“A igualdade de que não se pode sair é um cárcere horrível. O despotismo da igualdade é o mais insuportável e o mais feroz dos despotismos, porque tem a sua origem na vontade dos impotentes, dos estúpidos, dos insignificantes” (Camilo Castelo Branco, 1825-1890).
O título por mim escolhido para este post, com a devida vénia, colhi-o de uma carta, da autoria de António Cândido Miguéis, de Vila Real, publicada hoje no Público. Sem delongas, transcrevo-a na íntegra, reservando-me o direito de fazer no final alguns esclarecimentos:
“Actualmente, existe uma situação no sistema educativo, pós-25 de Abril, que muita gente tem receio de aflorar pelo melindre, pelo desconforto e pelo conflito que, eventualmente, poderá provocar em ambiente laboral, agora que existem os Agrupamentos Verticais (adoro este designação), que mais não trouxeram do que confusão e burocracia, fazendo jus ao anexim de que ‘muita gente junta não se salva…´
Na verdade, uma das classes profissionais – para além dos pressurosos e estimados regentes agrícolas (e outros), com o 5.º ano antigo dos liceus + dois anos de escolas agrícolas, ‘passaram’ a intitular-se ‘engenheiros não lhes servindo o título de técnicos agrícolas, andando agora, por aí, travestidos de ‘engenheiros’, (olaré) – que mais beneficiou com a revolução abrilina foi a classe dos professores primários, hoje designados, e bem, professores do 1.º ciclo. Se no regime autoritário do professor António O. Salazar já era uma classe simpática, respeitada e dignificada – lembremo-nos nas aldeias a ‘importância’ do sr. Cura, do médico e do professor primário, com o 25 de Abril ainda se tornaram mais simpáticos, mais respeitados (e ladinos) ao alcançarem a proeza de ingressar na Carreira Única, igualando (nalguns casos ultrapassando) e colocando-se ao nível do designado professor do liceu de outrora, que, nestes tempos ensandecidos, desceu de ‘importância’ e é um Zé-ninguém. Efectivamente, hoje, um professor primário aufere, sem grande maçada, um vencimento igual a um professor do 2.º e 3.º ciclos e secundário. Ou seja, um professor que ensine s primeiras letras, mais a adição e a subtracção às criancinhas na escola primária – depois é vê-los transitar para o 2.º ciclo e aí os professores verificam que as irrequietas, engraçadinhas e inocentes criancinhas não sabem nada de nada – tem o mesmo vencimento de um professor com as turmas do 10.º, 11.º e 12.º anos, que leccione disciplinas como Matemática, Língua Portuguesa e Filosofia. Dir-me-ão que ‘a trabalho igual, salário igual’. Mas…será? Poder-se-ão equiparar os supostos conhecimentos, a agilidade e a destreza mental, a capacidade de intelecção, o ritmo de trabalho e o ‘background’ de uma criatura que ensina (e entretém) criancinhas, e uma outra que discorre sobre ‘A crítica da razão pura’ de Kant, a ‘Incomensurabilidade dos paradigmas’, de Thomas Kuhn, a ‘Factorização de polinómios com 3 termos do tipo Ax^2 + Bx + C, o ‘Existencialismo’ na ‘Aparição’ de Vergílio Ferreira ou aborda as características da poesia do ortónimo em Fernando Pessoa?
O título por mim escolhido para este post, com a devida vénia, colhi-o de uma carta, da autoria de António Cândido Miguéis, de Vila Real, publicada hoje no Público. Sem delongas, transcrevo-a na íntegra, reservando-me o direito de fazer no final alguns esclarecimentos:
“Actualmente, existe uma situação no sistema educativo, pós-25 de Abril, que muita gente tem receio de aflorar pelo melindre, pelo desconforto e pelo conflito que, eventualmente, poderá provocar em ambiente laboral, agora que existem os Agrupamentos Verticais (adoro este designação), que mais não trouxeram do que confusão e burocracia, fazendo jus ao anexim de que ‘muita gente junta não se salva…´
Na verdade, uma das classes profissionais – para além dos pressurosos e estimados regentes agrícolas (e outros), com o 5.º ano antigo dos liceus + dois anos de escolas agrícolas, ‘passaram’ a intitular-se ‘engenheiros não lhes servindo o título de técnicos agrícolas, andando agora, por aí, travestidos de ‘engenheiros’, (olaré) – que mais beneficiou com a revolução abrilina foi a classe dos professores primários, hoje designados, e bem, professores do 1.º ciclo. Se no regime autoritário do professor António O. Salazar já era uma classe simpática, respeitada e dignificada – lembremo-nos nas aldeias a ‘importância’ do sr. Cura, do médico e do professor primário, com o 25 de Abril ainda se tornaram mais simpáticos, mais respeitados (e ladinos) ao alcançarem a proeza de ingressar na Carreira Única, igualando (nalguns casos ultrapassando) e colocando-se ao nível do designado professor do liceu de outrora, que, nestes tempos ensandecidos, desceu de ‘importância’ e é um Zé-ninguém. Efectivamente, hoje, um professor primário aufere, sem grande maçada, um vencimento igual a um professor do 2.º e 3.º ciclos e secundário. Ou seja, um professor que ensine s primeiras letras, mais a adição e a subtracção às criancinhas na escola primária – depois é vê-los transitar para o 2.º ciclo e aí os professores verificam que as irrequietas, engraçadinhas e inocentes criancinhas não sabem nada de nada – tem o mesmo vencimento de um professor com as turmas do 10.º, 11.º e 12.º anos, que leccione disciplinas como Matemática, Língua Portuguesa e Filosofia. Dir-me-ão que ‘a trabalho igual, salário igual’. Mas…será? Poder-se-ão equiparar os supostos conhecimentos, a agilidade e a destreza mental, a capacidade de intelecção, o ritmo de trabalho e o ‘background’ de uma criatura que ensina (e entretém) criancinhas, e uma outra que discorre sobre ‘A crítica da razão pura’ de Kant, a ‘Incomensurabilidade dos paradigmas’, de Thomas Kuhn, a ‘Factorização de polinómios com 3 termos do tipo Ax^2 + Bx + C, o ‘Existencialismo’ na ‘Aparição’ de Vergílio Ferreira ou aborda as características da poesia do ortónimo em Fernando Pessoa?
Por estas e por outras é que Platão, há muitos anos atrás, já questionava certas incongruências do sistema democrático ao afirmar que ‘a democracia é um regime que confere uma espécie de igualdade tanto para os iguais como para os desiguais’… Teria razão ou já era, ao tempo, um vil reaccionário? “
Compreendendo certas feridas deixadas em aberto pelo azorrague da injustiça, e que podem até justificar um certo exagero de análise por parte do autor da carta, retenho e reproduzo novamente esta passagem: “Actualmente, existe uma situação no sistema educativo, pós-25 de Abril, que muita gente tem receio de aflorar pelo melindre, pelo desconforto e pelo conflito que, eventualmente, poderá provocar em ambiente laboral (…)”.
Se assim é no dia de hoje, véspera de 25 de Abril, não o foi sempre num passado mais ou menos recente. Faço prova, para memória futura, cingindo-me a factos devidamente suportados em documentos escritos que atestam uma discordância bem mais antiga, que eu quase diria visceral, por este statu quo. Assim, por exemplo, em transcrição parcial um artigo de jornal em que escrevi:
“Em Agosto de 90, reunidos na Escola Secundária Alves Martins, em Viseu, os licenciados que exercem a docência no ensino não superior decidiram organizar-se numa associação de classe, cuja necessidade de há muito era sentida. Ao contrário do que se quer fazer crer, a ruptura entre professores licenciados e professores não licenciados existe e, como tal, tem de ser encarada. Nestes últimos tempos, discutiu-se muito, moveram-se influências insólitas, estabeleceram-se pactos entre sindicatos que fariam corar de vergonha o próprio Fausto, e (a demonstrá-lo) em inequívoca prova foram recentemente publicadas as tabelas salariais dos professores dos ensinos preparatório e secundário em que, para uma igualdade entre desiguais, há aumentos de 15,6% para licenciados e 45,4% para não licenciados (alguns, unicamente, com o antigo curso das escolas técnicas, caso dos professores de trabalhos manuais), com os mesmos ou mais 29 anos de serviço” (Correio da Manhã, 18.Jan.91).
Esta já mais que generosa medida obtida em negociações da Fenprof e FNE com o Roberto Carneiro em benefício das suas clientelas, veio acompanhado da reforma com 52 anos de idade e 32 de serviço para os professores primários e de 56 anos de idade e 36 de serviço, em penalização pelo “crime” destes terem estudado mais anos e em esforços de nível académico bem superior e com dispêndio económico bastante maior.
Alguns meses mais tarde, em conferência de imprensa (Correio da Manhã, 22.Dez.91), os sócios desta novel associação profissional davam conta pública do seu descontentamento institucional com a seguinte argumentação, transcrita aqui parcialmente:
“Os professores licenciados não querem ser tratados como os outros docentes que dispõem de menos habilitações académicas e sentem-se lesados com o actual estatuto da carreira docente que, segundo afirmam, favorece quem tem menores habilitações.
O decreto-lei 409 provocou muitas injustiças. Não teve em conta as habilitações académicas. Permite que tanto um licenciado como uma pessoa que dispõe apenas da quarta classe e um ano de magistério (os antigos regentes) atinjam o topo da carreira”.
Em 3 de Julho de 92, foi criado o Sindicato Nacional dos Professores Licenciados (SNPL) em substituição da Associação Nacional dos Professores Licenciados (atrás referida) com a seguinte orientação expressa nesta linha doutrinária: “O SNPL representa a ruptura com as orientações sindicais então existentes, em oposição frontal à instituição de uma carreira única de professores, pois pretende revalorizar a profissão em todo o seu percurso, em consonância com os valores e as necessidades dos professores dos nossos dias” .
Seria sol de pouca dura enublado pela adesão do SNPL à Plataforma Sindical de que foi porta-voz a Fenprof. Situação que fez com que eu, ao tempo presidente da respectiva Assembleia Geral, em discordância frontal de uma decisão que deixava o SNPL órfão de uma progenitura de princípios até então seguidos, em 14 de Dezembro de 2008, me demitisse desse cargo.
Esta já mais que generosa medida obtida em negociações da Fenprof e FNE com o Roberto Carneiro em benefício das suas clientelas, veio acompanhado da reforma com 52 anos de idade e 32 de serviço para os professores primários e de 56 anos de idade e 36 de serviço, em penalização pelo “crime” destes terem estudado mais anos e em esforços de nível académico bem superior e com dispêndio económico bastante maior.
Alguns meses mais tarde, em conferência de imprensa (Correio da Manhã, 22.Dez.91), os sócios desta novel associação profissional davam conta pública do seu descontentamento institucional com a seguinte argumentação, transcrita aqui parcialmente:
“Os professores licenciados não querem ser tratados como os outros docentes que dispõem de menos habilitações académicas e sentem-se lesados com o actual estatuto da carreira docente que, segundo afirmam, favorece quem tem menores habilitações.
O decreto-lei 409 provocou muitas injustiças. Não teve em conta as habilitações académicas. Permite que tanto um licenciado como uma pessoa que dispõe apenas da quarta classe e um ano de magistério (os antigos regentes) atinjam o topo da carreira”.
Em 3 de Julho de 92, foi criado o Sindicato Nacional dos Professores Licenciados (SNPL) em substituição da Associação Nacional dos Professores Licenciados (atrás referida) com a seguinte orientação expressa nesta linha doutrinária: “O SNPL representa a ruptura com as orientações sindicais então existentes, em oposição frontal à instituição de uma carreira única de professores, pois pretende revalorizar a profissão em todo o seu percurso, em consonância com os valores e as necessidades dos professores dos nossos dias” .
Seria sol de pouca dura enublado pela adesão do SNPL à Plataforma Sindical de que foi porta-voz a Fenprof. Situação que fez com que eu, ao tempo presidente da respectiva Assembleia Geral, em discordância frontal de uma decisão que deixava o SNPL órfão de uma progenitura de princípios até então seguidos, em 14 de Dezembro de 2008, me demitisse desse cargo.
Quanto à aberração de uma carreira docente única tive-a “qual ‘Leito de Procusta’, em que se esticam os professores menos ilustrados e se cortam as pernas aos mais habilitados para nesse crime teratológico caberem à medida todos os docentes, com parca distinção das respectivas estaturas científica, técnica e pedagógica” (Do Caos à Ordem dos Professores, Rui Baptista, edição do SNPL, Janeiro de 2004, p. 101).
Como tudo isto continuasse (e continue) na mesma voltei à carga:
“Consequentemente, os responsáveis pelas normas estatutárias de uma mesquinha e/ou tirânica carreira docente devem assumir a responsabilidade do mal-estar por parte dos professores do ensino secundário ao serem metidos num mesmo fato ‘prêt-à-porter’ com os educadores de infância e os professores do primeiro ciclo do ensino básico.
“Consequentemente, os responsáveis pelas normas estatutárias de uma mesquinha e/ou tirânica carreira docente devem assumir a responsabilidade do mal-estar por parte dos professores do ensino secundário ao serem metidos num mesmo fato ‘prêt-à-porter’ com os educadores de infância e os professores do primeiro ciclo do ensino básico.
(…) Ainda que só em mero exercício, ‘ab absurdo’, por que não incluir, outrossim, no Estatuto da Carreira Docente os professores catedráticos com o mesmo estatuto remunerativo que os professores do 1.º ciclo do ensino básico, por exemplo? Ridículo, não é?
Verdadeiramente ridículo, mas não tanto como isso se for tomada em linha de conta, sem qualquer espécie de ‘parti pris’ ou desprimor da minha parte pelos esforçados cabouqueiros (expressão que se tornou já um lugar-comum!) do ensino das primeiras letras, que o ‘décalage’ entre uma matéria ensinada na Universidade e ministrada no ensino secundário é bem menor que a diferença entre o bê-à-bá transmitido por um professor do 1.º ciclo do ensino básico e a filosofia de Kant, ministrada no ensino secundário” (O Leito de Procusta, Rui Baptista, edição do SNPL, Outubro 2005, ps. 14 e 15).
E que melhor companhia podíamos nós desejar que a de Platão, e quem, porventura, comungue de igual desencanto por este estado de coisas: “A pior forma de desigualdade é tentar fazer de duas coisas diferentes duas iguais”.
40 comentários:
A propósito da igualdade
------------------
PRÁTICA E TEORIA
O Dr. Johnson, que foi presidente dos EUA, estava um dia à mesa com a célebre Mrs Macaulay, quando a conversação derivou sobre a igualdade entre os homens.
la sustentava que todos os homens tinham direito a igual tratamento, mas Johnson, quando interrogado, dava respostas muito secas, na esperança de mudar a conversa que o enfastiava.
Quando, porém, viu que não o conseguiu, e que Mrs Macaulay se embrulhava cada vez mais pelo assunto dentro, terminou à pressa a refeição, e pediu a um criado para vir tomar o seu lugar.
- O que está fazendo, doutor ? - perguntou Mrs. Macaulay.
- Minha senhora, estou praticando a igualdade que V. Exc.ª prega - respondeu ele.
------------------
(In "Ilustração" n.º 11, 01.06.1926)
Relativamente ao diferencial salarial entre o professorado do básico e o professorado do secundário, assisti uma vez a uma viva discussão entre um do básico e outro do secundário, em que o segundo referia que o vencimento do primeiro estava mal porque deveria ganhar menos, ao que o do básico lhe respondeu que deveria fazer a observação ao contrário, isto é, que o vencimento do básico estava correcto e que o do secundário é que estava mal porque deveria ganhar mais.
E foram embora na paz do Senhor.
Este país é mesmo uma enorme e gigantesca anedota! Já denunciei esta situação inúmeras vezes, mas ainda hoje tenho dificuldade em acreditar nesta matéria!
Quando falo desta questão a amigos não professores, raramente acreditam na totalidade; denotam sempre uma enorme dificuldade em acreditar nesta situação.
A antiga ministra deste sector com a necessidade de racionalizar recursos, em vez de resolver este problema, resolveu ir pelo caminho mais fácil (como sempre) e decidiu partir a tal carreira única em duas. A senhora ao fazer tal disparate não percebeu (ou teimou em não perceber) que com a divisão entre titulares (julgo que era esta a designação) e os não titulares, faria com que uma boa parte dos educadores de infância e os professores do 1º ciclo passassem a receber quase o dobro de uma boa parte dos professores do 3º ciclo e secundário!
Mas a ignorância militante dos nossos opinion makers (que preferem debitar ignorância, a trabalhar no sentido de perceberem os verdadeiros problemas), tornou a ministra aos olhos da opinião pública como alguém com grande coragem e enorme sabedoria!
A minha maior dificuldade é entender como é que este país ainda é independente (pelo menos de forma formal) e como é que ainda não abriu falência por gestão danosa.
Meu caro João Boaventura:
Simplesmente notável o exemplo de igualdade por si apresentado,acontecido na América, porquanto se uma imagem, como é dito, vale mais do que mil palavras, quanto a mim, um exemplo “exemplar” tem o mesmo ou maior valor.
Quanto ao outro exemplo por si apresentado, este nacional (e como nos diz o anúncio televisivo “o que nacional é bom", embora possa não o ser como sabemos), relativamente ao diferencial salarial entre os professores do ensino básico e do ensino secundário, traria um aumento em espiral dos respectivos vencimentos em declarada época de crise orçamental (pondo de parte, os vencimentos, que me escuso de adjectivar para não ferir susceptibilidades , dos gestores de empresas privadas com capitais estatais em que há lucros faraónicos pagos com os nossos impostos a coberto de monopólios que estabelecem, “ad libitum”, o preço ao consumidor).
Em nome do “porreirismo nacional” (passe o plebeísmo), os que são atingidos nos seus direitos por uma igualdade entre desiguais vão-se calando na esperança de que a justiça faça valer a sua razão. Ou seja, é uma forma de cobardia de pôr os outros ao barulho na esperança de vir a colher os louros de uma acção a que se assiste no conforto de um silêncio cúmplice.
Esta pusilanimidade, que se quer fazer passar por uma espécie de bons sentimentos, vem a repercutir-se no futuro dos que mais investiram ou investem na sua formação, hoje nós e os nossos filhos, amanhã, os nossos netos. É esta situação que alguns parecem querer perpetuada, como escreveu João Lobo Antunes (“Um Modo de Ser”), “em carreiras que são entre nós matéria importante, visto estarmos num país de carreiristas no qual todos buscam uma calha que lhes permita deslizarem sem atrito?”
A questão não está tanto naquilo que se ganha, mas naquilo que se merece ganhar por esforço próprio. O óptimo é inimigo do bom e, como tal, a discussão de que nos deu conta do diálogo entre o professor do ensino básico e do ensino secundário, em os professores do básico passarem a ganhar mais e os do secundário mais também, mantendo uma justa diferenciação entre eles, seria ouro sobre azul. Mas não foi isso que se passou: igualaram-se, pura e simplesmente, desiguais.
O que convenhamos, é bem diferente por criar um clima de insatisfação de parte a parte por, em boa consciência, os professores do básico sentirem que estão a ser privilegiados por uma igualdade que nada justifica!
Meu caro Fartinho da Silva:
Desnecessário me parece repisar o interesse com que recebo os seus comentários.
Aliás, como já o tenho dito, muito valorizados saem, de maneira geral, os post’s relativamente aos artigos de jornais que tenho escrito e de que não recebo (a não ser quando em polémica) qualquer “feed-back” favorável ou não, quase me sentido como uma voz a pregar no deserto da indiferença de quem se devia interessar por estes assuntos e o não faz.
Nos post’s, não. Qualquer pessoa que discorde de mim tem a possibilidade em me contradizer no que achar conveniente em usufruto do direito que lhe assiste ao contraditório.
Como escreve de início no seu comentário, “quando falo desta questão a amigos não professores, raramente acreditam na totalidade; denotam sempre uma enorme dificuldade em acreditar nesta situação”.
Descreve, mais adiante, no seu comentário (com a minha inteira concordância) que muito do estado caótico do ensino actual se deve à acção nefasta da ex-ministra Maria de Lurdes Rodrigues, a que eu acrescentaria a acção de uns tantos sindicatos, que transformaram o ensino num enorme e devastador campo de batalha que prejudicou os alunos e os professores competentes metendo-os no mesmo saco dos incompetentes.
A nomeação da sua sucessora, Isabel Alçada, fez crer à Fenprof que jogava em casa pela sua identificação com este sindicato de que foi dirigente, e, com isso, gerou-se na própria opinião pública a falsa esperança de que a paz tinha descido à terra. Nada mais enganador.
Mário Nogueira com o seu declarado e constante pendor belicista – “querem guerra, vão ter guerra”, declaração sua - nunca criou um clima de diálogo. Diálogo, que agora se vê, não interessar à própria ministra embora pudesse interessar aos professores que vêem o seu prestigio social descer assustadoramente por uma proletarização que não serve o seu mister de natureza intelectual.
E assim se continua a viver (ou mesmo a vegetar) num aparente e travestido mundo cor-de-rosa que esconde o negrume de uma pátria, joguete de acções dolosas, que, como escreve, só por verdadeiro milagre “ainda não abriu falência por gestão danosa”.
Nunca, por nunca, foi minha intenção, ao escrever este post, fazer-me portador da verdade absoluta. Assim, veria com bons olhos, que se criasse aqui um espaço de controvérsia civilizada sem o azedume que o silêncio, por vezes, cria e amplia. "Alea jacta est"!
Alea jacta est, Rui. Só que não me parece que os dados dêem alguma coisa. O Rui, se me permite assim tratá-lo, chama os «bois pelos nomes», acertando no cerne da questão. O problema é que estes assuntos são, pura e simplesmente, tabu, materializando-se no silêncio. Por esse motivo, não tem feedback. As pessoas lêem mas engolem em seco. O contrário também é verdade, o excesso de ruído também silencia. Obrigado pelo seu decoro.
Caro Fartinho, actualmente a pseudo-democracia, inscrita na proliferação dos artigos de opinião, embrutece mais do que esclarece, manuseia mais do que impor a verdade. A verborreia de puro senso comum prolifera, contribuindo para a desinformação. Por isso, concordo consigo.
No conjunto dos vários textos (o original e os comentários) há um aspecto pouco claro: o critério que deve distinguir uma eventual divisão (da carreira) dos professores.
O critério mais comummente utilizado/invocado é o das habilitações (o texto original refere-o). É esse o critério utilizado para determinar os professores que têm acesso ao topo da carreira (os licenciados) e os que o não têm (os não licenciados/bacharéis).
Mas, então, não parece haver razão para, actualmente, distinguir, entre si, os professores do ensino não-superior (uma vez que agora se exige a todos a licenciatura). Já não assim aos do ensino superior, em relação aos do não superior (e, porque as habilitações exigidas são diferentes, deixa de fazer sentido perguntar-se -- numa absurda redução ao absurdo -- por que não englobar estes últimos numa carreira única de todos os professores).
Outro critério, ambiguamente acrescentado nos textos, é o do tipo de trabalho: haveria, segundo aqui se lê, um trabalho básico e um trabalho superior (o dos profes do secundário). No meu entender, este critério é inaplicável ou a sua aplicação será sempre excessivamente subjectiva. Explico-me...
Admitamos que, seguindo este critério, faça sentido distinguir um professor de Matemática/Filosofia/... de um professor que "ensina o bê-a-bá". Segundo o mesmo critério, possivelmente fará sentido distinguir os professores do 1º ciclo dos do 2º ciclo e estes, dos do secundário: 3 carreiras. Mas, ainda segundo esse critério, provavelmente fará sentido distinguir os professores de Educação Física dos professores de... Filosofia (não só pelas competências requeridas para o ensino como pelo trabalho que ambos os grupos têm). E as diferenciações poderiam continuar...
Termino com uma declaração de (não) interesses. Para que conste (que não defendo nenhuma dama): sou professor do secundário, de uma disciplina "nobre" (filosofia) -- daquelas que, segundo estes critérios, mereceriam uma carreira... de topo. ;-)
Caro Rui Baptista
No diálogo a que assisti não transmiti a ideia que referiu:
"...a discussão de que nos deu conta do diálogo entre o professor do ensino básico e do ensino secundário, em os professores do básico passarem a ganhar mais e os do secundário mais também..."
Se não fui claro no meu comentário, repito:
O do secundário opinava que o do básico devia ganhar menos.
O do básico dizia que não havia razão para ganhar menos; mas havia razão para o do secundário ganhar mais.
Duas posições inversas: o do secundário queria diminuir o básico, e o básico pretendia subir o secundário.
Caro Ai meu Deus,
Li com muita atenção o seu comentário e... não encontrei uma única solução para o problema! Assim sendo, julgo que o caro defende o status quo e como tal, talvez defenda que o enfermeiro deve ter o mesmo vencimento e/ou a mesma carreira de um neurocirurgião. Julgo, ainda, que o caro Ai meu Deus, pagará exactamente o mesmo por um prato servido num vulgar café próximo sem qualquer cozinheiro ou num restaurante com um chef e dois ou três cozinheiros "ajudantes"...
Espero, ansiosamente, pela sua resposta.
O que me choca neste diálogo é não haver a mínima referência às qualidades intrínsecas do profissional que trabalha com alunos, independentemente das suas habilitações académicas.
Não falo sobre construção de pontes, nem sobre fusão nuclear, nem sobre como fazer excelente pão: falo de dentro, no trabalho concreto com alunos.
E posso afirmar, com a margem de erro inerente à parte da realidade que me é facultada observar, que existem professores com menos diplomas que são bem melhores do que outros com estatuto social mais elevado.
Pensava que, agora, os professores do 1º ciclo só podiam exercer a docência se fossem licenciados...
Caro Fartinho,
Como leitor do texto do Rui (e dos comentários), não tenho que apresentar qualquer solução.
De qualquer modo, do meu comentário (e até a julgar pelo que sobre ele escreve) penso resultar claro que
1) não tenho nada contra a adopção de um qualquer critério para distinguir vencimentos, desde que pareça razoável;
2) defendo que o critério das habilitações parece ser o mais seguido (e não apenas na profissão docente) e o menos problemático, na aplicação;
3) de certo modo, defendo de facto o statu quo (digo "de certo modo", porque reconheço alguns problemas).
Apesar disto, engana-se ao julgar que defendo o que refere. O problema dos exemplos que apresenta é o problema das analogias; nestas, os aspectos comparados têm que ser relevantes -- e no caso não são. Não o são, porque a) o enfermeiro e o neurocirurgião têm profissões diferentes; b) o modo como são estabelecidos os preços dos restaurantes não é o modo como são definidos os vencimentos de profissionais como os professores.
Espero ter "matado" a sua ansiedade. ;-))
Caro António:
Começo por lhe agradecer o tratamento que me deu pelo meu nome próprio, e que eu retribuo na sua pessoa com imenso gosto.
Bem eu sei que “chamar os bois pelos nomes” cria más vontades que eu aceito em nome da minha maneira de estar na vida.
Bem eu sei, outrossim, a incomodidade do meu procedimento e a sua quase inutilidade relativamente a um procedimento mais cómodo só que, como escreveu Ramalho, “não é nem digno nem verdadeiro”.
Cada um nasce para o que nasce, e na minha idade, uma mudança, teria o sabor de uma renúncia de muitos anos de luta (tantos que lhes perdi a conta) por aquilo em que acredito sem me vender a interesses instalados ou acolher à sombra de caminhos menos espinhosos.
No princípio dos anos 90 foi determinada a possibilidade dos professores do primeiro ciclo avançarem para a licenciatura através de sistemas mais que duvidosos. Foram criados mecanismos céleres em vários politécnicos ou escolas superiores de educação que, em alguns meses, equiparavam as anteriores habilitações às de licenciatura. Criaram-se, por isso, inúmeras situações de injustiças e de aproveitamentos vários, causando um silêncio ensurdecedor, o que também se explica por muitos professores do ensino secundário terem uma intervenção activa nestes cursos de formação. Criou-se, assim, uma carreira única, caso também único na Europa. Daqui decorreu todo o problema orçamental. por isto se pretendeu dividir a classe entre professores titulares e não titulares de uma forma bruta, sem critério, sem inteligência (conhecendo a classe, ainda hoje me pergunto como o governo não conseguiu...). Estamos assim num ponto sem retorno e, por isso, os dados apesar de lançados não têm jogadores. Agora, se questionarmos as tarefas, então encontramos diferenças. O rigor científico, a exigência intelectual. Tal como encontramos diferenças no ensino superior relativamente ao secundário. Se houvesse uma possibilidade de igualar as carreiras destes dois níveis de ensino, havia certamente oposições e, até, se acharia absurdo pela exigência científica.
Quanto à questão da licenciatura ser exigida para leccionar o 1º ciclo, é verdade que é necessária, mas o que pergunto é se havia necessidade...
Ai meu Deus:
Confesso, com declarada pena, não conseguir responder a todas as suas questões algumas delas assumindo características de “fait-divers”.
Mas por alguma ponta devo começar, em pontos assumidamente mais polémicos. Debruço-me, portanto, sobre os diplomas que dão acesso à docência.
Por exemplo, a aquisição de complementos de habilitações que deram acesso ao bacharelato. Casos houve de professores diplomados pelas antigas escolas do magistério primário que, antes do facilitismo em adquirir um diploma de licenciatura como quem bebe um copo de água, resolveram tirar o antigo sétimo ano do liceu (a exigência de acesso aqueles cursos era o antigo 5.º ano), para se poderem matricular numa licenciatura universitária e aí fazerem um percurso académico idêntico a qualquer outro aluno.
Outros deixaram-se estar onde estavam para num determinado momento de escandaloso facilitismo se inscreverem num curso privado que lhes vendeu a licenciatura em escassos meses. A deveres diferentes devem corresponder direitos iguais?
Há quem, pelos vistos, ache que sim como em tempos medievais houve quem defendesse que era o sol que girava à volta da terra!
Por outro lado, será justo que concorrendo a um mesmo lugar na docência do 2.º ciclo do básico um indivíduo formado por uma ESE com nota de acesso inferior e nota de saída inflacionada tenha prioridade de acesso a esse lugar por ter um único valor a mais de diploma que o aluno saído dos bancos universitários com idêntico destino?
Finalmente, a parte que eu tenho como substantiva da sua argumentação: “Mas, ainda segundo esse critério, provavelmente fará sentido distinguir os professores de Educação Física dos professores de... Filosofia (não só pelas competências requeridas para o ensino como pelo trabalho que ambos os grupos têm)”.
Carece, quanto a mim, este seu contra-argumento de vício de forma ao dizer que segundo este critério (o meu) provavelmente (um provavelmente redentor) fará sentido distinguir os professores de Educação Física dos professores de…Filosofia, essencialmente, pelas competências requeridas para o ensino”.
Tirando o caso dos antigos instrutores de Educação Física (de posse de um curso médio) as competências académicas para a docência de ambas as disciplinas são exactamente as mesmas: uma licenciatura universitária (antes de Bolonha).
Quanto ao trabalho que ambos os grupos exercem, embora a Filosofia tenha sido a disciplina do antigo liceu que mais interesse em mim despertou como aluno da Secção de Ciências, o trabalho que ambos os grupos têm merece que aqui estabeleça uma diferença: se um filho seu (ou meu) tiver um mau professor de Filosofia o recurso a um competente explicador resolverá a contento (ainda que a expensas da carteira dos pais) esta situação.
Suponhamos, agora, que tem um incompetente professor de Educação Física que, por um deficiente conhecimento da fisiologia ou da metodologia do treino, lhe exige esforço físicos que lhe possam trazer problemas do foro cardíaco. Haverá um explicador desta disciplina que faça regredir os danos criados à sua saúde?
A prolixidade e o número de problemas por si levantados, a eito, faz com que a resposta a todos eles assumisse a forma de um tratado de ciências moles(Pedagogia, Psicologia, etc.) e de ciências duras ( Biologia, Biomecânica, etc.) que se tornaria fastidioso e deslocado da intenção de comentários.
Todavia, por último, não posso deixar de discordar da sua “declaração de (não) interesses” em não defender nenhuma dama: a defesa da disciplina que ministra, a Filosofia, não o deve desobrigar de vir em sua defesa. Aliás, como o fez ao estabelecer uma comparação entre ela (a pender para o seu lado) e a Educação Física.
Caro Ai meu Deus,
Julgo que o caro ainda não perceber que as profissões têm um valor económico de per si e em seguida os profissionais dependem desse valor económico para em seguida poderem usufruir de um salário e de outros complementos.
Se o caro defende o mesmo salário para todos os professores detentores do mesmo grau académico, então defenderá que um docente universitário doutorado deverá ter o mesmo vencimento de um educador de infância doutorado! O caro pode até defender este sistema, o problema é que todos vão passar a ganhar bem menos, porque os recursos são escassos e mais cedo ou mais tarde o orçamento rebenta. Lembra-se da antiga União Soviética? Da Bulgária, Roménia, Polónia, etc., etc.?
Caro Rui,
1) agradeço imenso o ter ampliado a dimensão das minhas "questões" e o ter-lhe enfiado (inominados) "fait divers";
2) na verdade, não pretendi que a comparação entre a Filosofia e a Educação Física (comparação que não acho tão substantiva como é no seu entender) pendesse para o lado da primeira; peço-lhe que me releia e, se não for claro o que digo, eu explicar-me-ei melhor. O que defendo é o critério das habilitações (para o efeito que aqui nos tem a discutir); aquela comparação serviu-me apenas para exemplificar aonde nos levaria seguir o outro critério (o da "dignidade" das disciplinas ensinadas): que fique bem claro que, em termos de dignidade, não faço distinção "a priori" entre as várias disciplinas ou o trabalho dos vários profissionais do ensino;
3) o meu amigo não me viu/leu defender esses tais cursos das ESEs ou quejandos. Ou leu? (Sobre eles, não lhe digo, por ora, o que penso, embora lhe diga que o que penso não é tão linear como o que o meu amigo escreveu).
4) espero que a minha prolixidade a eito a exigir respostas difíceis de ciência moles e duras, desta vez, não tenha sido tanta como antes foi (ou o meu amigo diz que foi)
Caro João Boaventura:
Compreendi a história (verdadeira? ou uma parábola?) que contou, tendo como interlocutores dois professores de diferente graus de ensino, cabendo ao do ensino básico achar que os professores do ensino básico deviam ganhar mais (e não baixar de ordenado) e os do ensino secundário também. Certo?
A única objecção por mim feita, atendendo a que os professores do 1.º ciclo do básico passaram a ganhar tanto como os do secundário, a aumentar os do secundário (uma medida justa) traria, nesta altura de crise económica, um dispêndio para o orçamento de estado incomportável.
Nunca pus como hipótese baixar o ordenado dos professores do ensino básico para criar um “décalage” entre eles e os do secundário. Nem os chamados direitos adquiridos (ainda que mesmo mal adquiridos) o permitiria.
O que eu critico, para deixar clara minha posição , foi o aumento de 45,4 % para os antigos professores primários e de apenas 15,6% para os professores do secundário (aliás, digo-o no próprio texto do meu post).
E tanto que não deve ter sido pacífica esta conquista que ela foi alcançada por pressão de trinta e tal organizações profissionais docentes a Roberto Carneiro, ao tempo ministro da Educação. É conveniente recordar que os sindicatos com maior expressão numérica de associados (Fenprof e FNE) defendiam os interesses de grande franja dos seus associados a exercer a docência no ensino primário.
Quando os professores licenciados, finalmente, acordaram da letargia da indiferença do que se estava a passar à sua volta organizarem-se em sindicatos próprios para chorarem, apenas, sobre o leite derramado até porque a canção “Ó tempo volta para trás”, de António Mourão, estava proibida pelas liberdades da altura!
Como é consabido, sindicatos houve que admitiram como associados docentes sem qualquer habilitação académica de jeito (por vezes a “ensinarem” alunos com maiores ou idênticos conhecimentos) que tivessem ter dado meia dúzia de dias de aulas, apenas.
Poder-me-ão objectar que a minha atitude tem o romantismo de estar a lutar contra moinhos de vento. Concedo! Mas continuarei a lutar por julgar que a minha modesta acção pode ter o efeito profilático de evitar que erros futuros deste jaez se repitam ou, pelo menos, deixar que eu carregue o remorso da cumplicidade de nada fazer só porque posso fazer pouco!
Meu Caro João Boaventura:
Embaraçado pelo lapso involuntário por mim cometido (a merecer o cognome de "apressadinho" que um dia com amizade me dedicou), venho à sua presença, e de possíveis leitores, pedir-lhe desculpa por não ter reparado que o facto que relatou, passado entre dois professores, foi por si assistido.
Um abaço, com renovados pedidos de desculpa
Rui
Caro Rui Baptista
"Compreendi a história (verdadeira? ou uma parábola?) que contou, tendo como interlocutores dois professores de diferente graus de ensino, cabendo ao do ensino básico achar que os professores do ensino básico deviam ganhar mais (e não baixar de ordenado) e os do ensino secundário também. Certo?"
Errado
Eu disse:
...cabendo aos do ensino básico achar que os professores do ensino básico deviam manter o vencimento e aos do ensino secundário aumentar...
Um grande abraço
Caro João Boaventura:
Quanto a mim, quem estava errado era o professor do ensino básico (na previsão que se tratava de um professor do antigo ensino primário). E digo-vos (a si e a ele, na previsão de ele me ler algum dia) que o antigo professor do ensino primário estava muito mal pago relativamente ao professor do secundário. Mas, daí, a ser igualado em vencimentos a um professor do secundário...
Para abreviar razões, quase diria que era tão mau o soneto como agora é a emenda.E a emenda de que aqui dou conta foi obtida em vestígios de um período em que em Portugal se popugnava pela utopia de uma sociedade sem classes, sem atender ao esforço de cada um para obter um lugar ao sol.
Aliás, deste mesmo mal, sofre o ensino dos alunos do ensino básico.Quer muito se esforcem eles por passar com boas notas, o aluno calaceiro da carteira ao lado, que falta às aulas, tem a passagem garantida, tal como aqueles, para fins estatísticos; e, com sabe, essas notas para nada ou pouco contam.
E assim se cria a metodologia do facilitismo, do caminho mais fácil para atingir os mesmos fins e...os mesmos vencimentos! Nem que para tanto,se criem, como se criaram, cursos de fim-de-semana para dar licenciaturas como se tratasse de um bodo democrático.
Depois é vê-los, por aí, a pavonearem-se quais tribunos romanos que tudo sabem. Como diria o outro, hoje pavão, amanhã espanador!
Um abraço amigo
Errata: 3.ª linha,2.º , emendo popugnava para propugnava.
Caro Luís C. Pires:
Neste “mare magnum” de opiniões contraditórias (inicialmente quase irredutíveis, mas que pouco a pouco vão perdendo a rigidez inicial), surge agora a sua opinião a perspectivar este problema numa óptica diferente, no trilho de Charlie Chaplin: “Aprendi que diplomas na parede não me fazem mais respeitável ou mais sábio”.
Ou seja, para si, em companhia de uma figura mítica da 7.ª Arte, os diplomas académicos, por mais credenciados que sejam, nem sempre, caucionam a qualidade do ensino ministrada pelos seus diplomados.
Em certa medida, assim é! Para ser professor não basta ter um canudo, exige-se a empatia criada entre o aluno e o professor e, mais do que isso, que a docência assuma uma dádiva do docente à sua profissão que não se pode transformar numa canga pesada de que ele se não liberta enquanto não surgir uma ocasião para fazer outra “coisa” que lhe garanta, a si e à família, o devido ganha-pão.
Por vezes, encontramos docentes que contam furiosamente os anos, os meses, os dias, e até as horas que lhes faltam para se reformarem . Umas vezes porque não nasceram para serem professores, outras por estarem fartos de serem vítimas de medidas tutelares prepotentes do ministério da Educação que os asfixiam num exercício profissional em que nem sequer existe o direito de se auto-regularem, como o fazem,v.g., outras profissões como os médicos e os engenheiros, ainda que trabalham majoritariamente em serviços públicos ou privados, hospitais e clínicas particulares (para clarificar esta situação, sim, como já deduziu pela certa, estou a defender, até à exaustão, a criação de uma Ordem dos Professores!).
Aceito, de boa mente, o seu ponto de vista como excepções a confirmarem a regra de os professores estarem devidamente habilitados para exercerem uma profissão de grande responsabilidade social no desenvolvimento de qualquer país.
Todavia, pretender transformar estas excepções em regra teria como efeito fecharem-se todas as escolas de formação de professores por serem desnecessárias e, como tal, um dispêndio de má administração dos dinheiros públicos de um país em riscos de colapso ou feito pedinte da magnanimidade da poderosa Alemanha ou de outros países que gravitam à sua volta. Ainda, recentemente, Portugal, numa atitude defensiva em pôr as barbas de molho, se prontificou em auxiliar a Grécia com uns tantos milhões de euros!
Caro Rui Baptista
Não era do antigo ensino primário, era saído das actuais Escolas Superiores, e isto passou-se há seis anos.
O problema residia no facto de o do secundário achar que, embora o vencimento do do básico fosse menor, a distância era demasiado pequena.
Daí o do básico insistir que o vencimento dele estava certo, concluindo que, para satisfação do do secundário, deveria o vencimento deste aumentar, para aumentar também a distância entre os dois.
Um grande abraço
Caro Zfern:
No seu brevíssimo comentário, que transcrevo na íntegra, escreveu: “Pensava que, agora, os professores do 1.º ciclo só podiam exercer a docência se fossem licenciados…”
Pensava e pensava bem, com uma ligeira correcção.
O exercício de professor do actual 1.º ciclo do ensino básico (antigo professor do ensino primário) tem passado por modificações estruturais que vão, ainda hoje, de um diploma médio das antigas escolas do Magistério Primário (equiparado a bacharelato para efeitos de docência e continuação de estudos),a um bacharelato das actuais escolas superiores de educação, uma licenciatura (antes de Bolonha) por estas escolas, até um mestrado (depois de Bolonha) nessas mesmas escolas.
Comummente é aceite que as crianças preparadas pelos antigos diplomados pelas escolas do magistério Primário dominavam, na sua maioria, o chamado LEC (ler, escrever e contar). Hoje, ainda como é comummente aceite, há licenciados que dão erros de ortografia palavra sim, palavra não (com o devido desconto do exagero).
Já avaliou, por momentos, no caso de não haver o corrector de erros dos computadores, o chorrilho de asneiras saídos dos respectivos teclados? O Diabo, aparece de garfo e labaredas, sempre que estes escribas têm de manuscrever simples linhas. Ou seja, para não me alongar mais, nem sempre (repito, nem sempre: ou sejam, as tais excepções que confirmam a regra!) o grau académico é sinal de competência, mormente, quando esse grau académico em escolas em que impera o chico-espertismo de vender em escassos meses diplomas de licenciatura a equiparados a bacharel em escolas particulares que se transformaram numa espécie de fábricas de fazer chouriços, ainda por cima com carne de duvidosa qualidade.
Os seus usufrutuários, aqueles que têm um pingo de consciência, sentem-se mal, os outros, os mais ou menos, responsáveis, calam a sua consciência dizendo se os outros o fazem não se vão armar em parvos não navegando na onda do oportunismo. Em resumo, em poucos anos, de um diploma médio se fez um bacharelato, de um bacharelato uma licenciatura, de uma licenciatura um mestrado com o “agrément” do próprio Estado que, assim, poupa largas maquias na formação destes professores através de escolas privadas feitas em vão de escada que, de vento em popa, chegam a criar instalações de luxo faraónico.
Tempo houve que nos cinemas nacionais passava um documentário de actualidades intitulado “Assim vai o mundo”. Parafraseando-o: “Assim vai a educação em Portugal, neste dealbar de milénio!”
Meu Caro João Boaventura:
Bem me parecia haver um erro de agulhas que fez com que os nossos pensamentos seguissem caminhos diferentes que fizeram com que eu respondesse bugalhos aquilo que me dizia serem alhos, ou vice-versa.
Quiçá eu tivesse pensado (mal) que a imagem que encima intencionalmente o meu post (uma escola primária) fosse suficiente. Mas não foi! E, como tal , resta-me reconhecer essa insuficiência. Mas como dizem os franceses, “tout est bien qui finit bien”.
Agradeço-lhe, portanto, a sua intervenção, essencialmente, a sua história do Dr. Johnson (que aconselho, vivamente, o leitor a ler: é o comentário que antecede todos os outros).
Mais uma vez se verifica que, não poucas vezes, os comentários abrilhantam os post’s quando não há a intenção de nos deixarmos matar pelas nossas convicções mesmo que sabendo, de antemão, não corresponderem à verdade.
Outras vezes não, porque, como diz o povo, são uma espécie de chover no molhado com o monocordismo da nossa teimosia. Ou como eu costumo dizer, na intenção de continuar a serrar serradura…
Caro “Ai meu Deus” (comentário 25/Abril, 23:54):
Agradeço-lhe o seu comentário que clarificou a sua tomada de posição para que eu não possa, em certos pormenores, tomar a nuvem por Juno.
Quanto às habilitações para a docência da Educação Física, obrigo-me a ampliar esse leque por ter mencionado apenas os instrutores de Educação Física e os professores de Educação Física. Para além delas, existe a formação de professores do 2.º ciclo do ensino básico na variante de Educação Física. Aliás como existe para outras disciplinas como Matemática com os resultados que obrigam esses professores a fazerem cursos de reciclagem pelos maus resultados do PISA.
Esses professores do 2.º ciclo do ensino básico na variante de educação física, provavelmente, na intenção de poupar saliva dizem ser professores de Educação Física, a exemplo dos engenheiros técnicos que abreviam esse título profissional para engenheiro “tout court”. Se forem alegadas boas intenções nesse resmo, é caso para dizer que de boas intenções está o inferno cheio!
Por outro lado, tendo sido criadas inicialmente as escolas superiores de educação para formar professores do 1º ciclo do básico, logo se propuseram formar professores de várias disciplinas para o 2.º ciclo, de cariz “cientifico” e “humanístico” que nas universidades são ministrados em faculdades diferentes.
Para além disso, pululam nelas cursos de teatro, animação cultural, educação especial, comunicação social, etc., que as transformam na intenção em universidades e na prática numa salganhada de escolas, que não são peixe nem carne, onde se pode ensinar tudo e nada numa panóplia de conhecimentos que fazem com que o pobre quando a fartura é muita desconfie!
Diz-me, o meu amigo, que não defendeu as escolas superiores de educação. Se o escrevi, sinceramente não me lembro e perante a extensão dos meus comentários peço-lhe que me desculpe a sua não confirmação.
Todavia, transcrevo esta, “ipsis verbis”, por o ter mais à mão, parte do seu último comentário que me ficou a bailar na cabeça e despertou em mim a curiosidade de saber o que pensa sobre as escolas superiores de educação para que eu possa cotejar a sua opinião com a minha estando pronto a reformular a minha posição se encontrar argumentos que me convençam.
Segue-se a transcrição em causa: “Sobre elas [escolas superiores de educação], não lhe digo, por ora, o que penso, embora lhe diga que o que penso não é tão linear como o que o meu amigo escreveu)”.
No seu caso, como professor de Filosofia não existe o perigo desta formação ministrada nas ESE’s.Mas pelo andar da carruagem e porque, como diz o povo, nas costas dos outros lemos as nossas…
Caro Rui Baptista:
Eu não proponho nada.
Acho que o mérito não advém automaticamente da existência ou não de diplomas.
Reconheço que mais estudos podem ser sinal de maior capacidade profissional. Mas, longe de serem excepções, conheço bastantes licenciados que - no/do ensino, que é do que estamos a falar- percebem muito pouco e são autênticas nódoas.
O essencial, pode crer, é a empatia que se cria com os alunos. E, para isso, pouco interessa o bacharelato, o mestrado, o doutoramento ou a licenciatura.
Acresce que sou utópico e não acho que o dinheiro (escalões, graus, carreiras, dinheiro, dinheiro, dinheiro) seja a mola real da vida.
Infelizmente reconheço que o é para a esmagadora maioria dos indivíduos.
Caro Luís C. Pires:
Começo por agradecer a sua resposta e congratular-me com o facto de concordar em absoluto comigo quando escreve “que o mérito não advém automaticamente da existência ou não de diplomas ou não de diplomas”. Retenho e registo o advérbio “automaticamente” por ser necessário cumprir outras condições.
Gutav Le Bom, o diz taxativamente quando escreve (in, “Les Opinionts et les Croyances”):
“ Um dos grandes erros do nosso tempo é o de julgar que a educação igualiza os homens. Ela utiliza-os, mas não os igualiza. Grande número de políticos ou de universitários, carregados de diplomas, possuem uma mentalidade de bárbaros e não podem, portanto, ter por guia na vida senão uma alma de bárbaros”.
Com as excepções que as há, felizmente, basta dar uma vista de olhos pelas transmissões televisivas do que se passa na Assembleia da República para aí encontrar essa prova não só em França como em Portugal.
E o ensino é, por vezes, outra prova evidente quando se encontram professores (de)formados por diplomas politécnicos ou mesmo universitários que dirigindo-se ao conselho executivo da respectiva escola (antigo conselho directivo, agora direcção da escola) manuscrevem documentos a ele destinados da forma seguinte: “Senhor presidente do ‘concelho’ directivo”.
Analisemos agora a outra face da moeda.
Não ponho em causa os verdadeiros autodidactas. Mas como li algures, com ironia amarga, “ o autodidacta é um ignorante por conta própria”. No meio de tudo isto eu comungo da opinião, julgo que de Eça, que quase a tenho como dogma, quando avisa (cito de memória) que para ensinar há uma condição “sine qua non”: saber. Jorre o verdadeiro conhecimento de uma fonte de água límpida, seja ela qual for.
Desculpe que lhe diga com a melhor das intenções: ingénua utopia a sua quando defende que o dinheiro não deve ser a mola real da vida. Plenamente de acordo, mas bem mais realistas são aqueles gestores que ganham rios de dinheiro dizendo que o merecem plenamente pela elevadíssima competência que os torna insubstituíveis, embora os cemitérios estejam cheios de pessoas insubstituíveis: presunção e água benta cada um toma a que quer e enquanto durar neste país a água benta da cobertura estatal destas situações correrão elas lado a lado da verdadeira pobreza que se torna cada vez mais difícil esconder e da (im)própria classe média que tende a ser extinta tornando Portugal num país de muitos ricos, verdadeiros nababos, e de pobres e muito pobres, independentemente da qualidade de diplomas que possuem, deixando a educação, a verdadeira educação, de ser uma forma de subir na vida como sucede nos países verdadeiramente democráticos.
Quantos pais não choram hoje o dinheiro gasto com as licenciaturas, as verdadeiras licenciaturas (hoje mestrados), e os sacrifícios feitos pelos filhos em noites insones de estudo para os ver nas garras do desemprego ou em funções para as quais as antigas habilitações de uma séria antiga 4.ª classe da instrução primária chegava ou mesmo sobrava.
Como vê, meu caro Luís , o seu comentário teve a virtude de estarmos aqui a discutir temas polémicos que não devem ser tabus! E, muito menos, caírem no esquecimento ou na indiferença daqueles que dizem nada terem a ver com ninharias porque a sua preocupação é, a duas jornadas do fim, saber quem vai vencer o Campeonato da I Liga de Futebol!
Felizmente, reside em mim a esperança que nem tudo está perdido renascendo em mim a esperança pelo grande número e qualidade de comentários feitos ao meu post, cujo mérito reside em ter aberto uma tribuna livre em que os meus pontos de vista são discutidos na observação do 2.º princípio que deve presidir ao envio de comentários: "Seja respeitoso e cordial, ainda que crítico. Argumente e pense com profundidade e seriedade e não como quem 'manda bocas'".
Emanado do “De rerum natura”, acabo de receber um mail que agradeço ao seus subscritor pelo interesse demonstrado pelo meu post e pelos comentários que lhe foram feitos. Trancrevo-o na íntegra:
“A/c do Professor Rui Baptista,
Em relação ao post colocado com o titulo "Os professores primários e
os outros professores" com o qual concordo na globalidade, desejo
referir alguns pontos. Assim:
1) Um dos problemas da carreira dos docentes está ligada às
habilitações e sua aplicação. Quando um professor é colocado, com
habilitações mínimas ou próprias; com licenciatura completa,
incompleta ou outra é "colega". Deixa de haver distinção entre
habilitações que se manifesta, também, na atribuição de anos a
leccionar, cargos, funções, etc.
2) Quando se contabiliza "anos de serviço" ou "idade de aposentação"
há que atender ao facto de professores licenciados (5 anos) e
docentes com habilitação mínima. Se se comparar um professor com
habilitação mínima e outro possuidor de licenciatura, para além dos
anos de formação que uns possuem e outros não, há que ter em conta o
tempo de entrada ao serviço e o evoluir do mesmo, com os benefícios
resultantes.
3) Na classe docente, ao contrário, por exemplo, da formação militar
em que havia dois cursos com evoluções diferentes: o de sargentos e o
de oficiais. Quem ingressasse na classe de sargentos apenas poderia
aspirar a determinados postos de topo. Nos professores o escalonamento
também deveria ser feito de acordo com as habilitações de candidatura.
Faz pouco sentido que licenciado estejam a dar aulas a 7ºs e
"colegas", por terem mais tempo de serviço, com cusrso incompleto ou
habilitações mínimas, estarem a leccionar ao 12º.
Atenciosamente,
João Moreira”
P.S.: Como é meu hábito, em breve tecerei o devido comentário com a promessa da minha isenção embora sabendo, de antemão, a dificuldade em nos subtrairmos à idiossincrasia que nos acompanha pela vida fora.
Cordiais cumprimentos,
Rui Baptista
Meu comentário (27.Ab., 00:20):
Erratas:
1. 3.ª e 4.ª linhas, 1.º§: repetição da frase "ou não de diplomas".
2. 2.ª linha, último §: onde está "renascendo em mim a eperança", substituir por "renascendo ela em mim".
Ao Luís C. Pires, e aos possíveis leitores do comentário, as minhas desculpas.
Meu Caro João Moreira:
Como pode calcular, foi com grande prazer que recebi o seu mail que trouxe novos aspectos a uma temática sempre presente nos professores e que interessa à comunidade que servem com brio.
Já é tempo, de se demonstrar que o verdadeiro problema dos professores não é tratar da vidinha sem fazer ondas que incomodem quem devia estar incomodado por uma acção que deseja perpetuada de eles continuarem a ser o “his master voice” do poder instituído.
Grande parte dos graves problemas por si relatados escapam a uma análise de situações por mim vividas em plenitude. Encontro-me aposentado, no limite de idade permitido por lei, de uma docência nos ensinos secundário (em que muitas destas questões se não punham) e universitário: Universidade do Porto e Universidade de Coimbra.
Todavia, não me aposentei ( e nem me aposentarei enquanto os meus textos despertarem algum interesse nos leitores) da denúncia das injustiças que se têm criado no exercício de uma actividade profissional que nem sequer titulada está dando azo que qualquer bicho-careta, que ensina o bá-â- bá aos filhos da vizinha do lado, possa ser remunerado sem cair sob a alçada de exercício ilegal de profissão sob o pretexto de estar a prestar um serviço de mecenas da cultura.
Ora, isto não acontece em outras profissões (algumas de exigência académica bem menor) que se auto-regulam, através de ordens profissionais (actualmente bem mais de uma dezena)colocando os respectivos sindicatos (quando os há) a fazerem unicamente o que lhes compete em questões de natureza laboral, como sejam vencimentos e horários de trabalho.
No caso dos professores, os sindicatos metem o nariz em questões que lhe não dizem respeito (ou deviam dizer) transformando-se em verdadeiras super-instituições que não encaram os problemas pela raiz desbastando pequenos ramos de interesses dos seus associados ou das próprias cúpulas dirigentes.
O seu mail no que diz respeito às aposentações despertou em mim, uma vez mais, o desconforto causado pela injustiça da aposentação de um excelente professor de Matemática do ensino secundário (numa altura em que os sindicatos querem fazer crer que todos os professores são excelentes a adjectivação perde muito do seu verdadeiro significado, mas enfim…), antigo reitor de liceu, que se aposentou com uma pensão igual à de uma professora primária, sua vizinha, por uma questão de poucos dias na data de nascimento do Bilhete de Identidade que o não deixou chegar ao 10.º escalão da antiga carreira docente única, única por meter no mesmo saco farinha de qualidade e farelo de qualidade duvidosa, a que tinha todo o direito por inegável mérito próprio.
Não me alongo mais, nem a minha declarada ignorância sobre alguns aspecto do ensino actual me devia ter permitido chegar a este ponto. Portanto,resta-me pedir aos professores, ou simples leitores, interessados nestes temas que peguem neles com as mãos ambas, enviando comentários pela oportunidade que lhes é dada (e que não devem desperdiçar) de emitirem as suas opiniões favoráveis ou desfavoráveis não se remetendo a um silêncio que nada pressagia de bom para um exercício profissional escravizado a ditames ministeriais, a interesses sindicais que colidem com os verdadeiros valores de quem deseja ser o obreiro empenhado da reconstrução de um ensino, qual Fénix que renascida das cinzas, em que um longo período de pirómanos o mergulhou e que tanto tem obstado a um país democrático em que o valor das pessoas não deve ser moeda de troca de interesses encapotados ou à luz do dia. Até quando e a pretexto de quê?
Meu caro João Moreira:
Acabo de receber, através do DRN, um novo mail seu, que transcreverei abaixo e a que passo a responder, com muito agrado, por ver que nada está perdido quando, hoje, meia dúzia de resistentes, que aqui se manifestaram com os seus comentários (e em outras ocasiões idênticas) nos dizem que não se pode ou deve continuar a assistir, impávidos e serenos, ao caos que vigora actualmente neste canto europeu “da ocidental praia lusitana”.
Caos com culpas repartidas, como escreve, pela tutela da Educação e pela acção sindical que ora dá uma no cravo e outra na ferradura. E a que eu acrescentaria os docentes que se arrastam pelos corredores das escolas com a canga pesada de estarem a ganhar a vida numa actividade profissional que os traz pelos cabelos.
Entretanto, apenas, breves reparos ao seu texto (se é que assim se podem chamar):
1.Sem pretender tornar a situação numa espécie de troca de galhardetes, eu é que agradeço o seu post e a força que dele emana pela apresentação de casos a que assistiu e que relata.
2. Acredite, das coisas que mais prazer me dão, após uma aposentação que não desejei, mas que a minha idade impôs, é continuar a lutar, com a isenção de quem o faz, agora, já não por si, como o fez desde o verdor dos anos em que iniciou a sua carreira docente no então ensino técnico industrial, mas pelos actuais colegas que no seu dia-a-dia sofrem os efeitos da verdadeira bagunça que se instalou no ensino e por aqueles que irão herdar idêntica situação se, até lá, nada mudar.
2. Ao abrirem os olhos para uma solidariedade coxa, a exemplo do menino que avisa publicamente a multidão de que o rei vai nu, acordaram, finalmente, os professores mais habilitados, mais competentes, mais cumpridores, dando conta da espúria divisão da carreira docente entre professores e professores titulares que veio acordar os professores de uma espécie de torpor, ou mesmo estupor, que se transformou num verdadeiro pesadelo: o de empurrar para o lado o mérito docente para realçar o aspecto burocrático de quem, por vezes, procurava lugares destes para não dar aulas.
Para o descoco ser maior só faltou considerar para esse mesmo efeito a acção sindical das cúpulas dirigentes que se eternizam, ou apenas passaram pouco tempo, que fosse, por esse “sacrifício” em prol da educação, da sociedade e da grei. Assim, sim, teríamos tido a cereja em cima do bolo!
(Continua)
Sem mais delongas, transcrevo o mail recebido:
“A/c do Professor Rui Baptista,
Em relação à resposta ao post colocado com o titulo ‘Os professores
primários e os outros professores’.
Exmo. Senhor,
Agradeço, antecipadamente, a paciência da leitura e posterior resposta
ao post que enviei. Sem desejar incomodá-lo, ainda mais a quem tem o
direito de gozar a aposentação, apenas refiro dois pontos sobre a
atenciosa resposta ao citado post:
1) Os sindicatos dos professores (mormente o mais representativo) tem
contribuído mais para o descrédito da classe do que para a sua
credibilização, na opinião pública. Contribuiram (e muito!) para o
descalabro da Educação neste País. A opinião julga pelos actos e
acções. Observa as consequências.
2) Como referi no post anterior, um dos problemas dos professores
continua a ser a de não haver uma hierarquização de habilitações e
competências. Posso, rapidamente, dar um exemplo. A anterior sra.
Ministra, quando criou a divisão de titulares e não titulares, indicou
que nos grupos em que não houvesse nenhum professor nas condições de
titular e em caso de ser necessário realizar a avaliação, esta seria
feita pelo representante/delegado de grupo. Acontece que, muitos dos
cargos (representante de grupo, director de turma, director de
instalações, etc.) são, amiúde, distribuídos pelos vários elementos do
grupo, para completar horário, aquando da composição de horários sem
atender a critérios de antiguidade, habilitações, ou outro. Deste
modo, surgiu(ram) caso(s) - e um conheço-o eu - que um ex-aluno
avaliava um antigo professor, com mais de 20 anos de serviço,
licenciatura de 5 anos, a realizar o mestrado; enquanto o avaliador
tinha acabado de completar o bacharelato há 2 anos!
Cumprimentos,
João Moreira”
Retribuo os cumprimentos enviados e renovo o meu agradecimento pelos 2 mail's recebidos ,
Rui Baptista
Errata:
4.ª linha, 2.º §, I parte do meu comentário anterior.: "que deseja perpetuada de eles" não;"que se desja perpetuada para eles", sim.
Caro Rui Baptista:
Li com interesse o seu comentário de 26 de Abril das 22:16.
Não considerando a parte final do mesmo que considero (algo) descortês ou a referência que faz ao futebol (?!), concordo inteiramente consigo quando refere "(...) que para ensinar há uma condição “sine qua non”: saber. Jorre o verdadeiro conhecimento de uma fonte de água límpida, seja ela qual for." (Grande Eça!)
O problema é que o Saber não se mede aos palmos, nem pela quantidade de exames académicos que se transpuseram. Podem ser indicativos mas não são, mera opinião, absolutamente determinantes para saber se alguém está habilitado a ensinar. Os diplomas são o ponto de partida. Todo o resto do caminho é que vai determinar o essencial: para ensinar é preciso estar permanentemente a aprender, de mente aberta e de forma criativa. E gostar.
"Pequeníssimo" pormenor.
Infelizmente, o leit-motiv de muitos é a graduação que têm, o escalão em que estão, a “ordem” que procuram, ou o estatuto que julgam ter perdido.
O que para muito poucos, pouquíssimos mesmo, é muito pouco relevante.
E não, não, o dinheiro não deve ser a mola real da vida.
Sou professor de uma escola básica do 1º ciclo. Não falo de cor.
Convido-o a vir visitá-la. E talvez um dia possamos falar de viva voz.
www.eb1-sobral-abelheira.rcts.pt
Com os meus cumprimentos
Caro Luís C. Pires:
Começo por transcrever o início do seu comentário de 28 Abr., 18:43:
“ Li com interesse o seu comentário de 26 de Abril das 22:16 [Aliás, datado de 27 Abril, 00:20].
Não considerando a parte final do mesmo que considero (algo) descortês ou a referência que faz ao futebol (?!), concordo inteiramente consigo quando refere "(...) que para ensinar há uma condição ‘sine qua non: saber. Jorre o verdadeiro conhecimento de uma fonte de água límpida, seja ela qual for." (Grande Eça!)”.
Ou seja, há nele, quanto a si, 2 pontos menos claros, que possam exigir que clarifique a minha posição. Transcrevo-os do meu comentário (27 Abr. 00:20):
1. “Como vê, meu caro Luís , o seu comentário teve a virtude de estarmos aqui a discutir temas polémicos que não devem ser tabus! E, muito menos, caírem no esquecimento ou na indiferença daqueles que dizem nada terem a ver com ninharias porque a sua preocupação é, a duas jornadas do fim, saber quem vai vencer o Campeonato da I Liga de Futebol!
2.Felizmente, reside em mim a esperança que nem tudo está perdido renascendo em mim a esperança pelo grande número e qualidade de comentários feitos ao meu post, cujo mérito reside em ter aberto uma tribuna livre em que os meus pontos de vista são discutidos na observação do 2.º princípio que deve presidir ao envio de comentários: ‘Seja respeitoso e cordial, ainda que crítico. Argumente e pense com profundidade e seriedade e não como quem 'manda bocas'".
Sobre o ponto 1: Quando referi a palavra “ninharia”, ocorreram-me os debates teológicos de Constantinopla acerca do sexo dos anjos quando os turcos otomanos se preparavam para a invadir.
Os debates teológicos, tive-os na comparação que estabeleci com a preocupação sobre o vencedor do Campeonato da I Liga de Futebol.
Os turcos, aqueles que invadiram o ensino com medidas que contribuíram para o caos que nele se instalou: passagens de ano para efeitos estatísticos, programas mal feitos, indisciplina dos alunos, etc.
Sobre o ponto 2: A intenção subjacente ao que aqui escrevi teve como finalidade (que julguei não suscitar quaisquer dúvidas) congratular-me com o elevado nível dos comentários que foram feitos ao meu post. Nada mais do que isto!
Quanto ao convite que me faz de visitar a escola do 1.º ciclo do ensino básico em que lecciona, agradeço com a promessa de se algum dia isso me for proporcionado falar de viva-voz consigo num diálogo esclarecedor que nem sempre a escrita permite.
Os melhores cumprimentos,
Caro Rui Baptista:
Esclarecidas as dúvidas quanto a eventual (des)entendimento ácerca de "bocas pouco sérias", continua de pé o convite.
Porque nem tudo o que parece é.
(E nem imagina o que tenho combatido os turcos e seus sucessivos zelotas acríticos.)
Com os meus melhores cumprimentos.
Que insanidades ufanas de «senhores doutores de liceu» por aqui vejo, meu Deus! Que desconhecimento completo da realidade do que é ser «professor primário»! Façam bom uso da vossa sapiência nas aulas e deixem de atribuir culpas aos professores dos níveis «inferiores» pelo insucesso dos alunos. Canalizem os vossos discursos e forças em prol de uma sociedade mais digna e justa, em vez de quererem pedestais. Nem todos os professores «primários» têm a formação tão reles que apregoam: há-os doutores, sim! São pouquíssimos mas estão aí, no terreno, e a lecionar em escolas públicas. MMR
Embora julgue que poucas pessoas passem já por aqui, entendo que mesmo que seja apenas o autor deste comentário tardio (12/03/2012) merece ele uma resposta. A resposta, encontro-a neste basilar princípio: "O que é igual deve ser tratado como igual, o que é diferente deve ser tratado como diferente". Como poderá ver, não se trata de querer "pedestais". Apenas se trata de uma questão de justiça!
Enviar um comentário