Neste final de ano lectivo têm sido retomadas interrogações antigas, sem que se vislumbre, mais um vez, uma convergência de respostas.
Pensando no assunto, lembrei-me do pedagogo espanhol J. Quintana Cabanas que, a abrir o livro Eduquemos mejor: guia para padres y profesores, já aqui apresentado, põe a seguinte pergunta: "Porque é que a educação é um problema difícil?"
A sua opinião é a seguinte:
A sua opinião é a seguinte:
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“A dificuldade para chegar a fórmula correcta da boa educação é uma experiência quotidiana, e distintos níveis: em casa, é frequente o pai e a mãe não encontrarem um acordo sobre a aplicação de certas sanções aos filhos ou de os pôr um não num colégio religioso; na escola, nem todos os professores compartilham o mesmo ideário educativo; esses professores queixam-se habitualmente de que os princípios educativos que consideram convenientes não são os mesmos que orientam muitas famílias; esses mesmos professores às vezes julgam inoportunas ou nefastas certas directrizes introduzidas no sistema educativo; e como se tudo isto não bastasse, ao nível teórico defendem o que outros condenam; e isto é uma dialéctica histórica que se assemelha à dos filósofos, sucedendo-se umas doutrinas a outras, mesmo as mais inverosímeis, parecendo impossível chegar à “verdade objectiva”, à norma da boa educação.
O problema está não só na determinação dos fins, mas também dos meios. O dogma evidente que uns consideram, é criticado e negado por outros que consideram o dogma contrário. Por exemplo, no começo do século XX, Durkheim apresentava como princípio da educação a necessidade de que o educando se adaptasse às normas sociais (entre elas as de trabalho), dizendo que a sociedade deveria obrigá-lo, sendo que a escola – a agência desta «socialização» – devia contar com a «autoridade» do professor, o qual poderia recorrer a castigos para tal. Porém, nessa mesma época, o movimento da Escola Nova surgia com grande força, e os seus mentores (Bovet, Montessori e Decroly) proclamavam o princípio da espontaneidade e da liberdade da criança como condição para que esta pudesse «autodesenvolver-se» de forma perfeita e segura. Um par de décadas depois, a Pedagogia marxista de Rússia soviética (…) voltavam às propostas pedagógicas de Durkheim, acentuando-as. E, simultaneamente, a escola de Summerhill no Reino Unido, proclamava que as crianças e os adolescentes não devem trabalhar nem estudar de maneira forçada, mas de interpretar e seguir os seus impulsos num ambiente de liberdade e não de doutrinamento que os resguarde de qualquer repressão pessoal.
Como se vê, o desconcerto teórico em educação não pode ser maior. É-o, e compreende-se, a nível ideológico (…) mas é-o também a nível técnico e científico, sendo aqui um pouco mais estranho, dado que a Ciência distingue-se da Filosofia pela sua aspiração a formular teses previamente comprovadas, objectivas e seguras. Ora bem, como a Pedagogia se apoia nas Ciências Humanas (Psicologia, Sociologia, Antropologia, estas têm também os seus problemas gnoseológicos e metodológicos, que se projectam na Pedagogia; e assim não é estranho que a teoria da aprendizagem humana soçobre nos seus pressupostos e afirmações e que, por conseguinte, a Didáctica se perca em modelos explicativos e teorias da comunicação, a Organização Escolar divague em observações e experiências para determinar o currículo escolar mais eficaz, e os sistemas educativos dos vários países introduzam umas inovações que, a posteriori, defraudem as esperanças que se haviam posto neles.
Percebemos que a educação anda à deriva num mar de problemas. Toda ela é um problema. De vez em quando aparece um profeta da educação, com ar de messias que anuncia a salvação. Mas, logo de seguida surge a dúvida e o desencanto. Normalmente a causa disto é a sua teoria da educação ser «unilateral», quer dizer, basear-se num princípio educacional que, sendo acertado e verdadeiro, descuida outro ou outros princípios (também verdadeiros) que se lhe opõem.”
Quem continuar a leitura do livro de Quintana Cabanas percebe que o caminho que ele sugere àqueles que trabalham nas Ciências da Educação não é nem a negação deste “mar de problemas”, nem a desvalorização do conhecimento científico e filosófico, nem a desistência do pensamento racional e da investigação. É, exactamente, o contrário.
O problema está não só na determinação dos fins, mas também dos meios. O dogma evidente que uns consideram, é criticado e negado por outros que consideram o dogma contrário. Por exemplo, no começo do século XX, Durkheim apresentava como princípio da educação a necessidade de que o educando se adaptasse às normas sociais (entre elas as de trabalho), dizendo que a sociedade deveria obrigá-lo, sendo que a escola – a agência desta «socialização» – devia contar com a «autoridade» do professor, o qual poderia recorrer a castigos para tal. Porém, nessa mesma época, o movimento da Escola Nova surgia com grande força, e os seus mentores (Bovet, Montessori e Decroly) proclamavam o princípio da espontaneidade e da liberdade da criança como condição para que esta pudesse «autodesenvolver-se» de forma perfeita e segura. Um par de décadas depois, a Pedagogia marxista de Rússia soviética (…) voltavam às propostas pedagógicas de Durkheim, acentuando-as. E, simultaneamente, a escola de Summerhill no Reino Unido, proclamava que as crianças e os adolescentes não devem trabalhar nem estudar de maneira forçada, mas de interpretar e seguir os seus impulsos num ambiente de liberdade e não de doutrinamento que os resguarde de qualquer repressão pessoal.
Como se vê, o desconcerto teórico em educação não pode ser maior. É-o, e compreende-se, a nível ideológico (…) mas é-o também a nível técnico e científico, sendo aqui um pouco mais estranho, dado que a Ciência distingue-se da Filosofia pela sua aspiração a formular teses previamente comprovadas, objectivas e seguras. Ora bem, como a Pedagogia se apoia nas Ciências Humanas (Psicologia, Sociologia, Antropologia, estas têm também os seus problemas gnoseológicos e metodológicos, que se projectam na Pedagogia; e assim não é estranho que a teoria da aprendizagem humana soçobre nos seus pressupostos e afirmações e que, por conseguinte, a Didáctica se perca em modelos explicativos e teorias da comunicação, a Organização Escolar divague em observações e experiências para determinar o currículo escolar mais eficaz, e os sistemas educativos dos vários países introduzam umas inovações que, a posteriori, defraudem as esperanças que se haviam posto neles.
Percebemos que a educação anda à deriva num mar de problemas. Toda ela é um problema. De vez em quando aparece um profeta da educação, com ar de messias que anuncia a salvação. Mas, logo de seguida surge a dúvida e o desencanto. Normalmente a causa disto é a sua teoria da educação ser «unilateral», quer dizer, basear-se num princípio educacional que, sendo acertado e verdadeiro, descuida outro ou outros princípios (também verdadeiros) que se lhe opõem.”
Quem continuar a leitura do livro de Quintana Cabanas percebe que o caminho que ele sugere àqueles que trabalham nas Ciências da Educação não é nem a negação deste “mar de problemas”, nem a desvalorização do conhecimento científico e filosófico, nem a desistência do pensamento racional e da investigação. É, exactamente, o contrário.
Referência:
Quintana Cabanas, J. M. (2007). Eduquemos mejor: guia para padres y profesores. Madrid: Editorial CCS.
3 comentários:
O que Quintana consagra está correcto mas as valências que refere equivalem à preocupação em consagrar o alcatrão e o cimento, em detrimento das coisas humanas.
Isto a propósito de o núcleo fundamental, o aluno, ou a criança, que tem um ritmo de vida, estar subordinado a, e dependente de, dois ritmos, o da escola e o dos pais. Sendo estes dominantes, o do aluno fica obliterado, ou alterado, sem o rendimento escolar que os instrumentos pedagógicos tentam salvar. Não sendo possível conjugar o horário de trabalho dos pais com o horário escolar, o aluno fica dependente do horário do pai ou do horário dos transportes colectivos. É um mal que não pode ser corrigido, mas que interfere no ritmo de vida e no ritmo biológico do aluno.
Sabido que o rendimento escolar é menor até aos dez anos de idade, na parte da tarde, ocorrendo o contrário com os de idade superior, o Ministério salta por cima dos ritmos biológicos das crianças, e deseja a todo o transe mantê-las num semi-internato, de manhã até final da tarde, não na convicção de que o rendimento escolar vai aumentar, mas como forma de cativar o apoio das famílias às suas intransigentes regulações, como se dissesse:
- Eu faço a vontade aos pais, de ter os meninos encurralados o dia todo, mas os pais têm que estar coniventes com as minhas medidas espartanas reguladoras do ensino, para domesticar e dominar os professores e os alunos.
Os pais acabaram por se tornarem cúmplices da humilhação dos professores por parte do Ministério, e criaram a revolta dos filhos que agrediram a Ministra numa das visitas a uma escola.
Com esta cumplicidade, os pais são os primeiros a prejudicar o ritmo biológico dos filhos, não só com a sobrecarga de disciplinas como com a sobrecarga de horas. Isto é, tornam os pais felizes e despreocupados, e os filhos infelizes.
Conclusão: a logorreia e a política estão em primeiro lugar, e a criança… a criança... essa será celebrada no Dia Internacional da Criança. Uma vez por ano, só se pensa nela.
Não chega.
O problema essencial é colocar a ideologia à frente do pragmatismo. Enquanto não percebermos todos que a escola é um local de conhecimento e cultura, o professor é aquele que estuda e ensinar, o aluno estuda e aprende e o encarregado de educação é o responsável pela educação dos seus filhos, não vamos a rigorosamente sítio nenhum e continuaremos TODOS a empobrecer rumo a ABISMO!
Enquanto TODOS nós não levarmos o APERTÃO que aí vem e com grande violência, continuaremos a chutar para baixo do tapete os problemas evidentes de VIOLÊNCIA e INDISCIPLINA que grassa nas nossas escolas graças ao "eduquês" e aos "cientistas" e "especialistas" da educação!
Depois do APERTÃO, que passará pelos nossos salários e até pela própria noção de Estado Social, talvez percebamos de uma vez por todas que o que foi feito na escola pública nos últimos 20 anos é uma VERGONHA e que este projecto nos condenou a empobrecer durante pelo menos outros tantos anos (é só fazer meia dúzia de contas)!
Sei perfeitamente que muitos dos leitores deste blog vão afirmar que estou a exagerar, no entanto se perguntarem a qualquer economista sério vos dirá EXACTAMENTE a mesma coisa...!
A produtividade (que não é o número de horas que se trabalham por dia e muito menos o número de dias que se trabalham por ano) só aumentará com uma população que tenha VERDADEIROS conhecimentos e com isso VERDADEIRAS competências!
Por enquanto, vamos assobiando para o lado e vamos achando piada ao facto de os jovens trabalhadores com a escolaridade mínima obrigatória serem, normalmente, incapazes de perceberem um texto com mais de quatro parágrafos ou de serem incapazes de realizarem operações aritméticas simples sem recorrerem à máquina resgitadora, mas quando sentirmos no bolso este problema, julgo que as coisas passarão a ser bem diferentes...
Educação e ecopedagogia,
A ecopedagogia fundada na consciência de que pertencemos a uma única comunidade da vida, desenvolve a solidariedade e a cidadania planetária, associando direitos humanos e direitos planetários.
Madalena Madeira
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