“A idade empurra-nos em direcção ao silêncio.
As
pessoas querem que não faças nada.
Tenta evitar isso continuando em frente”.
Vidiadhar (Prémio Nobel de
Literatura/2001).
Por ausência de
esclarecimentos públicos da ADSE, quiçá, porque “de minimis non curat praetor” (o
pretor não cuida de coisas menores) escrevi, de 2016 a 2018, nove artigos
de opinião neste jornal. De entre eles, uma “Carta Aberta ao Presidente da República”
(26/10/20017) por, em evocação de Victor Hugo, os velhos terem tanta necessidade
de afecto como de sol.
Esta minha carta foi por mim enviada para a Presidência da
República, tendo andado de Herodes para Pilatos, ou seja da Presidência da
República para o gabinete do Primeiro-Ministro que a enviou, por sua vez, para
ADSE que simplesmente me remeteu, qual raposa que toma conta do galinheiro, para o Decreto-Lei n.º 118/83, de 25 de
Fevereiro, que esteve em banho-maria,
talvez, por poder fazer mossa ao Partido
Socialista em eleições. Este “status
quo” não é previsível suceder nos dias de hoje de vacas gordas, embora com maus
presságios para um futuro de vacas magras, em que as sondagens lhe são favoráveis
embora as eleições nem sempre as confirmarem.
Minha mulher, familiar cônjuge, com 85% de invalidez e deslocando-se
em cadeira de rodas, usufrui de uma magra reforma que pouco excede as duas
centenas e meia de euros mensais, com descontos feitos para a Segurança Social durante
12 anos em que foi minha sócia de um ginásio de recuperação física, encontra-se
inscrita na ADSE desde 1975.
Quando fez oitenta anos de idade, em arrevesada interpretação
do que deve ser entendido por retroactividade das leis, foi-lhe retirado o cartão de familiar cônjuge sendo tratada de forma que só encontra paralelo na Grécia Antiga em que os deficientes eram
lançados ao mar ou em precipícios.
Ou seja, a ADSE trata de forma draconiana os idosos e doentes
cônjuges familiares casados, através de uma legislação havida qual inamovível Rochedo
de Gibraltar, insistindo numa lei mal feita pese embora Edmund Burke ter
enfatizado que as leis mal feitas são a
pior forma de tirania!
Ou seja, os idosos, doentes e deficientes com magérrimas pensões
são tidos como trapos velhos lançados para uma espécie de antecâmara da morte
onde uma operação chega depois do doente já ter morrido pela sua idade avançada
ou “para um serviço de urgências quase caótico” (“Público”, 24/10/2016).
Ainda que em indiscutível medida de humanismo a ADSE, ao que
parece, tendo como leitmotiv justificar
clientela para numerosas convenções futuras, escancara as portas ao descalabro total
do Serviço Nacional de Saúde, passando a abençoar um numeroso número de cônjuges beneficiários em
união de facto e expurgando uns tantos
idosos casados, “com pesares que os
ralam na aridez e secura da sua desconsolada velhice” (Almeida Garreth).
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