É quase impossível determinar o factor de responsabilidade
pessoal de um professor no insucesso dos alunos.
Por isso a responsabilidade pedagógica é mais de
competência e dedicação do que de resultados.”
A. Reis Monteiro, 2005, 109.
A obsessão em diferenciar os professores eficazes dos não eficazes faz esquecer que os resultados dos alunos não dependem, por regra, do desempenho do professor considerado isoladamente. Essa relação tem muitas zonas desconhecidas e muitas outras dúbias exigindo, nesta conformidade, um tratamento cuidado. E, estando a falar de uma eficácia dependente de testes alinhados por standards extraídos de critérios económicos, os cuidados têm de ser redobrados.
Ignorar esta evidência, não é, lamentavelmente, apanágio de políticos e de especialistas em economia e qualidade da educação, é também, soube-o hoje, de quem menos seria de esperar: de filósofos.
Falo no plural, mas refiro-me apenas a um nome: não um nome qualquer mas um nome maior em ética, que tem sido, para mim, uma referência.
Tanto quanto percebi, encarregado pelo ministro da educação do seu país de estudar a dignificação da profissão docente (desconfiemos das grandes expressões), no sentido de se conseguir "uma verdadeira carreira docente, atractiva e com progressão", propôs várias medidas para avaliar os professores. Uma delas é:
Que os salários dependam da eficácia pedagógica, quer dizer dos resultados dos alunos; há que atrair os melhores professores para a profissão.Argumentos estafados! Não era preciso um filósofo para os repetir.
Mais adiantou:
Para acabar com o secretismo das aulas e para observar, com rigor, o desempenho dos professores há que gravar em vídeo esse desempenho em aula. O objectivo será melhorar, não controlar; será tornar público, transparente o que é privado e opaco.Aqui há alguma novidade que gerou reacções imediatas. O filósofo catalogou-as como "receio" e "resistência à mudança": as pessoas não gostarem de sair da sua zona de conforto. O problema não é, portanto, das propostas, é dos professores que, evidentemente, terão de ser sensibilizados.
Diz o filósofo que isso já é feito nos Estados Unidos. Eu sei que sim, as gravações estão na internet. E também sei que essas gravações são patrocinadas por uma empresa poderosíssima, por via da fundação que criou "em prol da educação". Talvez essa ou outra empresa queira estender a sua "acção benemérita" a outros países...
Artigos consultados: aqui, aqui e aqui.
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Monteiro, A.R. (2005). Deontologia das profissões da educação. Coimbra: Almedina.
4 comentários:
Concordo plenamente com a transparência de todas as profissões. Todos os profissionais (sem exceção) deveriam ser gravados e expostos em circos, museus, fóruns e afins para debate público do seu desempenho.
Um dos problemas da formação portuguesa está na excessiva concentração de bons alunos no curso de Medicina. Pelo menos há dez anos mais de 90% dos alunos com média de ingresso acima de 18 escolhiam Medicina. Depois, uma elevada percentagem abaixo deste valor ficava por Enfermagem, Ciências Farmacêuticas, Medicina Dentária, Fisioterapia ou Ciências da Nutrição. Não por vocação, mas porque não tinham média suficientemente elevada para... Medicina. Não é saudável a pressão que existe em cima dos bons alunos para serem médicos. O curso não é difícil mas é trabalhoso e consome muitas horas de trabalho. A profissão é das mais desgastantes que existem e hoje em dia é mal paga em Portugal. Um aluno com média de ingresso de 14 ou 15 não poderá ser um bom médico? É fundamental trazer estes bons alunos para outras profissões, entre elas a docência, e acabar com a doentia procura que existe nos cursos da área da Saúde. É fundamental dignificar a Química, Física, Biologia, Filosofia ou História. Ou queremos ser apenas um país de médicos, engenheiros, juristas e magistrados?
Prezado leitor Luís
Não poderia estar mais de acordo.
Acrescentaria que é fundamental dignificar o ensino, essa profissão que consiste em levar alguém a aprender. Profissão que tão poucos querem...e para a qual a formação é tão frágil e... desadequada.
MHD
Por que razão as pessoas falam do que desconhecem?
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