quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Política e a língua portuguesa

Há uma grande diferença entre cuidar da língua portuguesa, no sentido de procurar escrever bem, expandindo a sua capacidade expressiva e tornando-a veículo de expressão de ideias sofisticadas e não apenas para comprar batatas; e pensar que cuidar da língua portuguesa é defender a sua superioridade intrínseca ou a sua imposição às pessoas.

Defender a superioridade intrsínseca da nossa língua, por ser nossa, é fascismo linguístico e é indefensável. As línguas não são superiores umas às outras. Têm é maior ou menor produção científica, artística e filosófica nessa língua. Mas qualquer língua pode ser burilada para fazer ciência, artes ou filosofia, se quem fala essa língua quiser fazer tal coisa. Todas as línguas nascem incultas, e tornam-se cultas à medida que as pessoas o quiserem. Ora, neste ponto, a língua portuguesa não é uma língua com grande produção cultural, científica ou filosófica. Podemos mudar isso? Sim, se o quisermos.

Mas oponho-me a qualquer política do estado que obrigue as pessoas a fazer isso. Isso deve acontecer se as pessoas livremente quiserem fazer isso. Se quiserem antes escrever em hebraico, devem ter a liberdade de o fazer, e o estado deve apoiá-las porque o estado serve para apoiar pessoas, não são as pessoas que servem apoiar os desígnios abstractos do estado. Na verdade, como é evidente, não há desígnios do estado; o que há é algumas pessoas com mais poder que outras e que impõem às outras por via do estado as suas vontades linguísticas. E se está errado que o Mariano Gago imponha a língua inglesa ao João, estaria igualmente errado que lhe impusesse a língua hebraica ou portuguesa ou castelhana. O que está errado é o obrigar, não é a língua que é objecto da obrigação.

Aquilo a que algumas pessoas chamam a defesa da língua portuguesa é na realidade uma forma disfarçada de opressão política. Se os meus filhos tiverem muita curiosidade sobre o Egipto clássico, por exemplo, ou astrofísica, como raio se safam se só souberem ler português? Claro, os filhos dos pais cultos, saberão línguas cultas que não o português e por isso ficam em situação vantajosa relativamente aos outros, que ficam a chuchar no dedo convencidos de que dominam uma Grande Língua Universal, ao mesmo tempo que não têm acesso à cultura, à ciência e à filosofia, como os outros. Daí que os hinos cantados à língua portuguesa ocultem uma discriminação social injusta: é que quem canta esses hinos trata de preparar muito bem os seus filhos para ler bem outras línguas, ao mesmo tempo que quer impedir as universidades de preparar os filhos culturalmente carenciados de dominar outra língua. Se as universidades e o ensino em geral insistirem numa língua culta qualquer estarão a dar acesso à cultura, à ciência e à filosofia a milhares de estudantes que de outro modo ficam em desvantagem relativamente aos filhos dos ricos -- e que sem isso ficam completamente dependentes das aulas dos seus professores, por não poderem estudar sozinhos o que lhes interessa, o que é mais uma forma de opressão política.

As pessoas devem ser livres para escrever e falar a língua que lhes apetecer. O papel do estado é unicamente o de zelar para que os mais ricos não tenham ainda mais privilégios pela via linguística. O papel do estado não é impor uma dada língua, seja ela o hebraico ou o português, contra a vontade das pessoas. As chamadas políticas da língua são invariavelmente formas disfarçadas de lixar os pobres, fechando-os num beco linguístico sem saída. O que o estado deveria fazer, por exemplo, seria financiar edições sérias dos clássicos de língua portuguesa — sem esquecer os clássicos brasileiros ou angolanos ou moçambicanos, como é costume esquecer-se. Hoje em dia se uma pessoa quiser comprar uma edição fiável de Fernando Pessoa ou Eça de Queirós, provavelmente não encontra: só há edições deturpadas, que são cópias de cópias de cópias, sem que a fixação do texto tenha seguido critérios de qualidade académica. Mas, claro, fazer isto seria fazer trabalho real em vez de pregar aos peixes sobre a superioridade essencial da língua portuguesa. E é sempre mais fácil pregar aos peixes.

28 comentários:

Anónimo disse...

bem-haja desiderio murcho! por malhar inteligentemente nessa treta da defesa e expansao da lingua portuguesa.

Vitor Guerreiro disse...

na verdade, uma das coisas que faz tanta comichão às uoessoas na ideia de que a língua é um mero instrumento de que as pessoas se servem é que daí a perceber que o estado também é um mero instrumento (ou que deve sê-lo apenas) e que as maluquices dos seus mandatários não devem ser impostas à população como desígnios, vai só um passo. É um pouco como a percepção da estupidez de ficar em delírio febril frente a um televisor, na expectativa da vitória da "selecção". Ou as discussões sobre as virtudes do clube. A ideia de que um indivíduo que fala português tem uma participação mística na performance futebolística de outros 11 indivíduos pelo facto de falar português... força que leva milhares ao delírio de rua e à embriaguez por vezes violenta, é o supra-sumo da psicofoda mas um poderosíssimo instrumento de opressão psicológica de que nenhum mandatário do estado centralista prescindiria.

Vitor Guerreiro disse...

"comichão às pessoas"... desculpem. O raio do mousepad é ultrasensível e transpôs um "ou"... vou passar a escrever primeiro no word. bolas.

Vitor Guerreiro disse...

na verdade não é bem opressão psicológica (a não ser para um gajo lúcido que tenha de apanhar com o fedor e o ruído)... é apenas a estupidez genética das pessoas levada ao extremo. Os mandatários do estado limitam-se a ir de boleia na onda, e a tirar fotografias idiotas com a camisola 13 na mão, veiculando a mensagem implícita de que o mandatário é o "povo".

joão viegas disse...

Mas as pessoas sao livres. Completamente livres. Por exemplo se quiserem fazer aikido, ou jogar bridge, ou aprender japones, ninguem as impede.

Isto nao obsta a que sejam obrigadas a aprender (na escola e na universidade) a escrever a lingua que a comunidade portuguesa utiliza, nao por imposiçao fascista mas em consequencia de uma historia que escolhemos continuar de forma democratica e que ate poderia vir a mudar se, democraticamente, os Portugueses decidissem amanha passar a falar chines ou qualquer outra lingua.

Este texto nao tem ponta por onde se lhe pegue.

Mostra apenas que, se calhar, nos cursos de filosofia, devia haver uma cadeira obrigatoria chamada "realidade".

Vitor Guerreiro disse...

certo, são imposições democráticas

os apelos à "realidade" fazem maravilhas nos ouvidos dos tolos, quando não há argumentos que nos valham.

Que raio de entidade é essa "história" que escolhemos continuar? Quem é que escolheu o quê? Ou bem que há imposição ou bem que não há imposição. Se não há imposição, quem escolhe é o indivíduo. O que é exactamente "isso" que se quer "continuar"? O que "continua" são os indivíduos, não é uma mitológica entidade pairante que subjaz misteriosamente ao facto de x gajos usarem uma dada língua.

Os nacionalistas por um lado afiram que "não escolhemos a língua que aprendemos desde a infância" como se isso fosse um limite inelutável ao conteúdo dos nossos pensamentos e ao tipo de teses que somos capazes de defender. Por outro lado, agora vêm falar em escolha democrática. Quer dizer, ou é uma imposição da história, como o não se ser capaz de escolher onde se nasce, ou decorre de "decisões democráticas"... é o que calha. Desde que os ouvidos menos pensantes fiquem impressionados e defendam a causa.

Vitor Guerreiro disse...

E viegas, quem está mais afinado com a merda que se ensina nos cursos de filosofia são os nacionalistas aqui. É curioso que pressuponha que as teses que um indivíduo defende são a reprodução daquilo que aprendeu na universidade. Se há coisa a que a universidade portuguesa é receptiva, nos cursos de filosofia, é à diarreia mental nacionalista e misticismos desse género.

Tive professores que até se queixavam de que "não podiam pensar" filosoficamente porque em portugal "não há tradição"... ou seja, não há uma reserva de profetas a quem parafrasear, como se parafraseia os gregos e os alemães.

Este tipo de disparates até são muito populares na academia.

Vitor Guerreiro disse...

Vejamos:

A história é uma sucessão de acontecimentos. Neste sentido, qualquer acontecimento num dado momento tx resulta de um acontecimento anterior tx-1. Assim, a fundação da nacionalidade é tanto uma forma de continuidade histórica com os acontecimentos anteriores como qualquer outro tipo de continuidade, por exemplo, uma outra história possível em que a Galiza se prolonga até ao Tejo e em vez de Espanha e Portugal há uma federação ibérica. Ou outra alternativa qualquer.

Assim, mesmo que tudo aquilo que os nacionalistas gostam desaparecesse (e só pode desaparecer pela acção voluntária das pessoas, por isso é falacioso falar aqui em "escolha democrática" contra a contaminação da cultura. Senão era impossível "contaminar" a cultura) isso seria tanto uma continuidade com o estado presente de coisas como a fundação da nacionalidade foi uma continuidade possível com o que estava antes, Leão, Castela e Galiza.

Qualquer continuidade é uma continuidade e nenhuma continuidade é mais igual do que as outras em suma. Logo, de que raios se queixa tanto o nacionalista? A continuidade que ele quer evitar - aquela em que há transformações indesejadas pelo nacionalista - é uma continuidade do mesmíssimo tipo que a fundação da nacionalidade representou perante os anteriores estados de coisas.

Victor Gonçalves disse...

"fascismo linguístico", que raio de conceito é este? "Língua culta", mais uma inovação desideriana. E um pouco mais de rigor conceptual, ou este também é uma forma de opressão estatal?

Anónimo disse...

Vitor, tomaras tu teres portugueses tão bons na filosofia, e nas traduções, como temos gajos bons de bola, não sejas invejoso, só podes falar quando fores considerado o Ronaldo das traduções!
Desidério: estás chato como a putaça! O Sócrates já meteu o inglês no primeiro ciclo e nós já falamos bastante bem o inglês, bastante melhor que espanhois e franceses, aliás, até me mete nojo o exibicionismo parolo dos tugas a mostrar que dominam o inglês.
Tu tambés és daqueles que acham que quando o país tiver auto-estradas de aldeia para aldeia e todos falarmos inglês fluente, isto vai ser um país de primeira.
Estás enganado, os franceses são muito melhores que os jamaicanos e não dominam bem o inglês. Isso do inglês excelente é só um bocadinho do aparato que não interessa assim tanto como pensas, o que é importante é muito mais profundo do que isso.
Não sei se te lembras, o prémio nobel da física, deste ano, um tal japonês, nem queria vir receber o prémio porque nunca saiu do Japão, não fala inglês, e não gosta de viajar.
Vai lá tu com as peneiras à tuga e com o teu inglês pimpão fazer melhor, quero ver.
E se parasses de escrever tantos comentários e posts e trabalhasses para a filosofia nacional? Desculpa lá este ataque, é baixo, mas tens que ser paciente!
Só uma coisinha que ainda não referiste: não sei se sabes, deves saber, há revistas cientícas bastante boas escritas noutras línguas que não o inglês, como por exemplo o japonês. Nem todos são uns lambe cus do inglês, assim às três pancadas.
Bons posts e ainda melhores artigos é o que te desejo, ó melhor e mais mediático filósofo nacional! Não é uma desgraça que o nosso melhor e mais mediático filósofo nacional sejas tu? Porra, até me apetece dizer uma caralhada! Isto é que vai uma crise!
luis

Anónimo disse...

João Viegas, você inda não percebeu que no fundo se trata de uma opção política? Você é do contra, nós somos a favor, ou você é a favor e nós somos do contra, como quiser. Daqui a uns 50 anos, lá veremos quem ganhou (democraticamente) ou vai à frente. Não se dane!

Anónimo disse...

dioniso, fascismo linguístico é "defender a superioridade intrínseca da nossa língua". Poderia também ser chamada de diarreia linguística, pois fede que tresanda.

Vitor Guerreiro disse...

e tu meu caro só devias falar quando tens algo para dizer.

joão boaventura disse...

Parece oportuno lembrar o que herdámos do Afonso Henriques:

"Roma he mui dócil para se conformar com as circunstancias. Quando a Mãe de Affonso Henriques se queixou ao Papa da prisão que seu filho lhe havia feito, o sancto Padre mandou o Bispo de Coimbra, então em Roma, que viesse a Portugal e ordenasse a Elo Rei que soltasse a Mãe e se emendasse; e no caso de desobediência pozesse Interdicto em todo o Reino: Assim foi, porque El Rei não fez caso do mandato do Papa. O Bispo fulminou o Interdicto e fugio, mas El Rei foi immediatamente a Sé e mandou aos cónegos que elegessem Bispo, e como elles recusassem lancô-os fora, e encontrando na Claustra hum negro que era clérigo, chamado Soleima, o ordenou Bispo e como tal fez que elle logo dissesse Missa. Sabendo o Papa deste facto mandou um Cardeal ao Reino para ensinar a fé a El Rei, que ele tinha por herege, e fazelo emendar de seus erros. El Rei recebe-o bem, mas diselhe que não precisava delle para nada, que se recolhesse e no outro dia falarião; o Cardeal chamou de noute os clérigos, excomungou o Reino e o Rei, e partio: El Rei soube do caso de madrugada, momtou-se a cavalo e foi em sua seguida, encontro-o perto de Poiares, e agarrando-o pelo cabeção, tirando da espada assim o cumprimentou – Da qua a cabeça traidor.- Os da sua comitiva intercederão, e El Rei contentou-se em o trazer a Coimbra, aonde lhe fez desmanchar o que havia feito e prometter, que dentro em 4 mezes viria letra de Roma para o Reino nunca mais ser excomungado, tomando lhe em reféns um sobrinho, para cumprimento da promessa. Quando o Cardeal se apresentou ao Sancto Padre, elle o reprehendeo, por haver prometido o que somente a Sancta Sé podia dar; então o Cardeal lhe tornou:

“Santo Padre eu não digo letra, mas se a Cadeira de S. Pedro fora minha lha deixara e dera de boamente, por escapar de suas mãos; que se vôs vireis vós hum cavalleiro tam forte e espantoso como aquelle Rei, e vos tivera huma mão no cabeção, e a outra alçada para vos cortar a cabeça, e seu cavallo não menos alvoroçado hora com huma mão ora com outra cavando a terra, parecendo que que já vos fazia a cova, vôs déreis a letra e o Papado: por isso me não deveis culpar”. O Papa concedeo a letra e o Cardeal mando-a antes dos quatro mezes."

Parece a democracia corrente.

Rolando Almeida disse...

Só um reparo ao anónimo lá de cima quando refere:

"nós já falamos bastante bem o inglês, bastante melhor que espanhois e franceses"

Isto é falso. Uma das realidades que conheço em primeira mão são estudantes de 16 anos no 11º ano, com 7 anos de inglês e são incapazes de articular uma frase simples em inglês. De certeza que os estudantes não são todos burros. De certeza que não sofreram a infeliz coincidencia de apanhar 7 professores de inglês maus. O que se passa então? Se a responsabilidade não está nos estudantes nem nos professores, creio que pode ser encontrada nos curriculos e nos programas. A escola portuguesa é insuficiente para ensinar física, química e línguas.
Portanto, o que anónimo defende parece-me ser contra exemplificado pela realidade.

Vitor Guerreiro disse...

a língua culta é a que faz anilíngus à cultura inglesa à razão de 500 lambidelas por segundo.

o fascismo linguístico é uma posição fascista acerca do papel, estatuto e valor das línguas nacionais ou, para os pensadores sem órgãos que gostam de paráfrases cheias de cóltura e sabedoria feita: é "a continuação da política fascista por meios linguísticos"... ó dionísia criatura.

A língua culta é a língua dos exploradores do proletariado relativista e patriota, a dos inimigos da "ontologia sem rugas" e do espaço sem varizes, onde todos os poetas do Ser se montam no dedo do meio e não vão para a estrada.

Desidério Murcho disse...

Quero só esclarecer que não sou dos que defendem auto-estradas e toda a gente a falar inglês. O que eu defendo é que se olhe para a realidade, se respeite a liberdade das pessoas e se tenha atenção às diferenças de acesso às bibliografias que têm os filhos dos pais cultos e os filhos dos outros. Um estudante que português, brasileiro ou angolano que não leia facilmente uma língua culta está tramado porque não encontra em português um décimo da bibliografia de que precisa. Claro que se for padeiro ou jardineiro talvez isso não faça grande diferença. Mas não vale a pena protestar contra os tolos sentimentos de superioridade dos académicos se for para os substituir pelos tolos sentimentos de superioridade dos jardineiros. Os universitários e os estudantes pré-universitários também são gente, e sem acesso a uma qualquer língua culta estão tramados. De modo que o melhor que podemos fazer por eles é uma de duas coisas: ou produzir agora em dois ou três anos bibliografia original e traduzida que supra essas carências, coisa que ninguém vai poder fazer, ou que se faça esse esforço mas ao mesmo tempo se dê a possibilidade a quem quiser de dominar uma língua culta para poder contactar com o grande património científico, cultural e filosófico da humanidade.

Anónimo disse...

O que vale é que toda esta "discussão filosófica" é em português.

Será que vai ser traduzida para a lingua culta de serviço, dada a sua importância, e grande contribição para o saber mundial ?

Já agora, o que ficaram a pensar (os cultos) de nós ao lerem essa tradução filedigna?

Anónimo disse...

Rolando, tens que argumentar melhor, porque a realidade que eu conheço é outra, e se eu não argumentei com factos, estatísticas, e tu também não, porque é que raio tu tens razão e não eu? Os putos dominam o inglês, talvez não seja com o que aprendem na escola, mas safam-se muito bem, eu conheço muitos com um inglês excelente, enquanto que os espanholitos, a falar, coitados, são ridículos. Mas se tu achas que não...
Desidério, não vires a conversa, eu estava a falar de académicos, e eu também concordo com que as pessoas devam dominar bem o inglês, é uma ferramenta importante, mas é só isso, já te expliquei que as aparências e o inglês excelente não são o mais importante, o importante é dominar bem os conceitos.
Quem é que falou em jardinagens? Eu não sou daqueles que vêm para aqui discutir a importância das línguas e daqui a bocado estão a falar de dinheiro.
Já te dei o exemplo do japonês que não sabe inglês e que ganhou o nobel da física.
O que te quero dizer é que acho que a malta já sabe inglês que chegue, já há inglês na primária, etc, não te preocupes tanto, agora temos que apostar na qualidade, no trabalho, etc, porque senão o inglês não serve para nada.
Por exemplo, esperto é o Zézé Camarinha que com um inglês achinesado engata as camonas todas. Mas esse é esperto, não é como tu, que te meterias a perder horas a fio a estudar inglês e depois pensar que a seguir irias engatar as camonas todas, de rajada. Mas o engate, como a filosofia ou a física, tem o seu saber, e esse é que é importante, e se te esqueceres disso, ficas a ver as camones a passar, não há inglês excelente que te safe!
Por falar em desconversar: como é que vai isso de brasucas, safaste ou quê? Essa careca sexy e esse sorriso à George Clooney deve ser um sucesso por aí! Tu não nos deixes ficar mal, mostra aí que és de raça lusa, põe as brasucas a suar! Eu sei que tu entendes o sexo como uma actividade sem fronteiras e sem nações, mas pronto, de qualquer maneira ajuda a manter a fama, se puderes, por que senão um gajo vai aí de férias e as gajas depois já nem nos ligam.
Se fores casado, peço desculpa à sua senhoria, e até me disponho a ir aí cortar a relva e fazer umas podas, de penitência.
luis

Vitor Guerreiro disse...

o problema é esse... "safamo-nos" demasiado e tudo, desde a filosofia até à jardinagem não passa de uma versão qualquer da "arte do engate". Há quem pareça não andar a fazer outra coisa na universidade, de facto...

pois é, coitadinhos dos espanhóis, nós é que sabemos falar inglês bem, com a boca de lado à Stalone e tudo... coitadinhos. Viva Aljubarrota.

o que é preciso é emborcar mais umas jekas com um ar existencial, mandar umas bocas e classificar tudo à nossa volta segundo duas categorias ou três. Eis a pose do portuga seguro de si.

Que importa que os alunos do secundário mal consigam escrever português? O que é preciso é defender a língua, desde que eles continuem a escrever coisas desconexas que nem sequer frases são, mesmo que não consigam articular uma porra de um argumento sem copiar duas ou três fontes que o professor já sugeriu de antemão gostar... que se lixe... somos tugas e orgulhosos, e quem se incomoda com isto é porque não dorme a pensar que queria ser o Cristiano Ronaldo.

Como dizia o outro: zute merda!

Vitor Guerreiro disse...

O que se defende aqui é que o estado deve ter um papel mínimo e não o de polícia do pensamento. As pessoas devem ter a liberdade de aprender ou usar as línguas que quiserem. Não se trata de inculcar o inglês como resposta mágica para todas as maleitas ou de inculcar seja que língua for. Quem quiser falar só português, ter apenas bibliografia em português, e escrever apenas em português, é perfeitamente livre de o fazer, mas é imoral esperar que o estado funcione para inculcar as suas ideias ao resto da população. Se os nacionalistas querem "defender" a língua isolando-se, nada fazendo de jeito, e cantando loas ladaínhas à portugalidade... não seja por isso: façam-no! Mas deixem sossegados os outros. Que os poetas do Ser dêem as suas aulas na universidade a falar no véu da maia e nos orgasmos da tia... não queiram é impedir os outros de fazer coisas diferentes em nome de um "desígnio nacional".

Um dos pontos principais desta discussão era mostrar que a imposição do português ou do inglês não são más por causa da língua que é imposta, mas por causa da imposição. Tal como o pensamento automático não é mau por causa da cassete particular que é tocada mas pelo facto de ser pensamento automático.

Anónimo disse...

Luís (anónimo), infelizmente, estava numa aula quando li o seu último comentário. Posso adiantar que o professor não ficou nada satisfeito, por que eu parti-me a rir com a última parte do seu comentário. Bom humor. ;)

Rui Peres

joão boaventura disse...

Eis no que dá Portugal e Brasil falarem a mesma universal língua portuguesa, entre os trambulhões dos sucessivos acordos ortográficos por falta de um dicionário noosgráfico (neologismo extraído da célebre noosfera de Teilhard de Chardin; não confundir com a espanholíssima pré-sindical União de Noógrafos, de 1872).

Um brasileiro chegou a Lisboa e pediu uma informação na rua:

"- Aí, mermão. Onde pego um ónibus para ir até a ferroviária para pegar um trem?
- Cá não chamamos ónibus, chamamos autocarro.
- OK, então como pego outocarro para ir até a ferroviária e pegar o trem?
- Cá não chamamos trem, chamamos comboio.
- Porra, tá bom. Então mermão, como pego o autocarro para ir à estação para apanhar o comboio?
- Cá não dizemos pegar, mas sim apanhar.
- Ô cara tá gozando né? Tudo bom. Como apanho o autocarro para ir à estação para apanhar o comboio?
- Não precisa de ir é aqui mesmo…
- Me diz uma coisa: como é que vocês chamam Filha da P*** aqui em Portugal?
- Não chamamos. Eles aparecem sem ninguém os chamar."

joão boaventura disse...

Ainda ninguém aqui se lembrou de abordar a evolução da língua até chegar à língua pura, segundo Darwin.

Seria bom dar algum pousio à língua não vá ela murchar de abusivamente tecermos tantos desencontrados considerandos porque, está provado cientificamente (?) que a falamos e escrevemos bem ocasionalmente, e mal or norma.

Num Congresso Científico (se não for científico, não passa de um seminariozito), na francófona cidade de Québec, as línguas autorizadas eram o francês e o inglês (como entre os palopianos só pode ser o português e o brasileiro). Como participantes da língua inglesa contavam-se falantes do Canadá, do Reino Unido, da Austrália, da África do Sul, da Irlanda, e dos EUA, isto é versões inglesas, o que levou uma japonesa a relatar que estava confusa com tantas variações.

O que mais se destacou foi os canadianos anglófonos a dominarem mal o francês, e os canadiano francófonos a falarem mal o francês, mas isso não perturbou o entendimento das pessoas, pelo menos aparentemente.

O que provocou uma certa celeuma foi o caso de um conferencista francês de renome apresentar a sua comunicação em inglês, porque foi logo atacado veementemente por um canadiano nacional-francófono por utilizar o inglês, apodando-o de traidor.

Felizmente, entre nós, ainda não se chegou a esse ponto. Mas que é doentio...é.

joão boaventura disse...

O João Boaventura errou.

Onde escreveu, no antepenúltimo parágrafo:

... e os canadiano francófonos a falarem mal o francês,...

Deve ler-se:

... e os canadianos francófonos a falarem mal o inglês...

Embora no que estava errado haja muitos acertos.

As minhas desculpas.

Anónimo disse...

Segundo Goethe, quem não domina pelo menos uma língua estrangeira nem a sua domina. Segundo o Imperador Carlos Magno, que aprende uma segunda língua adquire uma segunda alma.
Não percebo muito bem o que é isso de línguas cultas. Percebo o que é o padrão culto duma língua: o Português tem dois já maduros e vários em formação, o Inglês tem três ou quatro (entre os quais é forçoso incluir o Inglês Indiano), o Espanhol vários, etc.
Há jargões que se desenvolvem mais numa língua que nas outras, mas isto é um fenómeno circunstancial: houve tempo em que era preciso saber Francês para falar de automobilismo (chauffeur, carrocerie, chassis, pneumatique, embrayage, capot), Alemão para falar de física quântica e Inglês para falar de futebol (goal, que deu golo, penalty, que deu penálti, football, que deu futebol. Admito que para um filósofo o Português seja insuficiente e que as línguas mais úteis sejam para ele o Grego Clássico, o Latim, o Alemão, o Inglês e o Francês. A um jurista talvez baste o Latim, não sei. Eu preciso do Inglês e do Alemão para o trabalho, do Francês e do Italiano para o lazer.
Mas, independentemente disto tudo, não conheço nenhum académico, seja nas Ciências, seja nas Humanidades, que não precise do Inglês para publicar. Muitas vezes é um Inglês que soa muito estranho aos meus ouvidos, mas que parece perfeitamente adequado aos ouvidos dos seus pares.
Estão a ver a razão das minhas dúvidas em relação ao conceito de língua culta? O facto de um biólogo português ser perfeitamente capaz de publicar em Inglês um artigo da sua especialidade não significa que seja capaz de ler Jane Austen no original; inversamente, o facto de eu ler Jane Austen sem esforço não me habilita para publicar um artigo científico numa matéria de que seja ignorante.
O Inglês uma é uma língua culta por permitir a um cientista português publicar para todo o mundo? Ou por me permitir a mim ler Hobbes (um estilista fabuloso, de resto, a fazer lembrar o Padre António Vieira)? E se eu fosse um filósofo profissional, ou cientista político? Não seria melhor ler o De Civitas em Latim antes do Leviathan em Inglês, fortalecendo-me assim conta "o prazer do texto"?
O problema da tradução pôr-se-á nas Ciências como se põe nas Humanidades?
Na Filosofia, põe-se de certeza. O Cogito ergo sum de Descartes traduz-se em Português pra Penso, logo existo e em Inglês por I think, therefore I am. Ora acontece que a palavra logo está conotada, ainda que inconscientemente, com a ideia de a seguir; enquanto therefore remete para a ideia de antes disso. Ou seja: se o neuro-cientista António Damásio leu Descartes em Português, tem desculpa para o ter lido mal; mas se o leu em Inglês, já não tem desculpa.

Não me tirem o Francês, o Inglês, o Alemão ou o Italiano; o meu domínio do Português não sai diminuído por saber estas línguas, antes pelo contrário; e tenho muito desgosto de não saber Russo para ler Dostoievsky excepto em tradução, Grego para ler Homero, ou Árabe para ler As Mil e Uma Noites.

Anónimo disse...

Peço desculpa pelos erros de digitação, que se devem a não ter revisto o que escrevi. Há um parêntesis por fechar, um «conta» que era para ser «contra», um «que» que era «quem», uma «carrocerie» que era «carrosserie» e provavelmente outros erros que não impossibilitarão, espero, a leitura.

joão boaventura disse...

Ainda a propósito da língua lusitana. Se consultarmos o Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa, de Neves Reis e Magnus Bergstrom, dispomos aí de um capítulo dedicado ao Vocabulário Desportivo.

Este Vocabulário foi estudado e discutido, na década de 40, por uns tantos curiosos que se debruçaram sobre a nacionalização dos termos desportivos estrangeiros, dada a força com que invadiam a língua portuguesa, e as dificuldades de encontrar correspondentes no nosso léxico.

A ideia partiu de Neves Reis, então chefe de redacção do jornal Os Sports, posição mantida depois n'O Mundo Desportivo. Começou por uma rubrica a uma coluna titulada “Ecos e Factos”, dando origem, dado o volume de leitores, à criação da Tertúlia da Recta-Pronúncia por Neves Reis, um leitor de Gueifães, o Dr. António de Meneses, e o autor desta história (ou estória?).

Para não me alongar, e de entre as muitas sugestões para encontrar substitutos o polo aquático que sugeri para substituir waterpolo (Mundo Desportivo, 22.6.1945) venceu mas, o “polo em patins”, sugerido para o óquei em patins, morreu aí.

Para futebol, já aqui o referi, a minha proposta balípodo (do grego bal=lançar+podos=pé), não teve aceitação, como não teve o baliqueirópodo (bal=lançar+queiro=mão+podo=pé) para o râguebi, nem baliqueiro, para basquetebol.

Cheguei a escrever para o catedrático de Coimbra, o Doutor Manuel de Paiva Boléo, para averiguar dos meus acertos filológicos, mas muito amavelmente informou-me que "quem faz a língua" é o povo.

De qualquer forma, consulte-se o Prontuário Ortográfico, que constitui a memória desse tempo, e a tese de José Augusto Baptista, "A linguagem dos desportos", defendida perante o Doutor Herculano de Carvalho, em Coimbra, e compare-se com o Dicionário Contemporâneo da Academia das Ciências, e veja-se como Paiva Boléo tinha razão, embora Camões tenha escrito

"E na língua, na qual quando imagina,
Com pouca corrupção crê que é a latina"
(Estrofe 33, Canto I).

Mas mesmo depois de nacionalizados os termos estrangeiros continuamos a considerar, como Rodrigues Lobo, que a língua portuguesa tem o melhor de outras línguas:

"a pronúncia da latina, a origem da grega, a brandura da francesa, a elegância da italiana."

DUZENTOS ANOS DE AMOR

Um dia de manhã, cheguei à porta da casa da Senhora de Rênal. Temeroso e de alma semimorta, deparei com seu rosto angelical. O seu modo...