Ascende no céu o vento
O vento de amanhã, purpúreo
E então de novo o amor
Uma vez mais depois deste longo tempo
Desassossega a morte à distância.
2- Um
momento em Janeiro
Frágil como uma casca, o dia está em
silêncio.
No seu seio, o sol branco
completamente branco.
E até a neve é branca, as árvores, as
açoteias, a neve.
E até neste segundo é branco este
momento.
3- Quando eu perder a
minha voz
Quando eu perder a minha voz
não somente por minha culpae seres a única a me ouvir
então dizer-te eu vou
o que não diz senão o mudo
e aquele que o silêncio
veio advertir.
4-Um Instante
Para alguma verdade no mundo
Se vós preferis,
Para uma lasca de silêncio.
Há um momento que rasga ao meio a
terra.
Algum tempo de humildade,
Quando alguém sopra sobre nós.
Nota:
Foi no livro Umbrais-O Pequeno Livro dos prefácios de João Barrento que encontrei uma breve referência a Jan Skácel, poeta nado na Morávia. Desta região da república checa são também oriundos o psicanalista Sigmund Freud, o matemático Kurt Gödel e os poetas Jiří Wolker e Vítěslav Nezval, sendo este último muito apreciado por Claudio Magris.
1 comentário:
A noite
A fome eleva o seu apetite
Mórbida a mão magra matiza
De esquálida cor, Afrodite
Já não ama, agoniza
Mói o momento de não ser
O vento leva quem tudo foi
Despida de Deus e certeza
É casca sem dentro e não dói
Bebe a neve, o flâmeo cai
Ninguém a vê, ninguém a sente
Fogueira de gelo, no gelo se esvai
Mórbida a mão lhe dá um presente
Anel de tempo circular
No dedo mói a magra mão
Abre a esmeralda de par em par
O espelho celeste de uma visão:
Sopra um fôlego desconhecido
Nuvem de céu, rosto em chama
A fome eleva o seu apetite
De esquálida cor, Afrodite
Brilha de neve porque não ama.
FC
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