terça-feira, 31 de outubro de 2017
CONGRESSSO INTERNACIONAL UM CONSTRUTOR DA MODERNIDADE LUTERO – TESES – 500 ANOS
LISBOA, 9, 10 e 11 de novembro de 2017
www.congressolutero500anos.org
PROGRAMA
(PRIMEIRA VERSÃO)
1.º DIA – 9 de novembro, quinta-feira
FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN (Avenida de Berna)
MANHÃ
08h30 – RECEÇÃO DOS CONGRESSISTAS
09h00 SESSÃO DE ABERTURA (Auditório III)
Presidente da República
Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian
Reitor da Universidade Aberta
Reitor da Universidade Lusófona
Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Diretor da Área de Ciência das Religiões
Presidente da Comissão Científica
Presidente da Comissão Organizadora
Momento musical com Coral Allegro
09h30 CONFERÊNCIA DE ABERTURA (Auditório III)
Presidente de Mesa: José Eduardo Franco (Universidade Aberta)
Revisitando a Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, de Max Weber — ou sobre o
interface da ideologia com o real, Onésimo Teotónio de Almeida (Universidade de Brown)
10h00 SESSÃO PLENÁRIA (Auditório III)
Teologia(s) da(s) Reforma(s)
Presidente de Mesa: Paulo Mendes Pinto (Universidade Lusófona)
Protestantismo e Inquisição na Época Moderna, Adriano Prosperi (Escola Normal Superior de Pisa)
Reflexos da teologia de Lutero na cultura e literatura, Eduardo Lourenço (Fundação Calouste Gulbenkian)
Quand l'interprétation de la Bible change le monde — la Réforme comme tournant herméneutique, Pierre Bühler (Universität Zürich)
O Paradigma esquecido da Reforma: a essência dinâmica da ação reformadora, José Brissos-Lino (Universidade Lusófona)
O ministério profético da teologia em Lutero, Porfírio Pinto (Universidade de Lisboa)
Relações Laborais e o Valor do Trabalho e da Profissão em Lutero, Marcel Mendes (Universidade Presbiteriana Mackenzie)
Debate
12h15 INTERVALO
12h30 Inauguração da exposição: História da Reforma em 500 selos
13h00 ALMOÇO
TARDE
14h00 SESSÃO PLENÁRIA (Auditório III)
Modelações políticas e sociais da reforma protestante
Presidente de Mesa: Timóteo Cavaco (Universidade Nova de Lisboa)
A Genebra de Calvino — utopia ou realidade, Lidice Meyer Pinto Ribeiro (Universidade Presbiteriana Mackenzie)
A influência do protestantismo nas teorias políticas modernas, João Relvão Caetano (Universidade Aberta)
Protestantismo e a modelação do anticlericalismo moderno, Luís Machado de Abreu (Universidade de Aveiro)
A legitimação da autoridade segundo Lutero, Rui Oliveira (Universidade de Lisboa)
Do Polemismo Teológico ao Político: Calvino e Knox – Convergências e Divergências, Maria Zina Gonçalves de Abreu (Universidade da Madeira)
A justificação pela Fé – Perspetivas e relevância atual, Alan Pallister (Seminário Teológico Baptista)
Debate
16h00 INTERVALO
16h15 SESSÃO SEMI-PLENÁRIA I (Auditório III)
Bíblia, Teologia e Cultura
Presidente de Mesa: Simão Daniel Silva (Universidade Aberta)
Democratização da leitura e da interpretação da Bíblia, Samuel Escobar (Faculdade Protestante de Teologia - UEBE)
Martinho Lutero entre Humanismos Cristãos e Expectativas Apocalípticas, Rui Luís Rodrigues (UNICAMP)
O valor das Obras em Lutero, Miguel Barcelos (Universidade de Lisboa)
Bíblia, tradução e leitura: João Ferreira de Almeida e a construção da lusofonia, Herculano Alves (Ordem dos Franciscanos Capuchinhos)
A hermenêutica bíblica a partir da Reforma e os seus desafios contemporâneos: Da ressignificação do texto à ressignificação da vida, Israel Mazzacorati Gomes (Faculdades EST – Escola Superior de Teologia)
Da liberdade nos nossos dias à De Libertate Christiana, André Barata (Universidade da Beira Interior)
Debate
17h15 INTERVALO
16h15 SESSÃO SEMI-PLENÁRIA II (Sala I)
Tradição e a Centralidade da Palavra na Reforma
Presidente de Mesa: Porfírio Pinto (Universidade Aberta)
Ecclesia aeterna – A receção dos Pais da Igreja em Lutero, Artur Villares (ISLA - Instituto Politécnico de Gestão e Tecnologia)
A centralidade da pregação na reforma da Igreja em perspetiva protestante, Tiago Cavaco (Gabinete de Estudos do Protestantismo em Portugal/CIDHUniversidade Aberta)
A obsessão do regresso às origens do cristianismo nas correntes reformistas protestante e católica, José Eduardo Franco (Universidade Aberta)
A Igreja, criatura da Palavra, António Canoa (Universidade Lusófona)
Debate
17h15 INTERVALO
17h30 Recital de piano (Clássicos da hinologia protestante)
2.º DIA – 10 de novembro, sexta-feira
FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN
(Avenida de Berna)
MANHÃ
09h00 Conferência de Abertura (Auditório III)
Presidente de Mesa: Annabela Rita (Universidade de Lisboa)
O Espírito da Reforma em Portugal, Guilherme d’Oliveira Martins (Fundação Calouste Gulbenkian)
09h30 SESSÃO PLENÁRIA (Auditório III)
Reforma e reforma(s) na educação
Presidente de Mesa: José Brissos-Lino (Universidade Lusófona)
A Universidade e as reformas na época moderna, João Paulo Oliveira e Costa (Universidade Nova de Lisboa)
As Reformas religiosas e o nascimento da escolarização Ocidental, Norberto Dallabrida (Universidade do Estado de Santa Catarina)
Educação para todos na Reforma: Direito e Liberdade, Wilson do Amaral Filho (Universidade Presbiteriana Mackenzie)
Propostas educativas de Lutero, Elcio Cechetti (Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina)
Lilian Blanck de Oliveira (Universidade Regional de Blumenau)
Debate
11h00 INTERVALO
11h15 SESSÃO PLENÁRIA (Auditório III)
Reforma(s): Política, Direito e Sociedade
Presidente de Mesa: Joaquim Franco (Universidade Lusófona)
A Reforma Luterana na esfera política: Uma grandeza paradoxal , Viriato Soromenho-Marques (Universidade de Lisboa)
Protestantismo, Protonacionalismo e o processo de confessionalização dos Estados
nacionais. José Ignacio Ruiz Rodrigues (Universidade de Alcalá de Henares)
Pintura Reformada, Vítor Serrão (Universidade de Lisboa)
Modelação protestante das teorias do Direito, Paulo Albuquerque (Tribunal Europeu dos Direitos Humanos)
Elogios da Razão: Erasmo e a Paz Incondicional, Fernando Marques (Instituto de Artes da Universidade de Brasília)
Significado e importância teológico-política do 'Apelo à nobreza cristã da nação alemã'
(1520), José Silva Rosa (Universidade da Beira Interior)
Debate
13h00 ALMOÇO
TARDE
14h00 SESSÃO PLENÁRIA (Auditório III)
Protestantismo e os Outros
Presidente de Mesa: Adérito Marcos (Universidade Aberta)
Protestantismo e judaísmo em Portugal, Paulo Mendes Pinto (Universidade Lusófona/Cátedra de Estudos Sefarditas)
Protestantismo e Maçonaria, António Ventura (Universidade de Lisboa)
Protestantismo e Maçonaria em Espanha, José-Leonardo Ruiz Sánchez (Universidad de Sevilla)
Uma crítica iluminista ao protestantismo em Portugal, Manuel Curado (Universidade do Minho)
Questões de intolerância e conflito no quotidiano religioso do arquipélago da Madeira, Alberto Vieira (Centro de Estudos de História do Atlântico)
Debate
16h00 INTERVALO
16h15 SESSÃO SEMI-PLENÁRIA I (Auditório III)
Imprensa e Protestantismo
Presidente de Mesa: Rui Rêgo (Universidade de Lisboa)
O contributo da Imprensa para a divulgação das ideias da Reforma: De uma mente para
Deus de Erasmo à mente de Melanchthon em fidelização ao Mestre – a Imprensa como
propagadora de um outro humanismo pela fé, Manuel Cadafaz de Matos (Centro de Estudos da História do Livro e da Edição)
Da Imprensa de Reforma à reforma da Imprensa?, Márcia Rogério Marat (Lab Méditéranée da Université Côte d’Azur)
A Reforma n'a Reforma: Primeiro Jornal Protestante Português, José António Afonso (Universidade do Minho), António Manuel S. P. Silva (Instituto Anglicano de Estudos Teológicos)
Debate
16h15 SESSÃO SEMI-PLENÁRIA II (Sala I)
Influências protestantes em correntes pedagógicas reformistas
Presidente de Mesa: Noberto Dallabrida (Universidade do Estado de Santa Catarina)
A Cruzada Pedagógica pela Escola Nova e ação do professorado católico no Rio de Janeiro
(final da década de 1920), Mauro Castilho Gonçalves (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)
Escolanovismo católico backheusiano e Protestantismo: apropriações e representações da
Escola Nova em “Manual de Pedagogia Moderna, Maristela Rosa (Universidade do Estado de Santa Catarina) , Gladys Mary Teive (Universidade do Estado de Santa Catarina)
Influências protestantes no movimento da Escola Moderna, Rita Balsa de Pinho (Universidade Aberta)
Debate
19h00 Porto de Honra oferecido pela Câmara Municipal de Lisboa
19h15 Teatro: O braço esquerdo de Cristo (monólogo)
3.º DIA – 11 de novembro, sábado
UNIVERSIDADE LUSÓFONA (Avenida do Campo Grande)
MANHÃ
09h00 CONFERÊNCIA DE ABERTURA (Auditório Agostinho da Silva)
Presidente de Mesa: Alberto Vieira (Centro de Estudos de História do Atlântico)
Protestantismo no quadro das reformas da Época Moderna, Pierre-Antoine Fabre (École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris)
09h30 SESSÃO SEMI-PLENÁRIA I (Auditório Agostinho da Silva)
Reformas na Arquitetura e na Arte
Presidente de Mesa: Rui Oliveira (Universidade de Lisboa)
A música da reforma protestante, Elisa Lessa (Universidade do Minho)
O carácter peculiar da arquitetura das Misericórdias no quadro da Arquitetura Reformada, Joana Balsa de Pinho (Universidade de Lisboa)
1517: A arquitetura e o discurso de poder em Portugal no tempo de Lutero, Ricardo Silva (Instituto Politécnico de Castelo Branco)
O mármore da Reforma: Arquitetura e Arte, Carlos Filipe (Universidade de Lisboa)
A representação da verdade através da mimesis: o retábulo fingido na arte da Contrarreforma em Portugal, Patrícia Monteiro (Universidade de Lisboa)
Debate
11h15 INTERVALO
09h30 SESSÃO SEMI-PLENÁRIA II (Auditório da Biblioteca Vítor Sá)
Olhares cruzados sobre a reforma protestante
Presidente de Mesa: Cristiana Lucas (Universidade de Lisboa)
Protestantismo e os Protestantismos, Timóteo Cavaco (Universidade Nova de Lisboa)
Protestantes e Jesuítas em confronto de doutrinas e representações: A visão paradigmática
do Padre António Vieira, José Eduardo Franco (Universidade Aberta, CIDH)
Paula Carreira (Universidade Aberta, CIDH),
Entre milenarismo e utopia: Identidades protestantes na Europa da Reforma ao Iluminismo, Christine Vogel (Universidade de Vechtia)
Crítica portuguesa à Reforma anti-Roma do cristianismo: A carta de D. Jerónimo Osório à Rainha Isabel I, de Inglaterra (1562), António Moniz (Universidade Nova de Lisboa)
Debate
11h15 INTERVALO
11h30 SESSÃO SEMI-PLENÁRIA I (Auditório Agostinho da Silva)
Influências culturais e filosóficas da Reforma Protestante
Presidente de Mesa: Alexandre Honrado (Universidade Lusófona)
O pensamento de Lutero em Paul Tillich: uma hermenêutica teológica da modernidade, Joe Marçal G. Santos (Universidade Federal de Sergipe)
Lutero e a origem do relativismo moderno, Maria José Figueiredo (Universidade de Lisboa)
O projeto político-pedagógico de Lutero: uma escola para todos, Carlota Reis Boto (Universidade de São Paulo)
Por um teatro protestante no século XVI: o sacrifício de Isaac segundo Théodore de Bèze, Douglas Rodrigues da Conceição (Universidade Presbiteriana Mackenzie)
O papel da música na Reforma Luterana, Julia Bogado (Instituto Europeu de Ciências da Cultura Padre Manuel Antunes)
Debate
13h00 ALMOÇO
11h30 SESSÃO SEMI-PLENÁRIA II (Auditório da Biblioteca Vítor Sá)
Protestantismo na América Latina
Presidente de Mesa: Paula Carreira (Universidade de Lisboa)
As novas configurações do protestantismo brasileiro: o pragmatismo religioso da Igreja
Universal do Reino de Deus, Jonatas Silva Meneses (Universidade Federal de Sergipe)
A trajetória de ISAL e a revolução do movimento ecuménico na América Latina, Darli Alves de Souza (Universidade Presbiteriana Mackenzie)
Circulação e apropriação da pedagogia personalizada no Brasil (1959-1962), Norberto Dallabrida (Universidade Estadual de Santa Catarina)
Luteranismo e escolas nas áreas de imigração alemã: um estudo de comensalismo institucional no sul do Brasil, João Klug (Universidade Federal de Santa Catarina)
Análisis geográfico de la fragmentación de las congregaciones evangélicas y protestantes en el Chile Actual: El área metropolitana de Santiago como caso de estúdio, Abraham Gonzalo Paulsen Bilbao (Pontificia Universidad Católica de Chile)
História e Memória da criação da Igreja Presbiteriana Renovada no Brasil, Rodrigo Pino de Andrade (Universidade Estadual do Paraná)
Debate
13h00 ALMOÇO
TARDE
14h00 SESSÃO SEMI-PLENÁRIA I (Auditório da Biblioteca Vítor Sá)
Movimentos da (s) Reforma (s)
Presidente de Mesa: Maria Manuel Baptista (Universidade de Aveiro)
Martinho Lutero — Justiça e Liberdade, Michael Knoch (Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal)
Iconografias Luteranas e a falácia do iconoclasmo, Isabel da Conceição Ribeiro Soares Bastos (Universidade do Porto)
Direitos Humanos, Reforma, Contrarreforma e a implosão da teocracia medieval, Susana Alves-Jesus (Universidade de Lisboa)
Lutero e o jovem Marx, Marcos José de Araújo Caldas (Universidade Federal Rural)
Olhar comparativo sobre reflexões teológicas e movimentos de misericórdia em tempos de
reforma e contrarreforma, Aires Gameiro (Ordem Hospitaleira S. João de Deus)
A Misericórdia e as 95 Teses de Lutero, Teresa Toldy (Universidade Fernando Pessoa), Rui Estrada (Universidade Fernando Pessoa)
Debate
16h00 INTERVALO
14h00 SESSÃO SEMI-PLENÁRIA II (Auditório Agostinho da Silva)
Impactos da reforma em Portugal
Presidente de Mesa: Jonatas da Silva Menezes (Universidade Federal de Sergipe)
Protestantismo e a Cultura Portuguesa, Miguel Real (Universidade de Lisboa)
O impacto das obras alemãs de botânica do século XVI nos Colóquios de Garcia de Orta, João Paulo de Sousa Cabral (Faculdade de Ciências da Universidade do Porto)
Representações do Protestantismo na Literatura Portuguesa do século XIX e XX, Annabela Rita (Universidade de Lisboa)
“Escola ativa”, Protestantismo, catolicismo e salazarismo, Joaquim Pintassilgo (Universidade de Lisboa)
Reforma protestante e filatelia: imagens, representações e identidades construídas, Simão Daniel Silva (Universidade Aberta)
Debate
16h15 INTERVALO
16h30 SESSÃO SEMI-PLENÁRIA I (Auditório da Biblioteca Vítor Sá)
Receções e representações de Lutero e do Protestantismo
Presidente de Mesa: Joana Balsa de Pinho (Universidade de Lisboa)
Representações de Lutero na web: da ausência à hegemonia, Adérito Marcos (Universidade Aberta)
Auto e hétero-representações na Europa contemporânea – a importância da Reforma Luterana, Maria Manuel Baptista (Universidade de Aveiro), Rita Himmel (Universidade de Aveiro)
Estrangeiros interiores em relação: Judeus, Protestantes e Mações, Cristiana Lucas (Universidade de Lisboa)
A imagem de Lutero na Arte: Os retratos de Lucas Cranach, Teresa Oliveira (Universidade Aberta)
A herança luterana no processo de consolidação da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (1804-1904), Rita Mendonça Leite (Universidade Católica Portuguesa)
Debate
17h45 INTERVALO
16h30 SESSÃO SEMI-PLENÁRIA II (Auditório Agostinho da Silva)
Protestantismo: Crítica e virtualidades
Presidente de Mesa: Susana Alves-Jesus (Universidade de Lisboa)
Luther and the Woman-as-Witch, Inês Tadeu F. G. (Universidade da Madeira)
Os protestantes nos escritos do padre jesuíta Antonio Vieira (1608-1697), Cézar de Alencar Arnaut de Toledo (Universidade Estadual de Maringá), Marcos Ayres Barboza (Instituto Federal do Paraná)
Turismo religioso protestante, Isabel da Conceição Ribeiro Soares Bastos (Universidade do Porto)
Debate
17h45 INTERVALO
18h00 CONFERÊNCIAS DE ENCERRAMENTO (Auditório Agostinho da Silva)
Presidente de Mesa: João Relvão Caetano (Universidade Aberta)
Impactos de Lutero e da Reforma no Império Português: A Ásia e o Brasil (1520-1580), José Pedro Paiva Universidade de Coimbra)
19h00 SESSÃO DE ENCERRAMENTO (Auditório Agostinho da Silva)
Ministro da Cultura
Presidente da Câmara de Lisboa
Administrador da Universidade Lusófona
Administrador da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Presidente do Conselho Científico da Universidade Aberta
Presidente da Sociedade Portuguesa da História do Protestantismo
Presidente da Sociedade Bíblica
Diretor da Cátedra Infante Dom Henrique para os Estudos Insulares Atlântico e a Globalização
Presidente da Comissão Organizadora
Concerto Gospel (Coral Gospel de Lisboa)
Endereço e contactos do Secretariado Executivo:
Endereço postal: CompaRes – Associação Internacional de Estudos Ibero-Eslavos
Rua dos Três Concelhos, Lote 5, Bairro dos Marinheiros,
2950-517, Quinta do Anjo, Palmela
E-mail: congresso.lutero.500anos@gmail.com
O ANO DE LUTERO
Por hoje ser o "dia de Lutero", os 500 anos da afixação das suas teses, repito o artigo que publiquei no Público há alguns meses:
Não sabemos o que se vai passar
em 2017, mas sabemos o que se passou há 500 anos ou há 100 anos. A 30 de
Outubro festejar-se-ão os cinco séculos da afixação das 95 teses do monge
agostiniano Martinho Lutero na igreja do Castelo de Wittenberg, na Alemanha. E a
7 de Novembro comemorar-se-á um século da tomada de poder pelos sovietes, em
Petrogrado, na Rússia. Estou em crer que o primeiro evento foi mais
determinante para o futuro da Europa e do mundo. Respaldo-me em Eduardo
Lourenço, que, numa conferência em Coimbra, afirmou: “A Europa já existiu
quando se chamava a Cristandade, antes do clash
que é porventura o acontecimento mais importante da história europeia, que
foi a Reforma. A Reforma traçou, dividiu a Europa, por dentro, em duas. É um
drama, mas ao mesmo tempo é uma peripécia absolutamente extraordinária da
História do Mundo, porque não há nada mais importante para a definição de uma
entidade, (...) dum povo, duma nação, do que a sua inserção em qualquer coisa
que nós poderemos chamar da ordem da crença”. O bater de asas da borboleta foi,
em 1517, uma reacção contra o pagamento a Roma de indulgências para remissão
dos pecados. Passados três anos, Lutero era excomungado, vendo-se porém
protegido por sete príncipes alemães que assinaram a Confissão de Augsburg. O
vendaval reformista que se seguiu levou à existência hoje de mil milhões de
protestantes no mundo, cerca de 40 por cento da Cristandade. E, mais do que
isso, à emergência de uma nova mundividência. O sociólogo alemão Max Weber
defendeu, num livro tão famoso quanto controverso, a relação entre a ética
protestante e o espírito do capitalismo. Seja qual for a causa, o certo é que a
Europa do Norte se desenvolveu mais rapidamente do que a do Sul e que, nos
nossos dias, o futuro da Europa tem muito que ver com o modo como evoluirá essa
clivagem.
Lutero foi um professor de Teologia
(para o cardeal francês Yves Congar, “um dos maiores génios religiosos de toda
a história, no mesmo plano que Santo Agostinho e São Tomás de Aquino”) e, em
particular, um devoto tradutor da Bíblia. A Bíblia luterana, que saiu do prelo
em 1534, ajudou a formar o Hochdeutsch.
Frederico Lourenço, na apresentação da sua recente tradução do Novo Testamento a partir do grego,
chamou a atenção para o atraso da tradução da Bíblia em português. Consta que o
rei D. Dinis foi o primeiro tradutor de parte do Génesis para a língua portuguesa. Mas só – pasme-se! - em 1753 se
acabou de publicar em Jacarta a primeira tradução portuguesa integral dos
textos sagrados, pela mão principal de João Ferreira de Almeida, o pastor da
Igreja Reformada Holandesa que, nascido em Mangualde, viveu na Indonésia. Existia,
na época, uma interdição pela Santa Sé da leitura da Bíblia em qualquer língua
que não fosse o latim da Vulgata, língua que poucos dominavam.
Em Portugal houve, como é sabido,
Contra-Reforma sem haver Reforma. A Inquisição, que aqui chegou em 1536, era
principalmente dirigida aos judeus, mas logo desde o início se encarregou de
quebrar quaisquer veleidades aos luteranos. Um dos casos mais famosos foi o de
Damião de Góis, condenado por ter falado, comido e bebido com o “maldito
Martinho Lutero”. Outro foi o do egresso dominicano Fernão de Oliveira, autor
da primeira História de Portugal e da
primeira gramática de português, culpado por defender, inter alia, que o rei da Inglaterra não era herege. Outro ainda
foi o de três lentes do Colégio das Artes de Coimbra - Diogo de Teive, João da
Costa e George Buchanan, este escocês - que foram sentenciados por opiniões heréticas.
Os estrangeiros eram vistos com especial suspeição e as prevaricações
severamente punidas: William Gardiner, mercador inglês estabelecido em Lisboa,
foi queimado vivo a mando do Santo Ofício por um atentado à Eucaristia na
capela real.
Na Alemanha haverá numerosos eventos
sobre Lutero. Um deles, na Casa de Lutero em Wittenberg, será a exposição “95
tesouros – 95 pessoas”, que falará da influência dele em Johann Sebastian Bach,
Thomas Mann, Martin Luther King e até Edward Snowden, o mais moderno dos cismáticos.
Em Roma o papa Francisco celebrará o ecumenismo. Em Lisboa realizar-se-á, em
Novembro, o congresso internacional “Um Construtor de Modernidades: 500 anos
das teses de Lutero.” Es lebe Luther!
domingo, 29 de outubro de 2017
"O presente estado da cultura humana"
... uma coisa que me preocupa muito, o presente estado da cultura humana. Que é terrível. Temos o sentimento de que não está apenas a desmoronar-se, como está a desmoronar-se outra vez e de que devemos perder as esperanças visto que da última vez que tivemos tragédias globais nada aprendemos. O mínimo que podemos concluir é que fomos demasiado complacentes, e acreditámos, especialmente depois da Segunda Guerra Mundial, que havia um caminho certo, uma tendência para o desenvolvimento humano a par da prosperidade. Durante muito tempo acreditámos que assim era e havia sinais disso"
António Damásio, Extracto da entrevista ao Expresso de 28 de Outubro (Revista, p. 28).
Controlo biométrico para todos!
Revi ontem, num mercado, como vendedora de hortaliças, uma pessoa a quem tinha perdido o rasto. Funcionária pública, era exemplar no atendimento. A passagem do tempo num serviço rotineiro, num espaço desengraçado não mudava a sua energia e empenho.
"Saí - disse-me - quando se começou a falar em picar o ponto. Aquilo não era para mim." E agora? "Fiquei com as terrazitas da família. Vai dando para viver e ninguém me controla". Era a mesma jovem que conheci vai para quinze anos.
Ontem ouvi a notícia de que no Serviço Nacional de Saúde vai ser obrigatório, já a partir de 1 de Janeiro do próximo ano, o controlo biométrico dos funcionários. Saiu um despacho governamental nesta semana que assim o determina. O pretexto é... a transparência. Que palavra mais estafada! E sem sentido!
O controlo estende-se a todos os trabalhadores. Mas pode acontecer que os melhores, os mais capazes, os mais devotados às suas tarefas, aqueles que querem preservar valores como a responsabilidade, a confiança e a dignidade façam o mesmo que a minha vendedora de hortaliças.
"Saí - disse-me - quando se começou a falar em picar o ponto. Aquilo não era para mim." E agora? "Fiquei com as terrazitas da família. Vai dando para viver e ninguém me controla". Era a mesma jovem que conheci vai para quinze anos.
Ontem ouvi a notícia de que no Serviço Nacional de Saúde vai ser obrigatório, já a partir de 1 de Janeiro do próximo ano, o controlo biométrico dos funcionários. Saiu um despacho governamental nesta semana que assim o determina. O pretexto é... a transparência. Que palavra mais estafada! E sem sentido!
O controlo estende-se a todos os trabalhadores. Mas pode acontecer que os melhores, os mais capazes, os mais devotados às suas tarefas, aqueles que querem preservar valores como a responsabilidade, a confiança e a dignidade façam o mesmo que a minha vendedora de hortaliças.
Tecnologia e dignidade. A estética dos microchips. 4
Textos na continuação de outros (aqui).
O já clássico "microchip-grão-de-arroz", tendencialmente embutido no braço ou na mão, haveria de evoluir. Não me passou pela cabeça que a evolução fosse a estética corporal. Vejo, agora, como isso era óbvio.
Quem gostar de usar unhas vistosas pode integrar nelas um (ou vários) microchip(s) ainda mais discreto(s) (aqui). Nele(s) podem constar dados de identificação (identidade, segurança social, fiscal...), de acesso (locais de trabalho, estacionamento, computador e impressoras...) de compras (reservas, pagamentos, levantamentos...). Podem constar, ainda, conexões como equipamentos vários que recolhem e gerem dados a distância, guardando-os também, evidentemente!
O já clássico "microchip-grão-de-arroz", tendencialmente embutido no braço ou na mão, haveria de evoluir. Não me passou pela cabeça que a evolução fosse a estética corporal. Vejo, agora, como isso era óbvio.
Quem gostar de usar unhas vistosas pode integrar nelas um (ou vários) microchip(s) ainda mais discreto(s) (aqui). Nele(s) podem constar dados de identificação (identidade, segurança social, fiscal...), de acesso (locais de trabalho, estacionamento, computador e impressoras...) de compras (reservas, pagamentos, levantamentos...). Podem constar, ainda, conexões como equipamentos vários que recolhem e gerem dados a distância, guardando-os também, evidentemente!
quinta-feira, 26 de outubro de 2017
"Paternalismo libertário"
"Do que se não pode falar, é melhor ficar em silêncio".
Ludwig Wittgenstein, Tratado Lógico-Filosófico, 1921.
Neste apontamento tenho bem presente as palavras acima reproduzidas, do filósofo Wittgenstein. Não obstante serem palavras a que se reconhece algo de enigmático, uso-as no seu sentido literal quando se trata de opinar (sobretudo em público) sobre assuntos que não domino. E se há assuntos que não domino são os de economia. Assim, nunca me arriscaria comentar a teoria de um prémio Nobel dessa disciplina, se ela não tocasse o que há de mais profundo na educação. Ou, melhor, o que vejo (e interpreto) na comunicação social tocar o que há de mais profundo na educação.
Então, escreveu Catarina Nunes, no Expresso (Economia) de 14 de Outubro (página 12):
"A teoria que valeu ao norte-americano Richard Thaler o Nobel da Economia de 2017 parte da aceitação de que as pessoas são imperfeitas e pouco capazes de, sem orientação, tomarem as melhores decisões. Por isso, precisam de um estímulo subliminar para seguirem na direcção que mais as beneficia. Na prática, trata-se daquilo que (...) define como "paternalismo libertário", suave e não intrusivo, aplicado a políticas públicas e privadas. Trata-se do nudge (empurrão ou estímulo) que o professor de Economia e Ciência Comportamental da Universidade de Chicago defendeu no livro Nudge: como melhorar as decisões sobre saúde, dinheiro e felicidade. De acordo com a teoria deste economista, as escolhas individuais não são bloqueadas ou restringidas, mas enviesadas para opções que mais beneficiam a própria pessoa e a população em geral (...). Outro dos conceitos desenvolvidos é o de "arquitecto da escolha", ou seja, a pessoa ou entidade responsável pela organização do mecanismo que leva as pessoas a tomar a decisão, encontrando a melhor e mais subtil forma de conduzir a um determinado comportamento."Há nesta teoria (se a leitura da jornalista estiver correcta, sendo que, pelo cuidado que se percebe no texto, assumo que esteja) a negação do fim último da educação e, afinal, a negação do sentido da própria educação.
O fim a que me refiro é o exercício do livre arbítrio. Conseguir que as pessoas, independentemente do nível de escolaridade/formação em que se situem, consigam fazer escolhas informadas e livres, percebendo a correspondente responsabilidade. Toda a educação, para ser, de facto, educação, tem ser emancipadora.
Se passarmos do plano ideal para o plano do real, diremos que isso nem sempre acontece; mais, que isso raramente acontece, mesmo entre adultos. É verdade. Porém, mesmo alegando boas razões, como é o caso, não podemos afastar do horizonte o ideal, substituindo-o por algo como suporte, apoio, ajuda, orientação... público ou privado, que abafe o discernimento a que cada ser humano deve chegar.
O ser humano não pode ser visto numa perspectiva de menoridade, mas de potencialidade para assumir, em consciência, os desígnios da sua própria vida. É isso que, em última instância, ele (nós) é (somos).
Não pode, mas acontece. Talvez nunca antes as pessoas tenham sido tão solicitadas a virarem-se para si mesmas, a assumirem-se, a escolherem, a procurarem-se, a libertarem-se, a tornarem-se felizes, realizadas, desempoeiradas, "especiais e únicas"... É esse, antes de mais, o discurso publicitário, a que todos cedemos, e o discurso político, que segue as passadas do publicitário, e o discurso educativo, com passadas idênticas. Mas, ao mesmo tempo, cada um de nós é empurrado, vigiado, escrutinado para tomar as "tomar as decisões" que outros dizem beneficiar-nos.
É o tal "paternalismo libertário". Expressão excelente para designar uma profundíssima contradição que nos passa despercebida.
CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Meu artigo publicado hoje no “Diário as Beiras”:
Excelência:
Auferindo minha mulher uma pequena pensão da Segurança Social, de cerca de metade do ordenado mínimo nacional, após 12 anos contributivos, em ofício datado de 17 de Outubro de 2016 da ADSE é informada da inviabilização da respectiva manutenção de cônjuge de beneficiário titular, tendo como suporte a disposição do artº. 7.º do Decreto-Lei 118/83, de 25 de Fevereiro, na redacção do Decreto-Lei n.º 234/2005, de 30 de Dezembro.
Em 2 de Dezembro de 2016, “ipso facto”, endossei uma exposição à ADSE em que apresentei um relatório médico, emanado do Centro de Reabilitação Rovisco Pais, atestando a sua “necessidade de vigilância médica e tratamentos constantes por tetraplegia incompleta secundária a mielomalacia”. Reportava-se a essência da questão da supracitada exposição em saber se esta determinação se aplicava, apenas, a futuras inscrições sem efeitos retroactivos, não abrangendo, consequentemente, o caso de minha mulher inscrita na ADSE, desde o ano de 1975, na sua qualidade de cônjuge de benificiário titular.
Embora reconhecendo a minha falta de conhecimento “quantum satis” em evocar direitos adquiridos, por ausência de estudos académicos da área da jurisprudência, como tal, apenas como amador ( aquele que ama), em matéria tão complexa e controversa entre os próprios especialistas , mas, por outro lado, sentindo o desconforto de expectativas anteriores criadas e depois goradas numa altura da vida “com pesares que ralam na aridez e secura de uma desconsolada velhice”, em citação de Garrettt, recuso-me a cruzar os braços perante uma situação que mereceu da minha parte acerba crítica em quatro artigos de opinião publicados neste jornal, a saber: “A ADSE e as gorduras do Estado” (05/11/2016); “O Partido Socialista, a ADSE e a ‘praga cinzenta’” (14/09/2017); “A ADSE e o ‘soberaníssimo bom senso’ preconizado por Antero” (29/09/2017); “O ziguezaguear da ADSE” (17/10/2017).
Fazendo eu fé de que “o homem livre é aquele que não receia ir até ao fim da sua razão” (Jules Renand), predispus-me a escrever esta “Carta Aberta” a Vossa Excelência, com respaldo no vosso humanismo em defesa dos que sofrem, para lhe dar conhecimento público da injustiça representada pela impossibilidade de inscritos continuarem com o estatuto de cônjuges de beneficiários titulares na parte derradeira de suas vidas.
Desde a publicação desta legislação até à sua aplicação mediaram 33 anos, quiçá, pelo receio de ela poder vir a ter reflexos negativos em posteriores eleições nacionais, até que, em euforia do estado de graça do Partido Socialista, foi ela despertada do seu estado de letargia despejando para um Serviço Nacional de Saúde, a rebentar pelas costuras, nova “clientela” originária de vários subsistemas de saúde convencionados. E este “statu quo” é tanto mais insólito por não se tratar de acudir a fogos de uma ADSE em falência.
Uma auditoria anterior do Tribunal de Contas denunciou que o “Governo está a financiar à custa da ADSE por os funcionários públicos estarem a pagar mais 228 milhões de euros do que seria necessário” (“Expresso”, 17/07/2015). Tempos antes, noticiava o semanário Sol (18 de Julho de 2015 ) haver doentes que tem de recorrer a consultas privadas de Dermatologia por elas poderem levar anos a serem feitas no Serviço Nacional de Saúde.
O que constatamos nós, hoje? Com o título, “Tutela ‘falseou’ tempos de espera nos hospitais” é noticiado aí que o acesso a consultas e cirurgias piorou nos últimos três anos e que , entre 2014 e 2016, mais de 27 mil doentes ficaram em lista de espera por uma cirurgia e mais de 2600 morreram antes de serem operados (Público, 18/10/2017). “Ergo”, quantos ex-cônjuges de beneficiários titulares terão que entregar a alma ao Criador por passarem a ser novas vítimas deste calamitosa situação, numa altura em que o Conselho Geral de Supervisão da ADSE se limite a debitar publicamente, depois de demorados conciliábulos, o agravamento draconiano da idade de 65 para 60 anos, como data limite para inscrições de novos cônjuges, deixando em dúvida se a exclusão de inscritos, em data anterior à publicação da legislação em causa, é para se manter.
E se for esse o caso, responsabilizar os seus autores por depressões graves em velhos e doentes, em grande sofrimento por esta verdadeira epidemia do nosso tempo que reforça o conselho do médico psiquiatra brasileiro, Augusto Cury: “Nunca desprezes as pessoas deprimidas. A depressão é o último estágio da dor humana”.
Finalmente, por considerar que se trata de importantes questões de natureza social, por atingirem pessoas velhas e doentes, por vezes, em situações em que, como sói dizer-se, se vão os anéis para ficarem os dedos, “no uso da licença da liberdade de quem não pede favor senão justiça”, como foi hábito de vida do padre António Vieira, submeto-as , como “ultima ratio”, à consideração de Vossa Excelência.
Respeitosamente,
Rui Baptista
Excelência:
Auferindo minha mulher uma pequena pensão da Segurança Social, de cerca de metade do ordenado mínimo nacional, após 12 anos contributivos, em ofício datado de 17 de Outubro de 2016 da ADSE é informada da inviabilização da respectiva manutenção de cônjuge de beneficiário titular, tendo como suporte a disposição do artº. 7.º do Decreto-Lei 118/83, de 25 de Fevereiro, na redacção do Decreto-Lei n.º 234/2005, de 30 de Dezembro.
Em 2 de Dezembro de 2016, “ipso facto”, endossei uma exposição à ADSE em que apresentei um relatório médico, emanado do Centro de Reabilitação Rovisco Pais, atestando a sua “necessidade de vigilância médica e tratamentos constantes por tetraplegia incompleta secundária a mielomalacia”. Reportava-se a essência da questão da supracitada exposição em saber se esta determinação se aplicava, apenas, a futuras inscrições sem efeitos retroactivos, não abrangendo, consequentemente, o caso de minha mulher inscrita na ADSE, desde o ano de 1975, na sua qualidade de cônjuge de benificiário titular.
Embora reconhecendo a minha falta de conhecimento “quantum satis” em evocar direitos adquiridos, por ausência de estudos académicos da área da jurisprudência, como tal, apenas como amador ( aquele que ama), em matéria tão complexa e controversa entre os próprios especialistas , mas, por outro lado, sentindo o desconforto de expectativas anteriores criadas e depois goradas numa altura da vida “com pesares que ralam na aridez e secura de uma desconsolada velhice”, em citação de Garrettt, recuso-me a cruzar os braços perante uma situação que mereceu da minha parte acerba crítica em quatro artigos de opinião publicados neste jornal, a saber: “A ADSE e as gorduras do Estado” (05/11/2016); “O Partido Socialista, a ADSE e a ‘praga cinzenta’” (14/09/2017); “A ADSE e o ‘soberaníssimo bom senso’ preconizado por Antero” (29/09/2017); “O ziguezaguear da ADSE” (17/10/2017).
Fazendo eu fé de que “o homem livre é aquele que não receia ir até ao fim da sua razão” (Jules Renand), predispus-me a escrever esta “Carta Aberta” a Vossa Excelência, com respaldo no vosso humanismo em defesa dos que sofrem, para lhe dar conhecimento público da injustiça representada pela impossibilidade de inscritos continuarem com o estatuto de cônjuges de beneficiários titulares na parte derradeira de suas vidas.
Desde a publicação desta legislação até à sua aplicação mediaram 33 anos, quiçá, pelo receio de ela poder vir a ter reflexos negativos em posteriores eleições nacionais, até que, em euforia do estado de graça do Partido Socialista, foi ela despertada do seu estado de letargia despejando para um Serviço Nacional de Saúde, a rebentar pelas costuras, nova “clientela” originária de vários subsistemas de saúde convencionados. E este “statu quo” é tanto mais insólito por não se tratar de acudir a fogos de uma ADSE em falência.
Uma auditoria anterior do Tribunal de Contas denunciou que o “Governo está a financiar à custa da ADSE por os funcionários públicos estarem a pagar mais 228 milhões de euros do que seria necessário” (“Expresso”, 17/07/2015). Tempos antes, noticiava o semanário Sol (18 de Julho de 2015 ) haver doentes que tem de recorrer a consultas privadas de Dermatologia por elas poderem levar anos a serem feitas no Serviço Nacional de Saúde.
O que constatamos nós, hoje? Com o título, “Tutela ‘falseou’ tempos de espera nos hospitais” é noticiado aí que o acesso a consultas e cirurgias piorou nos últimos três anos e que , entre 2014 e 2016, mais de 27 mil doentes ficaram em lista de espera por uma cirurgia e mais de 2600 morreram antes de serem operados (Público, 18/10/2017). “Ergo”, quantos ex-cônjuges de beneficiários titulares terão que entregar a alma ao Criador por passarem a ser novas vítimas deste calamitosa situação, numa altura em que o Conselho Geral de Supervisão da ADSE se limite a debitar publicamente, depois de demorados conciliábulos, o agravamento draconiano da idade de 65 para 60 anos, como data limite para inscrições de novos cônjuges, deixando em dúvida se a exclusão de inscritos, em data anterior à publicação da legislação em causa, é para se manter.
E se for esse o caso, responsabilizar os seus autores por depressões graves em velhos e doentes, em grande sofrimento por esta verdadeira epidemia do nosso tempo que reforça o conselho do médico psiquiatra brasileiro, Augusto Cury: “Nunca desprezes as pessoas deprimidas. A depressão é o último estágio da dor humana”.
Finalmente, por considerar que se trata de importantes questões de natureza social, por atingirem pessoas velhas e doentes, por vezes, em situações em que, como sói dizer-se, se vão os anéis para ficarem os dedos, “no uso da licença da liberdade de quem não pede favor senão justiça”, como foi hábito de vida do padre António Vieira, submeto-as , como “ultima ratio”, à consideração de Vossa Excelência.
Respeitosamente,
Rui Baptista
quarta-feira, 25 de outubro de 2017
Prefácio ao livro "A utilidade dos saberes inúteis"
Meu prefácio ao livro A utilidade dos saberes inúteis, recentemente publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, com textos de Nuccio Ordine e de Regina Gouveia.
“A escolaridade é de amnésia planificada”.
George Steiner, 2005.
“Quanto mais soubermos sobre uma coisa, mais podemos voar”.
Daniel Barenboim, 2009.
Aldous Huxley, no seu Admirável mundo novo, publicado em 1932, criou um diálogo entre alguém que “emocionado por se encontrar em frente de um homem que tinha lido Shakespeare”, perguntou: “Mas por que está ele proibido?” A resposta foi: “Porque é velho, eis a razão principal (…). O mundo é estável agora. As pessoas são felizes (…). Sentem-se bem, estão em segurança (…). É preciso escolher entre a felicidade e o que outrora se chamava a grande arte.”
Este breve recorte de um livro que não perdeu actualidade sugere a objecção já antiga – que, por vezes, se aproxima de proibição – de se integrar na educação escolar o conhecimento tendencialmente universal, erudito e abstracto, o conhecimento que a humanidade tem construído e que dá forma à civilização, ou seja, o conhecimento que vale por si mesmo e que, por acréscimo, pode ter um valor cognitivo.
Nesta modernidade, que o sociólogo Zygmunt Bauman qualificou como “líquida”, tal objecção ganha novo fôlego. De facto, estando a atenção focalizada no “eu” e no seu contexto, marcado pela volatilidade e insegurança, prevalecem os significados singulares, a procura de um bem-estar subjectivo, de uma satisfação imediata que não passa de superficial.
Em vez de contrariar esta tendência, que põe em causa o próprio sentido do que é, na tradição ocidental, ser-se educado, as reformas curriculares em curso e os discursos que as acompanham deixam perceber uma sobrevalorização do conhecimento situado, concreto e instrumental, de ordem pragmática, que serve, no momento, para resolver problemas sociais e pessoais. Preparar seres individuais e individualistas, eventualmente integrados em grupos fechados nas suas identidades, que Karl Popper descreveu como prisões, empreendedores de si mesmos, competentes e competitivos num mercado de trabalho incerto, em simultâneo, vendo-se auto-realizados e comportando-se dentro dos limites do ordeiro é, na verdade, a meta dessas reformas.
Acontece que nos discursos de muitos políticos, académicos, agentes e entidades da mais variada natureza que, à força de pressionarem os sistemas educativos, têm conseguido neles um lugar de destaque, essa meta, manifestamente distante do humanismo, é apresentada como a encarnação do humanismo autêntico. “Educação humanista”, “perfil de base humanista”, “condição humana” tornaram-se slogans recorrentes nos mencionados discursos, isto quando, de modo contraditório, o seu conteúdo aponta para a construção de uma “humanidade sem humanidades”.
A expressão, originalmente em forma de interrogação, é do filósofo Fernando Savater num alerta para o perigo de a história, a filosofia, a literatura ou a cultura clássica desaparecerem da escola e, de seguida – pela extensão e complexidade do conhecimento que reúnem –, da nossa cultura. Neste rol podem-se incluir as línguas, bem como as artes e acrescentar as vertentes das ciências e da matemática a que não se veja rentabilidade ou aplicação tecnológica.
O que fica, então, no currículo que os estados proporcionam às novas gerações de modo a cumprirem o direito à educação consagrado no artigo 26.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos? Fica o “essencial”, que, não esqueçamos, tem de ser funcional e, em crescendo, “politicamente correcto”. Resulta uma tríade constituída por matemática, duas línguas e algumas ciências, trespassada por uma componente de cidadania, que está longe de o ser. Eis o “núcleo curricular” propagado como ideal do século XXI, mitigado pela equívoca ideia de que o aluno é activo, capaz de construir o seu próprio conhecimento se tiver oportunidade de desenvolver projectos com pertinência no quotidiano, em ambientes agradáveis, nos quais prevalecem as metodologias lúdicas, tudo podendo descobrir através de pesquisas, com recurso às tecnologias da informação e da comunicação.
O acima dito traz à lembrança a afirmação: “humanidades e ciências é tudo a mesma coisa”, feita pelo homem de ciência e de poesia que foi Rómulo de Carvalho/António Gedeão. Queria ele dizer que tudo aquilo que arrolamos em duas categorias muito latas decorre do esforço feito pela humanidade para procurar entender a existência humana e torná-la mais consentânea com os seus desígnios, sendo, portanto, indissociáveis. Fazer amputações nessa unidade, desvirtuá-la sob um qualquer pretexto é trair a própria humanidade, provocar o esquecimento da sua marcha, retirar sentido ao presente e empenhar o futuro.
Os dois textos que constituem este livro e que traduzem o essencial do que foi dito na conferência com o título A utilidade dos saberes inúteis esclarecem, de uma maneira tão clara quanto bela, isso mesmo.
O primeiro texto – A utilidade dos saberes inúteis – foi escrito por Nuccio Ordine, que, nestas páginas, retoma diversas ideias apresentadas na obra A utilidade do inútil. Manifesto, com amplo acolhimento em diversos países europeus. Aqui o filósofo e professor italiano retoma, com vivacidade, a discussão sobre as finalidades últimas da educação escolar, a qual tem sido arredada do nosso horizonte, dando-se por adquirido que deve servir para alguma coisa que contribua ou venha a contribuir a curto prazo para o lucro material.
A sua explicação desvia-se do que se encontra fortemente consignado em orientações internacionais e decisões nacionais. Isto porque essa educação tem de ser altruísta e pugnar pelo que é o bem e está certo, tendo em mira, como tão bem salienta João Boavida, a liberdade; não pode continuar a dar expressão a interesses particulares.
Além disso, a escola não é uma empresa, produzir capital humano não é a sua função e os alunos são alunos, não clientes. Tal como George Steiner, mostra-se preocupado com o progressivo e concertado apagamento que esta organização faz da memória colectiva, “até à total amnésia”, o que acabará por diluir as nossas origens e alterar a consciência do “nós” e do “eu”.
Nota, por fim, que a educação está comprometida com a dignificação da pessoa e com os direitos que a concretizam, depositando uma réstia de esperança nos professores, que fazem “pequenos milagres” com as crianças e jovens. No “processo virtuoso” que é o ensino, sai enriquecido quem recebe o conhecimento e quem o faculta.
O segundo texto – Partindo da magia do arco-íris… – foi escrito por Regina Gouveia, professora com uma longa carreira, que corresponde a esse retrato. O seu modo de fazer “milagres” deve-se, em grande medida, à ligação que consegue estabelecer entre a arte – com destaque para a literatura, sobretudo a poesia, tanto de outros como a sua – com a física e a química. Ensinar estas disciplinas, infere-se das suas palavras, está longe de ser um trabalho estritamente assente na técnica, como nota Michael Young, requerendo, em paralelo, um raciocínio filosófico, uma base histórica, uma perspicácia social, uma responsabilidade antropológica, uma sensibilidade estética, uma reflexão ética, uma atenção pedagógica.
O conhecimento a aprender ganha, nas linhas que escreveu, a tonalidade que Ordine antes explica: nelas é possível encontrar um nobre, global e estruturante entendimento da cultura e do seu valor, que a escola tem especial obrigação de transmitir a todos os alunos, concretizando-a nas diversas áreas do saber que estão adstritas a esta instituição. Assim se reconhece e se pugna pela igualdade, que, num enquadramento democrático, não nega a existência de especificidades, a que também, como é compreensível, deve atender.
Gouveia, fazendo sobressair a aventura da ciência, revela, a par, os “valores humanistas” que a devem guiar, o mesmo dizendo em relação à tecnologia, realçando a possibilidade de se levar os alunos a reconhecer e interiorizar esses valores.
Diria, em suma, que a leitura conjugada de ambos os textos permite aprofundar a reveladora frase do maestro Daniel Barenboim que faz a entrada desta breve nota prefacial – “Quanto mais soubermos sobre uma coisa, mais podemos voar” – como procura de consciencialização e de superação do que George Steiner, professor e pensador não convencional da educação, numa não menos reveladora frase – “A escolaridade é de amnésia planificada” –, denuncia.
Coimbra, Setembro de 2017
Maria Helena Damião da Silva
Referências - Barenboim, D. (2009). Está tudo ligado: o poder da música. Lisboa: Bizâncio.
- Bauman, Z. (2001). Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar.
- Boavida, J. J. (2009). El deber de educar como condición de libertad. In J. A. Ibáñez-Martín (Coord.). Educación, conocimiento y justicia (pp.129-144). Madrid: Editorial Dykinson.
- Carvalho, R. (1996). Humanidades e ciências é tudo a mesma coisa. Público, 24 de Novembro, pp. 2-4.
- Huxley, A. (2001). Admirável mundo novo. Lisboa: Livros do Brasil.
- Ordine, N. (2016). A utilidade do inútil. Manifesto. Matosinhos: Faktoria K.
- Popper, K. (1999). O mito do contexto: em defesa da ciência e da racionalidade. Lisboa: Edições 70.
- Savater, F. (2006). O valor de educar. Lisboa: Dom Quixote.
- Steiner, G. & Ladjali, C. (2005). Elogio da transmissão: o professor e o aluno. Lisboa: Dom Quixote.
- Young, M. (2014). (Entrevista de C.V.A Galian & P.B.J. Louzano). Michael Young e o campo do currículo: da ênfase no “conhecimento dos poderosos” à defesa do “conhecimento poderoso”. Educação e Pesquisa, vol. 40, n.º 4, pp. 1109-1124.
terça-feira, 24 de outubro de 2017
Licenciaturas administrativas a votos na Assembleia da República esta sexta
Escrevi em Agosto passado no PÚBLICO sobre as movimentações das escolas e alunos de terapias alternativas para que sejam criados regimes de excepção por via legislativa, que permitam a existência de licenciaturas e licenciados por vias administrativas (ao invés de académicas e científicas). Na sequência de uma petição apresentada pela União dos Estudantes das Terapêuticas Não Convencionais, um conjunto de iniciativas legislativas apresentadas pelo PAN, BE e CDS-PP vai a votos esta sexta feira na Assembleia da República:
Da iniciativa da (UE - União dos Estudantes das Terapêuticas Não Convencionais) - Solicitam a intervenção da AR para a prorrogação do prazo para aplicação do Regime Transitório de Atribuição das Cédulas Profissionais, nas profissões das TNC, tanto para profissionais que iniciaram a sua atividade profissional após a entrada em vigor da Lei n.º 71/2013, de 2 de setembro, aplicando-se as mesmas regras previstas na Portaria 181/2014, de 12 de setembro, bem como para os alunos que frequentam e terminam as suas formações.
Procede à segunda alteração à Lei n.º 71/2013, de 2 de setembro, que regulamenta a Lei n.º 45/2003, de 22 de agosto, relativamente ao exercício profissional das actividades de aplicação de terapêuticas não convencionais, modificando o regime de atribuição de cédulas profissionais
Reconhece e define a figura de especialista para efeito de integração em corpo docente e lecionação nos ciclos de estudos conducentes a grau de licenciatura em terapêuticas não convencionais (procede à segunda alteração à Lei n.º 71/2013, de 2 de setembro)
Alarga o período transitório para atribuição de cédula para o exercício profissional das atividades de aplicação de terapêuticas não convencionais a quem tenha concluído a sua formação após a entrada em vigor da Lei n.º 71/2013, de 2 de setembro (segunda alteração à lei n.º 71/2013, de 2 de setembro)
Recomenda ao Governo que diligencie no sentido da Administração Central de Sistemas de Saúde, I.P. (ACSS) abrir um novo período de submissão de pedidos de emissão de cédulas profissionais destinado apenas aos formados das Terapêuticas Não Convencionais que terminaram os seus cursos após o dia 2 de Outubro de 2013.
De especial relevância, pelas piores razões, é projecto 650/III apresentado pelo Bloco de Esquerda, que propõe a invenção de uma nova figura, o "especialista", para colmatar a falta de corpo docente especializado, razão que tem levado ao chumbo de muitas licenciaturas alternativas pela Agência de Acreditação e Avaliação do Ensino Superior (A3ES). Isso mesmo é usado como argumento no Projecto de Lei:
É do conhecimento do Bloco de Esquerda que têm sido submetidas muitas candidaturas junto da A3ES para aprovação de ciclos de estudos no âmbito da Lei n.o 71/2013, de 2 de setembro. No entanto, a maior parte destas candidaturas tem sido chumbadas. O motivo invocado repete-se e remete para a “falta de um corpo docente especializado nas áreas em questão”.
É a velha estratégia das terapias alternativas, de reclamarem um regime de excepção para almejarem uma respeitabilidade convencional. Se não conseguem cumprir os requisitos de corpo docente normais para a aprovação de qualquer licenciatura... inventem-se novos requisitos à la carte. Faz lembrar Groucho Marx: "Estes são os meus princípios, e se vocês não gostarem deles... bem, tenho outros."
Não é por acaso que não há um corpo docente adequado para ministrar as licenciaturas em terapias alternativas. Isso acontece porque essas terapias não se baseiam em ciência, antes pelo contrário. Conseguir provas da eficácia, segurança e mecanismos segundo os quais estas terapias deveriam actuar é simplesmente impossível. Se fossemos atentar à ciência, não haveria uma única licenciatura alternativa. E os próprios terapeutas alternativos reconhecem-no implicitamente quando reivindicam estes regimes de excepção que lhes permitam passar ao lado da ciência. É mais fácil convencer deputados do que apresentar provas que convençam a comunidade científica. Porque elas pura e simplesmente não existem, apesar dos muitos estudos já realizados (de qualidade muito variável).
A avançar, isto é um desprestígio do ensino superior e uma desvalorização dos licenciados que obtêm os seus graus em cursos com um corpo docente adequado, que cumprem os requisitos para serem realmente cursos de ensino superior. Espero que esta manobra não tenha sucesso, mas infelizmente a minha esperança no bom senso dos deputados da AR nestas questões é muito pouca.
segunda-feira, 23 de outubro de 2017
A nossa ideia de humanismo e de "formação humanista"
"Espero que, desta vez, não encomendem um teste de popularidade".
Clara Ferreira Alves, 21 de Outubro de 2017
Acontece no nosso país e noutros que elegem a "Educação para a cidadania" como centro do currículo escolar: os governantes que determinam a política a seguir, onde se inclui a política educativa, encarregam-se de dar exemplos fortemente contrários à "formação humanista" que dizem ter como meta.
Eis um exemplo que registei mas que, por tudo aquilo que representa, procurei esquecer até Clara Ferreira Alves me ter recordado isso mesmo na sua última crónica no Expresso:
depois dos terríveis fogos de Junho passado, que mataram, nas circunstâncias em que mataram, mais de seis dezenas de pessoas, o primeiro-ministro terá encomendado uma avaliação de popularidade do governo.Ele pode ter feito a encomenda mas alguém lhe deu seguimento e houve uma empresa que aceitou concretizá-la.
Como é possível - pensei eu e, vejo agora ao reler as notícias escritas à altura, muitas outras pessoas - que, perante uma tal tragédia, alguém se ter lembrado de tal e não tenha havido quem o impedisse!?
A pergunta, misto de admiração, é demasiado assustadora. E, não pode deixar de remeter para uma outra: que capacidade temos, como país, de assumir a "formação humanista" das nossas crianças e jovens. Ou seja, a formação que assume o valor da pessoa. Tão simples e tão difícil como isso.
domingo, 22 de outubro de 2017
METER A FOICE EM SEARA ALHEIA
Porque tive um bom professor de Filosofia, em Évora, no 6.º e 7.º anos do Liceu (actuais 10.º e 11.º), António Hortêncio da Piedade Morais, mantive ao longo da vida um certo respeito por uma matéria que nunca aprofundei. Lembro-me de uma frase sua: “a filosofia é, sobretudo, a via que conduz o nosso cérebro ou a nossa mente a pensar sobre o pensamento” e é esta a noção que conservo desta disciplina. Percebe-se, assim por que razão os filósofos são, muitas vezes, referidos como pensadores.
Há dias tive curiosidade em passar os olhos sobre o Programa oficial desta disciplina, no nosso ensino secundário, e uma das frases que li e que transcrevo: “Iniciar à discursividade filosófica, prestando particular atenção, nos discursos/textos, à análise das articulações lógico-sintácticas e à análise dos procedimentos retórico-argumentativos”, acentuou-me a convicção de que um discurso tão desnecessariamente rebuscado (que me mostra o elevado nível filosófico de quem o escreveu, mas me deixa dúvidas e perplexo no que respeita a sua qualidade pedagógica) faz fugir “a sete léguas” um qualquer adolescente. A mim, cuja idade pesa mais do que cinco adolescentes, foi o que me aconteceu, fugi.
Com boa vontade, podemos admitir que todos somos filósofos sempre que procuramos saber ou investigar algo, seja sobre minerais ou rochas, borboletas, literatura, castelos, gastronomia, pintura, planetas e satélites, jardinagem ou até, mesmo, futebol, moda ou tauromaquia. Tudo é sabedoria e tudo é, de facto, para os respectivos cultores, motivo de amor ou interesse. Mas o conceito académico de filosofia é algo mais profundo, a tratar por quem ganhou estatuto para tal. É, por assim dizer, uma sabedoria com uma longa história, vasta e complexa, que abarca a universalidade do conhecimento, que o questiona, explora e, tantas vezes, vai à frente dele.
Como disciplina dos programas escolares do secundário, Filosofia é um ramo do conhecimento como qualquer outro. Afasta muitos alunos porque, como se viu, usa um vocabulário para eles erudito e hermético, fora do seu dia-a-dia. Na realidade, tem um “falar caro” que, se for “trocado por miúdos”, deixa de “meter medo”, passa a ter significado e, até, acredite-se, pelo menos para mim, tem beleza.
Como filósofo que sou, no estrito sentido de gostar de saber coisas, das mais simples e vulgares, como levantar uma parede de tijolos, ao porquê das ondas de gravidade prevista por Einstein há 100 anos e agora, finalmente, descobertas, não resisto a “meter o nariz e espreitar” este maravilhoso domínio do génio humano.
Fique claro que não pretendo “meter a foice em seara alheia”. Não adquiri preparação académica em filosofia. Limito-me, pois, a procurar tornar acessíveis as leituras que a condição de “arrumado na prateleira”, na situação de aposentado, desde 2001 (há 16 anos, é muito tempo), me vão ensinando.
Dada esta explicação que me desculpem os leitores mais letrados, professores e outros que, certamente, dispensarão, estas minhas incursões. Mas é que eu sei que são muitos os que esperam de mim estas conversas. E é a pensar neles que vou pondo aqui, todos os dias e “enquanto é tempo” (o horizonte de vida não permite dilatar o tempo), o que aprendi e continuo a aprender, bem como o que meditei ao longo da vida.
sábado, 21 de outubro de 2017
"O SENHOR E A SENHORA ADELMAN": NA FESTA DO CINEMA FRANCÊS
Vi o filme numa viagem de avião e prendeu-me a atenção. É a história (fictícia) de um escritor francês contada pela sua mulher depois de ele morrer.
Só acho que o título devia ser "A senhora e o senhor Adelman". Sarah Adelman (Doria Tillier) é uma das personagens mais fortes do cinema que vi este ano.
sexta-feira, 20 de outubro de 2017
Aviso: as obras de Shakespeare podem conter cenas susceptíveis de ferir a sensibilidade dos leitores
Notícia extraordinária, na sequência da outras não menos extraordinárias (aqui, aqui, aqui).
Na Universidade de Cambridge, a divulgação de algumas palestras sobre literatura, integradas no currículo, contêm um pequeno triângulo vermelho com um ponto de exclamação no centro. É o aviso de que podem conter violência e perturbar os alunos. Nalgumas dessas palestras exploram-se obras de Shakespeare ou que a elas referentes.
O aviso fica ao critério do professor, não sendo uma política de toda a faculdade.
Parece que um professor, que não concorda propriamente com a medida, disse que o dever da universidade é preparar estudantes para o mundo e não protegê-los. Como é óbvio!
Um outro professor (este de Educação) disse que os avisos são sinal de que aquilo que é mais controverso vai desaparecendo e até à extinção da discussão crítica. Como também é óbvio!
Na Universidade de Cambridge, a divulgação de algumas palestras sobre literatura, integradas no currículo, contêm um pequeno triângulo vermelho com um ponto de exclamação no centro. É o aviso de que podem conter violência e perturbar os alunos. Nalgumas dessas palestras exploram-se obras de Shakespeare ou que a elas referentes.
O aviso fica ao critério do professor, não sendo uma política de toda a faculdade.
Parece que um professor, que não concorda propriamente com a medida, disse que o dever da universidade é preparar estudantes para o mundo e não protegê-los. Como é óbvio!
Um outro professor (este de Educação) disse que os avisos são sinal de que aquilo que é mais controverso vai desaparecendo e até à extinção da discussão crítica. Como também é óbvio!
Werner Reich, um dos sobreviventes do Holocausto, vai estar na Universidade de Coimbra
O De Rerum Natura reproduz informação a que teve acesso.
Werner Reich, um dos sobreviventes do Holocausto, vai estar na Universidade de Coimbra (UC), na próxima segunda-feira, dia 23 de outubro, para dar o seu testemunho impressionante sobre os horrores que viveu no campo de concentração de Auschwitz, onde foram assassinadas mais de um milhão de pessoas, durante a Segunda Guerra Mundial.
A conferência de Werner Reich, que ficou conhecido como o “Mágico de Auschwitz”, realiza-se no auditório da Reitoria, pelas 15 horas. A iniciativa conta também com intervenções do Padre Anselmo Borges e de João Paulo Avelãs, diretor do Departamento de História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC).
Atualmente com 90 anos de idade, Werner Reich era adolescente quando foi enviado para o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. Foi um dos “Meninos Birkenau”, um grupo de 96 crianças arbitrariamente escolhidas pelo médico SS Josef Mengele para serem mantidas vivas como trabalhadores escravos.
Mais informações aqui.
NICOLAAS VAN UDEN (1921-1991)
Ficha biográfica de um dos cientistas menos conhecidos mas ao mesmo tempo mais fascinante da história contemporânea da ciência:
Nicolaas
(Nicolau) Johannes Maria van Uden nasceu na cidade de Venlo, na Holanda, a 5 de
março de 1921, filho de Adrianus van Uden, oficial das forças armadas
holandesas, e de Cornelia Antonia Baaijens (OCHOA, 2011, pp. 197-200).
Depois
de terminar o liceu, com notas muito altas, na sua cidade natal, Nicolau
ingressou na Universidade de Viena, onde viria a concluir a licenciatura de medicina.
Durante este período, iniciou a prática de investigação científica num
laboratório de dermatologia, com base na qual publicou artigos sobre agentes
patogénicos humanos e animais, com especial ênfase no agente causador da
sífilis (OCHOA, 2011, pp. 197-200; PEINADO e LEÃO, 2012, pp. 556-557).
Foi na capital
austríaca que, em 1945, conheceu D. Maria Adelaide de Bragança, a infanta portuguesa
que era neta paterna de D.
Miguel I, que foi rei de Portugal de 1828 a 1834. Nicolau e D. Maria Adelaide conheceram-se num hospital
de campanha, onde ambos tratavam feridos no final da Segunda Guerra Mundial. Ele
ter-lhe-á perguntado o nome e ela terá respondido «Maria Adelaide. E o senhor
doutor, como se chama?». A resposta não se fez esperar: «Não me chame doutor,
que não sou médico, sou só estudante de medicina. Faltam-me algumas cadeiras
para terminar o curso. E chamo-me Nicolaas, Nicolaas van Uden». Posto isto, D.
Maria Adelaide, que tinha já concluído a sua primeira formação em Assistência
Social, terá acrescentado: «A mim falta-me uma cadeira para terminar o curso de
enfermagem» (OCHOA, 2011, p. 195). Ambos comungavam do desejo de irem para
África, com o intuito de prestar apoio social e médico às populações daquele
continente, em particular em Moçambique. Depois de perceberem que se tratava de
uma finalidade partilhada pelos dois, decidiram unir-se pelo casamento pela
Igreja. Depois de D. Maria Adelaide ter obtido a concordância do irmão, D.
Duarte de Bragança, então chefe da casa real portuguesa, e da irmã, D. Filipa, viriam
a casar-se, embora de forma clandestina, em meados do mesmo ano (OCHOA, 2011,
p. 199). Este primeiro enlace contou com
uma única testemunha, o padre jesuíta, amigo do irmão de D. Maria Adelaide,
que ceelbrou o enlace. Viriam a casar mais tarde pelo registo civil. Ainda
posteriormente, casaram-se oficialmente pela Igreja, tendo agora por testemunhas
não só o padre, mas também dois amigos (OCHOA, 2011, p. 200).
Quando
D. Maria Adelaide ficou grávida pela primeira vez, ainda em 1945, o casal achou
que estava na altura de sair da Áustria, mudando-se para a casa de D. Duarte,
na Suíça. Adriano, o primeiro filho do casal, nasceu a 9 de Abril de 1946.
Passado algum tempo, optaram por regressar a Viena, uma vez que van Uden tinha
ainda de terminar o curso de medicina. Foi aí que nasceu o segundo filho, Nuno,
a 2 de setembro de 1947 (OCHOA, 2011, pp. 200-204).
Quando a
Assembleia Nacional portuguesa verificou a ilegalidade da lei do exílio que
ditara a saída do país de D. Miguel I (motivo pelo qual D. Maria Adelaide se
encontrava em Viena), o casal começou a considerar a hipótese de se mudar para
o país da infanta. Assim que o governo português autorizou o regresso da
família, e depois de Nicolau van Uden ter concluído o curso de medicina, o casal
viajou, juntamente com os dois filhos, da ÁUSTRIA para a Holanda, reunindo-se
com a família do jovem médico. Em 1948, o casal resolveu, por fim, mudar-se
para Portugal (OCHOA, 2011, p. 204).
Os
primeiros tempos no nosso país não foram fáceis para a família Bragança-van
Uden. Quando chegaram, o casal e os dois filhos foram viver para uma casa em
Serpins, que Caetano Beirão, amigo da família de D. Maria Adelaide, emprestara
à irmã desta, D. Filipa. No ano seguinte, em 1949, a família Bragança van Uden
mudou-se para a Quinta do Carmo, em
Murfacém, freguesia da Trafaria, concelho de Almada, que lhe foi emprestada por
Francisco Quintela, que viria a ser padrinho do seu terceiro filho, Francisco,
nascido a 8 de setembro desse ano. Como permaneceram aqui até 1962, esta casa
serviu de lar também aos outros três filhos do casal: Filipa nasceu a 22 de
junho de 1951, Miguel a 31 de julho de 1953, e Maria Teresa a 24 de junho de
1956 (OCHOA, 2011, pp. 209-228).
Enquanto
D. Maria Adelaide trabalhava como assistente social em Almada, tornando-se
diretora da Fundação de Assistência D. Nuno Álvares Pereira, Nicolaas van Uden
tratava, de forma gratuita, as pessoas com tuberculose. Além disso, durante os
primeiros dois anos no nosso país, passou muito tempo com um dermatólogo do Instituto
Português de Oncologia. Duas vezes por semana, estava também com o Professor
Aldo Castellani, investigador num laboratório do Instituto de Higiene e
Medicina Tropical, onde Niculau van Uden tinha de manter a coleção de culturas
e ajudar nos isolamentos. Durante esste período, desenvolveu um estudo sobre as
pulgas em humanos (LOPES, 1998; OCHOA, 2011, p. 219).
Uma vez
que o diploma do curso de medicina que van Uden tinha concluído na Universidade
de Viena não era reconhecido em Portugal, o marido da infanta viu-se obrigado a
completar uma nova licenciatura. Com uma inteligência acima da média e senhor
de interesses vários, rapidamente passou a dominar a língua portuguesa,
tendo-se especializado primeiro em medicina tropical e mais tarde em
dermatologia (OCHOA, 2011, p. 211).
Em 1950,
foi convidado pelo micólogo Pinto Lopes para iniciar uma secção de micologia
médica como parte do Departamento de Micologia do Instituto de Botânica da Faculdade
de Ciências da Universidade de Lisboa. A investigação aqui produzida levou à identificação
de dezenas de novas espécies de leveduras e à publicação de vários artigos
científicos. Em 1952, van Uden iniciou a Coleção Portuguesa de Cultura de
Leveduras, hoje denominada Coleção Portuguesa de Cultura de Leveduras Nicolau
van Uden e Isabel Spencer Martins e conhecida internacionalmente por Portuguese
Yeast Culture Collection (PYCC) (LOPES, 1998; CALADO, 2007, p. 166).
Um marco
da história de Portugal que muito influenciou a vida de van Uden foi a criação
da Fundação Calouste Gulbenkian, em 1956. Foi esta instituição que cofinanciou
uma sua viagem aos Estados Unidos, em 1959, a convite da Academia das Ciências
de Nova Iorque, e uma outra viagem a
Moçambique, onde permaneceu nove meses, dedicando-se ao levantamento de doenças
e à vacinação de pessoas. Em 1962, deslocou-se ao Canadá, a propósito do VIII
International Congress of Microbiology. Nos dois países norte-americanos,
contactou com várias técnicas de oceanografia biológica e limnologia. Por esta
altura, van Uden passou a ser conhecido como um especialista em três áreas:
taxonomia de leveduras, micologia médica e veterinária, e microbiologia marinha
(LOPES, 1998).
O Instituto
Gulbenkian de Ciência (IGC), fundado em 1961, e inaugurado em 1965 em Oeiras, criou
o Centro de Estudos Biológicos (mais tarde designado por Centro de Biologia), em 1962, que foi fisicamente integrado em
Oeiras entre 1964 e 1966, embora apenas tenha sido inaugurado em 1967. Este
centro era composto por quatro laboratórios: microbiologia, farmacologia, fisiologia
e biologia celular. Na época assistente do Flávio Resende, professor na
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, van Uden foi convidado para
diretor do primeiro destes laboratórios, o qual, aquando da reestruturação do
IGC, entre 1974 e 1975, se passou a designar por Grupo de Microbiologia (CALADO,
2007, pp. 148-165; LOPES, 1998).
Através
da investigação científica levada a cabo por si e pelos seus colaboradores, van
Uden foi um dos responsáveis pela emergência da biologia experimental moderna em
Portugal, que se deu em Oeiras. É também a ele que se deve a introdução da
genética e da biologia molecular no nosso país, uma vez que foi ele quem
convidou o biólogo e padre jesuíta Luís Archer para dar um curso de
pós-graduação nestas áreas, em 1968, no IGC.
Em 1969,
van Uden iniciou um programa internacional de cursos monográficos intensivos de
pós-graduação, que sempre dirigiu, e que viria a influenciar o rumo da ciência
e do ensino no nosso país: os Estudos Avançados de Oeiras (EAO). Em cada verão,
eram ministrados entre quatro a seis cursos (por vezes até oito), em várias
áreas da biologia moderna, cada um com a duração média de três a seis semanas (LOPES,
1998; CALADO, 2007, p. 164; OCHOA, 2011, p. 232); PEINADO e LEÃO, 2012, pp.
556-558).
Para a sua
lecionação eram convidados não só cientistas nacionais como também, e
sobretudo, estrangeiros (principalmente do Reino Unido, dos Estados Unidos e da
Holanda), reconhecidos internacionalmente como especialistas nas áreas científicas
dos cursos. Os alunos que frequentavam estes cursos eram já licenciados, muitos
dos quais jovens professores em várias universidades, nacionais e estrangeiras
(sobretudo de Espanha, Brasil e Arménia). Foi assim que novos métodos de
investigação científica e de ensino foram sendo introduzidos, na área das
ciências da vida, em várias instituições de ensino superior do nosso e de
outros países (CALADO, 2007. P. 165).
No final
de 1974, van Uden defendeu a sua tese de doutoramento na Universidade de
Coimbra, em genética molecular. Depois disso, obteve a nacionalidade portuguesa
e chegou a professor agregado em microbiologia da Universidade Nova de Lisboa.
Em 1979, tornou-se o primeiro professor catedrático em microbiologia nessa
instituição. Na década de 1980, foi criado o Departamento de Ensino do IGC, que
foi sempre dirigido por ele, e sob a alçada do qual estavam os EAO, o Mestrado
em Biotecnologia (em colaboração com instituições de ensino superior) e os
cursos da UNESCO (intitulados Long-Term Postgraduate Training Courses in Basic
Science for Biotechnology) (CALADO, 2007, p. 167; OCHOA, 2011, p. 244; PEINADO
e LEÃO, 2012, p. 556).
Nicolau
van Uden, conhecido como Nico entre os seus muitos amigos e tratado por
“doutor” pelos seus tantos discípulos mesmo antes de o ser formalmente,
suicidou-se, no seu laboratório, a 5 de fevereiro de 1991, poucos dias antes
de completar 70 anos, quando se deveria jubilar.
Ao longo da sua vida, caracterizada pela sua constante
disciplina e exigência, editou um livro, escreveu 21 revisões e capítulos de
livros, publicou mais de 120 artigos científicos, pertenceu aos quadros
editoriais de várias revistas científicas, e representou Portugal nos concílios
e painéis da NATO, União Europeia, Federação Europeia de Biotecnologia, União
Internacional de Sociedades Microbiológicas, e Academias de Ciência dos Estados
Unidos (CALADO, 2007, p. 167; OCHOA, 2011, pp. 232-249; PEINADO e LEÃO, 2012,
pp. 556-559).
Doutor
Honoris Causa pela Universidade do Estado Livre de Orange, na África do Sul,
van Uden era sócio honorário da Sociedade Portuguesa de Bioquímica e das
Sociedades Espanholas de Microbiologia e Bioquímica. Em 1992, a Universidade de
Coimbra, por iniciativa de Arsélio Pato de Carvalho, um dos primeiros
professores dos EAO, instituiu as
Conferências van Uden, entretanto descontinuadas. No ano seguinte, a Sociedade
Portuguesa de Microbiologia criou, em homenagem ao cientista luso-holandês, as
Jornadas de Biologia de Leveduras Prof. Nicolau van Uden. Em 2011, esta mesma
sociedade instituiu o Prémio Professor Nicolau van Uden (OCHOA, 2011, p. 232;
PEINADO e LEÃO, 2012, pp. 556-559).
A viúva de van Uden, Maria Adelaide
de Bragança, sobreviveu longos anos ao seu marido. Faleceu em Almada em 2012, com
a bonita idade de cem anos.
Richard Marques e Carlos Fiolhais
Referências
bibliográficas
CALADO, Jorge, “Ciência”, in
BARRETO, António, (coord.), Fundação
Calouste Gulbenkian: Cinquenta anos: 1956-2006, vol. II, Lisboa, Fundação
Calouste Gulbenkian, 2007, pp. 99-203.
LOPES, Amândio Madeira, “Van
Uden por ele próprio”, 1998.
OCHOA, Raquel, A Infanta Rebelde,
4.ª ed., Lisboa, Oficina do Livro, 2011.
PEINADO, José Martínez, e LEÃO,
Cecília, “Nicolau van Uden, a Life with Yeasts (1921-1991)”, in Revista IBBMB Life, vol. 64, n.º 4, 2012, pp.
556-560.
Como é e como deveria ser o ensino superior em Portugal
Entrevista na Rádio Renascença a João Queiró, António Feijó e Miguel Tamen, autores de dois recentes ensaios sobre a Universidade Portuguesa publicados pela Fundação Francisco Manuel dos Santos:
http://rr.sapo.pt/artigo/95184/como-e-e-como-deveria-ser-o-ensino-superior-em-portugal
http://rr.sapo.pt/artigo/95184/como-e-e-como-deveria-ser-o-ensino-superior-em-portugal
CONFERÊNCIA "A UTILIDADE DO INÚTIL" DO PROF: NUCCIO ORDINE EM BARCELONA
(ontem estive numa Conferência semelhante na Torre do Tombo, em Lisboa, organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.)
OS NOVOS NOBEL DA FÍSICA
Meu artigo no último As Artes entre as Letras:
O mais prestigado prémio da Física foi este ano atribuído a
três americanos. Metade foi para Rainer Weiss (85 anos), do MIT, um dos autores
da ideia do interferómetro para medir as ondas gravitacionais previstas em 1916
por Albert Einstein (um outro, o britânico Ronald Drever, morreu a 7 de Março
passado), e a outra metade foi dividada entre Barry Barish (81 anos), do
Caltech, o principal responsável pelo desenvolvimento da experiência LIGO
(Laser Interferometry Gravitational wave Observatory) até ela ter sido coroada
de êxito com a primeira detecção de ondas gravitacionais em 14 de Setembro de
2015, e por Kip Thorne (77 anos), o teórico do Caltech responsável por cálculos
computacionais de choques de buracos negros. O prémio veio célere tal como aconteceu
com o Nobel da Física de 2013 do britânico Peter Higgs e do belga François Englert
pela sua proposta do bosão de Higgs no início dos anos 60 do século XX, que acabou por ser detectado no CERN em 2012.
Weiss nasceu em Berlim de um médico judeu e de uma actriz. O
casal teve de fugir da Alemanha nos anos 30 do século XX com a ascensão ao
poder dos nazis. Refugiados na Checoslováquia, conseguiram fugir para os Estados
Unidos um pouco antes da invasão pelo exército alemão. O jovem Rainer cresceu
em Nova Iorque, com jeito tanto para a electrónica como para a música (ainda
hoje toca piano). Formou-se em Física no MIT após ter entrado em Engenharia
Electrotécnica e ter sido mal sucedido no primeiro ano (foi um drop out). Trabalhando no MIT como
técnico, teve a sorte de encontrar Jerrold Zacharias, o criador do primeiro
relógio atómico comercial, que o encorajou a fazer a licenciatura e o doutoramento.
Weiss, que é “um ás com o ferro de soldar na mão”, distinguiu-se na realização
de medidas delicadas: as ondas gravitacionais detectadas, devidas à colisão de
dois buracos negros extremamente maciços, correspondem a uma oscilação de cerca
de 1/10.000 do diâmetro de um protão! Já antes podia ter recebido o Prémio Nobel
de 2006, com os americanos John Mather e George Smoot, por ter desenvolvido um
detector apropriado para as microondas que constituem a radiação cósmica de
fundo.
Barrish nasceu no Nebraska de uma família de ascendência
judaica vinda de uma zona oriental antiga Polónia (hoje Bielorússia). Os seus
pais, que não tinham estudos superiores, estabeleceram-se no fim da Segunda Guerra
Mundial em Los Angeles. Barish, que se doutorou na Universidade de Berkeley,
também começou em Engenharia, tal como Weiss, para depois se transferir para
Física. Tornou-se um especialista em Física de Altas Energias (designadamente
detecção de neutrinos) antes de interessar pelas ondas gravitacionais, uma área
onde mostrou as suas enormes qualidades como director de “big science”.
Finalmente, Thorne, nascido no Utah, é filho de dois
professores universitários, o pai de agronomia e a mãe de economia. Doutorou-se
em Princeton, tendo sido como Richard Feynman um discípulo proeminente do
americano John Wheeler (um longo
candidato ao Nobel que morreu sem o receber). Para além de relativista eminente
– é co-autor de um volumoso tratado sobre gravitação considerado um standard no ensino superior - , interessou-se
pela comunicação de ciência: escreveu o bem sucedido livro de divulgação Black Holes and Time Warps:
Einstein's Outrageous Legacy, colaborou com o seu colega Carl
Sagan na preparação do argumento do filme
Contacto (foi ele que, a pedido de
Sagan, desenvolveu a ideia de buracos de minhoca como um meio para viajar no
tempo) e deixou há poucos anos atrás a sua cátedra para ajudado o realizador Christopher
Nollan a realizar o filme Interstellar, tendo
escrito o livro The Science of
Interstellar
Weiss, Thorne e Barish são exemplos de vidas dedicadas ao
longo de décadas à ciência. As medalhas Nobel foram, como aliás é costume na Física,
muito bem entregues. Além do mais, o uso das ondas gravitacionais como um novo
meio para observar o espaço juntando-se aos meios convencionais de observação
espacial usando luz de vários tipos, visível ou invisível, tem grande
actualidade. Poucos dias antes da atribuição do Nobel foi pela primeira vez
recolhido um sinal das novas ondas em três observatórios praticamente ao mesmo
tempo, os dois do LIGO nos Estados Unidos, um em Washington e o outro na
Luisiana, e o Virgo, localizado perto de Pisa, na Itália, em 17 de Agosto. Tal
permitiu uma localização espacial mais precisa do sítio da fonte, uma colisão
de dois buracos negros. Poucos dias após o anúncio do prémio Nobel, foi
anunciado pela colaboração LIGO-Virgo que esses observatórios tinham detectado
um novo sinal de ondas gravitacionais, mas este proveniente de choques de
estrelas de neutrões em vez de buracos negros (as estrelas de neutrões são o
núcleo remanescente de uma grande estrela explosiva, uma supernova, que
contrastam com os buracos negros por ter uma massa menor). E, desta vez, a
novidade foi que, para além das ondas gravitacionais foi possível recolher luz
visível através de várias dezenas de telescópios espalhados pela Terra e pelo
espaço, incluindo poderosas emissões de raios gama. Abriu-se com a recolha
simultânea de luz e de “som” (chamamos “som” às ondas gravitacionais por analogia
com as ondas de som, mas estas exigem a presença de ar ou outro meio) uma nova era da
observação astronómica, uma era que vai decerto trazer mais conhecimentos sobre
a constituição e a história do Universo.
Há quem pergunte para que servem as ondas gravitacionais.
Provavelmente nunca as vamos utilizar como utilizamos hoje as ondas
electromagnéticas (os dois tipos de ondas viajam à velocidade da luz, mas as
ondas gravitacionais são bastante mais fracas). Mas as técnicas muito
sofisticadas para medir distâncias e tempos usados nos observatórios de ondas
gravitacionais poderão vir a ter aproveitamento tecnológico. A mola da ciência
é a busca desinteressada do saber, mas as aplicações surgem por vezes onde
menos se espera.
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