O Negacionismo da Ciência verifica-se quando se rejeitam factos ou conceitos bem estabelecidos por consenso científico em prol de ideias radicais ou controversas. Isso acontece por várias razões: por crenças ou ideologias, sejam elas filosóficas, religiosas ou políticas; por conflito de interesses de pessoas ou organizações; ou por fatores psicológicos como em casos de dissonância cognitiva, vieses de confirmação, identidade de grupo, entre outros.
Os discursos negacionistas apresentam nas suas narrativas algumas características, tais como o recurso a teorias da conspiração, falsas controvérsias, seleção enviesada de dados, distorções e falácias. É conveniente dizer que a negação dos factos ou evidências nem sempre se faz na totalidade, por vezes essa negação é apenas parcial. Temos como exemplo o negacionismo do Holocausto, em que há pessoas que afirmam que este acontecimento nunca teve lugar, enquanto outras reconhecem que aconteceu o holocausto mas que este não teve a gravidade que os dados oficiais indicam. De qualquer modo, em ambas as situações há uma recusa de um grande número de evidências que sustentam a versão histórica. No campo da saúde podemos encontrar o negacionismo quanto à relação entre o HIV e a SIDA e também aqui não há apenas uma versão: alguns grupos defendem que o HIV é um vírus inofensivo que não causa SIDA, enquanto outros grupos vão mais longe e afirmam que o HIV nem sequer existe.
Uma vez que a equipa da COMCEPT já se confrontou com vários discursos negacionistas, decidiu centrar este tema na ComceptCon deste ano, que decorrerá no dia 21 de Novembro, no auditório da Casa do Infante, no Porto.
Estarão presentes cinco oradores de várias áreas: os biólogos Carlos Teixeira e Alexandra Sá Pinto irão abordar o negacionismo das Alterações Climáticas e da Evolução, respetivamente, a médica Mónica Pina irá abordar o negacionismo da eficácia das vacinas, o arqueólogo Hugo Vaz irá abordar o negacionismo do Holocausto, e o astrónomo e divulgador de ciência Ricardo Cardoso Reis irá abordar o negacionismo da ida do Homem à Lua.
A entrada é gratuita, mas sujeita a inscrição, uma vez que os lugares são limitados. Estão convidados a aparecer. Visitem a página da ComceptCon2015 para mais informações.
Para saber mais:
Michael Specter, Denialism: How Irrational Thinking Hinders Scientific Progress, Harms the Planet, and Threatens Our Lives, Penguin Press, 2009
Michael Shermer, Por que acreditam as pessoas em coisas estranhas? – Pseudociência, superstições e outras confusões do nosso tempo, Editora Replicação, Lisboa, 2001 – Tradução Joana Rosa
9 comentários:
Eu não acredito nas alterações climáticas - mas lá que elas são um bom pretexto para fazer bons negócios à custa do dinheiro dos contribuintes não restam dúvidas...
No entanto até sou fácil de convencer: duas caixas iguais sujeitas às mesmas condições iniciais e às mesmas condições de fronteira, uma com uma atmosfera com 800 ppm de CO2 e a outra com 400 ppm de CO2. Quanto tempo é que será necessário esperar para ver os tais graus K de diferença de temperaturas entre as duas?
Pf responda à pergunta indicando como é que a experiência foi conduzida, quem a fez e onde, e se possível o paper que a descreve e contem os respectivos resultados.
José7
Pela maneira como fala, não me parece que esteja a negar as alterações climáticas em si, mas as consequências que elas trazem. Antes que pareça que estou a querer deitá-lo abaixo, deixe-me que lhe diga que é exactamente essa a minha posição.
Quanto à experiência, lembro-me de uma experiência na Era Industrial em que se mostrou que a ausência de dióxido de carbono tinha efeitos graves (a Terra teria uma temperatura média na ordem dos -18º C, em vez de 15º ou 16º como na altura). Isto aconteceu porque quem fez a experiência só usou uma atmosfera de Azoto e Oxigénio porque considerou que, como esses elementos compunham 99% da atmosfera, era uma aproximação suficiente. Não me lembro do nome do homem que fez esse teste, mas irei procurá-lo. De qualquer maneira, essa experiência deve ser um bom começo para analisar o efeito do CO2 na Terra.
Parece-me que quem primeiro conduziu uma experiência deste género foi John Tyndall.
Outra coisa que pode ver são estudos da atmosfera de Vénus, que com excesso de gases de efeito estufa torna esse planeta no mais quente do Sistema Solar (apesar de estar mais afastado do Sol do que Mercúrio e de reflectir mais luz do que a Terra, por exemplo).
Pressão atmosférica de Vénus 92 bar. Use PV=RT e confirme onde vai parar o T.
Mas o que ando mesmo à procura é da experiência que referi, a qual me esclareceria a dúvida de vez.
Já agora os 92 bar podem ser , p.e., obtidos aqui:
http://nssdc.gsfc.nasa.gov/planetary/factsheet/venusfact.html
Cordialmente
José7
Será que o gás ideal é uma boa aproximação da atmosfera de Vénus? Não sei... Levaria a uma temperatura 92 vezes superior à da Terra, o que não me parece razoável para um planeta.
Quanto a essa experiência, terei de a procurar. mas o ads e o arXiv são boas bases de dados para procurar esse tipo de projectos.
Um outro comentário: mesmo que o gás ideal se aplique, não há maneira de dizer que maior pressão causa maior temperatura em vez de maior densidade causa maior pressão (o R na verdade é n*R). A densidade mais facilmente explica o aumento da pressão, e não o oposto.
Tem aqui uma experiência com todos os detalhes:
http://www.rsc.org/Education/Teachers/Resources/jesei/co2green/home.htm
Aqui também tem uma descrição muito detalhada, se bem que não especificamente aquilo que pede:
https://www.aip.org/history/climate/co2.htm
E finalmente, uma experiência que pode fazer em casa:
http://mrcc.isws.illinois.edu/resources/guides/HowTo_GreenhouseEffect.pdf
Da sua primeira sugestão:
«Fill one of the bottles with carbon dioxide, screw the top on (with temperature probe / thermometer in place) and plug any gaps with Plasticine™.
Prepare the other bottle full of air by screwing on the top (with temperature probe / thermometer in place) and plug any gaps with Plasticine™.»
Sugiro-lhe que leia com atenção o que foi escrito pelo José7. Não se pretende demonstrar a diferença entre o CO2 e o ar: é entre 400 ppm de CO2 no ar e 800 ppm de CO2 no ar, percebeu?
Não gosta da aproximação dos gases perfeitos sobre o que se passa em Vénus? Bom então pode ver algo mais preciso aqui:
http://www.biocab.org/Temperature_of_Venus.pdf
Mas fiquei com curiosidade em ler uma resposta à dúvida colocada pelo José7...
De facto, em nenhum ponto desse artigo está dito que a temperatura se deve à maior pressão... Nem fala em gases ideais.
Quanto à experiência, eu percebi, mas serve para mostrar que o dióxido de carbono tem influência na temperatura, por isso é bastante intuitivo que uma maior concentração dá um maior efeito.
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