MÚSICA E CIÊNCIA
MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR
EM PARCERIA COM A AMEC | METROPOLITANA
DEZ CONCERTOS/CONFERÊNCIA . CINCO UNIVERSIDADES . CINCO POLITÉCNICOS
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Orquestra Académica Metropolitana
Terça-feira, 16 de outubro, 15h00, Auditório do Instituto Politécnico de Tomar
P. I. Tchaikovsky Sinfonia N.º 5, Op. 64
Destino na música e na ciência do século XIX
Conferencista Carlos Fiolhais
Conferencista Carlos Fiolhais
Maestro Jean-Marc Burfin
Resumo da palestra antes do concerto:
A bem conhecida 5.ª Sinfonia de
Beethoven, estreada em 1808, tem o nome de Sinfonia do Destino. Oitenta anos
mais tarde o compositor russo Piotr Illitch Tchaikovsky compôs e estreou, no
dia 17 de Novembro de 1888, vai fazer agora 130 anos, em São Petersburgo, a sua
5.ª Sinfonia. Num apontamento de trabalho escreveu. “1.º andamento, introdução.
Submissão total perante o destino, ou o que é a mesma coisa, perante os desígnios
insondáveis da Providência”. A sua sinfonia anterior, a 4.ª, que tinha estreado
dez anos antes, também é conhecida por Sinfonia do Destino, pelo que revisitava
o mesmo tema. A fanfarra da 4.ª de Tchaikovsky faz lembrar os compassos
iniciais de Beethoven, a imagem musical do destino que bate à porta. Precedendo
de pouco a sua 4.ª Sinfonia, quis o destino que o compositor, que
era homossexual, se tivesse cruzado com duas mulheres que lhe marcaram a vida: com Nadezhda von Meck, que, sem nunca se encontrarem, o sustentou
durante 13 anos (embora anonimamente o autor dedicou-lhe a 4.ª Sinfonia), e com Antonina Miliukova, com quem casou em 1877 para logo se separar
ao fim de dois meses. A vida de Tchaikovsky foi marcada por períodos
depressivos, como se a infelicidade fosse o seu destino. A última sinfonia, a 6.ª
(ou Patética) é considerada o seu Requiem pois o autor morre escassos dias
depois de ela, em 1873, ter sido tocada pela primeira vez.
Se o tema do destino perpassa na
música do século XIX (a ópera de Verdi de 1862 intitula-se “A Força do Destino”
e a 6.ª sinfonia de Mahler, de 1906, foi chamada Trágica), a ciência do mesmo
século tratou o tema do destino de uma nova maneira. A mecânica de Newton,
criada no século XVII, era determinista: dadas as condições iniciais e as
forças podia-se prever tudo o que ia acontecer. Mas tal descrição revelou-se
impossível para sistemas complexos, formados por muitas partículas. Ora, no
século XIX, desenvolveu-se um novo ramo da física, a termodinâmica, que, embora
abandonando uma previsão pormenorizada, permitia fazer previsões para esses
sistemas. Introduziu numa nova grandeza, a entropia, que, em sistemas isolados,
só pode crescer. Entropia significa desordem, isto é, os sistemas abandonados a
si próprios caminham para o caos. Essa
conclusão levou, no tempo de Tchaikovsky, a formular a teoria da “morte
térmica” do Universo. A teoria estava, porém, errada. E também estavam errados
aqueles que tentaram aplicar a lei da entropia à vida. Nos seres vivos
desenvolve-se ordem por não serem isolados. E a música é uma das mais
extraordinárias manifestações da ordem.
Carlos Fiolhais*
*Professor de Física da Universidade de Coimbra
*Professor de Física da Universidade de Coimbra
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