A educação é demasiado intrincada, para muitos, e excessivamente simples, para outros. Os primeiros, desistem de educar, até os próprios filhos, porque é tudo muito complicado hoje em dia, e para evitar complicações maiores mais vale não fazer nada. Os segundos, resolvem todos os problemas com duas penadas porque tudo o que não entendem ou não lhes “cabe” na cabeça, são lérias.
Tanto para uns como para outros, a investigação científica é desnecessária na educação. O argumento, muito primário, é uma das modalidades mais persistentes e divulgadas do obscurantismo contemporâneo, mas aqui assumido como moderno, até por muitos intelectuais. O que significa que há ainda hoje imensas formas de anti-cientismo mais ou menos disfarçado, e tanto mais perigoso quanto mais se julga o contrário dele.
O facto de haver no mundo investigadores que estudam os problemas educativos com rigor e objectividade não conta, e o ter mais de um século a investigação científica sobre problemas educativos, também não. É claro que educar será actualmente mais difícil e complexo do que noutras épocas, mas é também verdade que dispomos hoje de informações provenientes de várias disciplinas que esclarecem o fenómeno educacional como nunca houve. É certo que nem tudo em educação se pode ir buscar à ciência, que pensamento, cultura, sociedade e religião têm muito a dizer, e que a investigação em educação é muito específica. Mas isto em nada a impede, antes pelo contrário, que, mais não seja, para moderar as ideologias, que tantos prejuízos têm provocado ao ensino. Temos é de articular todos os vectores, tanto os que para a educação concorrem como os que dela derivam, isso sim.
Mas não é o que acontece. Não opina sobre educação quem sabe, mas quem julga que sabe.
Imaginem um país atacado por uma epidemia qualquer que, para combater o perigo, vai consultar, não os médicos, os biólogos, os químicos, os epidemiologistas e todos os que investigam nas áreas em que se pode encontrar a cura, mas os opiniosos do costume, que andam sempre perto mas nunca acertam, os que falam de tudo e têm sempre soluções eficazes, e os habituais do ecrã sempre prontos para compor o ramalhete televisivo. É provável que, no final, o problema ficasse mais confuso e fossem menores as hipóteses de o atacar com sucesso, ainda que os intervenientes tivessem feito um brilharete e que daí tivesse resultado um bom espectáculo. O que pensaríamos de uma sociedade que considerasse isto correcto?
Sem trancar a porta a boas ideias vindas de fora – todas as áreas científicas deixam uma fresta aberta para elas, porque, na verdade, há boas ideias para uma área que vêm de outra ou outras áreas, é tempo de começar a pedir opinião a investigadores da Pedagogia e de diferentes alinhamentos teóricos, quando se trata de problemas educativos.
João Boavida
O facto de haver no mundo investigadores que estudam os problemas educativos com rigor e objectividade não conta, e o ter mais de um século a investigação científica sobre problemas educativos, também não. É claro que educar será actualmente mais difícil e complexo do que noutras épocas, mas é também verdade que dispomos hoje de informações provenientes de várias disciplinas que esclarecem o fenómeno educacional como nunca houve. É certo que nem tudo em educação se pode ir buscar à ciência, que pensamento, cultura, sociedade e religião têm muito a dizer, e que a investigação em educação é muito específica. Mas isto em nada a impede, antes pelo contrário, que, mais não seja, para moderar as ideologias, que tantos prejuízos têm provocado ao ensino. Temos é de articular todos os vectores, tanto os que para a educação concorrem como os que dela derivam, isso sim.
Mas não é o que acontece. Não opina sobre educação quem sabe, mas quem julga que sabe.
Imaginem um país atacado por uma epidemia qualquer que, para combater o perigo, vai consultar, não os médicos, os biólogos, os químicos, os epidemiologistas e todos os que investigam nas áreas em que se pode encontrar a cura, mas os opiniosos do costume, que andam sempre perto mas nunca acertam, os que falam de tudo e têm sempre soluções eficazes, e os habituais do ecrã sempre prontos para compor o ramalhete televisivo. É provável que, no final, o problema ficasse mais confuso e fossem menores as hipóteses de o atacar com sucesso, ainda que os intervenientes tivessem feito um brilharete e que daí tivesse resultado um bom espectáculo. O que pensaríamos de uma sociedade que considerasse isto correcto?
Sem trancar a porta a boas ideias vindas de fora – todas as áreas científicas deixam uma fresta aberta para elas, porque, na verdade, há boas ideias para uma área que vêm de outra ou outras áreas, é tempo de começar a pedir opinião a investigadores da Pedagogia e de diferentes alinhamentos teóricos, quando se trata de problemas educativos.
João Boavida
Imagem: http://www.jcp-pt.org/layout/opiniao.jpg
28 comentários:
Porque é que pessoas tão diferentes - de áreas científicas tão diversas, com personalidades, gostos e inteligências tão diferentes -, como os milhares de licenciados portugueses que a cada novo ano tentam ser professores, dizem habitualmente tão mal das Ciêncas da Educação? Porque é que quase toda a gente lhes chama "Ciências Ocultas"?
Será que todas essas pessoas se situam dentro do falso dilema (sabe o que é?) que o João Boavida apresentou no primeiro parágrafo do post???
Há aqui qualquer coisa que não bate certo! Tal como o Carlos Pires refere, porque será que quem já teve formação nesta "área" fica de boca aberta com tanto disparate? Porque será que o modelo implementado na "escola" pública portuguesa através dos paradigmas dogmáticos emanados pelos autodenominados "cientistas" da educação não funciona? Porque será que tudo o que se aprende em qualquer boa Universidade sobre gestão é exactamente aquilo que se desaprende nessas "formações"?
Porque será que quando um "cientista" da educação tenta demonstrar que o modelo pós-moderno destas "ciências" ocultas é o adequado se socorre sempre, sempre, sempre de comparações com uma escola que não existe, ou seja a escola de Salazar?
Porque será que esta "ciência" considera que o professor (ooops, educador, porque a palavra professor foi praticamente banida do dicionário do pós-modernismo) deve ser o cruzamento genético entre um professor da Grécia antiga, um psicólogo, um sociólogo, um burocrata (um enorme burocrata), um filósofo, um marketeer e um entertainer?
Numa das aulas que tive sobre currículo numa formação OBRIGATÓRIA de "ciências" da educação, o professor socorrendo-se de uma enorme variedade de referências circulares apresentou o perfil do professor (ooops, que mania esta de utilizar esta palavra) e eu demonstrei através da apresentação do perfil de um marketeer que o tal educador modelo era um dogma sem qualquer sentido. Uma vez que os dois perfis eram em tudo semelhantes. Em seguida apresentei o salário médio de um e outro e depois apresentei o número médio de pessoas com aquele perfil por cada mil habitantes, deixando claro a impossibilidade técnica de tal perfil...! O professor em vez de reflectir, resolveu apelidar-me de "salazarento bolorento" e "conservador", faltando apenas apelidar-me de devorador de crianças ao pequeno almoço.
Vou mais longe e afirmo que enquanto o poder político não perceber que os "cientistas" e "especialistas" em educação são apenas e só um grupo de pressão como qualquer outro, a escola pública continuará na actual enorme agonia.
Vivemos no tempo da opinião, da prevalência da pseudo-informação face ao conhecimento. A educação é propensa a isto, porquê? porque todos passam por lá. Só que esta familiaridade é um obstáculo epistemológico. As pessoas em geral têm muita dificuldade no distanciamento e, por isso, enveredam pelo mais fácil: senso comum. A educação é o dia-a-dia, é a superação de dificuldades, é a consciência da imperfeição. Parece-me que aqui está o problema. As ciências da educação difundem matrizes, modelos, como diz o Fartinho, quando o que seria necessário era as ciências da educação reflectirem sobre as práticas. Um pouco como funciona com as teorias da literatura: são as criações que promovem a investigação e não o contrário. Mas a ciência tem a tendência de normalizar o que nas ciências ditas naturais é concebível, mas nas ciências ditas humanas dá o que está à vista. hoje em dia ouve-se na Psicologia qual deve ser a comportamento maternal, paternal; qual é o papel do professor, o que é um bom professor. Ora, ser bom pai é viver a paternidade, ser professor é viver a docência. não sei se estou errado, mas é a minha opinião. Com isto não pretendo dizer que as ciências da educação não são importantes, são, como também é a neurologia, por exemplo. O que critico é o seu paternalismo.
"Não opina sobre educação quem sabe, mas quem julga que sabe", tal como acabaram de fazer os 3 onagros do costume.
Onagros? Talvez não, o problema é que eles julgam saber...e desatam a opinar.
Com as Ciências da Inducação há outro facto que tem de ter uma explicação. O número dos que tentaram doutorar-se em Física, em Matemática, etc. e não conseguiram e, depois, apareceram doutorados em Ensino da Ciência onde falharam é muito elevado. Que significado tem? Responda quem sabe...
"Não opina sobre educação quem sabe, mas quem julga que sabe", inter alia um costumeiro Rui Baptista.
Parabéns Professor Boavida pela sua brilhante opinião.
E também gostei do Anónimo dos "onagros"!Estes são dos tais que criticam o sistema mas continuam a viver à custa dele. Porque não vão para marketeer, por exemplo, já que tanto falam nele? É que enquanto tal duvido que tivessem "cabedal" para cumprir com a função que enquanto professores, segundo o modelo que defendem, lá vão "cumprindo e rindo"...
Do site do Ministério da Educação
" Reformas introduzidas pelo Ministério da Educação em consonância com análise da OCDE
16 de Jun de 2009
A OCDE divulgou hoje o relatório TALIS (Teaching and Learning International Survey), um estudo comparativo das condições de trabalho e do ambiente de ensino e aprendizagem em escolas de 23 países, que vem confirmar a importância das medidas introduzidas recentemente pelo Ministério da Educação (ME).
Em cada país, 200 escolas públicas e privadas com 3.º ciclo do ensino básico foram seleccionadas para participar, a partir de uma amostra representativa. O trabalho de campo foi realizado em Portugal nos primeiros meses de 2008.
Os dados, a análise e as recomendações do relatório TALIS vêm confirmar a centralidade e a premência das reformas introduzidas recentemente pelo ME nos seguintes domínios:
Avaliação de desempenho de professores: Os dados referentes à avaliação das escolas e dos professores mostram que Portugal era o terceiro país (de uma amostra de vinte e três) com a percentagem mais elevada de professores em escolas que não tiveram nenhuma aferição do seu desempenho, e o terceiro país com mais elevada percentagem de professores em escolas que não foram alvo de qualquer avaliação externa. Estes dados (que se reportam ao período de cinco anos que antecede a realização do estudo, ou seja, entre o início de 2003 e o início de 2008) reforçam a importância das medidas de avaliação de desempenho docente com consequências na carreira e no estatuto remuneratório, bem como de avaliação externa das escolas, implementadas pelo ME, que vão de encontro às recomendações feitas pelo relatório TALIS.
Regime de autonomia e gestão escolar: No inquérito, os (então) presidentes de conselhos executivos (actualmente directores de escola) afirmavam dispor de muito pouca autonomia para tomar decisões relativas à gestão dos recursos humanos e organizacionais, na procura de um melhor desempenho da escola e dos seus profissionais. Em consonância com as conclusões e recomendações do TALIS, o ME alterou recentemente o regime de autonomia e gestão escolar, no sentido de reforçar as lideranças e de aumentar a margem de manobra do director na valorização e na avaliação dos professores, apostando na melhoria do desempenho pedagógico e no desenvolvimento profissional dos docentes.
Disciplina dos alunos: Em Portugal, como em praticamente todos os países da amostra TALIS, a indisciplina na sala de aula é, na opinião do presidente do conselho executivo/director da escola, considerada como o factor que mais professores afecta de modo negativo, prejudicando a relação de ensino e aprendizagem. O ME tomou, nos últimos anos, medidas de reforço da autoridade dos professores que pretendem reduzir a incidência do fenómeno."
Depois de ter lido alguns comentários tenho o dever de deixar aqui claro algo essencial:
Fui "professor" no "ensino" público durante alguns meses e... FUGI!
Fugi, porque percebi que não me era permitido fazer o trabalho de professor, ou seja: ENSINAR!
Fugi, porque percebi que não me era permitido disciplinar os alunos!
Fugi, porque percebi que os alunos eram a última preocupação do sistema de "ensino".
Fugi, porque percebi que não me deixavam trabalhar para os alunos.
Fugi, porque percebi que trabalhava não para os alunos mas para justificar o emprego de terceiros.
Fugi, porque não me permitiam avaliar os verdadeiros conhecimentos dos alunos.
Antes de fugir de tal sistema (desgraçados de todos os GRANDES PROFESSORES que ainda por lá andam) escrevi uma carta, juntamente com alguns outros professores, ao Presidente da República, ao Ministério da Educação, ao Conselho Nacional de Educação, e, julgo, aos grupos parlamentares sobre o que REALMENTE se passava nas "escolas".
Hoje, trabalho como professor, num dos melhores colégios privados do país, onde o professor ESTUDA e ENSINA, o aluno ESTUDA e APRENDE e os pais EDUCAM. Simples mas eficaz ao contrário da relatividade absoluta que reina na escola pública.
Tenho feito as minhas intervenções nesta matéria por uma só razão: DEVER DE CIDADANIA! Pode ninguém concordar com a minha opinião, no entanto ninguém me pode acusar de não estar a cumprir o meu dever de tornar pública a minha visão sobre o que considero que REALMENTE se passa no "ensino" público.
Trata-se apenas de uma opinião? Claro! Mas é a opinião de alguém que passou no sistema de "ensino" público e não esteve o tempo suficiente para levar uma lavagem ao cérebro.Julgo que a minha opinião é importante e vai de encontro ao que milhares de professores, alunos e encarregados de educação pensam... Faço parte de uma minoria? Claro que sim, porque de outro modo os políticos não nos dariam uma "escola" assim!
A propósito de minorias, acredito que esta minoria se tornará numa maioria num prazo relativamente curto de tempo porque com a internacionalização da nossa economia, os pais dos alunos começam a conhecer todas as suas lacunas quando comparados com os trabalhadores de empresas internacionais e começam a perceber que a "escola" pública não está a preparar os seus filhos para poderem vencer no mercado global.
Ressalva: todo este texto é apenas uma opinião!
Porque é que eu tenho a sensação que se as opiniões forem contra o Governo e a ministra podem vir de qualquer lado e de qualquer maneira?
Vale tudo, quais cá argumentos quais carapuças.
PS: Isto não é nenhuma opinião, é só uma sensação.
Fartinho da silva
A propósito de minorias, acredito que esta minoria se tornará numa maioria num prazo relativamente curto de tempo porque com a internacionalização da nossa economia, os pais dos alunos começam a conhecer todas as suas lacunas quando comparados com os trabalhadores de empresas internacionais e começam a perceber que a "escola" pública não está a preparar os seus filhos para poderem vencer no mercado global.
NOTA IMPORTANTE
e já agora envie o cheque para as famílias que vivem com o rendimento mínimo, para quem tem trabalha com o salário mínimo e para quem tem vários filhos de forma a que todos possam usufruir do seu magnífico sistema de ensino.
não sei se é ignorância, má vontade, ingenuidade ou apenas simplismo, mas acho que não compreende a principal dificuldade de ensinar numa escola onde estão lado a lado realidade cada vez mais díspares.
este barril de pólvora social vai trazer muitos dissabores , mas isso são outras histórias
Caro professor Fartinho da Silva, agora já percebo por que "fugiu" da escola pública para um dos melhores colégios portugueses: pudera, com alunos e pais assim será, por certo, bem mais fácil empregar o seu modelo de professor. Mas essa não é a realidade!Nesta dá muito mais trabalho, mas é a realidade...
Já agora, não percebemos bem se a sua "opinião vai de encontro ao que..." ou vai ao encontro...
às tantas é igual.
ze do mundo
O que é que a Guida Martins quer dizer? O português é tão mau que não percebi nada.
Problema seu. :)
Resposta à Guida Martins:
Porque há quem põe a politiquice acima da seriedade.
Ainda bem que o Fartinho fugiu. É menos um parasita à custa do Estado.
Por que é que a falta de qualidade do português da Guida é problema do anónimo das 16:06? A explicação pode estar no facto de ela já ter sido educada na era do eduquês.
A cara nuvens de fumo, penso que ingenuamente, ainda não percebeu que as empresas se queixam dos conhecimentos do aluno médio atirando com as responsabilidades para cima dos professores do sector público, porque os mesmos raramente denunciam o que realmente se passa dentro das quatro paredes da sala de aula. Não percebeu também que não é protegendo quem não deixa aprender que serve melhor o país. Não se esqueça que existem milhares de contribuintes mal pagos e explorados que sustentam o sistema de ensino público e duvido que aprovem a defesa de "alunos" que apenas querem partir tudo à sua volta e/ou evitar que os colegas aprendam.
O nosso sistema defende quem não quer aprender, prejudicando todos aqueles que querem ser alguém na vida!
Ressalva: trata-se apenas de uma opinião...!
A solução seria simples,
1) excluir do ensino quem reprove dois anos seguidos
2) excluir do ensino quem se comporte mal , etc
3) aumentar o nível de dificuldade
4) excelência como guia
e pronto, escolas ficariam com menos alunos, os professores teriam o seu trabalho facilitado, recrutavam-se uns tipos de farda preta para guardar as escolas, e a qualidade seria para quem quisesse estudar, simples ? não me parece
Resultado , teríamos uma quantidade de imbecis condenados à pobreza eterna, em poucas gerações o bairro da luz pareceria um condomínio de luxo comparado com as realidades emergentes e o país estaria condenado a viver em feudos isolados da populaça bronca por cercas de arame farpado. ( tipo África do sul)
Sabe o problema com essas escolas privadas , onde quem tem dinheiro coloca os filhos é criar uma fractura social, cada vez mais pessoas vivem apenas no seu meio, não há mistura e a ascensão social é cada vez mais difícil. A ascensão social é fundamental para uma sociedade moderna e para a democracia. Se continuarmos nesta senda, acabaremos por ser governados por uma corja nepótica , onde os imbecis se hão-de eternizar no poder face a uma população progressivamente mais atrasada, inculta e incapaz de sair do ciclo de miséria. Este é um filme que pode estar prestes a estrear num cinema perto de si…
O busïlis é que pessoas como o fartinho estão convencidas de que é possível e/ou recomendável manter um apartheid no portugal do futuro.
Um conselho: emende-se fartinho, porque senão em vez de fugir do ensino público acabará por ter de fugir de portugal.
Será que os dois últimos comentadores ainda não perceberam que a vossa receita NÃO FUNCIONA?
A escola que vocês defendem, ou seja a escola actual com o facilitismo, a indisciplina e a violência escolar, a única coisa que provocou foi o aumento da procura de escolas privadas de qualidade (e são tão poucas) pela classe média...!
Vocês acreditam mesmo que numa escola onde reina a confusão, a indisciplina e a violência alguém aprende o suficiente para vencer na vida? Acreditam mesmo?
De uma coisa podem estar certos, os alunos oriundos de meios mais pobres só poderão ascender socialmente se frequentarem escolas onde a disciplina e a exigência sejam um facto e não uma grande encenação!
A escola pública que vocês defendem é o principal factor de exclusão social em Portugal!
Mas a Escola Pública deve ser antes de mais a que presta um serviço público de qualidade aos respectivos utentes e não aos seus servidores como durante largos anos na nossa história foi. Essa é que foi uma escola exclusiva e segregadora, que atirava com os mais desfavorecidos para fora dela desde a mais tenra idade. Essa escola só aceitava aqueles que com um pouco de jeito até dipensariam certos tipos de professores (o professor cassete, por exemplo ou papagaio). Essa foi a escola do professor. Basta atentarmos às manobras corporativistas da classe ao longo dos anos de democracia e dos vários governos, da direita à esquerda, em que em primeiro lugar sempre esteve a carreira do professor, o salário, a ascenção até ao topo, a ausência de avaliação - lembram-se de quando se pretendeu introduzir uma avaliação na transição do 7º ou 8º escalão para o seguinte?...
Agora que um governo não se deixou levar na cantiga da sereia como todos os seus anteriores há aqui d'el rei, veio o Carmo abaixo.´
Na escola pública é na escola enquanto local de trabalho primordial que o professor deve trabalhar e não nos seus tradicionais dias livres que até iam aumentando de acordo com a idade e o tempo de serviço; é junto dos seus pares e dos alunos que deve prestar o serviço;é produzindo e discutindo soluções para a cada vez maior diversidade social e cultural dos alunos que lhes chega na escola conjuntamente com outros profissionais, com os encarregados de educação que deve passar a saber como deve co-responsabilizá-los mais... a escola pública não eram os feriados que os alunos tinham, sem reposição de aulas - aí já ninguém se preocupava com o cumprimento do programa, engraçado!A escola pública não é dar testes por testes, fazer-lhes a média e dar a nota sem qualquer feedback ao aluno para melhorar para a próxima avaliação. A escola pública não é chegar, dar as aulitas sempre da mesma maneira, fazer a avaliação sem justificar porque se deu negativa ao aluno ou se reprovou e arrancar para não sei quantos dias de férias. Também não tenho a certeza absoluta se é esta que vigora, mas que a situação está a mudar não tenho dúvidas. (Por exemplo, em vários anos de serviço na escola, nunca ouvi falar tanto em "avaliação diagnóstica" como este ano! entre outras coisas que considero também fazer parte da função do professor). E isto não só tem custado a muito boa gente (e óptimos profissionais, sem dúvida) como tem provocado profundas perturbações no sistema, mas isto faz parte das grandes fracturas sistémicas. Só há que resistir, saber adaptarmo-nos, unirmo-nos em torno do que deve ser efectivamente essa escola que tem de prestar um serviço de melhor qualidade e... quem não aguentar pensar em mudar de actividade porque não foi/é obrigado a manter-se num serviço com que não concorda.
Para mim escola pública é isto: rigor, saber, competência, exigência, cumprimento, profissionalismo, exclusividade, primeiro em relação a nós profissionais - dar o exemplo. E depois exigir o mesmo aos nossos colaboradores e utentes. O resto é mera retórica e boas intenções e disto está o povo farto.
JACosta psicólogo
Finalmente!
Apertei, apertei, apertei e finalmente um defensor do pós-modernismo atira com a tradicional desculpa: O MODELO É PERFEITO, OS PROFESSORES É QUE... !
Caro JACosta, os professores do ensino secundário, quer você queira quer não, têm que ESTUDAR, têm que preparar as suas aulas, têm que ENSINAR os seus alunos!
A Escola não é um centro social, a Escola é um centro de conhecimento e cultura. O professor não é um assistente social, o professor é o detentor do conhecimento e da cultura e que tem a excelente capacidade de a conseguir transmitir aos seus alunos.
Fartinho da Silva
Eu sei que o sistema como está tem muitos defeitos. Mas optar por um sistema elitista e sectário é ainda pior.
Ou acha que se fosse fácil não estaria já resolvido o problema ?
Obrigado pela sua resposta Nuvens de fumo, concordo que a solução do problema não é fácil mas estou convencido que o problema central são os lobbies que se movimentam no actual sistema.
Não vale a pena voltar a referir o nome destes lobbies, mas talvez valha a pena referir que se os nossos caros políticos nada fizerem em breve a "escola" pública será apenas uma local onde as famílias com menores recursos financeiros e/ou menor capacidade cultural deixam os seus filhos!
Não estou a ver em Lisboa, por exemplo, engenheiros, médicos, gestores, professores, etc. a deixarem os seus filhos na actual "escola" pública porque eles sabem bem que a mesma não prepara os seus filhos para a economia global.
Há quem defenda que o Estado deve ter uma escola fácil, rápida e barata para quem não tenha dinheiro para pagar as propinas de colégios de elite. Julgo que os lobbies que cercaram o ministério, as escolas e os professores já perceberam que tudo aquilo que implementaram no sistema está a contribuir para esta situação, no entanto consideram mais importante defender os seus interesses pessoais que o interesse do país.
Como dizia alguém: "Que diferenças existem entre a escola do "eduquês" e a escola de Salazar?". Se Salazar excluía todos aqueles que não podiam frequentar a escola, hoje o "eduquês" exclui todos aqueles que a frequentam!
Nota: é apenas uma opinião de um português "opinoso".
Joaquim duarte
Eu não tenho filhos por isso sei apenas pelo que ouço , mas a esmagadora maioria das pessoas que conheço pagam o mais que podem pela educação dos seus filhos. As escolas tem listas de espera, a porcaria dos infantários também, as pessoas querem fazer de todas as criancinhas génios para que possam ter melhores notas etc. isto vai de certeza acabar muito mal. Primeiro porque esta gente é classe média, alta ás vezes mas vive do trabalho, e estes custos são uma âncora tremenda. Segundo porque não é certo que o ensino seja muito diferente em fases iniciais, onde existe o maior gasto comparativo, e depois porque isto gera noções de classes, estratos quase castas. Eu tive a sorte de ter estudado numa excelente escola pública do porto, onde vários estratos sociais conviviam, e onde conheci pessoas de todos os tipos. Tinha amigos filhos de pais riquíssimos e amigos pobres. Essa convivência e humanização é fundamental para a formação da personalidade e para a necessária capacidade de viver em sociedade com todos os seus elementos, para além de permitir saltos entre classes com maior facilidade. Estamos a criar pessoas cada vez mais alheadas da realidade. É um risco muito grande, são pessoas truncadas na sua cidadania até porque nunca a vão exercer na plenitude, são pessoas que vivem com o medo do outro que não é da sua classe, que acreditam na criminalidade elevada sem a conhecer, que acreditam no “maus “ dos bairros sociais que nunca conheceram e nem nunca vão lá entrar. São pessoas que discriminam com mais facilidade dando caminho facilitado a racismos, xenofobia, ismos de todos os tipos.
São estas pessoas que queremos que sejam o futuro do país ?
Se assim for que políticos serão os de amanhã? De onde virão as classes dirigentes ? vamos por à frente do pais tecnocratas que temem o que não conhecem ? enfim, haja pachorra
Caro professor Fartinho, concordo consigo- os professores têm de estudar, de ser cultos, preparar as aulas, ser rigorosos e exigentes - TODOS - e não só os do secundário. Mas a grande verdade é que não é bem assim - prendem-se demasiado aos programas e aí aplicam-se porque há que responder aos exames e aos testes intermédios. Se não fosse isso...e nem por isso os alunos aprendem melhor - dizem! Afinal os exames do ano passado pelo menos na opinião de muitos deram sinal disso ou estarei enganado?...
Eu não sou defensor disso a que se por aí chama "pós - modernismo" e outras baboseiras parecidas, mas também não sou elitista e sectarista como o professor. Deixei bem claro o que entendo por serviço público de educação e o que aí deve ser o vosso (e o meu) serviço público. Sim, porque eu assumo-me como "funcionário público profissional" se lhe quiser assim chamar. Abandonei toda a privada que tinha até adquirir a carreira de psicólogo na escola em 97, embora, já antes só fazia privada depois das minhas obrigações públicas. Não sou dos turbo... qualquer coisa que estão aqui e logo estão além, marimbando-se para o tal serviço público que tanto defendem... da boca pra fora. Portanto, não me confunda com aqueles a que chama pós-modernos da educação. Agora tem de admitir que as manobras de bastidores político-parftidários, sindicalistas, classicistas, no velho lema salazarento das corporações é que tem dado cabo do tal modelo de escola pública onde todos têm de estar, uns a ensinar, educar e formar (e não só a instruir) e outros a aprender a sério e a saber comportar-se bem. Mas estes têm de possuir bons modelos à sua frente e os comportamentos que vão vendo, de facto, não são os melhores, não existe assim tanto a "excelente capacidade" docente que afirma - hoje exige-se um pouco mais: saber fazer e atitude!
JACosta
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