segunda-feira, 25 de abril de 2016

A "qualidade" da educação

Imagem retirada daqui
John Friedman, economista, professor da Brown University, esteve recentemente em Portugal para apresentar estudos que tem realizado sobre a “qualidade da educação”.

Numa conferência realizada em Portugal no dia 13 de Abril de 2016, fez uma palestra com o título “Impacto da educação na sociedade”.

Na apresentação pública deste investigador americano destacou-se o seu “papel ativo a nível social e económico, contribuindo para a definição de políticas macro nas áreas de impostos, saúde e qualidade da educação”.

Transcreve-se a entrevista que o jornalista António Mateus lhe fez para o programa da RTP Olhar o mundo, que pode ser vista aqui (entre o minuto 22 e 27).
AM. Acredita que os governos dão a relevância certa à educação?
JF. Acho que é demasiado fácil esquecer que a educação é algo que compensa a um prazo muito longo. As melhorias da educação têm efeito a um prazo de 25, 25 anos. E às vezes é difícil para os governos manter essa visão a longo prazo quando estão muito concentrados nos problemas políticos do momento. Acho que a maior parte dos governos deveria concentrar-se na educação para melhorar a sociedade. 
AM. Qual é o tema central da sua palestra aqui em Lisboa?
JF. Como diferentes políticas da educação têm impacto no sucesso dos estudantes a longo prazo. Não só se têm melhores resultados num exame hoje ou amanhã, mas se têm maior probabilidade de ir para a universidade, de virem a ter empregos bem pagos 20 anos mais tarde, quando entram no mercado de trabalho. Por exemplo, num dos nossos estudos que aborda a diferença entre a qualidade dos professores concluímos que se se substituir um professor que está entre os 5% piores por um professor médio isso vale quase 200 mil euros para uma única turma durante um ano. 
AM. Gastar dinheiro em educação é um fardo ou um investimento? Quando estamos a fazer cada vez mais cortes na educação, reduzimos os ordenados dos professores, formamos turmas maiores. Acha que é uma abordagem correcta?
JF. Acho que devemos concentrar-nos na qualidade dos professores. E se tivermos de pagar mais para atrair melhores professores ou para os manter, isso é óptimo. Mas também há muita coisa que podemos fazer para além disso, podemos avaliar como usam o tempo de aula, para que alguns professores possam aprender com outros. Há muitas diferenças entre os professores na forma como abordam a turma e alguns são melhores do que outros. Podemos aprender muito sem aumentar os custos. 
AM. Alguns resultados dos seus estudos foram citados pelo presidente Obama (…) pode explicar em que consistiam?
JF. O estudo era acerca da qualidade dos professores. No Discurso de Estado da União, há quatro anos o presidente Obama mencionou este número que acabei de lhe dar 200 mil euros como o valor de um bom professor (…). 
AM. Que conselhos daria a alunos portugueses que gostassem de ir para os EUA?
JF. Nos EUA (…) há uma maior oportunidade para se explorarem vários temas, contrariamente à Europa, onde os diplomas estão mais virados para âmbito particulares. O que digo aos meus alunos é que devem formar-se com uma série de competências com as quais se sintam realizados, mas, por outro lado, têm de garantir que são as competências certas para que não enveredem por um caminho que não os realiza. Cada vez mais o que define pessoas altamente qualificadas e com sucesso é o facto de não serem apenas altamente qualificadas, mas estarem muito empolgadas e intelectualmente empenhadas no seu trabalho. Consideram o seu trabalho empolgante com problemas que as obrigam a reflectir todos os dias. Não é uma maçada ir trabalhar, trata-se de enfrentar problemas que dão satisfação a resolver. Encontrar um estilo de pensamento que nos leva a querer trabalhar todos os dias, penso que é a coisa mais importante. 
AM. Apreciar a vida como um tesouro que é.
JF. Exactamente.

4 comentários:

Anónimo disse...

Uma sugestão de tema: explicações na universidade
Actualmente, no ensino universitário a maior parte dos alunos apenas consegue realizar os “cadeirões” dos cursos por recurso a explicações (vulgarmente nas áreas de Matemática, Física, Química, Economia, etc.). Tudo indica que isto decorre de um fenómeno de dependência de explicações tidas no ensino secundário. Assiste-se à situação paradoxal de pretendentes a seguir a carreira de cientista, uma carreira onde o pensamento crítico, autónomo e independente é fundamental, frequentarem explicações para obter resultados. Creio que seria bom haver uma discussão sobre este tema no De Rerum Natura.

Helena Damião disse...

Prezado Leitor
A sua proposta é muito pertinente. Conheço estudos sobre o assunto nos níveis de ensino não superior realizados no país, mas não sobre o ensino superior. Logo que haja oportunidade daremos atenção ao tema.
Cordialmente,
Maria Helena Damião

Anónimo disse...

Prezada Maria Helena Damião,

Obrigado pelo seu interesse. O assunto tem sido abordado na imprensa inglesa. Por exemplo:

http://www.standard.co.uk/news/education/university-students-pay-cash-for-tutors-because-they-are-spoonfed-at-school-7887777.html

http://www.ft.com/cms/s/0/be14a192-65ca-11e5-a28b-50226830d644.html#axzz46wXyxp9P

Cumprimentos.

Rui Baptista disse...

Muitas vezes, quando se faz o ranking das escolas, o que está a ser avaliado não são os respectivos professores mas os explicadores. Por norma. os alunos das escolas convencionadas, com maior poder económico que os alunos do ensino oficial, têm mais explicações. Logo...

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