quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Público esclarece golpe publicitário mais deprimente do ano

O Público esclareceu a treta da notícia do dia mais deprimente do ano, publicada por vários jornais portugueses (entre os quais o Público) num texto assinado por Ana Gerschenfeld. Já era tempo!

O golpe publicitário mais deprimente do ano
Por Ana Gerschenfeld

Aqui vai a explicação do que está por detrás do chamado Blue Monday, com muitas aspas à mistura.

A dita “fórmula” foi oportunamente “inventada”, em 2005, por Cliff Arnall, na altura docente da Universidade de Cardiff, para uma campanha publicitária de uma agência de viagens entretanto encerrada, a Sky Travel. A ideia, da autoria de uma agência de comunicação empresarial, a Porter Novelli, era que um “cientista” desse o seu aval (mediante pagamento) à dita fórmula para fazer aumentar a venda de viagens para paragens menos deprimentes.

Já em Novembro de 2006, Ben Goldacre, do Guardian, escrevia nas páginas daquele jornal britânico acerca de Arnall: “É provavelmente o mais prodigioso de todos os produtores de ‘equações’ da treta.” E acrescentava que “as equações de Cliff Arnall são estúpidas e algumas até nem conseguem fazer sentido em termos matemáticos”.

Diga-se de passagem que o diário foi levado a publicar, na semana seguinte, uma declaração da Universidade de Cardiff a dizer que Arnall já não trabalhava naquela instituição desde Fevereiro de 2006.

O próprio Arnall não nega a sua impostura. Num outro artigo publicado por Goldacre, pouco antes do Natal de 2006 – onde o autor chegava ao ponto de apelidar Arnall de “prostituta empresarial” (“corporate whore”) –, o jornalista contava que o “cientista” lhe tinha enviado um email a propósito da sua crónica anterior, informando-o de que tinha acabado de receber um cheque do grande fabricante de gelados Wall’s. A pedido da Wall’s, Arnall tinha inventado uma outra “fórmula”, desta vez para determinar o dia mais feliz do ano (que, já agora, calha supostamente em finais de Junho, na abertura, por assim dizer, da temporada dos gelados...).
O Público ainda reconheceu o erro:
PÚBLICO ERROU
Assim como vários jornais em todo o mundo, o PÚBLICO online noticiou, esta segunda-feira, a fórmula matemática através da qual o investigador da Universidade de Cardiff, Cliff Arnall identificava o dia 24 de Janeiro como o dia mais deprimente do ano. Baseamo-nos nas informações publicadas no Daily Telegraph que não referia o estudo como uma campanha publicitária. Na realidade, como a notícia acima mostra trata-se de um golpe publicitário que a imprensa insiste em publicar todos os anos desde 2005. Aos leitores, as nossas desculpas.
Assumir e corrigir um erro é sempre de elogiar. Esperemos que sirva para que 2011 tenha sido o último ano do dia mais deprimente em Portugal.

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