser responsável pela acidificação dos oceanos (a figura inicial é uma fotografia de um golfinho comum, Tursiops truncatus, surfando uma onda perto do Centro Espacial John F. Kennedy. Crédito: NASA).

A consequência negativa mais conhecida da acidificação (diminuição do pH) dos oceanos é a diminuição da quantidade de carbonato de cálcio disponível para os moluscos (e outros animais marinhos) formarem conchas. Mas existem outras consequências negativas, algumas surpreendentes. Como a alteração das características de propagação do som. A acidificação está a aumentar o ruído de fundo dos oceanos!

Á medida que se tornam mais ácidos, os oceanos vão perdendo a capacidade para absorver sons de baixa frequência (abaixo de 10 000 Hz). Estima-se que desde o início da Revolução Industrial até hoje o pH da água do mar terá descido, em média, 0,1. Esta descida terá sido responsável por uma perda de 10% da capacidade da água do mar para absorver sons de baixa frequência. Até 2050 a perda poderá ser de 40% (correspondente a uma diminuição de pH de 0,3).

O gráfico da figura seguinte apresenta a variação da absorção de som em função da frequência para diferentes valores de pH da água do mar. Quanto menor o valor de pH menor a capacidade da água do mar para absorver sons de baixa frequência. A capacidade para absorver sons de frequência superior a 20 000 Hz quase não diminui (Crédito: Hester et all, 2008).

No oceano existem muitas fontes de som. As fontes naturais mais importantes são as ondas geradas pelo vento, a chuva e o movimento dos animais marinhos. As fontes antropogénicas (geradas por actividade humana) mais importantes são os navios e os sonares marítimos. A diminuição da absorção de sons de baixa frequência poderá ter consequências desastrosas para os animais marinhos que, como os golfinhos e as baleias, dependem da ecolocalização para se alimentarem e comunicarem entre si. Com o aumento do ruído de fundo torna-se cada vez mais difícil para estes animais distinguir (filtrar) e interpretar os sons de baixa frequência.

O sistema de ecolocalização utilizado pelos golfinhos é fácil de explicar. O animal emite um som sob a forma de cliques de pequena duração em sequência. O som emitido pelo golfinho propaga-se pela água até atingir o alvo, que podem ser peixes (alimento), golfinhos “amigos” ou rivais. Quando atinge o alvo parte do som é reflectido de volta para o golfinho.

A ecolocalização permite ao golfinho determinar não só o tamanho e a forma de peixes (e outros animais marinhos), como também a distância a que estes se encontram e a sua velocidade. Os golfinhos utilizam sons de baixa frequência na ecolocalização porque estes propagam-se na água do mar (ou em qualquer outro meio de propagação) durante mais tempo, e portanto “percorrem” maiores distâncias.

Não se conhece ainda bem o mecanismo responsável pela absorção de sons de baixa frequência nos oceanos. Sabe-se que estão envolvidos alguns solutos dissolvidos na água do mar, como o sulfato de magnésio, o ácido bórico, o ião carbonato e o ião de cálcio. A temperatura da água do mar também é importante: se, como é esperado, a temperatura média do mar aumentar devido ao efeito de estufa a capacidade para absorver sons de baixa frequência será ainda menor.

A diminuição do pH da água do mar também provoca o aumento da velocidade de propagação do som. Uma diminuição de pH de 0,1 (correspondente à variação dos últimos 200 anos, desde o início da Revolução Industrial) deverá ser responsável por um aumento de 10% da velocidade do som nos mares, segundo investigadores do Montery Bay Aquarium Recharch Institute, ou MBARI. Até 2050 estes investigadores estimam que a velocidade de propagação do som na água do mar possa aumentar até 70%.

 P.S.: Actualmente são conhecidos casos em que o aumento de ruído de fundo provocou a alteração do comportamento de cetáceos (baleias e golfinhos). Estão documentados vários casos destes na sequência de exercícios militares navais em que são utilizados sonares (sistemas que funcionam como radares, de forma semelhante à da ecolocalização dos golfinhos).

Nargarida Milheiros

Nota: Texto adaptado do original, que pode ser encontrado no blog “Ema não é uma avestruz”, escrito sob o pseudónimo de Rita Robalo Sobreiro.

"Que Ensino Profissional?"

Do blogue “A Educação do meu umbigo”, da autoria de Paulo Guinote, com a devida vénia, transcrevo  o  post “Que Ensino Profissional” (22/05/2012) que aborda um tema que tem sido muito debatido aqui (recentemente,  v.g., os posts,Cursos Técnicos X Bobagens Académicas”, 15/05/2012 e “Depoimento de um Aluno da ex-Ecola Industrial e Comercial da Figueira da Foz” 19/05/2012 )  e que tem merecido, igualmente, interesse e gerado polémica no Brasil. Segue a respectiva transcrição integral:

“Nos últimos dias surgiu um renovado interesse em falar do Ensino Profissional como sendo (pela enésima vez) a solução ideal para parte dos problemas do nosso sistema educativo, para o encaminhamento de muitos jovens e para uma relação mais proveitosa entre a escola e o mundo do trabalho.
Não é novo este afã em recuperar o imaginário de um Ensino Profissional de sucesso, herdado dos tempos de algures, quando aprender um ofício garantia emprego.
Já não garante nada, mas isso é outra conversa.
O que a mim me irrita um pouco nisto tudo é que a expressão Ensino Profissional se tornou, como outras fórmulas mágicas de algum discurso em torno da Educação, um significante com escasso significado.
Chamar Ensino Profissional a certas coisas que aconteceram no sistema educativo nas últimas décadas é ofender o que já foi um conceito e uma prática interessantes.
É certo que há experiências positivas, na oferta pública e privada, mas é difícil falar de um verdadeiro Ensino Profissional entre nós e assim continuará a ser, a menos que se faça aquela coisa gira que é mudar de paradigma.
E isso só acontecerá quando se convencerem que o Ensino Profissional implica, para além de alunos inscritos para fugirem a outras opções ou porque os convencem que é o melhor para eles, a existência de uma oferta formativa com sentido e com meios humanos e técnicos que ultrapassem o atamancanço de muitas soluções disponíveis no mercado, com professores disto a fazer de formadores daquilo e a fingirem-se aulas práticas na base dos vídeos e coisas projectadas.
E há que existir uma ligação à (destruída) economia real de muitas zonas, a qual não se pode restringir a cafés, centros comerciais e pouco mais, agora que nem a tradicional IBM* já funciona.
Há cursos ditos profissionais ou a passarem por parecido que mais não são do que um engano completo para encher estatísticas e facilitar a avaliação de alguns órgãos de gestão, pois esse tem sido um dos parâmetros usados para valorizar as lideranças. Vender frigoríficos no pólo norte e areia no deserto é possível num mundo de oliveirasdefigueira, mas funciona mal na vida real. O mesmo se poderá dizer da aposta em sectores tradicionais, quando eles, mais do que tradicionais, se tornaram vagas memórias.
É certo que há que começar por algum lado, por isso mesmo vou esperar para ver… mas já estou de olho num sofá confortável e nuns snacks…”
Paulo Guinote.

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...