segunda-feira, 8 de março de 2010

A mais antiga biblioteca pública no país


Informação recebida da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, que tem patente na Sala de São Pedro uma exposição intitulada "O serviço público da Biblioteca da Universidade":

A primeira “tese” da Mostra “Serviço público da Biblioteca da Universidade” é que, quase desde os seus primórdios, a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra foi uma biblioteca pública, sendo não só a mais antiga biblioteca pública portuguesa que continua a existir como até uma das mais antigas do mundo.

Infelizmente, sabemos muito pouco da sua primitiva organização e nem sequer sabemos quando e como começou … A primeira notícia que temos remonta a 13 de Fevereiro de 1513, quando o Reitor João Alvares manda o Recebedor Fernão Afonso fazer o “cano da livraria para lançar agoa fora e assim lhe dise que mandasse fazer as cadeas para os livros da Livraria do Studo para que os ditos livros stem em sua ordem para studarem por eles”. Provavelmente, tratava-se de prover de correntes, como era habitual nas “livrarias” (assim se designavam então as bibliotecas), os 58 volumes encadernados que tinham acabado de ser legados por Diogo Lopes, Lente de Cânones, falecido em 1508, e que ainda não estariam incorporados na “livraria” (biblioteca) da Universidade. Transcreve-se esse texto histórico:
da chaue da liuraria

Aos xij dias do mes de feuereiro de bcxiij annos nas scolas geraes do studo de lixboa em conselho perante o mujto honrado doctor Joam alvarez d eluas do desembargo delRey noso Senhor etc Rector do dito studo lentes e conselheiros dele pareceo fernam d afonso Recebedor do dicto studo e per ele foy dicto que ele trazia ali a chaue da liuraria E por ser necessareo corregerse hum cano pera lancar agoa fora da dita liuraria que a quem mandauam entregar a dita chaue pera se correger o dicto cano e per o dito Rector foy dito que ele teuese a dita chaue e que elle mesmo dese ordem como se fezese o cano e per o dito Recebedor foy dito que lhe nom desem aquele cargo que o nam auja de fazer e per o dicto Rector lhe foy dito que pois ele tinha fectas todas as obras das scolas por que nam faria hua cousa tam pouca e per o dicto Recebedor foy dicto que per o dicto conselho lhe fora priuado que nam entendese nas obras do dicto studo que nam avia de fazer aquela nem outras e o dicto Rector lhe dise e se vos mandar penhorar nom ho fares e per elle foy dito que se o mandasem penhorar que darja huum penhor e que se o mandasem a cadea que ele se yria la e que em nenhua maneira nom auja de fazer o dlicto cano nem outra obra algua e vendo o dicto Rector a contumatia do dicto Recebedor nom quis proceder contra o dicto Recebedor mas foy logo acordado que ele entregase [per enventairo] a mjm bedel a liuraria com todolos liuros que nela stam per enuentairo pera a qual entrega foy ordenado per o dicto conselho o bacharel fernam gonçalvez conselheiro pera star presente ao receber e entrega dos ditos liuros o qual acordo mandaram que se asentase pera se asinar o bedel esto scpriuj.
bacalarius Johannes P.
Saluator Licenciatus bariholomeus
in Vtroque Rodericus
francisco dandrade João monteiro doctor
Gaspar
Manueil Licenciatus
de crasto bacalarius menendy

(Arquivo da Universidade de Coimbra - Vol. 1 dos Livros da Universidade de Lisboa de 1506 a 1526. Tomo 1, fol. 119)
Como seria essa “livraria” que estava em Lisboa e que será transferida (parcialmente, acredita-se) para Coimbra, com a transferência definitiva da Universidade?

Abria durante duas horas de manhã e duas horas de tarde, no Inverno, e no Verão, com mais luz solar, durante seis horas por dia. Era pública para “lentes, estudantes e quaesquer pessoas outras”, teria quase uma centena e meia de volumes, organizados corporativamente (os livros divididos pelas Faculdades onde se “liam”) e que se apresentavam ao leitor ou acorrentados às estantes ou fechados em “almários” (armários):

“… huma casa pera livraria da Universidade, na qual estarão os livros de todas as Faculdades postos em estantes, e presos por cadeas, e repartidos e ordenados na melhor maneira e ordem que poder ser … averá huma cathedra bem alta na dita livreria, da qual se possa bem ver tudo o que se fizer em toda a casa …” (Estatutos de 1559, Cap. 59).

A livraria foi por estes anos dirigida primeiro interina (1545-1547) e depois efectivamente (1547-1559?) pelo Bedel na Faculdade de Artes Fernão Lopes de Castanheda, que viria a ser o grande historiador da Índia. Não terá razão quem julga que esta Livraria “liberalmente franqueada” não sobreviveria ao tempo do reitorado de Frei Diogo de Murça. A biblioteca continuava a ser pública em 1591, que assim se declara nos Estatutos:

Haverá na Universidade uma livraria pública” (Estatutos da Universidade, 1591, título XLVI).

1 comentário:

Anónimo disse...

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