sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
Paranóicos
Crónica do médico José Luís Pio de Abreu no "Destak" de hoje (na imagem, Hitler no filme "Valquíria"):
São trabalhadores incansáveis e minuciosos. Têm grandes ideias mas fraca vida. Vivem de acusar os outros, projectando neles as suas tendências indesejáveis e não assumidas. Não só os acusam como tecem uma rede que os faça comprometer. Se eles respondem e se defendem, é sinal de que reconhecem as acusações. Se não respondem, é sinal de que fogem ao assunto e, por isso, estão comprometidos. Uma acusação inventada será assim sempre provada.
Freud estudou a paranóia através do livro de memórias do Dr. Schreber, magistrado alemão e "homem de inteligência superior, entendimento singularmente agudo e precisos dotes de observação", tal como ele se descrevia. "Falava directamente com Deus" e achava que, uma vez transformado em mulher, iria redimir a humanidade. Antes, porém, quando internado numa clínica psiquiátrica, teria padecido "transformações corporais", acusando então o seu médico, Dr. Flechsig, de lhe provocar tais padecimentos para o transformar em mulher e abusar dele. Freud atribuiu a origem da paranóia à homossexualidade não assumida.
Os paranóicos convincentes são perigosos. Apesar do delírio, o Dr. Schreber convenceu a Justiça alemã a retirar-lhe a incapacitação e autorizar a publicação do livro onde expunha as suas ideias messiânicas. Estas eram fundadas num sistema religioso pseudocientífico que já vislumbrava a superioridade da raça ariana. Convenceu alguma gente. Outro paranóico, acedendo aos instrumentos de poder, convenceu muito mais: Hitler.
J.L. Pio Abreu
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