quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Robôs, Guerra e o Futuro



Novo post convidado de Norberto Pires:

Estamos perto de uma revolução tecnológica que terá o nome de “Revolução da Robótica”. Estamos perto, muito perto, de ter robôs a partilhar o nosso dia-a-dia nas tarefas domésticas, como companhia, como colegas de trabalho, como assistentes de todo o tipo de actividades. É fascinante o que pode acontecer, e de facto esta revolução que se aproxima é bem a demonstração do génio e da capacidade do homem em fazer ciência e reinventar o seu futuro.

Como é que esta história fascinante começou?
Por incrível que pareça a história da robótica funde-se com a história da humanidade. A robótica não é uma invenção do século XX, nem do nosso milénio sequer. Fez parte do tempo e das reflexões de muitos dos melhores pensadores da nossa história comum: passou pela Grécia antiga, pelos árabes, andou com Leonardo Da Vinci, Nicola Tesla e muitos outros. Quando teve as condições próprias desenvolveu-se e está prestes a mudar a forma como vivemos.

Veja aqui um texto sobre a evolução da Robótica até aos dias de hoje:
http://robotics.dem.uc.pt/norberto/nova/pdfs/gregosxxi.pdf

A robótica moderna tem cerca de 50 anos. Teve o seu desenvolvimento potenciado pelo aparecimento do transístor e o desenvolvimento de componentes em semiconductor, e com eles dos computadores, dos sensores e actuadores, da informática e da capacidade de projectar e simular mecanismos complexos. Também beneficiou muito do I&D em novos materiais e soluções estruturais robustas e mais leves.

Uma boa revisão do estado actual e perspectivas futuras da robótica é apresentada no livro “Handbook of Robotics”, editado em 2008 pela prestigiada editora Springer (a maior editora mundial de ciência e tecnologia). Esse livro recebeu agora dois prémios PROSE (em Physical Sciences and Mathematics, e em Engineering Technologies), organizados pela Associação Americana de Editores, reconhecendo o mérito dos sucessos obtidos pela comunidade científica mundial na área ao longo destes 50 anos. Os editores do livro (Bruno Siciliano, presidente do IEEE Robotics and Automation Society e professor na Universidade de Nápoles, e Oussama Kathib, professor na Universidade de Stanford) reuniram 64 autores de todo o mundo (um português) com o objectivo de abranger todas as áreas da robótica.

Isto são coisas positivas e que nos deixam de olhos postos no futuro.

Mas, existe um lado negro e até assustador. Num livro recente (Wired to War), Peter Singer, Director da 21st Century Defense Initiative, lança um alerta sobre a possibilidade de usar a tecnologia robótica em aplicações militares letais e cruéis. Na verdade, isso também está próximo de acontecer. Robôs usados como soldados sem escrúpulos e letais, que fazem o trabalho sujo em cenários de guerra complicados, ou em acções terroristas. Na verdade, um robô não precisa de uma promessa de uma vida eterna com 72 virgens para fazer atentados ou cumprir uma missão assassina. Basta ser programado para isso ou controlado à distancia. Essa tecnologia robotizada e sem intervenção humana já existe, e é usada pelos militares para missões de alto risco. Quando for capaz de ser autónoma (aquilo que já sabemos fazer em muitas situações), isto é, quando for capaz de analisar o cenário e tomar decisões tendo em conta os objectivos que lhe foram fixados, permitirá construir máquinas temíveis, cruéis, muito eficazes e verdadeiramente assustadoras.

Também não me deixam nada orgulhoso os desenvolvimentos de robótica usados para a indústria do sexo. Máquinas parecidas com homens e mulheres que podem ser usadas como parceiro sexual. Funcionam, dizem. E como muitos diriam, têm a vantagem de ter um botão de ON e OFF.

Como em tudo na vida, podemos optar pela ciência e por usá-la para melhorar a nossa vida, fazendo justiça à nossa capacidade criativa. Mas também podemos criar situações terríveis que colocam em risco aquilo que somos. Como sempre podemos escolher, e eu sei que escolheremos bem.

J. Norberto Pires

Links:
Handbook of Robotics, Springer, 2008 (aqui)
Wired for War, 2009 (aqui)
Humanoid robot (woman): aqui e aqui.

5 comentários:

António Conceição disse...

Contava-me o meu avô que no final da I Guerra Mundial toda a gente dizia que não poderia haver nunca mais outra guerra, porque os aviões lhe poriam imediatamente fim, dizimando os exércitos, antes de estes chegarem ao campo de batalha.
Ronald Reagan também promoveu um sistema de guerra das estrelas destinando a eliminar no ar as ogivas eventualmente disparadas pela URSS.
Não vejo por que hão-de os robôs introduzir alguma novidade nesta matéria. Claro que eles podem ser "usados como soldados sem escrúpulos e letais, que fazem o trabalho sujo em cenários de guerra complicados, ou em acções terroristas". Tudo indica que terão que se defrontar, nessa macabra hipótese, com outros robôs, especialmente concebidos para detectar e destruir os robôs "usados como soldados sem escrúpulos e letais, que fazem o trabalho sujo em cenários de guerra complicados, ou em acções terroristas".
O resultado final de uma guerra entre robôs nem me parece muito mau.

Anónimo disse...

Sim, claro. Já ando a ouvir esta história do "está quase" desde o início dos anos 1990.

É como a anedota das máquinas pensantes capazes de passar um teste de Turing. Também estavam quase à porta em 1970. Vê-se.

Isto é conversa da treta para conseguir bolsas de investigação. Guardem-na para a FCT.

undertheground disse...

Peço desculpa ao último anónimo mas na verdade está quase. Como investigador em Robótica, comprei um robot-aspirador no Natal e lá em casa está toda a gente contente com ele. Estão centenas de robots no Iraque ou no Afeganistão. Aconselho-lhe a ver o que se faz no Japão e de como lá já usam robots como recepcionistas ou como assistentes para a 3ªidade.

undertheground disse...

Gostava ainda de chamar a atenção que há uma parte de comunidade interessada na Roboética e que discute precisamente os problemas do uso de robots em cenários de guerra. http://www.roboethics.org

Anónimo disse...

Venho, porém dizer que não devemos temer essas novas técnologias, pois elas estãos ai mais para nos ajudar que nos prejudicar. Realmente é frustrante a idéia de uns quererem usar essas tecnologias para fins militares, principalmente sabendo que um andróide (que com certeza será uma realidade próxima de nossos dias) poderá ser bem mais letal que um ser humano, pois ao contrário deste, não precisaria de uma bomba com detonadores manuais presa em seu corpo, ele seria a própria bomba e circularia despercebido por qualquer local com shorts e camiseta regata sem despertar o menor medo em ninguém. Daí se infiltrando em um local cheio de pessoas se auto destruiria levando consigo um monte de gente.
Porém como o amigo disse, existe o bem e o mal. O uso de robos com certeza vai mais para o lado do bem, beneficiando-nos na medicina e em salvamentos arriscados como desabamentos, incendios e enchentes, locais em que o homem se arriscaria demais e sentiria um certo receio em fazer o que é correto.
E, porque não falar em uma amante robótica; ela poderia fazer nossos gostos sem ter tantos gastos.
Como estudante de informática eu penso que este futuro será bem promissor.

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