sexta-feira, 17 de junho de 2022

SONETO TEIMOSO

Novo soneto de Eugénio Lisboa:


Quando eu nasci, as frases que hão de salvar a humanidade já estavam todas

escritas, só faltava uma coisa – salvar a humanidade.

Almada Negreiros


Ó Almada, tu até tens razão,

com esse teu espanto sempre tão certo!

As palavras têm sempre tesão,

mas deixam o mundo em desconcerto.


Mas que queres tu que faça quem escreve?

Que atire fora a sua caneta?

Se o pobre escriba ainda se atreve

a usar a palavra como cometa


que, cheio de luz, ameaça

as armadilhas sujas do canalha,

talvez mais não consiga do que pirraça


e do que acender um fogo de palha.

Mas persistir, sabendo bem que perde

rega o capinzal e mantém-no verde.


Eugénio Lisboa

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