quarta-feira, 1 de junho de 2011
Abel Salazar e a Falência da Metafísica – 2
Novo post do historiador António Mota de Aguiar (em cima Casa Museu Abel Salazar, em S. Mamede de Infesta, Porto):
Continuamos a síntese iniciada aqui dos artigos do médico Abel Salazar publicados entre Agosto e Outubro de 1935, sob o título em cima, na revista Ideia Livre de Anadia.
Nestes artigos, Abel Salazar informa o “leitor que se queira documentar” sobre uma série de obras "exponenciais das correntes científicas e filosóficas modernas”. Alguns dos autores destes trabalhos são os intérpretes do pensamento positivo contemporâneo da época, com especial ênfase no Empirismo Lógico do Círculo de Viena, de que Abel Salazar foi um atento divulgador entre nós. Diz Abel Salazar:
“Em suma para se compreender a ciência e a filosofia actuais é necessário, como condição fundamental, compreender, a irredutibilidade de Tyndall (e aquilo que chama ‘a condição de posição), e transcender a seguir conceitos psicológicos de Espaço e Tempo, que devem ser substituídos pelos conceitos objectivos correspondentes. (…)
O leitor vê o vermelho, o azul, etc., mas não vê o ultra-violeta; quer dizer, não o pode representar na sua consciência. Só o pode fazer por uma objectivação experimental que está além da intuição; o ultra-violeta transcende o campo de visão das cores. Identicamente – mas por uma forma mais complexa – o leitor ‘sente’ as coisas ‘psicologicamente’ no espaço de três dimensões; mas o universo que a experiência nos revela não pode ser nele recebido efectivamente. Daí a necessidade de transcender o psicológico numa concepção mais ampla e profunda. Chegamos, pois, a uma época histórica que sob, o ponto de vista intelectual representa ‘o afastamento do homem como medida das coisas’. (…) (O homem) deixou agora de ser o centro do universo intelectual e científico, desaparecendo nele como um elemento íntimo. (…) "
"O actual movimento metafísico é uma destas coisas espasmódicas do sentimento. Não tem de nenhuma maneira o significado dum renascimento ou de um processo metafísico (…). A metafísica representa uma tendência dilatorial do espírito humano, o espírito racionalista e dogmático. (…) E depois de ter querido determinar Deus, e dar-lhe existência, de ter querido resolver problemas tais como o princípio do mundo e sua criação ou sua eternidade, e o problema da alma, verificou um dia que apenas se debatia com problemas fantasmas, num jogo de grande criança. (…) Desta forma a própria falência histórica da metafísica nos conduz ao actual conflito do Homem com os seus destinos históricos."
Abel Salazar (Visado, em Lisboa, pela Direcção Geral de Censura à Imprensa).
António Mota de Aguiar
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