A minha crónica semanal no jornal i.
Para Chen Wenyi, a vida balança repetidamente entre o já perdido romantismo cósmico e a extrema solidão humana. Vive, trabalha e por vezes desespera a mais de 4 mil metros de altitude, em Yangbjing, no planalto de Quinghai- Tibete, a 90 km de Lassa. O local, de beleza física e histórica intimidatória, frequentado ao longo dos tempos por astrónomos amadores e profissionais, é hoje a casa do Observatório de Raios Cósmicos de Yangbjing, que, na década de 90, era o maior observatório de detecção de raios cósmicos e estudo da origem do universo. Voltemos a Wenyi: olha com saudade sem esperança para a foto da sua mulher e da filha; só as pode visitar uma vez por ano. "Sou o ouvinte mais solitário do universo", murmura. Há mais de 20 anos que é praticamente a única alma em tal região, e há 20 anos era um confesso romântico: "Até pensava que ia ouvir ET!" Hoje, cientistas italianos, chineses e japoneses aparecem por lá com mais frequência, aumentando, por vezes, a população para uns estonteantes seis indivíduos. Wenyi, o director do Observatório (e de si próprio!), vive num pequeno bangaló onde a sala de convívio tem vista para a sala de computadores, não vá a atenção desviar-se para quaisquer tentações! Daquela sala e do seu trabalho partem dados que chegam gratuitamente a cientistas de todo o planeta, para que se escute o universo a partir do tecto do mundo, graças a alguém que, praticamente, se encontra num longo retiro - em nome da ciência!
4 comentários:
Louvável é um silêncio ensurdecedor.
parece um conto do Borges
E se fosse?!... JCN
Que grande felicidade
das estrelas viver perto
escutando o seu concerto
na maior intimidade!
JCN
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