segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

AS 10 EXPERIÊNCIAS MAIS BELAS


O belo tem um papel não só na arte mas também na ciência. E é por isso que não nos devemos admirar que um conceituado jornalista norte-americano que escreve para o "New York Times" e para a "Scientific American" tenha escrito um livro sobre as "dez experiências mais belas da ciência" ("The ten most beautiful experiments", George Johnson, Knopf, 2008). Um "top ten" deste tipo será sempre subjectivo e para o leitor poder reconhecer isso mesmo aqui vai a lista (por ordem cronológica):

1- lei do movimento dos graves num plano inclinado (Galileu),
2- o coração é uma bomba (Harvey),
3- decomposição da luz branca (Newton),
4- identificação do oxigénio (Lavoisier),
5- electricidade animal (Galvani),
6- indução electromagnética ( Faraday),
7- conversão de trabalho em calor (Joule),
8- inexistência do éter (Michelson),
9- reflexos condicionados nos cães (Pavlov) (em cima, figura do livro de Johnson; escolhi esta para chamar mais a atenção...),
10- determinação da carga do electrão (Millikan).

Desta lista 7 experiências são de física, 1 de química e 2 de biologia/medicina (embora a experiência das rãs de Galvani tanto possa ser classificada na física como na biologia).

A revista "Physics World" do Instituto de Física britânico já tinha escolhido em 2002 as 10 experiências mais belas de física, escolhidas por votação dos leitores e anunciadas num artigo do filósofo Robert Crease. Curiosamente, 3 coincidem com a lista de cima: as experiências de Galileu, de Newton e de Millikan. As outras 7 são:

1- a medida do raio da Terra (Eratóstenes),
2- a queda dos graves na torre de Pisa (Galileu, mas provavelmente nunca foi feita por ele),
3- a "pesagem da Terra" (Cavendish),
4- a experiência da interferência da luz com uma dupla fenda (Thomas Young), que foi considerada a mais bela (esta experiência pode ser vista no Museu da Ciência de Coimbra, tal como a experiência de decomposição da luz de Newton, no quadro da exposição "Segredos da Luz e da Matéria"),
5- o pêndulo giratório (Foucault),
6- a detecção do núcleo atómico (Rutherford),
7- a experiência da interferência de electrões (Davisson e Germer, por um lado, e G.P. Thomson, por outro).

Estas experiências podem ser vistas em simulações aqui. Um livro de Robert Crease apresenta estas experiências em mais pormenor: "The Prism and the Pendulum. The ten most beautiful experiments in science", Random House, 2003.

Os químicos não quiseram ficar para trás e um conhecido escritor de química Philip Ball escreveu um livro apresentando dez belas experiências de química: "Elegant solutions. Ten beautiful experiments in chemistry", Royal Chemical Society, 2005 (ganhou um prémio em 2008 da Btitish Society for the History of Science). Aqui trata-se mais de distinguir belos conceitos, sumariados assim pelo filósofo alemão Joachim Schummer:

1-"exact quantification (van Helmont)

2- attention to details (Cavendish)
3- patience in the conduct of the experiment (Marie Curie),
4- elegance in the design of the experiment (Ernest Rutherford),
5- miniaturization and acceleration of the experiment (various nuclear chemistry groups)

6- conceptual simplicity (Louis Pasteur),
7- imagination that transcends common views (Stanley Miller),
8- simple-minded, straightforward reasoning (Neil Bartlett),
9- economy, avoidance of deviations (Robert B. Woodward), and
10- conceptually straightforward design (Leo Paquette)."


Repare-se que a experiência de Rutherford reaparece (Rutherford, que se considerava um físico, ganhou o Prémio Nobel da Química para grande admiração sua: terá mesmo afirmado que já tinha visto muitas reacações rápidas, mas nenhuma tão rápida como a que o transformou de repente de físico em químico...). Há aqui experiências na fronteira com a biologia, como a de Pasteur e a de Miller (e, acrescente-se, Urey).

Inspirado pelo desafio de Crease, a revista "Bioscience" também procurou em 2003 saber junto dos seus leitores qual seria a experiência de biologia mais bonita. Ganharam duas "ex-aequo":

1- The demonstration of selection on melanic and nonmelanic forms of the peppered moth, by H. B. D. Kettlewell: "Selection Experiments on Industrial Melanism in the Lepidoptera" (Heredity 9: 323-342 [1955]) and "Further Selection Experiments on Industrial Melanism in the Lepidoptera" (Heredity
10, 287-301 [1956]).

2- The experiments that demonstrated the triplet nature of the genetic code, by F. H. C. Crick, Leslie Barnett, S. Brenner, and R. J. Watts-Tobin: "General Nature of the Genetic Code for Proteins" (Nature
192: 1227-1232 [1961]).

4 comentários:

Anónimo disse...

Falta aqui a mais basilar e bela: a observação dos astros através da luneta, por galileu. Curiosamente, de todas, a única que, ao que tudo indica, ele realizou de facto.

Carlos Fiolhais disse...

Caro Luís Silva
A primeira observação astronómica com o telescópio de Galileu, faz este ano 400 anos, não se pode considerar uma experiência por não haver controlo. Mas, mesmo chamando-lhe "experiência", não foi a única: Galileu realizou outras experiências, nomeadamente a da queda dos graves, uma das mais belas segundo Johnson (e eu assino por baixo).
Carlos Fiolhais

Anónimo disse...

Caro Carlos Fiolhais:

Não há suporte histórico para a tese (mito?) que Galileu tenha realizado as tais experiências do plano inclinado, muito menos que essas experiências - se ocorreram - tenham sido particularmente bem "controladas". A utilização da luneta para a observação astronómica fundou a noção de intrumento científico como extensão dos nossos sentidos. É esta noção fundamental que permite a existência, por exemplo, de toda a física de partículas. Na realidade, na base de toda a experiência em física actual está a luneta de Galileu.

Rui leprechaun disse...

8 - inexistência do éter (Michelson)

Ou talvez melhor dizendo, terá sido provada a impossibilidade de um certo conceito de éter luminífero... e só isso! Não é preciso calcular ou saber a velocidade ou movimento dos corpos em relação ao éter, é essa a essência dessa experiência bela... that's it!

Esta questão ainda vai dar muito que falar, e não foi por mero acaso que Einstein declarou que na teoria da relatividade geral é impensável o espaço sem o éter.

A questão central é simplesmente saber se o espaço sideral é apenas um vazio no qual se propagam os campos electromagnéticos ou antes um meio rígido no interior do qual as partículas vibram, pois sem ele - o tal aether - não seria possível a propagação do campo.

Daí a afirmação de Einstein, claro. Porém, a incorrecta interpretação da experiência de Michelson veio justificar o autêntico circo em que a física de partículas se converteu, chegando ao supremo ridículo da invenção dos "gravitões", isto já para nem falar de outras miríades de entidades míticas, como o agora tão falado "bosão de Higgins", elevado até à suprema condição de "partícula de Deus"!

Logo, lá vamos ter mesmo de regressar ao velhinho éter milenar, onde a física autêntica - a das hipóteses lógicas e demonstráveis! - e não os meros malabarismos matemáticos, conduzirão inevitavelmente a uma outra compreensão da Relatividade Geral, e o seu conceito de "medium" e suas deformações.

Simples, simples, simples... para quem não está ainda enredado na tal mitologia dos milhares de partículas que os aprendizes de feiticeiro tão afanosamente procuram... em vão!

Meio... éter... campo... all the same thing, a mesma unidade no espaço sem fim!!!

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