Entrevista que fiz ao matemático francês CÉDRIC VILLANI, que acaba de ser publicada na revista LER (com outros motivos de grande interesse como a entrevista de Clara Ferreira Alvez e o texto de José Rentes de Carvalho:
Cédric Villani é professor de Matemática na Universidade de
Lyon, mas passa uma boa parte do tempo em Paris a dirigir o Instituto Henri
Poincaré, uma organização conjunta do Centro Nacional para a Investigação
Científica (CNRS) e da Universidade Pierre e Marie Curie (Paris VI). É considerado uma estrela da ciência mundial
após ter ganho a Medalha Fileds o prémio mais importante na sua área, equivalente
a um Nobel, com a diferença de que o laureado não pode ter uma idade superior a
40 anos. Ele tem pouco mais do que 40, embora aparente menos. É novo mas veste
à antiga: o vestuário vintage que usa
lembra um personagem de Oscar Wilde, onde o elemento mais estranho é uma aranha
negra na lapela sobre cujo significado ele mantém o mistério.
Já o conhecia de uma troca de emails, mas só o vi ao vivo a
10 de Novembro passado, no dia em que o seu nome foi anunciado como membro de
um conselho de sábios da União Europeia, quando ele entrou no Teatro Nacional
de D. Maria II para apresentar o seu primeiro livro em português. Foi no Salão Nobre desse teatro, com as paredes
esculpidas por Vhils, que tive o prazer de apresentar, a meias com o matemático
Jorge Buescu, o seu livro Teorema Vivo,
acabado de sair do prelo da Gradiva. Um livro sem paralelo, que conta na
primeira pessoa a descoberta de um novo resultado matemático. No dia seguinte,
sob a égide da Fundação Francisco Manuel dos Santos, proferiu uma conferência
sobre a criação matemática que encheu a plateia do Teatro Académico de Gil
Vicente em Coimbra (o vídeo está online
no sítio da Fundação). Antes da conferência visitou a Biblioteca Joanina, que o
encantou (não foi tratado como um turista normal, mas sim como um convidado do
ex-director da Biblioteca, com direito a subir a uma estante alta por uma das
espantosas escadas setecentistas) e tinha feito um breve tour de Coimbra, que incluiu
além da Universidade, o Museu Nacional Machado de Castro, a Sé Velha, o Arco de
Almedina e a Igreja de Santa Cruz. O matemático, embora inseparável do seu
portátil e do seu telemóvel, mostrou curiosidade em conhecer Portugal, tanto a longa
história como as pessoas de hoje. De vez em quando cotejava na Internet alguma
informação e tomava notas. Não era a primeira vez que aqui vinha, pois no ano
passado já tinha estado entre nós para fazer parte do júri do Festival de
Cinema de Lisboa e Estoril. O facto de um dos grandes matemáticos mundiais (a New Yorker chamou-lhe “a Lady Gaga da matemática”, título que
ele não enjeitou) voltar a Portugal em menos de um ano mostra que gosta do país.
Mesmo sabendo que estava cansado pela sua intensa agenda e
pelas numerosas solicitações feitas pela comunicação social, pedi-lhe uma
entrevista pessoal e especial para a LER que ele não hesitou em dar, quando lhe
expliquei que era a melhor revista literária portugesa e que os leitores da LER
estariam decerto interessados em saber mais sobre o seu livro acabado de sair
em português e em conhecer a sua visão da criação matemática e da criação
artística, em particular a criação literária. Está aqui o essencial da nossa
conversa.
CF – O teu livro é tão original que não coube em nenhuma
colecção. Não corresponde ao tradicional livro de divulgação científica. No
entanto, pode servir esse propósito, mostrando, ao contrário do que é costume,
o processo de fazer matemática, em vez
de desvendar alguns dos seus conteúdos. Como chegaste à ideia de escrever Teorema Vivo? Conheces algo de
semelhante sobre a criação na matemática ou noutra área científica?
CV- Na verdade, a forma deste livro foi realmente fora do
comum. Olhando em retrospectiva, para o que eu tenho feito após a Medalha
Fields, acho que este foi o meu projecto mais ousado, porque ele quebra algumas
regras fundamentais de comunicação social para os cientistas. A ideia deste
livro veio de um encontro com alguém que não era nem um cientista nem sequer alguém
familiarizado com a comunicação científica. Foi Olivier Nora, o director da
editora Grasset. Conheci-o num jantar alguns meses antes da Medalha Fields. Ele
estava interessado em obter a colaboração de um matemático que escrevesse um
livro para a sua editora. Mas, quando lhe dei vários temas possíveis, como, por
exemplo, "por que não um livro popular sobre entropia?", ele recusou,
dizendo que para ele a coisa mais importante era saber como nós,
investigadores, trabalhamos e vivemos. Eu fiquei bastante embaraçado com este
pedido, mas depois pensei que devia ser capaz de escrever a história de uma
descoberta matemática como se fosse um livro de aventuras ou um policial. Ora,
se fiz isso mesmo, e se insisti na aventura, não poderia ao mesmo tempo insistir
na ciência, pois teria resultado demasiado exigente para o leitor, quebrando o
ritmo de leitura. Assim, sem ter consciência disso, estava a reusar uma técnica
usada por Henri Poincaré nos seus textos sobre a inspiração: ele colocava lá a
linguagem técnica, mas nunca a explicava. Na verdade, eu estendi tal técnica
ainda mais, uma vez que que para muitos leitores o jargão técnico e as fórmulas
matemáticas acrescentam poesia à aventura, na verdade colocam os leitores na
atmosfera.
CF – Stephen Hawking descreveu no seu best-seller Uma Breve
História do Tempo que uma só equação como E=mc^2 reduz para metade o número de leitores. Não houve ninguém que te dissesse que o
número de equações diminui drasticamente o número dos seus leitores? Como foi a
reacção dos teus leitores ao conjunto de equações que, muito provavelmente, não
conseguirão entender?
CV- Se a lei de Hawking se aplicasse sempre, dificilmente
mais do que algumas moléculas de leitor comprariam meu livro. Mas, ao invés,
ele vendeu mais de cem mil exemplares. Esse resultado não tem qualquer
comparação com os meus livros de matemática, dos quais me orgulho muito, mas
que venderam muito, muito menos! Portanto, obviamente, numerosos leitores não
se deixaram intimidar pelas fórmulas. Na verdade, observei que o livro era mais
difícil de ler por pessoas que tinham algum conhecimento científico: eles
tentaram entender e ficaram frustrados,
ao passo que aqueles que não tinham qualquer preparação científica não fizeram
qualquer esforço para entender e ficaram felizes assim. Sim, alguns leitores
ficaram frustrados porque queriam saber mais sobre matemática e ciências. Mas a
divulgação é um género diferente e eu contemplo esse tipo de preocupações, por
exemplo, nas minhas palestras públicas.
Uma questão no cerne do livro é a natureza da linguagem, as
impressões que ela transmite, o seu papel na poesia. O Conde de Lautréamont
mostrou que algumas palavras matemáticas podiam surtir um grande efeito inseridas
dentro da poesia. As palavras transmitem outras coisas para além do seu
significado.
CF - Uma das maiores dificuldades de transmitir a matemática
reside na necessidade de conhecer a sua linguagem simbólica. Achas que a
matemática pode chegar ao grande público, que não compreende praticamente nada
da linguagem?
CV- Com certeza, a matemática pode atingir o público em
geral, mesmo quando ele não entende a linguagem. Os leitores podem ficar
fascinados pela forma das palavras, pelas ideias que elas expressam, pelas
aventuras humanas que elas contam - ou pelas representações que podem ser
feitas a partir das palavras. As analogias são muito boas para esse efeito assim
como as metáforas. Os jogos também podem ajudar. Existem inúmeras
possibilidades!
CF- Fernando Pessoa, ou melhor o seu heterónimo Álvaro
de Campos, escreveu, num poema muito curto, que “O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo / O que há é poucas
pessoas para dar por isso.” Concordas?
CV- Eu gosto dessa fórmula e da bela provocação que contém.
A minha única reserva é que não sou um grande fã da fórmula do binómio de Newton,
talvez porque a beleza nela contida é de natureza combinatória. A comparação é também
um pouco estranha porque a Vénus chegou até nós de uma maneira quebrada,
imperfeita, ao passo que a fórmula binomial é hoje completa e totalmente
compreendida! Por outro lado, eu seria facilmente levado a comparar, digamos, a
beleza do teorema H de Boltzmann à de
uma das grandes esculturas de Miguel Ângelo - poderosa, não tão polida como a
Vénus, mas de tirar o fôlego.
CF - Na palestra que deste em Coimbra tentaste mostrar a
beleza intrínseca da matemática. Todavia a arte lida com emoções enquanto a
matemática lida com a lógica. Como podem os dois ser reunidos? Por outras
palavras, como pode a questão das duas
culturas ser superada?
CV- Claro que a matemática lida com lógica, respira lógica,
faz-se com com tijolos lógicos. Mas também se enche de emoções quando se pretende
descobrir o esquema geral de uma demonstração, quando se procura, se pesquisa,
se questionam os colegas e o Universo. Talvez uma analogia ajude: se um
arquitecto construir um grande edifício, estará limitado pelas leis da física e
o grande edifício poderá ruir se os pormenores não tiverem sido adequadamente
cuidados. No entanto, o arquitecto poderá ficar não só animado mas também
emocionado no processo de construção, cujo resultado final pode ser uma obra de
arte. Uma outra analogia: recentemente vi uma exposição surpreendente de um artista que só constrói
com peças de Lego ("A arte do tijolo" era o título). Bem, os blocos
eram apenas peças de Lego, muito
geométricas, algo que não deixa nenhum espaço à imaginação. Mesmo assim, os pedaços
juntos pelo artista transmitiam emoções fantásticas! Portanto, não há nenhuma contradição
entre a lógica e as emoções: os dois entram no mesmo quadro global embora em níveis
diferentes.
CF- Queres comentar a frase do físico inglês Paul Dirac que
disse “É mais importante ter beleza nas equações do que tê-las de acordo com a
experiência.” A beleza pode ser um critério para alcançar a verdade, no sentido
de uma boa descrição da Natureza?
CV- A beleza é sem qualquer dúvida um critério para
encontrar a verdade, ela pode guiar e ajudar. Esse facto tem sido verificado em
muitos casos e eu tenho-o observado também
nas minhas pesquisas, já deste a época em que andava a investigar problemas
relacionados com o crescimento da entropia na equação de Boltzmann: o caminho
mais belo é muitas vezes o caminho certo. No caso de Dirac, o seu dito tem um swing especial uma vez que a busca de uma
bela equação o levou à descoberta de uma equação muito relevante e da
antimatéria!
CF – O pai da física Galileu escreveu que “o Livro da Natureza está escrito em caracteres
matemáticos”. Tu trabalhas na fronteira entre a física e a matemática,
procurando ler esses caracteres. Sobre a relação entre a física e a matemática,
o grande matemático alemão David Hilbert
afirmou que “a física é demasiado difícil
para ser deixada apenas entregue aos
físicos”. Estás de acordo?
CV- A frase de Hilbert tem uma aura especial, que tem a ver
com a sua concorrência com Einstein, que bem poderia ter dito o contrário (que
a matemática era demasiado difícil para ser deixada apenas aos matemáticos!).
Os dois estavam a investigar a teoria da relatividade geral, que realmente está na fronteira entre a física
e a matemática. Na verdade, a relação entre essas duas disciplinas é muito
próxima e muito enriquecedora. A física fornece problemas surpreendentes para
os matemáticos considerarem e, muitas vezes, suscita novos conceitos matemáticos.
Para dar apenas um exemplo, a noção matemática de matriz foi desenvolvida para
estudar a estabilidade do sistema solar... Por outro lado, a matemática fornece
novas ferramentas, novas ideias, novas demonstrações; no caso da teoria da relatividade
geral, a teoria não poderia ter sido elaborado sem conceitos matemáticos muito
delicados.
No meu próprio trabalho tive que usar conceitos matemáticos
que tinham sido desenvolvidos para o estudo de outros problemas físicos. Também
tive que desenvolver alguns novos conceitos matemáticos. E consegui fazer
algumas previsões e compreensões físicas que não tinham sido alcançadas por
raciocínios físicos directos. Este foi certamente o caso do estudo que fiz com
Laurent Desvillettes de oscilações da produção de entropia ou do estudo que
realizei com Clément Mouhot das origens do amortecimento de Landau não linear.
Assim, considero-me realmente um
matemático inspirado pela física, ou um físico matemático; mas o importante é
que a minha visão e o meu estilo são os de matemático.
CF- Estamos a celebrar os cem anos da teoria da relatividade
geral de Einstein e Hilbert esteve muito perto das equações finais. E o mesmo tinha
acontecido dez anos antes, com Henri Poincaré, no contexto da teoria da
relatividade restrita. Por que estiveram dois dos maiores matemáticos de sempre
tão perto da meta e nenhum deles conseguiu bater Einstein? Será a intuição de
um físico realmente assim tão diferente da de um matemático?
CV- Eu acho que Poincaré alcançou a meta mais ou menos ao mesmo
tempo que Einstein, no caso da teoria da relatividade restrita, no sentido em
que ele obteve as fórmulas correctas assim como tudo à volta delas. A principal
diferença residiu na interpretação: Poincaré pensou que as fórmulas eram uma
espécie de truque, ao passo que Einstein considerou que elas eram a verdade.
Einstein era extremamente talentoso na matemática e confiava na matemática; um
de seus pontos fortes foi precisamente a capacidade de acreditar nos resultados
matemáticos como sendo a verdade. A história de Hilbert é, penso eu, um pouco diferente:
tinha havido uma forte influência recíproca, mas toda a motivação para o
problema vinha de Einstein. E não se deve esquecer que Einstein publicou parte
da sua teoria com o seu colega Marcel Grossman, que era um matemático. Será
difícil chegar a conclusões com base em apenas dois casos. Ainda assim, decerto
que existem algumas diferenças entre a intuição de um físico e a de um
matemático, havendo lugar para todos os tipos de subtis variações.
CV – Vieste a Portugal como membro do júri do Festival de
Cinema de Lisboa e Estoril, pelo que depreendo que és apaixonado pelo cinema.
Quais são os teus realizadores favoritos? Gostaste, por exemplo, do filme sobre
o matemático recentemente falecido John Nash, Uma Mente Brilhante?
CV- Os meus realizadores favoritos são os mesmos que os de
muita gente, acho eu: na minha lista de favoritos estariam, em desordem total,
Lang, Lynch, Wong Kar-Wai, Welles, Tarkowski, Bergman, Mizoguchi, Kurosawa,
Cocteau, Truffaut, Almodovar, Satyajit Ray, etc. Houve um tempo em que eu ia ao
cinema todos os dias ou quase. Paris é uma boa cidade para isso! Alguns filmes
têm-me deixado ultimamente muito perplexo. No Festival de Cinema reconheci
muitas influências de autores clássicos, em particular, a influência de Truffaut
foi bem visível. Outros membros do júri, que sabem mais do que eu, reconheceram
mais influências. Estar no júri com o filho de Tarkowski, cujos filmes eu tanto
estimo, foi emocionante...
O Festival foi um
evento de uma incrível qualidade, com uma grande organização. Está à altura da
reputação do grande cinema português e tem uma natureza muito internacional,
que vai muito bem com a cultura portuguesa, julgo eu. Foi um verdadeiro prazer.
Sobre o filme sobre John Nash, de facto não gostei. Demasiado ethos, ao estilo de Hollywood no pior
sentido, e muito pouco sobre as coisas de que realmente gosto em matemática.
Nada sobre a emoção na busca de um teorema... Nada sobre as grandes realizações
de Nash, as obras que marcaram e mudaram a matemática. Fiquei muito infeliz com
isso. No entanto, o filme recente sobre Alan Turing ainda foi mais tortuoso
para mim!
CF- Em Teorema Vivo referes muitas composições musicais e não
tanto literárias. significará isso que, entre as várias artes, a tua
sensibilidade é maior para o cinema e a música do que para a literatura?
Poderás indicar alguns romances ou livros de poesia que foram essenciais na tua
formação cultural?
CV- Penso que a música é a arte mais popular na comunidade
dos matemáticos e eu não sou a excepção
a essa regra. Cinema e música são de facto extremamente fortes nas minhas
influências. Quanto a romances e livros de poesia: Acho que não tenho obras
especiais a referir; como filho de dois professores de literatura, tive uma educação
muito boa na literatura francesa clássica. Hugo, Balzac e Zola estiveram entre
os meus favoritos numa certa fase da vida. Quanto aos romances, fiquei
fascinado pelas obras de Conan Doyle (acho que li todas as histórias de Sherlock Holmes), de Maurice Leblanc (li a maioria, mas não todas,
das histórias de Arsène Lupin), e de Júlio Verne, claro. A minha preferência
dirigiu-se sempre para livros em que há um bom ritmo e um sentido de aventura. O
Moby Dick foi um dos meus favoritos, mas não consegui ler Proust. Quanto a livros de poesia, refiro
como grandes influências os poemas e textos poéticos de Lewis Carroll e também
os de Boris Vian (a propósito, ambos tiveram uma formação científica)
Além de romances e poesia, li um rol de livros de não-ficção
(ensaios, livros sobre história, etc.) e um monte de histórias aos quadradinhos.
Eu próprio sou autor de um álbum de banda desenhada, recentemente, com um artista
altamente considerado , tendo esta sido uma das minhas melhores experiências
nos últimos anos.
CF – Os matemáticos gostam, em regra, do argentino Jorge
Luís Borges. É também um dos teus autores de eleição? Há o espantoso escritor
francês Georges Perec. E há Hans Magnus Enzensberger,
o alemão que tem também feito incursões pela matemática. Queres salientar
outros nomes particularmente interessantes nesta fronteira entre a literatura e
a matemática?
CV- Eu gosto muito de Borges. Mas odeio o seu famoso conto
sobre a biblioteca de Babel e, em geral, não aprecio o seu uso da matemática. A
biblioteca de Babel não faz qualquer sentido. As probabilidades estão erradas e
a ordem das descobertas, tal como como vem explicada no texto, é bastante
inverosímel. Eu preferiria que ele não tivesse escrito esse conto ou que, pelo
menos, tivesse tido um matemático que o aconselhasse. O que eu gosto em Borges
são as atmosferas que cria, os seus conflitos trágicos com a consciência, as
suas histórias de fracassos e sucessos, a sua capacidade única de descrever rapidamente
uma situação, insistir numa ideia chave e deixar o leitor a pensar sobre ela.
Por seu lado Perec é um dos melhores autores que usou ideias interessantes que
ligam matemática e literatura. Queneau é outro.
Não estou familiarizado com a obra de Enzensberger, tenho ainda muito para
aprender...
CF- Finalmente, sobre
Portugal. Visitaste a Biblioteca Joanina, na Universidade de Coimbra. Como
descreverias aquela biblioteca a alguém que nunca a visitou?
CV- É um lugar extraordinário no qual o passado se torna
presente, reunindo os vestígios de tantas gerações de seres humanos que lutaram
para escrever e deixar impresso aquilo que compreendiam e aquilo que sonhavam. O conjunto está tão bem
preservado e é tão belo que me fez lembrar que o conhecimento é um tesouro e
deve ser tratado como tal. Vagueando entre as miríadas de livros antigos o visitante sente-se transportado ao passado,
mas, ao mesmo tempo, sente que constitui um pequeno elo numa grande cadeia
eterna.
Ocorre-me citar aqui um curto poema da arqueóloga
norte-americana Hilary Stewart sobre
artefactos, pois julgo que o mesmo pode ser dito de um livro antigo:
"Portanto, quando
agarras num artefacto, olhas para ele e maravilhas-te.
É uma herança do
passado que teve a sorte de sobreviver, superando o abismo de tempo.
Ele faz uma ponte
entre a mão da pessoa que o fez e a da pessoa que ora o contempla.
É como pontas dos
dedos que tocam nas pontas de outros dedos. “
CF- Muito obrigado pelo poema e pela entrevista.
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