"E para o que é que se educa? A educação passou a ser para o mercado e não para formar seres humanos completos."Esta é a frase que destaco da entrevista a Raquel Varela, professora Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, realizada por Samuel Silva e saída no Público do passado sábado. O motivo da entrevista foi a apresentação de um estudo que coordenou, intitulado "Inquérito Nacional sobre as Condições de Vida e Trabalho na Educação em Portugal", por solicitação da Federação Nacional dos Professores (Fenprof).
O estudo apurou dados muitíssimo interessantes sobre a profissão docente e o modo como os professores a percepcionam (ver, por exemplo, aqui e aqui), mas o que me parece mais profundamente crítico do que li é a falta de sentido vertida na frase.
Um professor, digno de assim ser chamado, participa, de modo muito específico mas insubstituível, na formação das novas gerações que sucederão às mais velhas e continuarão a humanidade, melhorando-a. É esta utopia realizável que lhe dá, em grande medida, o ânimo de que precisa para ensinar.
Acontece que isso tem-lhe sido retirado. Não é a primeira vez que acontece, mas é a primeira vez que se justifica em virtude na necessidade de produção de "capital humano" para um mercado de trabalho que terá benefícios económico-financeiros para uma parte cada vez menor da população mundial.
Todos os discursos "oficiais" que chegam aos professores vão no mesmo sentido, acrescendo que são veiculados numa "narrativa" enganosa e punitiva. Ainda assim, é uma "narrativa" a que a sociedade adere, sendo a partir dela que os professores são vistos e acabam por se ver. E o que vêem não é o que querem ver.
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