segunda-feira, 2 de junho de 2008

O Universo Elegante


Brian Greene, professor de física e matemática da Universidade de Columbia, é um destacado físico teórico e divulgador de ciência, autor de dois best-sellers, «The Elegant Universe» (finalista do Pulitzer e vencedor do Aventis Prize), e «The Fabric of the Cosmos: Space, Time and the Texture of Reality», que permaneceu seis meses na lista de best-sellers do New York Times.

O primeiro livro serviu de base a uma mini-série de três horas (galardoada com um Emmy) da PBS NOVA, «The Elegant Universe», (disponível na totalidade online). A série, narrada por Greene da forma simples e com o entusiasmo contagiante que este pequeno excerto ilustra, duplicou os níveis de audiência da NOVA, que conta com outras séries muito boas como a «Origins» de outro comunicador fabuloso, Neil deGrasse Tyson. O programa, que introduz o público em geral à teoria de cordas de uma forma magistralmente simples, recebeu o prémio Peabody 2004 por excelência em transmissão.

Hoje, o New York Times publica um artigo simplesmente imperdível de Greene sobre o ensino de ciência. O artigo, intitulado «Put a Little Science in Your Life», versa sobre «o papel poderoso que a ciência pode ter a dar contexto e significado à vida», usando como exemplo uma carta de um soldado norte-americano destacado no Iraque. Este soldado escreveu a Greene explicando que um dos seus livros foi a bóia de salvação que lhe deu alento num ambiente hostil e solitário.

Para Greene, «ao mesmo tempo, a carta do soldado enfatizou algo em que eu tenho vindo a acreditar: o nosso sistema educacional falha no ensino de ciência de forma que permita aos estudantes integrá-la nas suas vidas».

O físico considera ainda que a principal razão porque a ciência é importante não é na maioria das vezes compreendida: «A razão porque a ciência é realmente importante é mais profunda. Ciência é uma forma de vida. Ciência é uma perspectiva. Ciência é o processo que nos leva da confusão à compreensão numa forma que é precisa, prevísivel e confiável - uma transformação, para aqueles felizardos que a experienciam, que é poderosa e emocional. Ser capaz de pensar e agarrar explicações - para tudo, de porquê é o céu azul a como se formou a vida na Terra -, não porque foram declarados dogmas mas porque revelam padrões confirmados pela experiência e observação, é uma das mais preciosas das experiências humanas».

Gostei especialmente da forma como Greene termina o artigo, que traduz de forma fabulosa o que penso e que tenho tentado em vários posts transmitir:

«Nós roubamos a vida à ciência quando nos focamos somente nos resultados e procuramos treinar os alunos para resolver problemas e recitar factos sem ênfase em transportá-los para lá das estrelas.

A ciência é a maior de todas as histórias de aventuras, uma história que se desenrola há milhares de anos à medida que nós procurámos percebermo-nos e ao mundo que nos rodeia. É necessário ensinar ciência aos mais novos e comunicar aos menos novos de uma forma que capture este drama. Nós precisamos embarcar numa mudança cultural que coloque a ciência no seu lugar devido, ao lado da música, arte e literatura como uma parte indispensável do que faz valer a pena viver.

É o direito de toda a criança, é uma necessidade para cada adulto, olhar para o mundo como o soldado no Iraque o fez e ver que as maravilhas do cosmos transcendem tudo o que nos divide».

16 comentários:

perspectiva disse...

Não podemos confundir ciência com filosofia naturalista da ciência.

Esse é o erro de análise sistematicamente repetido pela Palmira Silva. Vejamos se ela admite que ele seja criticado.

Essa filosofia naturalista é em si mesmo dogmática.

Ela postula a explosão de uma singularidade inicial, sem qualquer explicação sobre a sua origem e as causas da explosão.

Além disso, ela afirma a origem acidental da vida, em flagrante violação da lei da biogénese, por sinal a única lei natural que se aplica aos factos biológicos.

Acresce que ela porque afirma que os seres menos complexos se transformam em seres mais complexos, violando a lei da entropia e a teoria da informação que nos fala de como a informação vai dando lugar ao ruído.

A melhor maneira de conhecer o Universo é começar com a Palavra do seu Criador.

Ela afirma a racionalidade do Universo, porque criado de forma racional por um Ser racional.

Ela impede que se cometam erros graves de análise.

Se o Universo é elegante, isso é inteiramente compatível com a revelação divina que afirma que Deus é Razão e inteligência.

Diferentemente, as explosões é que não costumam conduzir a resultados elegantes.

Deus criou a natureza e as leis naturais.

A ciência formula as leis naturais.

Unknown disse...

Brian Greene, divulgador de ciência!? Qual ciência? Recomendo a leitura de: The Trouble With Physics: The Rise of String Theory, The Fall of a Science, and What Comes Next by Lee Smolin e Not Even Wrong: The Failure of String Theory and the Search for Unity in Physical Law by Peter Woit.
Esses sim merecem divulgação, porque já é bastante difícil para as pessoas distinguirem entre pseudociência e ciência quanto mais entre especulação científica e factos científicos.

Armando Quintas disse...

ò perpectiva, ha quanto tempo! Vejo qu continua o mesmo com os seus delirios religiosos, sabe qual é a sua diferença em relação aos fundamentalistas islamicos? é ainda n ter começado a meter bombas por ai, quando o fizer avise ok?
O senhor vive num mundo muito peculiar, da iusão, da fantasia, qual alice no pais das maravilhas, o que está a dar é a religião, sobretudo a fundamentalista, viva ao criacionismo, viva a deus, morte à ciencia e aos cientistas, deitemos fora todas esssas invenções do demo, fora com os pcs, com os medicamentos, com tudo o que seja eletronico e moderno, viva à idade da pedra, naqueles tempos em que se tinham medo dos trovoes e se tinha que caçar para sobreviver e a esperança media de viva era baixissima, isso sim era vida, ou então à idade média, belos tempos n era jonatas, em que poderia simplesmente mandar para a fogueira todos esses detractores da igreja, esses cientistas malvados, aliados do demonio, do pecado e da devassidão, que trazem estas novidades terriveis, que dão liberdade às mulheres desregulam a vida tradicional, malvados sejam não é jonatas.
Voce ao longo do tempo que eu tenho acompanhado este blog, e já lá vão mts meses, tem mostrado ser a pessoa mais anti ciencia deste blog e a mais detestada, digo-lhe que voce faz parte daquelas pessoas que nem devia existir neste tempo historico que se caracteriza por modernidade e não atraso de vida, que é aquilo que voce é mais as suas ideias deturpadas do mundo, qual trauma que voce de certeza deve ter, tenho é pena dos seus alunos de direito de coimbra, pessoas como voce nem professores deviam ser.
De uma vez por todas retrate-se, deixe de escrever no blog palermices como a que tem escrito, já todos estamos fartos de si e das suas ideias medievais, reconheça que está errado, que não percebe nada de ciencia e aprenda pelo menos alguma coisa util.
De uma vez por todas, abra os olhos para o mundo em que vive, para a realidade e deixe-se de fantasias, de deuses e demonios, de seres fantásticos e outras inexistencias, se precisar de ajuda não deixe de recorrer ai aos UC, especialmente ao serviço de esquizofrenia..

Armando Quintas disse...

Julgo ser o grande combate deste século, convencer de uma vez por todas a humanidade a aceitar e fazer comprender a ciencia, fazer com que deixe as ilusoes e as fantasias da religião e da pseudo-ciencia, desde que começei a seguir este blog ha uns bons meses, começei a pesquisar e investigar as pseudo ciencias, como são e como actuam, a ideia que tenho é que nunca antes como na actualidade as pseudo ciencias tiveram tanta força e sobretudo movimentaram muitos milhoes.
Enquanto as pessoas não perceberem o verdadeiro valor da ciencia nada feito, compreende-se que pessoas com pouca ou nenhuma escolaridade tenham dificuldade ou desinteresse, mas o que n se pode admimitir é que jovens adolescentes ou adultos com formação secundária completa e mesmo superior tenham atitudes de desinteresse para com a ciencia, tolero os mais velhos, os analfabetos, n posso tolerar os novos formados e as suas atitudes fundamentalistas, é preocupante, e muito menos, a cambada de doutorados que há por esse país fora com atitudes anti-cientificas.
creio ser tempo de incluir a ciencia em todos os curriculos sejam eles de que area for, só favorável à extinção dos ditos agrupamentos de secundário que impossibilitam alunos dos agrupamentos não cientificos a poderem optar por disciplinas do cientifico como biologia e outras.
Ha que começar a fazer a verdadeira inclusão cientifica dos cidadãos.

asilvestre disse...

É curioso observar como este discurso se assemelha ao discurso religioso.

Parece que a Prof. Palmira e o autor do artigo se limitaram a substituir a palavra religião ou fé pela palavra ciência.

A ciência e os cientistas, se bem que insconscientemente e na falta de melhor, utilizam conceitos religiosos como «forma de vida», «transformação que é poderosa e emocional» etc.

Quase que apetece citar Wittgenstein quando diz «Não sou religioso mas consigo deixar de pensar em termos religiosos.»

Unknown disse...

Caro asilvestre:

Acho que está totalmente baralhado :)

O texto não tem nada a ver com religião, bem pelo contrário, louva a beleza de se deixar de acreditar sem razões, por dogmas, e passar-se a olhar para algo e perceber.

O que está a dizer é que a religião foi a primeira construção humana a tentar explicar os porquês das coisas e apesar de hoje em dia não explicar nada parece que alguns crentes acham que têm o monopólio dessas tentativas :)

Enfim, a humanidade já evolui um poucochinho desde o neolítico mas por uma razão que nunca percebi essa construção humana parece imune a evolução :)

Agora dizer que «forma de vida» ou «transformação que é poderosa e emocional» é religião é de facto o máximo :)

Nunca me hei-de deixar de espantar com o uso que alguns crentes dão às sinapses :)

perspectiva disse...

Estimado Armando Quintas

Mostrar a total falta de fundamento empírico da teoria da evolução é exactamente o oposto do que fazem os extremistas da Al Qaeda e o que fazia a Inquisição.

Os primeiros respondem com bombas. Os segundos, respondiam com Autos de Fé.

Diferentemente, os criacionistas apresentam argumentos e mostram que sem apelar à racionalidade do Criador e do Universo por Ele criado a própria ideia de conhecimento científico não tem sentido.

Pelos vistos, o Armando Quintas acha os argumentos dos criacionistas tão temíveis (ou mais) do que as bombas dos extremistas islâmicos.

No entanto, tem uma boa arma. Responda-lhes.

Os criacionistas apoiam-se na observação. A criação do Universo foi observada e relatada, nos seus aspectos essenciais, pelo Criador.

Além disso, existem muito mais evidências históricas de que Jesus ressuscitou dos mortos do que de que a vida surgiu por acaso.

Ora, se Jesus ressuscitou dos mortos com um corpo incorruptível, como muitos puderem ver e documentar há dois mil anos atrás, então segue-se logicamente que Deus não necessita de biliões de anos para criar vida nem de milhões de anos para fazer evoluir um corpo humano por processos aleatórios.

O que Deus nos disse e deu a observar é mais do que suficiente para concluir que a ideologia naturalista e evolucionista está errada.

De resto, não é por acaso que os próprios evolucionistas reconhecem que o registo fóssil não nos dá provas de evolução gradual.

Os criacionistas não põem em causa a ciência, nem os avanços tecnológicos, todos eles resultantes de design inteligente.

Eles apenas chamam a atenção para o facto de que em todos os casos conhecidos de origem de informação codificada, a mesma nunca sem uma inteligência.

Daí que, contendo o DNA informação codificada em quantidade e qualidade humanamente inabarcável, é inteiramente racional e razoável concluir que a mesma não surgiu por acaso.

Isso não põe em causa a investigação em torno do DNA.

Pelo contrário.

Antes chama a atenção para a sua inerente racionalidade e funcionalidade. Assim, podemos saber que é um erro falar em "junk" DNA, como de resto muitos cientistas já perceberam.

Os criacionistas não põem em causa a ciência, mas apenas a confusão que muitos, como o Armando Quintas, insistem em fazer entre a ideologia naturalista e a ciência.

Trata-se de coisas bem diferentes.

Em última análise, é a crença na racionalidade do Universo (apregoada pelos criacionistas) que dá sentido à ciência e que a torna possível.

Aqualung disse...

The Elegant Universe - Part I Einstiens Universe

http://video.google.com/videoplay?docid=-1322493346942339345&q=elegant+universe&ei=wzNESKzmO5DejALUiMHjCQ

PBS-Nova-The.Elegant.Universe-Part.II-Strings.the.Thing

http://video.google.com/videoplay?docid=-1220029554914167356&q=elegant+universe&ei=wzNESKzmO5DejALUiMHjCQ

The Elegant Universe - Part III - Welcome To The 11th Dimension

http://video.google.com/videoplay?docid=1736748358304155609&q=elegant+universe&ei=wzNESKzmO5DejALUiMHjCQ

Aqualung disse...

Se a criatura "perspectiva" tiver alguma dúvida, posso lhe enviar o livro Evolution for Dummies embora a chamar-lhe a si de tótó seja um insulto para os tótós.

Visite o site do PZ Meyers, além destes exemplos que aqui deixo ele também deixou lá exemplos de fósseis de transição encontrados.

15 Answers to Creationist Nonsense

http://www.sciam.com/article.cfm?id=15-answers-to-creationist

Scientists Know Better Than You--Even When They're Wrong

http://www.sciam.com/article.cfm?id=scientists-know-better-than-you

I Am Evolution

http://www.npr.org/templates/story/story.php?storyId=90311455

Evolutionary approaches to environmental, biomedical and socio-economic issues

http://www.blackwellpublishing.com/eva_enhanced/

guida martins disse...

"Os criacionistas apoiam-se na observação. A criação do Universo foi observada e relatada, nos seus aspectos essenciais, pelo Criador."

Os criacionistas apoiam-se na observação...da Bíblia. Dito desta forma até parece que foi o Criador que a escreveu.

asilvestre disse...

Cara Rita:

Limitei-me a sublinhar que o post da Prof Palmira tinha mais a ver com sermões e quejandos do que com ciência.

A linguagem utilizada no artigo tinha pouco da tão propalada objectividade, racionalidade neutralidade, e fala antes de tranformação poderosa e emocional, seja lá o que isto for.

Acho bom separar as águas e não exigir da ciência transformações espirituais, emocionais ou tretas semelhantes.

Como já referi limitei-me constatar
a contradição que existe quando, por um lado se rejeita a religião, mas depois recorre-se a uma terminologia muito pouco científica,
senão mesmo religiosa,
para descrever a própria ciência.

Luis Correia disse...

Sugestões:

"Nove falsidades fundacionais do criacionismo"

http://www.youtube.com/profile_videos?user=AronRa

"Principais mitos acerca da Teoria da Evolução"

http://www.youtube.com/watch?v=SJQFp0IfZ1Q

Vale a pena ver os restantes vídeos do mesmo utilizador.

"Top 25 das falácias criacionistas"

http://www.youtube.com/watch?v=EXMKPvWqgYk

Ver também os outros vídeos do utilizador.

"Como a Evolução origina um aumento da informação I e II":

http://www.youtube.com/watch?v=I14KTshLUkg

http://www.youtube.com/watch?v=i9u50wKDb_4

e restantes vídeos.

Recomendo também os vídeos do utilizador:

http://www.youtube.com/profile_videos?user=Thunderf00t

Com especial destaque para a série de vídeos: "Porque se riem as pessoas dos criacionistas?"

perspectiva disse...

Já aqui se falou no artigo

15 Answers to Creationist Nonsense

A resposta criacionista encontra-se em:

15 ways to refute materialistic bigotry: A point by point response to Scientific American, by Jonathan Sarfati

http://creationontheweb.com/content/view/2610


Já que falam em "sites", os criacionistas também têm os seus sites em que respondem às pseudo-refutações do criacionismo.

www.creationwiki.org


www.answersingenesis.org


www.creationontheweb.org

www.nwcreation.net

www.criacionismo.com

Todos são convidados a entrar nesses sites e a estudá-los. Então irão compreender que as respostas evolucionistas ao criacionismo não passam de um "bluff", destituído de racionalidade e sentido (de resto, como poderia ser de outro modo, se a teoria da evolução pretende ser um tributo à irracionalidade?)

perspectiva disse...

Na verdade, como é que se pode esperar racionalidade dos defensores de uma teoria que postula um universo irracional, criador por processos irracionais para ser compreendido por entidades irracionais?

A alternativa criacionista é claramente superior.

Ela propõe um Criador racional, que criou o Universo de forma racional, com uma estrutura racional, capaz de ser estudado e compreendido de forma racional, por pessoas racionais, porque criadas à imagem e semelhança do Criador racional.

Mais racionalidade do que isto é impossível.

Xico disse...

A Palmira gosta mesmo muito pouco da ciência. Então não é que pede que a ponham ao lado da música, da arte e da literatura? Coitadinha, tão mal acompanhada que ficava, encafuada numa qualquer despensa do ministério, junto com as esfregonas e as vassouras.
Se lhe quer bem, ao menos peça que a ponham ao lado do desporto, que vai ver como arriba...

Lennine disse...

Tradução tupiniquim [esses "há dois anos atrás" não me passam...]:

UOL MIDIA GLOBAL, 04/06/2008

THE NEW YORK TIMES
Coloque um pouco de ciência em sua vida

Brian Greene*

Há dois anos atrás, recebi uma carta do Iraque. A carta começava dizendo que, como descobrimos dolorosamente, servir na linha de frente é fisicamente exaustivo e emocionalmente debilitante. O soldado escrevia, contudo, para dizer que, naquele ambiente inóspito e solitário, um livro que eu havia escrito tornou-se uma espécie de salva-vida. Como o livro é sobre ciência -traça a busca dos físicos pelas leis mais profundas na natureza- a carta do soldado pode parecer, bem, estranha.

Mas não é. Em vez disso, fala do papel poderoso que a ciência pode ter em dar contexto e significado à vida. Ao mesmo tempo, a carta do soldado enfatizava algo que passei a acreditar cada vez mais: nosso sistema educacional não ensina ciências de uma forma que permita que os estudantes a integrem em suas vidas.

Deixe-me explicar.

Quando consideramos a ubiqüidade dos telefones celulares, iPods, computadores e Internet, é fácil ver como a ciência (ou a tecnologia que gera) faz parte do tecido de nossas atividades diárias. Quando nos beneficiamos da tomografia computadorizada, aparelhos de ressonância magnética, marca-passos e "stents" arteriais, podemos apreciar imediatamente como a ciência afeta a qualidade de nossas vidas.

Quando avaliamos o estado do mundo e explicamos os desafios adiante como mudança climática, pandemias globais, ameaças de segurança e recursos reduzidos, não hesitamos em nos voltar para a ciência para avaliar os problemas encontrar soluções.

Quando olhamos para a riqueza de oportunidades no horizonte - células tronco, seqüenciamento genômico, medicina personalizada, pesquisa de longevidade, nanociência, interface cérebro-máquina, computadores quânticos, tecnologia espacial - entendemos como é crucial cultivar um público geral que possa se envolver em questões científicas; simplesmente não há outra forma para, como sociedade, estarmos preparados para fazer decisões informadas sobre uma série de questões que formularão o futuro.

Essas são as razões padrão -e enormemente importantes- que muitos dariam para explicar porque a ciência é importante.

Mas há outra coisa. A razão pela qual a ciência realmente importa é ainda mais profunda. A ciência é uma forma de vida. A ciência é uma perspectiva. A ciência é um processo que nos leva da confusão para a compreensão de uma forma precisa, previsível e confiável -é uma transformação para aqueles que têm a sorte de vivenciá-la, que dá poder e emociona. Ser capaz de pensar e compreender explicações -desde porque o céu é azul até como a vida formou-se na terra- não porque são dogmas, mas porque revelam padrões confirmados por experimentos e observação, é uma das experiências humanas mais preciosas.

Como cientista praticante, sei disso por meu próprio trabalho e estudo. Mas também vi que não é preciso ser cientista para a ciência ser transformadora. Eu vi os olhos das crianças se iluminarem enquanto eu falava de buracos negros e do big bang. Conversei com adolescentes que deixaram os estudos, depois encontraram livros de ciência populares sobre o projeto genoma e voltaram ao colégio com um novo propósito. E naquela carta do Iraque, o soldado me contou como aprender sobre a relatividade e a física quântica nos ambientes perigosos e empoeirados de Bagdá o deixaram mais resistente, porque revelaram uma realidade bem mais profunda da qual todos nós participamos.

É impressionante que a ciência ainda é amplamente vista como meramente um assunto que a pessoa estuda na sala de aula ou um corpo de conhecimento altamente esotérico e isolado, que algumas vezes aparece "no mundo real" na forma de avanços tecnológicos e médicos. Na realidade, a ciência é uma linguagem de esperança e inspiração, fornecendo descobertas que acendem a imaginação e instilam um sentido de conexão com nossas vidas e nosso mundo.

Se a ciência não for o seu forte -e para muitos não é- esse lado da ciência é algo que talvez você não tenha vivenciado. Conversei com muitas pessoas assim durante os anos, cujos encontros com a ciência na escola fizeram-nas pensar que era fria, distante e intimidante. Elas usam com alegria as inovações que a ciência torna possível, mas acham que a própria ciência não é relevante para suas vidas. Que pena.

Assim como uma vida sem música, arte ou literatura, a vida sem ciência perde uma dimensão rica, de outra forma inacessível.

Uma coisa é sair em uma noite clara e se maravilhar com o céu cheio de estrelas. Outra coisa é se maravilhar não só com o espetáculo, mas reconhecer que essas estrelas são o resultado de condições extremamente ordenadas há 13,7 bilhões de anos, no momento do big bang. E outra ainda é compreender como essas estrelas agem como fornos nucleares que fornecem carbono, oxigênio e nitrogênio universo, a matéria-prima da vida como a conhecemos.

É ainda outro nível de experiência compreender que essas estrelas são menos de 4% do que está aí fora -o resto, de composição desconhecida, é chamado de matéria e energia negra, e os pesquisadores estão vigorosamente tentando entender.

Como todo pai sabe, as crianças começam a vida como exploradores desinibidos do desconhecido. Assim que aprendemos andar e falar, queremos saber o que são as coisas e como funcionam -começamos a vida como pequenos cientistas. A maior parte de nós, contudo, rapidamente perde essa paixão científica intrínseca. E é uma perda profunda.

Muitos estudos se concentraram nesse problema, identificando oportunidades importantes para melhorar a educação científica. As recomendações variaram desde aumentar o nível do treinamento para os professores até reformas curriculares.

A maior parte desses estudos (e suas sugestões), contudo, evita uma questão sistêmica ampla: ao ensinar, desperdiçamos oportunidades ricas de revelar os horizontes assombrosos abertos pela ciência e, em vez disso, nos concentramos na necessidade de ganhar competência nos detalhes técnicos subjacentes à ciência.

De fato, muitos estudantes com quem conversei têm pouca noção das grandes questões que esses detalhes técnicos coletivamente tentam responder: de onde veio universo? Como a vida se originou? Como o cérebro faz nascer a consciência?

Como um currículo para música que exige que os alunos pratiquem escalas mas quase nunca os faz tocar grandes obras, essa forma de ensinar a ciência atrapalha a possibilidade de fazer os alunos se sentarem na cadeira e dizerem: "Uau, isso é ciência?"

Para ilustrar como há matéria-prima disponível para promover a educação, os avanços mais revolucionários da física aconteceram nos últimos 100 anos -relatividade especial, relatividade geral, mecânica quântica- uma sinfonia de descobertas que mudou nosso conceito de realidade. Os últimos dez anos viram uma revolução na nossa compreensão da composição do universo, gerando uma previsão totalmente nova para o que será o cosmo no futuro longínquo.

Esses são desdobramentos que abalam paradigmas. Entretanto, rara é a sala de aula na qual esses avanços são introduzidos. O mesmo acontece nas turmas de biologia, química e matemática.

Na raiz dessa abordagem pedagógica está uma crença na natureza vertical da ciência: primeiro você tem que dominar A, antes de entrar em B. Quando A aconteceu há algumas centenas de anos atrás, é uma longa subida até a era moderna. Certamente, para ensinar tecnicalidades -resolver uma equação, equilibrar uma reação, aprender as partes da célula- a verticalidade da ciência é inquestionável.

A ciência, entretanto, é muito mais do que seus detalhes técnicos. E com uma apresentação cuidadosa, as visões e descobertas modernas podem ser comunicadas clara e fielmente aos alunos, independentemente desses detalhes; de fato, essas visões e descobertas são precisamente as que podem mover um jovem a querer estudar os detalhes. Roubamos da educação da ciência da vida quando nos concentramos somente nos resultados e procuramos treinar os alunos para resolver problemas e recitar fatos, sem uma ênfase em levá-los para além das estrelas.

A ciência é a maior de todas as histórias de aventura que vem se desdobrando há milhares de anos enquanto procuramos compreender a nós mesmos e nosso entorno. A ciência precisa ser ensinada aos jovens e comunicada aos adultos de uma forma que capture esse drama. Precisamos embarcar em uma mudança cultural que coloque a ciência em seu local de direito, ao lado da música, arte e literatura, como uma parte indispensável daquilo que faz a vida valer a pena.

É direito de nascença de toda criança e uma necessidade de cada adulto olhar para o mundo, como fez o soldado no Iraque, e ver que a maravilha do cosmo transcende tudo aquilo que nos divide.

*Brian Green é professor de física em Columbia e autor de "The Elegant Universe" e "The Fabric of the Cosmos".

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2008/06/04/ult574u8534.jhtm

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