Vamos ver: depois do muito falado incidente que teve lugar numa certa turma duma escola do nosso país a propósito dum telemóvel, a presidente do Conselho Executivo assegurou:
"Já temos a proibição dos telemóveis, nas salas de aula, regulamentada há vários anos. Agora, quando os pais são chamados para recolher os que são apreendidos, têm consciência do perigo que é usá-los numa sala de aula".
Muito bem. Até aqui entendi. O que não entendi é o que se segue.
Nesta semana tomei conhecimento dum jogo para telemóvel, inspirado nesse mesmo incidente, que foi desenvolvido no âmbito dum mestrado em Multimédia e que pode ser usado em sala de aula. Tal jogo, designado por Quizionário, promete "revolucionar a forma como os conteúdos são leccionados nas escolas portuguesas". A notícia reza assim:
"... a aplicação pode servir como ferramenta didáctica para os estudantes, numa altura em que as novas tecnologias se assumem como uma mais-valia importante. Através de um tabuleiro virtual redondo, onde estão 12 questões à escolha, cada pergunta tem quatro opções de resposta. Apenas uma é a versão correcta. Quem acertar ganha pontos e depois de acertar num determinado número de respostas, sobe de nível. Há três níveis possíveis de respostas para alcançar e pretende-se que os professores usem o Quizionário como ferramenta de apoio nas aulas. A funcionar como projecto-piloto na Escola Secundária Carolina Michaëlis, as expectativas apontam para que os bons resultados possam resultar numa maior adesão de agrupamentos de escolas, no âmbito do plano tecnológico iniciado pelo Governo, já que o jogo didáctico funciona através de um telemóvel ou de um quadro interactivo desde que tenham acesso à internet. Toda a informação sobre cada jogo é guardada numa base de dados, de forma a permitir que os professores obtenham relatórios de interesses de cada estudante, bem como das áreas em que têm mais dificuldades."
Talvez o humor ajude a enquadrar este tipo de circunstâncias. Deite o leitor um olhar à crónica: O jogo do telemóvel.
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2 comentários:
Para uma piada de humor, até não está mal... daqui até assumir contornos de realidade...
Enfim, aqui temos alguns frutos da ascensão da ideia generalizada que os miúdos podem aprender tudo a brincar e que não é preciso esforço, estudo, memorização, empenho, trabalho,...
Quanto à actuação da escola de enveredar pelo mediatismo da inovação, parece-me lamentável.
as ferramentas não são "mais-valias". As ferramentas são (ou não) vantagens. "Mais valia" é um tipo muito restrito de vantagem, e não se aplica a ferramentas ou a telemóveis. Isto é como a mania de alguns senhores "letrados" usarem termos como "entropia" a propósito de batatas.
Houve algum nabo (quase de certeza, um político), no passado recente, que teve a ideia de importar um termo da economia para, em vez de dizer apenas: "isto é uma grande vantagem para nós" - qualquer zé nabo diz isso não é? - passa a dizer que é uma "mais-valia", e até parece que está a dizer mais do que realmente está a dizer.
Isto é uma doença da língua portuguesa. Façam um teste: ouçam os disparates que as pessoas dizem nos noticiários e traduzam este palrar bizantino para inglês. Nota-se imediatamente o ridículo e desaparece a ilusão de "respeitável" e "teoricamente profundo" que a importação de termos técnicos mal usados dá aos discursos cerimoniosos.
Nunca se ouve um meteorologista britânico dizer coisas como "a questão de Birmingham" para falar de um aguaceiro. Mas este tipo de abortos é o pão nossos de cada minuto na tv portuga. Quanto mais pobres são as culturas mais "caro" falam... e menos dizem. É impressionante.
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