quarta-feira, 30 de setembro de 2015
OS LIVROS DE LUÍS M. AIRES
Luís M. Aires, biólogo, mestre em Fisiologia e Bioquímica de Plantas e professor do ensino secundário em Portugal, é autor dc cerca de meia dúzia de livros numa pequena editora (Edições Sílabo, em Lisboa) que, apesar de não se encontrarem facilmente nas livrarias (cheios de "bestas céleres", O'Neill dixit) que ninguém quer, se apanham facilmente em livrarias online, como a da Wook.
Ligado ao ensino as suas preocupações são eminentemente pedagógicas. As suas obras destinam-se a ser lidos por professores embora aproveitem também a quaisquer curiosos pela ciência. Os dois livros mais recentes, "Planeta Verde" (2013) e "Infinito + 1" (Janeiro de 2015, escrito com Marina Almeida, professora de Matemática) mostram a necessidade de cruzamento de saberes, a fim de que a pedagogia possa ser efectiva, A separação das disciplinas não serve à pedagogia. Na primeira das obras referidas é exibida a ligação íntimas das Ciências da Vida, designadamente a Botânica, com a Química, com as Ciências da Terra e com as Ciências do Ambiente, E, na segunda obra, a ligação da Matemática com as outras ciências.
Em "O Planeta Verde" discute-se a relação entre plantas e ambiente. Na primeira parte definem-se plantas, desenvolvendo as suas características e, na segunda parte, fala-se da inserção delas com o ambiente natural conseguida através da fotosíntese. O ciclo de Calvin-Benson-Bassham, ou "a arte de transformar dióxido de carbono em glicose", apesar de ser vitar para toda a bioesfera, está longe de ser simples. Para todos aqueles que, neste Ano Internacional da Luz, estão interessados em saber como é recomendo vivamente a explicação de Luís M. Aires, com figuras elucidativas.
Em "Infinito + 1" (o Infinito surge no título como um oito deitado, dificultando a vida aos bibliotecários que têm de catalogar o livro) é a matemática que se revela atractiva nas mãos de um biólogo. Repare-se no subtítulo "Uma jornada de (re)descobertas da matemática à boleia do mundo em que vivemos", que significa que quem já saiba alguma matemática pode aproveitar a boleia. Os exemplos são muito sugestivos, como o capítulo das "regularidades", que fala dos coelhos de Fibonacci. O estilo é sugestivo, à maneira de Rómulo de Carvalho, invocado logo no início do prefácio (ou não fosse o autor professor na Escola Secundária António Gedeão, em Almada).
É muito claro o fascínio do autor pela matemática, algo que não é muito comum no mundo das ciências da Vida. De resto, Luís M. Aires já tinha escrito antes, na mesma editora, "Uma História da Matemática" (2010) e é autor de "Conceitos de Matemática - Fundamentos para as Ciências da Vida" (2013). A dimensão pedagógica do autor é revelada em particular nas outras suas duas obras "Disciplina na Sala de Aulas" (2010) e "15 Argumentos para Reconst(ruir) a Escola Pública" (2011). Este último livro tem prefácio de Nuno Crato, do tempo em que parecia que ele tinha um projecto para a escola pública (todos vimos, com mágoa, ao longo dos últimos quatro anos, que não tinha).
Last but not least, nestes tempos de dificuldades económicas. Todos estes livros têm um preço muito acessível, a menos de dez euros com a única excepção de "O Planeta Verde", que custa um pouquinho mais. Apraz-me muito divulgar a produção bibliográfica de um professor que, não contente, em dar as suas aulas, anseia por ter um magistério à distância, partilhando os seus prazeres, as suas reflexões e as suas inquietações.
"POR OUTRA POLÍTICA DE CIÊNCIA EM PORTUGAL"
Com o título de cima, a investigadora Isabel Lopes Cardoso escreveu um interessante artigo no "Le Monde Diplomatique", edição portuguesa (n.º 107, Setembro 2015), onde dá conta da iniciativa "Há ciência para além da FCT?", uma iniciativa que trouxe a público uma dúzia de projectos recusados pela FCT. Têm-me mostrado projectos recusados pela FCT e os comentários dos avaliadoes, nas áreas que conheço melhor, são por vezes de um ridículo atroz: ou dizem generalidades, mostrando que não sabem nada ou sabem muito pouco do assunto, ou comentam o trabalho, mostrando exactamente a mesma coisa. A actual FCT, com a tutela de Nuno Crato e de Pedro Passos Coelho (o primeiro não vai, por prudência, a votos, mas o segundo vai), tem sido o oposto do que deve ser uma agência de financiamento da ciência, que se deve basear em pareceres sérios de especialistas. Os resultados do último concurso de projectos revelam o desatino: alguns centros supostamente de topo ("excelentíssimos") nao conseguem ter projectos aprovados. Seria útil ter toda a informação disponível para que se confirmasse, mais uma vez, a fraude que foi a "avaliação da ESF-FCT.
Em que outro país do mundo os investigadores teriam orgulho em exibir publicamente os projectos reprovados? Só cá, porque a gestão da FCT não é credível.
Em que outro país do mundo os investigadores teriam orgulho em exibir publicamente os projectos reprovados? Só cá, porque a gestão da FCT não é credível.
O MEU VOTO
Antes de o colocar na urna, o Prof. Galopim de Carvalho (na fotografia) enviou ao De Rerum natura o seu voto, que divulgamos:
O meu voto, como cidadão independente dos aparelhos partidários e interventor cívico activo, é apenas um entre milhões que no próximo Domingo vão decidir o futuro próximo de Portugal. Vale tanto quanto o do mais intelectualmente debilitado ou alienado dos portugueses.
Já o escrevi e entendo oportuno lembrar que estamos a viver tempos de indecoroso aviltamento, mercê de uma elite, entre políticos e grandes nomes do direito e das finanças que, numa promiscuidade interesseira, descarada e impune, nos está a conduzir, decidida e conscientemente, no caminho do empobrecimento económico e também, estupidamente, no do definhamento científico e cultural.
Esta caminhada de submissão a uma União Europeia cada vez mais afastada dos princípios que a fundaram, decorre perante a passividade acrítica de uma parte considerável dos nossos concidadãos mantidos incultos, destituídos de pensamento autónomo, alienados pelo futebol e pelos programas televisivos de entretenimento que nos impõem e nos entram pela casa dentro a toda a hora. Tudo isto sob a magistratura conivente de um Chefe de Estado que pouco mais de metade dos votantes (53,14%) colocaram no mais alto cargo da Nação, numa eleição em que quase metade dos eleitores se abstiveram e que, há muito, deixou de ser o Presidente de todos os portugueses. Marcados, ainda, por receios antigos, são muitos os portugueses que não ousam questionar um poder que os despreza e maltrata e muitos também os que, sem saberem porquê, lhe fazem respeitosa e submissa vénia.
A única forma, dentro da democracia, de romper com esta triste escuridão em que, com excepção de uns tantos privilegiados, fomos levados a viver, é o VOTO, que nos espera no próximo Domingo.
Desde que o neoliberalismo cego do PSD (traidor do pensamento e da prática social democrata que lhe deu nascimento) tomou conta dos nossos destinos, amparado nesta actual muletazinha conhecida pela sigla CDS-PP, vai para quatro anos, os portugueses assistem, resignados e pacificamente, ao retrocesso social e cultural imposto, insisto em dizer, por uma União Europeia cada vez mais afastada dos princípios que a fundaram.
As conquistas na segurança social, nos cuidados de saúde, na ciência, no ensino e no apoio à cultura conseguidas na vivência em democracia que se seguiu à Revolução dos Cravos estão a fugir da nossa vida colectiva como areia por entre os dedos.
Perdemos uma parte significativa da independência nacional e assistimos à asfixia e destruição de muitas das nossas valências económicas. Estamos a viver tempos de miséria e, até, de fome para um número cada vez maior de famílias, de miserável abandono dos idosos, de corrupção descarada e impune e de aumento do número e da riqueza dos ricos. A chamada classe média está a afundar-se, o desemprego tornou-se uma realidade dramática dos que já não conseguem encontrar um posto de trabalho e é um incentivo crescente à igualmente dramática emigração de uma juventude que a democratização do ensino qualificou a níveis nunca antes conseguidos.
Perante esta realidade o único voto desejável é o que afaste do poder os que, com base na mentira, nos tem conduzido neste lamentável caminho. E esse voto, no momento que estamos a viver e para pôr fim a esta infelicidade só pode ser o voto no PS.
O meu voto sempre foi à esquerda deste partido, onde militam cidadãos que muito respeito a par de outros que “não tanto assim” e que tem responsabilidades na situação que tanto nos aflige. Como cidadão independente, liberto de fidelidades aos aparelhos partidários, disciplina que sempre rejeitei, vou votar no António Costa, que conheço bem e que reputo de Homem generoso, de palavra e de muita competência para o cargo de Primeiro Ministro nos tempos que se avizinham e que, como todos sabemos, continuarão a ser difíceis mas que desejamos sejam respeitadores da dignidade dos portugueses.
António Galopim de Carvalho
UMA CAMPANHA TRISTE
Minha crónica no Público de hoje:
Se Eça de Queirós vivesse hoje aqui
talvez não escrevesse Uma Campanha Alegre,
mas sim Uma Campanha Triste. Motivos
não lhe faltariam para espetar umas boas farpas em muitos dos nossos políticos.
É uma campanha igual às outras, que têm conduzido ao alheamento cada vez maior
dos cidadãos.
Nas legislativas de 2011 a taxa
de abstenção foi de 42% (arredondo os números), a que acresceram 4% de votos
brancos e nulos, o que significa que de todos os eleitores recenseados só 54%
quiseram escolher um partido. O mais votado foi o PSD, encabeçado por Pedro
Passos Coelho, com 39% dos votos, que somados aos 12% do CDS de Paulo Portas
perfizeram 51%, garantindo uma escassa maioria absoluta. A derrota do PS,
liderado por José Sócrates, foi inequívoca, pois ficou nos 28%. Hoje, tomando a
média das várias sondagens (cuja margem de erro é grande) que Pedro Magalhães
reuniu no seu blogue Margem de Erro,
a soma dos votos no PSD e no CDS só dá 39%, 12 pontos abaixo do resultado de há
quatro anos, apesar de beneficiarem da sinergia da coligação. Se as sondagens
se confirmarem, assistiremos a “um corte” de 24% nos partidos que têm governado
em relação aos resultados de 2011. A queda dos partidos da maioria, chefiados
pelos mesmos líderes de há quatro anos, será esmagadora. Bem sei que há o
método de Hondt para apurar mandatos, mas onde irão eles buscar os votos que
lhes faltam para a maioria absoluta?
Quanto ao PS, as sondagens, agora
com António Costa em vez de Sócrates, dão-lhe 35%, mais 7% do que há quatro
anos, isto é, terá um crescimento de 25% . A pergunta é a mesma que se coloca
ao PSD-CDS: o que fará com estes votos, manifestamente insuficientes para
formar um governo maioritário? Os dois partidos que se seguem em percentagem de
votos, CDU e Bloco de Esquerda, subirão, segundo as sondagens, um poucochinho.
Mas a hipótese de os seus votos se somarem aos do PS parece lunática: seria
como um elefante a voar. Há ainda partidos mais pequenos, que, no seu conjunto,
somarão mais do que nas eleições anteriores, mas não parece provável que possam
ajudar a uma maioria quer à direita quer à esquerda.
Falo de sondagens, apesar de
pensar que estão hipervalorizadas pelos media. A evolução diária de sondagens
não tem grande significado já que ninguém muda de opinião de um dia para o
outro e mesmo que alguns, poucos, mudem, as margens de erro impedem a captação
desse fenómeno. Mas creio que elas reflectem tendências do eleitorado na data
em que são feitas. Para além da queda do PSD-CDS em favor do PS, há uma outra
mensagem importante que estão a transmitir: a abstenção não vai diminuir e o
número de votos brancos e nulos vai aumentar. A campanha em vez de convidar à
participação está a afastar os eleitores. Feita de arruadas e comícios, flashes
e soundbvtes, mentiras e mais
mentiras, a campanha pouco está a contribuir para o esclarecimento dos cidadãos.
Os partidos não conseguem sair das bolhas onde há muito se encapsularam.
A seguir às
eleições tem de se pensar na reforma do sistema político, o que passa pela
revisão da lei eleitoral, permitindo a escolha directa de pessoas. Com o nosso
anacrónico sistema eleitoral, dominado pelas máquinas partidárias, muita gente
não se sente representada. No dia 4 de Outubro irei votar para evitar o pior. Estou
com Karl Popper quando ele diz que o mais importante em democracia é controlar
o poder de quem manda e, claro, retirar o poder a quem manda mal. Em 2011 não
tive dúvidas em contribuir para afastar o anterior primeiro-ministro. Agora,
não tenho dúvidas em afastar o seu sucessor. Não é apenas o prejuízo
incalculável que causou à ciência, à educação e à cultura, causas que lhe são
totalmente estranhas, não deixando réstia de esperança aos jovens que se
julgavam no direito de mostrar entre nós o seu talento. É também e sobretudo o seu
extenso rol de tontarias, que seriam o mote de implacáveis farpas, se Eça
andasse por aí. Passos Coelho enganou-nos repetidamente, só para dar um
exemplo, no inacreditável caso BES. Foi ele, antes da “resolução”, que garantiu
que se podia investir nesse banco. Foi ele também que, depois dela, afirmou que
não haveria qualquer prejuízo para os contribuintes. Foi ele ainda que disse
que afinal não vender o Novo Banco era bom, pois o Estado encheria os bolsos de
juros. Finalmente, foi ele que disse, em plena campanha, que ia encabeçar um
peditório para que os lesados pudessem recorrer à justiça a fim de processar não só o banco mas
também provavelmente o Banco de Portugal e o próprio governo (os dois
conluiados no caso). Estou à espera de saber quanto é que ele vai dar do seu
próprio bolso: dez euros, cem euros, mil euros ou dez mil euros? Seja lá quanto
for, o que der não deixará de ser uma medida, ainda que patética, da avaliação
que faz do estado do país. Um governante com vocação para pedinte não merece o
meu voto.
MÊS DA CIÊNCIA DA FUNDAÇÃO
Hoje estive no Museu de Ciência da Universidade de Lisboa a apreesntar o Mês da Ciência da Fundação Francisco Manuel dos Santos. O DN noticiou
http://www.dn.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=4806042
assim como o Observador
http://observador.pt/2015/09/29/ciencia-sobe-ao-palco-tres-atos/
Inscrições para o Encontro de Braga ("Ciência em 3 actos") aqui:
https://www.ffms.pt/conferencia-antes/1154/a-ciencia-em-3-actos
http://www.dn.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=4806042
assim como o Observador
http://observador.pt/2015/09/29/ciencia-sobe-ao-palco-tres-atos/
Inscrições para o Encontro de Braga ("Ciência em 3 actos") aqui:
https://www.ffms.pt/conferencia-antes/1154/a-ciencia-em-3-actos
A VELOCIDADE DA LUZ
Meu artigo de divulgação sobre a luz no último "As Artes entre as Letras":
A luz
viaja a uma extraordinária velocidade à velocidade maior a que se pode viajar:
no vazio, viaja a cerca de 300.000 quilómetros por segundo (km/s), ou, para sermos completamente exactos, a 299.792.458 metros
por segundo. Este valor não vai, em princípio, mudar, por novas medições que se
façam e venham a fazer, pois o metro foi redefinido em 1983 para que a
velocidade da luz dê este valor exacto.
Pode-se
perguntar: mas a luz anda a 300.000 km/s em relação a quê? E a resposta é: em
relação a qualquer observador, qualquer que seja a velocidade a que este se
desloque. Este fenómeno vai contra o nosso senso comum, pois o mais natural
seria pensar que a luz emitida num flash tivesse velocidade diferente para quem
está imóvel relativamente à fonte ou para quem se desloca relativamente à fonte
num comboio, qualquer que seja a velocidade do comboio. O ponto de partido da
teoria da relatividade restrita formulada pelo físico Albert Einstein em 1905
foi precisamente que a velocidade da luz é a mesma para todos os observadores.
E todas as conclusões dessa teoria têm-se revelado de acordo com a experiência.
Por exemplo, uma consequência é que nenhum corpo pode ser mais rápido do que a
luz e, de facto, nunca se conseguiu qualquer transmissão de informação mais
rápida do que a luz. As partículas materiais, com massa maior do que zero,
ficam com massa maior à medida que a sua velocidade aumenta, aproximando-se da
velocidade da luz. E esse aumento tremendo da sua inércia faz com que a
velocidade da luz seja uma barreira inalcançável. Com efeito, só partículas de
massa nula, como os fotões ou “grãos de luz”, podem andar à velocidade da luz.
O valor finito da velocidade da luz tem
consequências óbvias: por exemplo, a luz do luar (luz do Sol reflectida na Lua)
demora cerca de um segundo a chegar à Terra e a luz do Sol demora cerca de
oito minutos. Quer isto dizer que, se o
Sol por qualquer acto mágico se apagasse de repente (o que não vai acontecer,
fique o leitor descansado, porque não há magias dessas; o Sol vai começar a
apagar-se e muito lentamente só daqui a cinco mil milhões de anos), só
saberíamos do apagão oito minutos depois. Seria um apagão fatal pois toda a
vida depende da actividade solar…
O árabe (iraquiano que trabalhou no Egipto) Ibn Al
Haytham, autor há mil anos do primeiro livro de Óptica, já tinha a noção de que
a luz não se propagava instantaneamente. Há cerca de 400 anos, o italiano
Galileu Galilei, um dos grandes nomes da Revolução Científica, teve a ideia de
quantificar o valor da velocidade da luz no ar. Imaginou uma experiência com
duas lanternas no cimo de dois montes, devendo um ligar a sua lanterna logo que
visse a outra ser ligada. A experiência foi feita mais tarde, mas revelou-se
infrutífera. De facto o elevado valor da velocidade da luz, a pequena distância
entre os dois montes e, principalmente, o grande tempo de reacção dos
protagonistas da experiência impossibilitam a extracção de qualquer conclusão quantitativa.
Mas Galileu observou com a sua luneta as luas mais próximas de Júpiter e foi,
na geração seguinte, um astrónomo dinamarquês Olaf Romer a usar as observações
das ocultações dessas luas por Júpiter para extrair um valor para a velocidade
da luz. A sua conclusão baseou-se na comparação de observações desses eclipses das luas quando a Terra, ao
longo do seu percurso anual de translação em volta do Sol, estava mais afastada
e menos afastada de Júpiter. Fazia uma
diferença no tempo dos eventos pois, quando a Terra estava mais longe, a luz
tinha de viajar ao longo de uma maior distância para chegar aos olhos do
astrónomo. No seu livro “Óptica” de há cerca de 300 anos o físico inglês Isaac
Newton usou a velocidade da luz medida por Romer, Outras observações de
carácter astronómico se seguiram já no século XVIII, como as que foram feitas
pelo inglês James Bradley, estas fazendo a observação das estrelas, muito mais
longínquas da Terra do que as luas de Júpiter.
Só a meio do século XIX surgiriam, pela mão de dois
franceses, Hypollite Fizeau e Foucault (o
mesmo do pêndulo de Foucault, que primeiro trabalharam juntos e depois se
separaram, as primeiras medidas da velocidade da luz feitas em laboratório. Fizeau usou uma roda dentada por onde passava
a luz até chegar a um espelho, situado a
cinco quilómetros de distância, e Foucault usou um espelho giratório. De
início, as medidas não eram tão boas
como aquelas feitas a partir da luz dos astros, mas logo se aperfeiçoaram as
técnicas para se obterem valores mais precisos.
Há 150 anos, o escocês James Clerk Maxwell escreveu
quatro equações matemáticas que descreviam todos os fenómenos da electricidade
e do magnetismo. Como esses fenómenos estão relacionados, falamos de
electromagnetismo. Manipulando essas
equações reduziu-as a duas, uma para o chamado campo eléctrico e outra para o
campo magnético (o campo exprime a acção de uma força á distância). A conclusão
foi que essas equações descreviam a propagação de duas ondas, uma do campo
eléctrico e outra do campo magnético, estando as duas associadas: quando surge
uma, surge também a outra. Qual era a velocidade dessa onda? E que onda era
essa? Já se sabia nessa altura que a luz era uma onda, embora não se soubesse
muito bem o que estava a vibrar. Maxwell, comparando o valor da velocidade
comum da propagação dos campos eléctrico e magnético (que tinha sido medido em
fenómenos electromagnéticos) com a velocidade da luz medida por Fizeau notou
imediatamente a extrema proximidade. E não pôde escapar à conclusão de que a
luz era nada mais nada menos do que a propagação dos campos eléctrico e
magnético. Foi, portanto, só há 150 anos que ficámos a saber o que era a luz:
uma onda electromagnética. E ficou aberto o caminho para se produzirem, como
fez o alemão Heinrich Hertz anos volvidos, uma luz com comprimentos de onda
maiores do que aquela que os nossos
olhos consegue captar. Chamamos-lhe ondas de rádio e hoje estão por todo o
lado.
Melhores medidas da velocidade da luz foram
realizadas no início do século XX, como por exemplo as que foram realizadas
pelos físicos norte-americanos Michelson e Morley com um instrumento chamado
interferómetro. Basicamente esse aparelho permite a interferência de duas ondas
de luz que seguem percursos distintos. Uma famosa experiência deles está na
base da teoria da relatividade restrita de Einstein. Talvez a genial intuição
de Einstein tivesse sido mais motivada por considerações teóricas, mas o certo
é que a experiência de Michelson-Morley que mostra que a velocidade da luz é a
mesma quer na direcção do movimento da translação da Terra quer numa direcção
perpendicular a essa.
Novos métodos haveriam de ser propostos para medir a
velocidade da luz até se alcançar um valor mais preciso no ano de 1983, como a
velocidade resulta de uma razão entre o espaço e o tempo, foi decidido, por
convenção internacional, fixar o metro como a distância percorrida pela
luz em 1/ 299.792.458 do segundo. A
menos que se mude essa convenção, não faz mais sentido medir a velocidade da
luz.
terça-feira, 29 de setembro de 2015
ÁGUA SALGADA EM MARTE?! NÃO, "SÓ" SAIS HIDRATADOS!
Crónica primeiramente publicada na imprensa regional portuguesa.
No planeta vermelho, no Verão escorre água muito salgada pelas encostas de algumas regiões da superfície de Marte!
Esta é a proposta hipotética de uma equipa de cientistas liderados por Alfred McEwen, investigador principal da Experiência Científica de Imagens de Alta Resolução, um aparelho que pertence à Mars Reconnaissance Orbiter — a sonda da NASA que está a orbitar Marte desde 2006 – e que forneceu os dados que suportam a afirmação da eventual existência de água líquida salgada em Marte.
O impacto mediático desta descoberta foi enorme à escala planetária terrestre. A água é indissociável ao desenvolvimento e suporte da vida no nosso planeta, o único que conhecemos em que existe vida, como a nossa. A descoberta de movimentos de água no planeta vizinho, mesmo que associada a sais, alimenta a ideia, não nova, da possibilidade de a vida ter pelo menos existido alguma vez no passado em Marte. Mas isto continua a ser uma hipótese que precisa de dados e evidências experimentais.
Muitas teorias têm sido propostas nos últimos séculos sobre a existência de água em Marte. A mais famosa e a que mais alimentou a imaginação e ficção sobre a possibilidade de existência de vida, inclusive inteligente, em Marte, foi a elaborada pelo astrónomo amador norte-americano Percival Lowell no final do século XIX. No seu livro “Mars”, publicado em 1895, Lowell apresenta a ideia da presença de uma rede de irrigação para distribuir os escassos recursos hídricos de Marte. Baseado em observações telescópicas da superfície de Marte, Lowell propõe uma dinâmica para o fluxo de água a partir de calotas polares modelado pelas estações marcianas. Chega mesmo a escrever: “há água na superfície de Marte. Mas podemos também assinalar este corpo de água como efémero. Existe apenas quando as calotas polares derretem e, subitamente, desaparecem.”
Vemos, assim, que a ideia de existir água em Marte e de ela ser escassa não é nova. Mas o que agora é novo é o ter sido identificada científica e experimentalmente. Num artigo publicado no dia 28 de Setembro de 2015 na revista “Nature Geoscience”, que tem como primeiro autor Lujendra Ojha, os cientistas da experiência já referida apresentam os resultados das análises espectrais em estrias escuras presentes em colinas e vertentes na superfície de Marte, descobertas em 2011. Estas estrias surgem e desaparecem de forma cíclica todos os anos. “As nossas descobertas apoiam fortemente a hipótese de que as linhas que aparecem periodicamente em encostas se formam devido à actividade contemporânea de água em Marte”, lê-se no resumo do artigo.
A equipa de cientistas usou os dados obtidos naquelas estrias por um potente espectrómetro de imagem presente na sonda “Mars Reconnaissance Orbiter”. Este equipamento analisou a luz reflectida naquelas estrias escuras e identificou as substâncias nelas existentes. Os dados obtidos suportam a existência de certo tipo de sais hidratados. Os sais deverão ser uma mistura de cloreto de magnésio, perclorato de magnésio, e perclorato de sódio. A presença destes sais hidratados dever-se-á à sua precipitação a partir de água líquida, muito salgada, existente durante as horas mais quentes dos dias de Verão, propõem os cientistas naquele artigo.
Mas como pode haver água no estado líquido em Marte se a sua temperatura média ronda os 63 graus Celsius negativos? Sabemos que quando há sais dissolvidos na água, baixa a temperatura a que esta passa do estado líquido para o sólido (aliás, certas espécies de vida na Terra usam este estratagema para conseguirem manter a água no estado líquido a temperaturas inferiores a 0 graus Celsius). Os cientistas calculam que, com certas substâncias, a água congelada funde-se aos 70 graus negativos. Assim, torna-se compreensível a possibilidade de poder existir água no estado líquido em Marte, na estação mais quente e nas zonas mais equatoriais. O que pode explicar os dados agora publicados.
Mas, atenção: os cientistas não detectaram realmente água líquida em Marte, mas sim sinais de sais hidratados que podem dever-se à existência de soluções salinas aquosas em algumas alturas do ano marciano.
Contudo, esta descoberta vem direcionar as futuras investigações sobre a possibilidade de a vida existir ou ter existido alguma vez em Marte, para estas zonas estriadas escuras da superfície marciana.
Muito a propósito deste contexto marciano, refiro a publicação entre nós no passado mês de Junho de 2015 do livro “Os Marcianos somos nós”, de Nuno Galopim. Publicado na prestigiada colecção “Ciência Aberta” da editora Gradiva, este é um livro indispensável para quem quiser obter uma imagem completa sobre Marte, da ciência à literatura, da banda desenhada ao cinema. Uma viagem pelo imaginário marciano que há em todos nós.
António Piedade
No planeta vermelho, no Verão escorre água muito salgada pelas encostas de algumas regiões da superfície de Marte!
Esta é a proposta hipotética de uma equipa de cientistas liderados por Alfred McEwen, investigador principal da Experiência Científica de Imagens de Alta Resolução, um aparelho que pertence à Mars Reconnaissance Orbiter — a sonda da NASA que está a orbitar Marte desde 2006 – e que forneceu os dados que suportam a afirmação da eventual existência de água líquida salgada em Marte.
O impacto mediático desta descoberta foi enorme à escala planetária terrestre. A água é indissociável ao desenvolvimento e suporte da vida no nosso planeta, o único que conhecemos em que existe vida, como a nossa. A descoberta de movimentos de água no planeta vizinho, mesmo que associada a sais, alimenta a ideia, não nova, da possibilidade de a vida ter pelo menos existido alguma vez no passado em Marte. Mas isto continua a ser uma hipótese que precisa de dados e evidências experimentais.
Muitas teorias têm sido propostas nos últimos séculos sobre a existência de água em Marte. A mais famosa e a que mais alimentou a imaginação e ficção sobre a possibilidade de existência de vida, inclusive inteligente, em Marte, foi a elaborada pelo astrónomo amador norte-americano Percival Lowell no final do século XIX. No seu livro “Mars”, publicado em 1895, Lowell apresenta a ideia da presença de uma rede de irrigação para distribuir os escassos recursos hídricos de Marte. Baseado em observações telescópicas da superfície de Marte, Lowell propõe uma dinâmica para o fluxo de água a partir de calotas polares modelado pelas estações marcianas. Chega mesmo a escrever: “há água na superfície de Marte. Mas podemos também assinalar este corpo de água como efémero. Existe apenas quando as calotas polares derretem e, subitamente, desaparecem.”
Vemos, assim, que a ideia de existir água em Marte e de ela ser escassa não é nova. Mas o que agora é novo é o ter sido identificada científica e experimentalmente. Num artigo publicado no dia 28 de Setembro de 2015 na revista “Nature Geoscience”, que tem como primeiro autor Lujendra Ojha, os cientistas da experiência já referida apresentam os resultados das análises espectrais em estrias escuras presentes em colinas e vertentes na superfície de Marte, descobertas em 2011. Estas estrias surgem e desaparecem de forma cíclica todos os anos. “As nossas descobertas apoiam fortemente a hipótese de que as linhas que aparecem periodicamente em encostas se formam devido à actividade contemporânea de água em Marte”, lê-se no resumo do artigo.
A equipa de cientistas usou os dados obtidos naquelas estrias por um potente espectrómetro de imagem presente na sonda “Mars Reconnaissance Orbiter”. Este equipamento analisou a luz reflectida naquelas estrias escuras e identificou as substâncias nelas existentes. Os dados obtidos suportam a existência de certo tipo de sais hidratados. Os sais deverão ser uma mistura de cloreto de magnésio, perclorato de magnésio, e perclorato de sódio. A presença destes sais hidratados dever-se-á à sua precipitação a partir de água líquida, muito salgada, existente durante as horas mais quentes dos dias de Verão, propõem os cientistas naquele artigo.
Mas como pode haver água no estado líquido em Marte se a sua temperatura média ronda os 63 graus Celsius negativos? Sabemos que quando há sais dissolvidos na água, baixa a temperatura a que esta passa do estado líquido para o sólido (aliás, certas espécies de vida na Terra usam este estratagema para conseguirem manter a água no estado líquido a temperaturas inferiores a 0 graus Celsius). Os cientistas calculam que, com certas substâncias, a água congelada funde-se aos 70 graus negativos. Assim, torna-se compreensível a possibilidade de poder existir água no estado líquido em Marte, na estação mais quente e nas zonas mais equatoriais. O que pode explicar os dados agora publicados.
Mas, atenção: os cientistas não detectaram realmente água líquida em Marte, mas sim sinais de sais hidratados que podem dever-se à existência de soluções salinas aquosas em algumas alturas do ano marciano.
Contudo, esta descoberta vem direcionar as futuras investigações sobre a possibilidade de a vida existir ou ter existido alguma vez em Marte, para estas zonas estriadas escuras da superfície marciana.
Muito a propósito deste contexto marciano, refiro a publicação entre nós no passado mês de Junho de 2015 do livro “Os Marcianos somos nós”, de Nuno Galopim. Publicado na prestigiada colecção “Ciência Aberta” da editora Gradiva, este é um livro indispensável para quem quiser obter uma imagem completa sobre Marte, da ciência à literatura, da banda desenhada ao cinema. Uma viagem pelo imaginário marciano que há em todos nós.
António Piedade
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
Östen Sjöstrand
A Nova Ciência
Neutrões, fotões, protões…subitamente
com a mudança do comprimento de onda (no rádio-telescópio):
os discos crescentes do sol e da lua. Subitamente
inclina-se sobre as galáxias fugidias,
o prisma das cores. Numa visão fantasmagórica
contempla os seus próprios pensamentos, a imagem
do seu próprio rosto
quase esquecido!
Pensa que está pensando…Pensa
na matéria em que se tecem a realidade e os sonhos –
Olha: o fumo eleva-se sobre a cidade. Os homens
levantam-se das suas mesas de almoço e de trabalho…
O cansaço e as misérias do dia dissolvem-se no ar,
ar pobre –
Como uma violenta rajada de vento
que agita os pensamentos e fórmulas da época
(as simples e as complexas) ouve
a voz quase negada quase esquecida –
Em palavras que (sobretudo) parecem grãos de areia,
e quanta de luz, ele intui os caminhos luminosos
Da visão interior, a humana esperança. E vislumbra,
quando a sua imagem se quebra no espelho,
a silhueta que se vai apagando
de si mesmo, o-que-traz-auxílio, o Amigo…
A arquitectura de uma nova época não nos protegerá
da escuridão dos desertos cósmicos…
Ouçam: pássaros exilados
gritam sobre a cidade. Soam as sirenes
no outro lado do rio. Na metade obscura da terra
os homens dirigem-se apressados para o turno da noite,
sintonizam os seus rádios-telescópios, ajustam o comprimento
de onda,
buscam a nova fórmula da estrutura eléctrica e magnética do
neutrão.
Enquanto contempla os seus amigos, pensa:
nas partículas elementares da luz, no sol da noite.
Tradução: Casimiro de Brito
Livro: Vinte e um poetas suecos
Editora: Vega
Ano:1987
domingo, 27 de setembro de 2015
"Reprodução"
Vale a pena ler uma entrevista de Isabel Lucas a Bernardo Carvalho, saída há dois dias no jornal Público (aqui).
Bernardo Carvalho escreveu um livro cujo título é Reprodução e que diz ser "uma reacção a este mundo que privilegia o discurso único, a leitura de primeiro grau, sem ironia nem imaginação, a ideia de que existe uma verdade num meio que parece absolutamente democrático, quando a democracia tem pouco a ver com absolutos".
Localizado no presente, o seu centro é uma reflexão sobre a comunicação, os meios de suporte privilegiados (com destaque para a internet) e as relações que daí decorrem. A tendência, defende, é a reprodução, sem mais.
Dessa interessantíssima entrevista destaco vários passos.
Bernardo Carvalho escreveu um livro cujo título é Reprodução e que diz ser "uma reacção a este mundo que privilegia o discurso único, a leitura de primeiro grau, sem ironia nem imaginação, a ideia de que existe uma verdade num meio que parece absolutamente democrático, quando a democracia tem pouco a ver com absolutos".
Localizado no presente, o seu centro é uma reflexão sobre a comunicação, os meios de suporte privilegiados (com destaque para a internet) e as relações que daí decorrem. A tendência, defende, é a reprodução, sem mais.
Dessa interessantíssima entrevista destaco vários passos.
"Acabei reconhecendo em pessoas que abomino, em discursos que odeio, coisas com as quais concordo. Acontece ouvir alguém, estar de acordo e acompanhar o discurso, acreditando que é bom, e de repente dar-me conta de que quem falava era um representante da extrema-direita, por exemplo. Essa mobilidade dos discursos, o terem saído do lugar de conforto no qual eu podia reconhecê-los, inquieta-me. O livro vem do desconforto de não saber como me posicionar politicamente nesse mundo actual"
"Questiona-se a autoridade do jornal porque tem na origem um interesse económico preciso. A ideia é que a Internet pulveriza essa autoridade dos media, o que parece bom, dá um sentido de democratização à informação, mas perdem-se noções de hierarquia, padrões, modelos, e é difícil estabelecer qualquer tipo de diálogo se não houver um parâmetro… Esses parâmetros perderam-se na barafunda de opiniões e de informações e acreditamos em absolutamente tudo o que se publica na Internet. Tudo o que surge na Internet vira facto. Talvez isso estivesse nos media, mas lá há mediação, uma auto-censura que não permitia reproduzir qualquer coisa. Isso põe muitas coisas em causa, sobretudo a ideia da verdade, é como se fosse uma segunda natureza.
"Acredito que, de alguma forma, se pode chegar à verdade por meio da literatura e da ficção literária. Acho que a verdade só pode ser alcançada de uma maneira indirecta, transversal, mediada, e vejo a literatura como uma forma de reflexão muito sofisticada. Uma forma não só de retratar a realidade, ou de ser reflexo da realidade, mas também de aceder à verdade. Com a Internet isso foi pelo ar, não há ironia na Internet. É sempre um discurso de primeiro grau. Cria leitores iletrados para a literatura, para a ironia, para a reflexão.
"(A Internet muda o leitor?) Muda, mas para um leitor mais burro e mais violento. É o mesmo leitor que não suporta ver uma caricatura do profeta Maomé, que a ficção possa ser uma reflexão sobre a realidade e não a própria realidade. Acho assustador esse leitor que a Internet incentiva, sem instrumentos para entender a ironia e o distanciamento. A ideia de romance que defendo é uma resistência a essa facilidade, a essa naturalidade da Internet. O romance, como o entendo, é um instrumento de guerra contra a percepção naturalista do texto em geral, como se a letra fosse necessariamente a verdade e não uma reflexão sobre o mundo."
sábado, 26 de setembro de 2015
Línguas e culturas clássicas "regressam" em força à escola
Depois de quase extintas no sistema educativo público português, as línguas e culturas clássicas estão a recuperar o lugar que lhes cabe tanto no ensino básico como no ensino secundário.
O Ministério da Educação e Ciência abriu a possibilidade às escolas de integrarem na sua proposta curricular uma componente designada por "Introdução à Cultura e Línguas Clássicas" nos três ciclos do ensino básico. Também recomendou a abertura, como opção, do Latim e do Grego no ensino secundário.
Cabia aos professores e aos directores a concretização dessa proposta e dessa recomendação.
Nas mais difícies condições (restrição de tempo, iniciação de um trabalho novo, desconhecimento da reacção da comunidade...), muitos directores e professores deram, durante Junho/Julho, um passo em frente, de modo que neste Setembro, passados dois meses, temos a "Introdução à Cultura e Línguas Clássicas" em muitas escolas do continente e das ilhas, na forma que foi possível encontrar (disciplina, clube, projecto, tema de biblioteca...). Temos também mais turmas de Latim e de Grego.
Dado que muitos professores de Clássicas se aposentaram enquanto esta área definhava e poucos jovens entraram no sistema, temos, também, a inciar-se uma acção de formação contínua que acompanhará aqueles que entendem necessitar de suporte para leccionar "Introdução à Cultura e Línguas Clássicas" ou que se preparam para a leccionar.
Em suma, apesar de ainda não conhecemos "os números", os dados dispersos que vamos recolhendo fazem-nos crer que o título do Diário de Coimbra de 22 deste mês está certo; é um "regresso" em força da Cultura e Línguas Clássicas à escola pública.
O Ministério da Educação e Ciência abriu a possibilidade às escolas de integrarem na sua proposta curricular uma componente designada por "Introdução à Cultura e Línguas Clássicas" nos três ciclos do ensino básico. Também recomendou a abertura, como opção, do Latim e do Grego no ensino secundário.
Cabia aos professores e aos directores a concretização dessa proposta e dessa recomendação.
Nas mais difícies condições (restrição de tempo, iniciação de um trabalho novo, desconhecimento da reacção da comunidade...), muitos directores e professores deram, durante Junho/Julho, um passo em frente, de modo que neste Setembro, passados dois meses, temos a "Introdução à Cultura e Línguas Clássicas" em muitas escolas do continente e das ilhas, na forma que foi possível encontrar (disciplina, clube, projecto, tema de biblioteca...). Temos também mais turmas de Latim e de Grego.
Dado que muitos professores de Clássicas se aposentaram enquanto esta área definhava e poucos jovens entraram no sistema, temos, também, a inciar-se uma acção de formação contínua que acompanhará aqueles que entendem necessitar de suporte para leccionar "Introdução à Cultura e Línguas Clássicas" ou que se preparam para a leccionar.
Em suma, apesar de ainda não conhecemos "os números", os dados dispersos que vamos recolhendo fazem-nos crer que o título do Diário de Coimbra de 22 deste mês está certo; é um "regresso" em força da Cultura e Línguas Clássicas à escola pública.
sexta-feira, 25 de setembro de 2015
quinta-feira, 24 de setembro de 2015
Depoimento sobre a ciência de hoje
Chamaram-me a atenção para este depoimento de um neurocientista da Duke University que deixou voluntariamente de o ser no Facebook:
This week, I resigned from my position at Duke University with no intent to solicit employment in state-funded academic research positions in any foreseeable future. Many reasons have motivated this choice, starting with personal ones: I will soon be a father and want to be spending time with my son at home.
Other reasons have to do with research academia itself. Throughout the years, I have been discovering more and more of the inner workings of academia and how modern scientific research is done and I have acquired a certain degree of discouragement in face of what appears to be an abandonment by my research community of the search for knowledge. I found scientists to be more preoccupied by their own survival in a very competitive research environment than by the development of a true understanding of the world.
By creating a highly-competitive environment that relies on the selection of researchers based on their "scientific productivity," as it is referred to, we have populated the scientific community with what I like to call "chickens with no head," that is, researchers who can produce multiple scientific articles per year, none of which with any particularly important impact on our understanding of the world. Because of this, science is moving forward similarly to how a headless chicken walks, with no perceivable goal.
(...)
Ler mais aqui:
https://www.facebook.com/jfgariepyneuro/posts/466442776860755?fref=nf&pnref=story
Excelência, diz a FCT
Numa carta aberta à FCT dois excelentes físicos (a palavra está mal gasta pela FCT, mas ainda um dia vai entre nós recuperar o significado primitivo) dão, hoje no Público, mais um testemunho do estado lamentável a que o actual governo conduziu a ciência nacional. Vitor Cardoso e Carlos Herdeiro têm toda a razão, mas esquecem-se de uma coisa: a actual presidente interina só lá está para continuar a razia que Miguel Seabra iniciou, com o beneplácito de Nuno Crato e Pedro Passos Coelho. A actual FCT é medíocre e serve a mediocridade.
"Carta aberta à Presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Professora Doutora Maria Arménia Carrondo.
Celebra-se este ano o centenário da Relatividade Geral, a teoria física-matemática que Albert Einstein concebeu para descrever as Leis da Gravitação e apresentou em 1915, universalmente reconhecida como um dos maiores feitos do pensamento humano.
Ao longo destes 100 anos, a Relatividade Geral tem tido um impacto incrível no entendimento do Universo. Para além disso, a sua natureza conceptual, alicerçada em perspectivas revolucionárias de espaço e tempo, tratando situações físicas enigmáticas como os buracos negros ou o "Big Bang", tem inspirado a literatura, o cinema, a arte, e alavancado a tecnologia (sendo o exemplo mais notório o GPS, que seria impossível sem a correta aplicação da física relativista).
Mistérios como a natureza da matéria e energia escuras – que constituem mais de ¾ do Cosmos, bem como interrogações sobre que tipo de incríveis objectos existem no centro de quase todas as galáxias e originam as maiores luminosidades do Universo, são alguns dos exemplos que têm levado a comunidade internacional a tentar entender profundamente as complexas equações da Relatividade Geral. Deste empreendimento global têm resultado excitantes desenvolvimentos teóricos, que avançam em paralelo com enormes esforços experimentais para obter novos e mais precisos dados observacionais. Estes são alguns dos problemas científicos mais importantes da actualidade, cuidadosamente discutidos nos últimos relatórios da NASA e da ESA.
Enquadrada neste esforço internacional, a Ciência feita em Portugal tem conseguido destaque e liderança. Eis exemplos concretos: - Duas bolsas do European Research Council (ERCs) foram dadas a um grupo baseado em Portugal nesta área. É (provavelmente) caso único na Europa; - Duas bolsas da União Europeia para intercâmbio de investigadores entre Portugal, Espanha, Inglaterra, França, Itália, Brasil, EUA, Japão e Canadá. - De acordo com um estudo recente da Scientific American, o artigo original mais citado dos 2435 artigos colocados online em Gravitação e Cosmologia, em 2014, é uma investigação integralmente feita numa Universidade Portuguesa;
Vários estudos mostram que a Física e as Ciências do Espaço são das disciplinas científicas mais desenvolvidas em Portugal, situando-se até em patamares superiores à média europeia. Parcialmente motivada por esta crescente relevância internacional da ciência feita em Portugal nesta área, a comunidade de Relativistas portugueses formou recentemente a "Sociedade Portuguesa de Relatividade Geral e Gravitação”.
Apesar desta inequívoca excelência segundo os padrões internacionais, para nosso grande desalento, constatámos que a FCT decidiu desapoiar a investigação em ciência fundamental teórica, em particular nesta área. Em concreto, das dezenas de candidaturas submetidas ao concurso de Projectos de IC&DT em todos os Domínios Científicos 2014 em física teórica, e cujos resultados foram divulgados durante o mês de Agosto de 2015, nenhum foi aprovado. Esta situação contrasta marcadamente com o apoio da FCT a outras áreas científicas, onde se constata, por exemplo, que uma instituição (privada) [1] na área das ciências biomédicas em Portugal teve mais de 70% dos seus projetos submetidos aprovados no mesmo concurso.
Será que afinal a física teórica em Portugal não é excelente? Bom, o veredicto depende dos avaliadores, e claro está, do orçamento que a FCT destina a cada área. Dado que dezenas de avaliadores da área (incluindo, por exemplo, prémios Dirac e Nobel) já a carimbaram como excelente em várias avaliações (repetimos, duas ERC para física teórica, duas bolsas europeias IRSES e RISE, etc), o resultado da física teórica no concurso da FCT e em particular da área da Gravitação, pode apenas ser interpretado como sendo consequente ou de uma opção política da FCT - não assumida nem divulgada – ou de uma falta de cuidado na condução dos concursos.
Constatámos, por exemplo, que no concurso de Projetos de IC&DT em todos os Domínios Científicos 2014, o painel de avaliação na área da Física não tinha qualquer membro com background teórico, nem em gravitação/astrofísica ou cosmologia, nem em física de altas energias. Constatámos também que na área da astrofísica apenas uma instituição teve projectos aprovados. Isto não é normal. E sobretudo não é normal, nem tão-pouco ético que, coincidentalmente, um dos membros do painel de avaliação (o único vagamente relacionado com a área) tenha sido durante anos membro conselheiro dessa mesma instituição. Constatámos ainda que as próprias directivas da FCT continham explicitamente na avaliação um item designado a auferir o potencial económico da proposta. Em áreas como a física teórica ou a matemática é perverso e vai contra toda a história da ciência ter que mostrar um potencial económico. Obrigar a Ciência a guiar-se por uma perspectiva economicista é amordaçá-la. Essa visão fará sentido na tecnologia, mas não na ciência. Por trás dos avanços tecnológicos está a ciência pura e desinteressada. Foi a busca da constituição do átomo, sem fim económico aparente, que nos deu o CERN e eventualmente a internet. E foi também a lei da gravitação que permitiu que o homem fosse à Lua, o que nos deu filtros de água, implantes auditivos, bombas de insulina...
Como noticiado pelo Público em 12 de Setembro de 2015 a propósito do concurso referido, “Nunca tanto dinheiro foi distribuído por tão poucos projetos científicos”. Pois é. Os supostos excelentes recebem tudo e os outros nada. Uma política sensata quando existe um claro diferencial de qualidade entre uns e outros, mas injusta e insensata quando esse diferencial é obviamente inexistente e a ordenação é, no mínimo, discutível. Na prática, o que se verifica é que depois da assumida pose pública da FCT enfatizando o mérito e a excelência, equipas com nítida excelência, viram recusadas as propostas de (modesto) financiamento.
Gostaríamos de recordar a V.Exa. que os benefícios de investir em ciência fundamental, sem retorno imediato -- seja ele financeiro ou tecnológico -, são sobejamente conhecidos. Sem esse investimento a inovação deixa de existir. O relatório do comité de acompanhamento da presidência Obama no Estados Unidos chama a atenção para que (citamos livremente o relatório) "A Ciência, a Tecnologia, a Engenharia e a Matemática são fundamentais para determinar as nações líderes nos desafios em áreas como a energia, a saúde, a proteção ambiental, a segurança nacional, entre muitos outros. Um bom investimento em ciência garante que o país continue a realizar descobertas fundamentais que aprofundem o conhecimento de nós mesmos, do nosso planeta e do nosso Universo. O ensino da ciência fornece as ferramentas técnicas e a literacia necessária para um indivíduo tomar decisões informadas sobre si próprio, sobre a família e sobre a comunidade. E fortalece ainda a democracia, preparando todos para tomarem decisões informadas num mundo cada vez mais tecnológico."
Como coordenadores de dois dos maiores grupos de gravitação do país, vimos desta forma apelar à Presidente da FCT para que não deixe morrer a investigação em ciência fundamental, e em particular nesta área da gravitação, no momento em que celebramos o seu centenário. Pedimos que a FCT institua uma política científica e de excelência na elaboração do orçamento, na distribuição do orçamento, na constituição dos paineis de avaliação e no Conselho da própria FCT. É o nosso desejo que a que FCT institua, no seu seio, a política de excelência que diz exigir à comunidade que serve.
[1] a fundação pública para a ciência “doou”, neste momento de crise, uma fracção do seu orçamento para instituições privadas milionárias.
Vitor Cardoso
Instituto Superior Técnico, Coordenador do Grit, Grupo de Gravitação do Instituto Superior Técnico
Carlos Herdeiro
Coordenador do Gr@v, Grupo de Gravitação da Universidade de Aveiro"
Dignidade para quem trabalha
Texto que recebi de Miguel Gonçalves, docente do Instituto Politécnico de Coimbra. Fica o apelo aos partidos para que digam o que vão fazer, caso venham a estar no governo.
Venho por mais este meio chamar a atenção para a questão da directiva comunitária 1999/CE/70 e dos contratos por tempo indeterminado. Muitos docentes do ensino superior público encontram-se a contrato há mais de 10 anos, muitos com cerca de 20 anos ininterruptos, sempre na mesma instituição de ensino superior público. Docentes e investigadores com mais de 10 anos, por exemplo, estão a preencher necessidades permanentes. Por este motivo, estes docentes e investigadores têm direito a um contrato por tempo indeterminado.
Faço notar que não estou a colocar em cima da mesa a questão do acesso à carreira. Essa é uma dimensão diferente do problema, porque aí o doutoramento ( PhD) é condição determinante. Apenas solicito a ponderação sobre esta questão: um contrato por tempo indeterminado para quem tem mais de 10 anos de serviço ininterrupto no ensino superior público (e no sector da ciência, também).
Poderia, talvez, a isto adicionar-se a questão de, em paralelo, esses docentes serem Mestres (pré-Bolonha, evidentemente) e terem também um CV académico relevante. E mais uma prova pública, claro (provas públicas de aptidão pedagógica e científica). Não integrariam a carreira, mas teriam mais estabilidade. Esta proposta não tem impacto orçamental, porque os docentes e investigadores já estão no sistema e permaneceriam no mesmo escalão e na mesma categoria profissional.
Trata-de de uma proposta que vai ao encontro da valorização do trabalho e dignidade para quem trabalha e, acrescento, o direito ao emprego.
Este é o momento privilegiado para os partidos candidatos à Assembleia da República se pronunciarem.
Miguel Gonçalves
ISCA de COIMBRA
Venho por mais este meio chamar a atenção para a questão da directiva comunitária 1999/CE/70 e dos contratos por tempo indeterminado. Muitos docentes do ensino superior público encontram-se a contrato há mais de 10 anos, muitos com cerca de 20 anos ininterruptos, sempre na mesma instituição de ensino superior público. Docentes e investigadores com mais de 10 anos, por exemplo, estão a preencher necessidades permanentes. Por este motivo, estes docentes e investigadores têm direito a um contrato por tempo indeterminado.
Faço notar que não estou a colocar em cima da mesa a questão do acesso à carreira. Essa é uma dimensão diferente do problema, porque aí o doutoramento ( PhD) é condição determinante. Apenas solicito a ponderação sobre esta questão: um contrato por tempo indeterminado para quem tem mais de 10 anos de serviço ininterrupto no ensino superior público (e no sector da ciência, também).
Poderia, talvez, a isto adicionar-se a questão de, em paralelo, esses docentes serem Mestres (pré-Bolonha, evidentemente) e terem também um CV académico relevante. E mais uma prova pública, claro (provas públicas de aptidão pedagógica e científica). Não integrariam a carreira, mas teriam mais estabilidade. Esta proposta não tem impacto orçamental, porque os docentes e investigadores já estão no sistema e permaneceriam no mesmo escalão e na mesma categoria profissional.
Trata-de de uma proposta que vai ao encontro da valorização do trabalho e dignidade para quem trabalha e, acrescento, o direito ao emprego.
Este é o momento privilegiado para os partidos candidatos à Assembleia da República se pronunciarem.
Miguel Gonçalves
ISCA de COIMBRA
Amanhã "A Ciência e a Arte da Luz" em Coimbra
Na próxima 6ª feira, dia 25 de Setembro, realiza-se a 10ª Noite Europeia dos Investigadores.
No âmbito do Ano Internacional da Luz, o RÓMULO Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra, localizado no Departamento de Física, dá início ao programa NEI 2015, a partir das 18h, com o Debate sobre´
"A Ciência e a Arte da Luz"
À semelhança dos anos anos anteriores, o objectivo do RÓMULO é reunir
autores de livros de divulgação científica com leitores promovendo
assim a grande finalidade europeia desta iniciativa: a aproximação da
ciência com a população em geral.
São convidados para o Debate dois físicos, um astrofísico e um arquitecto:
Luís Miguel Bernardo, da Universidade do Porto - Autor de "Histórias da luz e das cores", da Editora da Universidade do Porto.
José Tito de Mendonça, do Instituto Superior Técnico (IST) de Lisboa - Autor de "Uma biografia da luz", da Editora Gradiva.
Orfeu Bertolami, da Universidade do Porto - Autor de "O livro das escolhas cósmicas", da Gradiva.
Pedro Providência, Arquitecto - Autor de "A cor do centro histórico de Coimbra", da Imprensa da Universidade de Coimbra.
A sessão será moderada pelo Director do RÓMULO, Professor Carlos Fiolhais. Com
entrada livre, a sessão é aberta ao público em geral e, em especial,
aos mais curiosos que estabelecerão o diálogo com os convidados, num
ambiente descontraído que já é habitual neste dia que, em toda a Europa,
será de ciência para toda a gente.
Mais informações:
Facebook do Rómulo - https://www.facebook.com/events/1029837300384565/
Universidade de Coimbra - http://noticias.uc.pt/universo-uc/esta-de-volta-a-noite-europeia-dos-investigadores/
Não obstante, a praxe "violenta e abusiva" persiste
Imagem colhida aqui |
A praxe consistia em enterrar os jovens na areia próximo da água de forma a que pudessem estar imobilizados enquanto lhe eram dadas, à boca, bebidas alcoólicas.
A jovem (...) teve de ser transportada de ambulância para o Centro Hospitalar (...) é estudante do primeiro ano do curso de Biologia (...) «Espumava pela boca e perdeu os sentidos»
«A minha mãe viu cerca de 20 jovens enterrados na areia, imobilizados, sem conseguirem mexer os braços».
Nas imediações, nos caixotes do lixo, eram visíveis dezenas de garrafas de bebidas alcoólicas.
Extracto do Diário de Notícias de hoje.
No passado ano o Parlamento aprovou uma recomendação onde se declarava "tolerância zero à praxe violenta e abusiva". Saiu em Diário da República (Resolução 24/2014, de 17 de Março).
Assembleia da República resolve, nos termos do n.º 5 do artigo 166.º da Constituição, recomendar ao Governo que:
1 - Pondere, no âmbito do grupo de trabalho criado com as instituições de ensino superior e as associações representativas dos estudantes, a realização de uma campanha institucional de sensibilização pela "tolerância zero à praxe violenta e abusiva".
2 - Incentive e promova a articulação entre as várias redes já existentes nas diferentes instituições de ensino superior e associações académicas, de apoio e informação aos estudantes, como são exemplo os gabinetes de psicologia, os gabinetes de acolhimento de novos alunos ou os gabinetes de apoio aos estudantes, nomeadamente através da partilha de boas práticas destes gabinetes.
3 - Desenvolva esforços para garantir que as instituições de ensino superior e as associações académicas e de estudantes, sem prejuízo da autonomia universitária, promovam uma ação pedagógica que defenda a liberdade dos estudantes de escolher participar ou não na praxe e que reforce os mecanismos de responsabilização e de denúncia às autoridades competentes de qualquer prática violenta e abusiva.
quarta-feira, 23 de setembro de 2015
HANS ROSLING NO TEATRO NACIONAL D. MARIA II
R
Recomendo a extraordinária conferência (em pportuguês!) do famoso médico sueco Hans Rosling organizada oela Fundação Francisco Manuel dos Santos a propósito do 5.º aniversário da PORDATA.
Recomendo a extraordinária conferência (em pportuguês!) do famoso médico sueco Hans Rosling organizada oela Fundação Francisco Manuel dos Santos a propósito do 5.º aniversário da PORDATA.
terça-feira, 22 de setembro de 2015
“Duetos - 8 assaltos" em Coimbra
Informação chegada ao De Rerum Natura.
“Duetos - 8 assaltos", peça de teatro do dramaturgo espanhol Alfonso Vallejo, reúne um conjunto de textos para dois atores que, em tom muitas vezes desconcertante e bizarro, abordam problemas sociais da atualidade: o desemprego, a crise económica, a perda da dignidade e o suicídio, a violência… Os oito assaltos de Duetos são encontros de desencontros, escombros de homens e mulheres e das suas relações, sequelas de desastres, feridas abertas na face desfigurada do mundo.
Com encenação de João Paulo Janicas, a Cooperativa Bonifrates estreou esta peça em março passado, no âmbito da 17.ª semana Cultural da Universidade de Coimbra, e repõe-na agora na sua sala-estúdio, na Casa Municipal da Cultura de Coimbra, às quartas e sextas-feiras, pelas 21h45, a partir de 25 de setembro.
Representações, nos dias 25 e 30 de setembro; 2, 7, 9, 14 e 16 de outubro.
A reserva de bilhetes pode ser feita através do email bonifratesbilheteira@gmail.com ou pelo telefone 966926341.
Os preços dos bilhetes são os seguintes: NORMAL – 7 €; ESTUDANTES, + 65 ANOS e PROTOCOLOS – 5 €; CLUBE DE AMIGOS e GRUPOS (+ 10) – 4 €.
“Duetos - 8 assaltos", peça de teatro do dramaturgo espanhol Alfonso Vallejo, reúne um conjunto de textos para dois atores que, em tom muitas vezes desconcertante e bizarro, abordam problemas sociais da atualidade: o desemprego, a crise económica, a perda da dignidade e o suicídio, a violência… Os oito assaltos de Duetos são encontros de desencontros, escombros de homens e mulheres e das suas relações, sequelas de desastres, feridas abertas na face desfigurada do mundo.
Com encenação de João Paulo Janicas, a Cooperativa Bonifrates estreou esta peça em março passado, no âmbito da 17.ª semana Cultural da Universidade de Coimbra, e repõe-na agora na sua sala-estúdio, na Casa Municipal da Cultura de Coimbra, às quartas e sextas-feiras, pelas 21h45, a partir de 25 de setembro.
Representações, nos dias 25 e 30 de setembro; 2, 7, 9, 14 e 16 de outubro.
A reserva de bilhetes pode ser feita através do email bonifratesbilheteira@gmail.com ou pelo telefone 966926341.
Os preços dos bilhetes são os seguintes: NORMAL – 7 €; ESTUDANTES, + 65 ANOS e PROTOCOLOS – 5 €; CLUBE DE AMIGOS e GRUPOS (+ 10) – 4 €.
"Privacidade na era Snowden"
Em Lisboa, no Pavilhão do Conhecimento, tem decorrido um ciclo de conferências - Conferências Ciência Viva - do maior interesse.
Destaco a que terá lugar no próximo dia 24 intitulada "Privacidade na era Snowden". O convidado é Paulo Veríssimo, especialista em cibersegurança, que recentemente deixou o país por falta de reconhecimento e financiamento do laboratório que fundou e que dirigia (ver aqui). A propósito desta conferência, declarou ao jornal Público (o destaque é meu):
“Nunca como hoje tinha sido possível capturar, armazenar, processar e correlacionar rapidamente tantos dados sobre pessoas ou organizações (...). Este caminho trouxe indubitáveis vantagens às sociedades modernas, mas [criou] igualmente uma perigosa confluência de interesses entre governos e empresas (…). Existe hoje avidez global de informação acerca de pessoas individuais ou colectivas, construindo-se e armazenando-se um rasto contínuo e sistemático da sua vida e actividade que as fragiliza e coloca à mercê de utilizações abusivas da informação disponibilizada (...). Como mostrou [Edward] Snowden este é um propósito metódico que inclui a inserção velada de vulnerabilidades em sistemas da Internet global por parte de governos, para facilitar a intercepção de tráfego ou a recolha furtiva de dados de utilizadores (…) a despeito destes riscos, existem muitos incautos desejosos de expor a sua esfera privada [nas redes sociais]. (…) O direito à privacidade na esfera virtual tornou-se, de facto, num jogo viciado, com alguns batoteiros e muitos incautos. É necessário mudar esta situação para que possamos talvez passar a uma era pós-Snowden mais saudável.”.
Não podendo o leitor estar presente na conferência, terá acesso à sua gravação aqui.
O futebol da ciência
Ainda no Público de hoje o Professor Mário Vieira de Carvalho, da Universidade Nova de Lisboa, denuncia as descaradas ilegalidades da gestão de Nuno Crato da ciência e tecnologia, com o completo beneplácito de Pedro Passos Coelho (se, nesta área crítica para o nosso desenvolvimento, o primeiro-ministro não tivesse dito "mata", o ministro não poderia ter dito "esfola")
"No início do seu mandato, dizia o ex-presidente da FCT, perante um auditório de sábios, que era preciso introduzir na ciência em Portugal regras idênticas às que vigoravam no estrangeiro. Como no futebol. Se não podíamos “competir” no futebol usando campos, balizas ou equipas com dimensões diferentes das praticadas por esse mundo fora, também nas arenas da ciência teríamos de “jogar” segundo regras universalmente aceites.
Que regras seriam essas? Não dizia quais. Mas era evidente que tinham de ser diferentes das regras de avaliação internacional que já tinham sido introduzidas havia muito pelas reformas — essas, sim, estruturais — de José Mariano Gago. Para o porta-voz da política científica do Governo da direita, era evidente que o enorme salto nos indicadores do potencial científico nacional e da sua internacionalização em todos os domínios resultava de uma espécie de batota que o Estado se permitira introduzir no sistema para vencer um atraso secular e nos aproximar da Europa. Por isso, já depois do inenarrável caos nas avaliações, em finais de julho de 2014, a presidência da FCT ainda clamava, qual rana rupta antes do estoiro final: “É verdade que este é o primeiro exercício de avaliação em que todas as unidades de I&D são avaliadas de forma competitiva.” É preciso ter lata!
A equiparação entre ciência e futebol (a eureka! deste Governo) não passava de uma fórmula vazia que varria para debaixo do tapete o lixo estrutural do país. Basta lembrar os milhões que sobram à iniciativa privada para investir em clubes de futebol e a escassez dos meios que a mesma investe em “modernização”, inovação ou recrutamento de mão de obra qualificada e bem paga — isto é, paga pelo seu justo valor (nada de excessivo, certamente, quando cotejado com salários de jogadores e treinadores). Um estudo comparativo deste tipo de correlação na OCDE talvez levasse à conclusão de que a iniciativa privada, em Portugal, por tanto querer “competir” no futebol, pouco se tem esforçado por “competir” em esferas estruturantes e estratégicas da economia. Eis o que até parece ser incentivado pelo Governo, ao pretender diminuir agora ainda mais os “custos” do trabalho: mais lixo estrutural, em vez de uma economia verdadeiramente “competitiva” na sociedade do conhecimento!
Como se viu, porém, ao longo deste penoso consulado, o futebol de que falava o presidente da FCT não tinha paralelo nos anais do desporto. Mudava-se de regras a meio do jogo, entregava-se a arbitragem a quem desconhecia a matéria em competição, alteravam-se por decisão administrativa — enfatizo — resultados cientificamente validados por painéis internacionais, cometiam-se, enfim, inomináveis atropelos às mais elementares regras de transparência e isenção. Já para não falar da legalidade — coisa que nunca preocupou esta direção da FCT, useira e vezeira em ignorar recursos de decisões de avaliação (ou, após muita insistência, em recusar-se a fundamentar cientificamente o seu não provimento), em desrespeitar prazos para responder a reclamações e em dispensar-se de corrigir erros informáticos e outros lapsos grosseiros mesmo quando estes inquinavam o processo de avaliação. Marcas de uma gestão discricionária, à margem do Estado de direito. As consequências estão à vista. No futebol continuamos, mais ou menos, na mesma. Na ciência ficámos com equipas enfraquecidas ou destruídas. Antes altamente internacionalizadas, atrativas para investigadores de excelência em todos os domínios científicos, perderam centenas dos seus melhores elementos, forçados a emigrar, a regressar ao estrangeiro ou a desbaratar no desemprego e subemprego o seu saber e capital de experiência. Por fim, na despedida, o árbitro inventou a regra de que também podia jogar numa das equipas: e marcou um golo!
Espanta-nos que um cientista reconhecido pela sua investigação em cegueira tenha demonstrado uma tão confrangedora falta de visão em matéria de política científica! Mas é um facto — mais uma vez comprovado pela experiência de quatro anos de governo da direita — que a cegueira ideológica cega mais do que a visual.
Mário Vieira de Carvalho
Professor catedrático jubilado (FCSH-UNL)
"No início do seu mandato, dizia o ex-presidente da FCT, perante um auditório de sábios, que era preciso introduzir na ciência em Portugal regras idênticas às que vigoravam no estrangeiro. Como no futebol. Se não podíamos “competir” no futebol usando campos, balizas ou equipas com dimensões diferentes das praticadas por esse mundo fora, também nas arenas da ciência teríamos de “jogar” segundo regras universalmente aceites.
Que regras seriam essas? Não dizia quais. Mas era evidente que tinham de ser diferentes das regras de avaliação internacional que já tinham sido introduzidas havia muito pelas reformas — essas, sim, estruturais — de José Mariano Gago. Para o porta-voz da política científica do Governo da direita, era evidente que o enorme salto nos indicadores do potencial científico nacional e da sua internacionalização em todos os domínios resultava de uma espécie de batota que o Estado se permitira introduzir no sistema para vencer um atraso secular e nos aproximar da Europa. Por isso, já depois do inenarrável caos nas avaliações, em finais de julho de 2014, a presidência da FCT ainda clamava, qual rana rupta antes do estoiro final: “É verdade que este é o primeiro exercício de avaliação em que todas as unidades de I&D são avaliadas de forma competitiva.” É preciso ter lata!
A equiparação entre ciência e futebol (a eureka! deste Governo) não passava de uma fórmula vazia que varria para debaixo do tapete o lixo estrutural do país. Basta lembrar os milhões que sobram à iniciativa privada para investir em clubes de futebol e a escassez dos meios que a mesma investe em “modernização”, inovação ou recrutamento de mão de obra qualificada e bem paga — isto é, paga pelo seu justo valor (nada de excessivo, certamente, quando cotejado com salários de jogadores e treinadores). Um estudo comparativo deste tipo de correlação na OCDE talvez levasse à conclusão de que a iniciativa privada, em Portugal, por tanto querer “competir” no futebol, pouco se tem esforçado por “competir” em esferas estruturantes e estratégicas da economia. Eis o que até parece ser incentivado pelo Governo, ao pretender diminuir agora ainda mais os “custos” do trabalho: mais lixo estrutural, em vez de uma economia verdadeiramente “competitiva” na sociedade do conhecimento!
Como se viu, porém, ao longo deste penoso consulado, o futebol de que falava o presidente da FCT não tinha paralelo nos anais do desporto. Mudava-se de regras a meio do jogo, entregava-se a arbitragem a quem desconhecia a matéria em competição, alteravam-se por decisão administrativa — enfatizo — resultados cientificamente validados por painéis internacionais, cometiam-se, enfim, inomináveis atropelos às mais elementares regras de transparência e isenção. Já para não falar da legalidade — coisa que nunca preocupou esta direção da FCT, useira e vezeira em ignorar recursos de decisões de avaliação (ou, após muita insistência, em recusar-se a fundamentar cientificamente o seu não provimento), em desrespeitar prazos para responder a reclamações e em dispensar-se de corrigir erros informáticos e outros lapsos grosseiros mesmo quando estes inquinavam o processo de avaliação. Marcas de uma gestão discricionária, à margem do Estado de direito. As consequências estão à vista. No futebol continuamos, mais ou menos, na mesma. Na ciência ficámos com equipas enfraquecidas ou destruídas. Antes altamente internacionalizadas, atrativas para investigadores de excelência em todos os domínios científicos, perderam centenas dos seus melhores elementos, forçados a emigrar, a regressar ao estrangeiro ou a desbaratar no desemprego e subemprego o seu saber e capital de experiência. Por fim, na despedida, o árbitro inventou a regra de que também podia jogar numa das equipas: e marcou um golo!
Espanta-nos que um cientista reconhecido pela sua investigação em cegueira tenha demonstrado uma tão confrangedora falta de visão em matéria de política científica! Mas é um facto — mais uma vez comprovado pela experiência de quatro anos de governo da direita — que a cegueira ideológica cega mais do que a visual.
Mário Vieira de Carvalho
Professor catedrático jubilado (FCSH-UNL)
O RELATÓRIO DE UMA AVALIADORA APONTA OS ERROS DA AVALIAÇÃO
Uma responsável da "avaliação" ESF-FCT reconheceu claramente os erros de todo o processo, que agora terá necessariamente de ser revisto pelo novo governo (o anterior foi, em matéria de ciência e tecnologia, um desastre monumental pois nem agora, consciente das más práticas, corrige). Não há hoje qualquer dúvida que a "avaliação" da ESF-FCT foi uma fraude. Leia-se o artigo de hoje no Público de um grupo de investigadores:
"A FCT, a avaliação, a avaliadora e os avaliados
Já muito se falou sobre os últimos anos de atuação da FCT e das políticas deste Governo em I&D: por um lado, assumindo sem pudor draconianas medidas de austeridade, com cortes discricionários que quase destruíram o sistema científico nacional, particularmente nas ciências sociais; por outro lado, tentando dourar essas decisões com um mantra ideológico assente na aura da procura da “excelência”, espécie de quinta essência do discurso meritocrático, que esquece como são importantes comunidades científi cas sólidas, maduras, bem apetrechadas e com forte ambiente de aprendizagem coletiva.
Uma recente comunicação apresentada no Instituto Superior de Economia e Gestão pela responsável pelo painel de avaliação das ciências sociais, a britânica Rosemary Deem [1], põe a nu as inúmeras falhas de todo o processo, mas revela também como os avaliadores (supostamente também cientistas) desenvolvem impressões e preconceitos.
Vamos à primeira parte. Num exercício de comparação entre os processos de avaliação das unidades de I&D levados a cabo no Reino Unido e em Portugal, a avaliadora aponta problemas graves de conceção e de execução no nosso país: — a maior parte dos avaliadores fez o seu trabalho à distância, sem contacto entre si (apenas estiveram juntos duas vezes por um período de 48 horas);
— não existiu formação suficiente sobre a sociedade portuguesa, o contexto de recessão e de cortes nos serviços públicos, nem tampouco sobre a configuração e história do sistema científico português;
— as visitas às unidades duravam três escassas horas, impedindo um contacto aprofundado com as realidades sob apreciação;
— as avaliações e os resultados da primeira etapa de avaliação estavam já previamente definidos, uma vez que a Fundação Europeia da Ciência fi rmou um contrato com a FCT que estipulava, à partida, que 50% dos centros de investigação não seriam financiados;
— o staff da FCT era reduzido, sofrendo com os cortes em recursos humanos qualificados e revelando grandes dificuldades no acompanhamento técnico e logístico do processo;
— os painéis (apenas sete!) não sabiam como trabalhar com as especificidades disciplinares e a vastidão de áreas do conhecimento (basta ver que existia apenas um painel para todas as ciências sociais);
— durante a avaliação, multiplicaram-se as incongruências entre as orientações do ex-presidente da FCT Manuel Seabra e o staff técnico, gerando confusão entre os avaliadores;
— o regulamento permitia grande variação de financiamento entre unidades com a mesma classificação, uma vez que a FCT não estabeleceu valores máximos para cada item de avaliação;
— a falta de coordenação e de “calibração” entre os sete gigantescos painéis levou, segundo a avaliadora, a que não houvesse um único centro em ciências sociais classifi cado como excecional;
— as regras de financiamento nunca foram devidamente explicadas, nem aos avaliadores, nem aos centros, o que originou falta de transparência no processo;
— os próprios avaliadores foram erroneamente informados pelo primeiroministro, que, numa conferência europeia sobre o Futuro da Ciência, considerou que as anteriores avaliações tinham sido parciais e subjetivas.
Percebe-se bem o caldo de erros subjacente a todo este processo que, pura e simplesmente, deveria ter sido anulado, houvesse um mínimo sentido ofi cial de justiça e responsabilidade.
No entanto, a comunicação da avaliadora revela ainda outras preocupantes questões, nomeadamente uma questão ética fundamental: dado este rol de constatações, não se compreende que tenha aceitado manter-se como avaliadora e coordenadora de painel, tanto mais que tudo se desenrolou sob a égide da desprestigiada Fundação Europeia para a Ciência. Mas, pior ainda, exala uma certa irritação com o sistema democrático português (que permite contestações jurídicas a procedimentos incorretos e injustos...), a imprensa e os seus profissionais (em particular com o jornal PÚBLICO) e insinua que os avaliadores ficaram negativamente impressionados com a forte reação da comunidade científica face aos resultados da avaliação.
Perante os clamorosos erros apontados pela própria avaliadora (e que constituem Debate Investigação científica uma espécie de manual do que nunca se deve fazer num processo de avaliação), surgem até como moderados e sensatos os ecos da contestação.
Avaliar é conhecer para retificar e melhorar, não para punir e cortar cegamente. O sistema científico português merece outro rigor, o que significa também, melhores avaliadores. A credibilidade das instituições passa forçosamente pela credibilidade das suas acções. Face ao conteúdo da comunicação apresentada pela avaliadora supracitada, a um governo e a uma instituição sérios, não restaria outra coisa que não fosse pedir desculpa e anular todo o processo.
[1] Rosemary Deem, “Recent research evaluations in the UK and Portugal: methodologies, processes, controversies, responses and consequences”. Comunicação apresentada na CHER annual conference, ISEG, Universidade de Lisboa, 7-9 de Setembro de 2015.
Pedro Abrantes, Maria José Casa-Nova, Fernando Diogo, Carlos Estêvão, Rafaela Ganga, João Teixeira Lopes, Benedita Portugal, Sofia Marques da Silva Membros do Núcleo do Manifesto para Um Mundo Melhor (Mannifesto Internacional de Cientistas Sociais)"
"A FCT, a avaliação, a avaliadora e os avaliados
Já muito se falou sobre os últimos anos de atuação da FCT e das políticas deste Governo em I&D: por um lado, assumindo sem pudor draconianas medidas de austeridade, com cortes discricionários que quase destruíram o sistema científico nacional, particularmente nas ciências sociais; por outro lado, tentando dourar essas decisões com um mantra ideológico assente na aura da procura da “excelência”, espécie de quinta essência do discurso meritocrático, que esquece como são importantes comunidades científi cas sólidas, maduras, bem apetrechadas e com forte ambiente de aprendizagem coletiva.
Uma recente comunicação apresentada no Instituto Superior de Economia e Gestão pela responsável pelo painel de avaliação das ciências sociais, a britânica Rosemary Deem [1], põe a nu as inúmeras falhas de todo o processo, mas revela também como os avaliadores (supostamente também cientistas) desenvolvem impressões e preconceitos.
Vamos à primeira parte. Num exercício de comparação entre os processos de avaliação das unidades de I&D levados a cabo no Reino Unido e em Portugal, a avaliadora aponta problemas graves de conceção e de execução no nosso país: — a maior parte dos avaliadores fez o seu trabalho à distância, sem contacto entre si (apenas estiveram juntos duas vezes por um período de 48 horas);
— não existiu formação suficiente sobre a sociedade portuguesa, o contexto de recessão e de cortes nos serviços públicos, nem tampouco sobre a configuração e história do sistema científico português;
— as visitas às unidades duravam três escassas horas, impedindo um contacto aprofundado com as realidades sob apreciação;
— as avaliações e os resultados da primeira etapa de avaliação estavam já previamente definidos, uma vez que a Fundação Europeia da Ciência fi rmou um contrato com a FCT que estipulava, à partida, que 50% dos centros de investigação não seriam financiados;
— o staff da FCT era reduzido, sofrendo com os cortes em recursos humanos qualificados e revelando grandes dificuldades no acompanhamento técnico e logístico do processo;
— os painéis (apenas sete!) não sabiam como trabalhar com as especificidades disciplinares e a vastidão de áreas do conhecimento (basta ver que existia apenas um painel para todas as ciências sociais);
— durante a avaliação, multiplicaram-se as incongruências entre as orientações do ex-presidente da FCT Manuel Seabra e o staff técnico, gerando confusão entre os avaliadores;
— o regulamento permitia grande variação de financiamento entre unidades com a mesma classificação, uma vez que a FCT não estabeleceu valores máximos para cada item de avaliação;
— a falta de coordenação e de “calibração” entre os sete gigantescos painéis levou, segundo a avaliadora, a que não houvesse um único centro em ciências sociais classifi cado como excecional;
— as regras de financiamento nunca foram devidamente explicadas, nem aos avaliadores, nem aos centros, o que originou falta de transparência no processo;
— os próprios avaliadores foram erroneamente informados pelo primeiroministro, que, numa conferência europeia sobre o Futuro da Ciência, considerou que as anteriores avaliações tinham sido parciais e subjetivas.
Percebe-se bem o caldo de erros subjacente a todo este processo que, pura e simplesmente, deveria ter sido anulado, houvesse um mínimo sentido ofi cial de justiça e responsabilidade.
No entanto, a comunicação da avaliadora revela ainda outras preocupantes questões, nomeadamente uma questão ética fundamental: dado este rol de constatações, não se compreende que tenha aceitado manter-se como avaliadora e coordenadora de painel, tanto mais que tudo se desenrolou sob a égide da desprestigiada Fundação Europeia para a Ciência. Mas, pior ainda, exala uma certa irritação com o sistema democrático português (que permite contestações jurídicas a procedimentos incorretos e injustos...), a imprensa e os seus profissionais (em particular com o jornal PÚBLICO) e insinua que os avaliadores ficaram negativamente impressionados com a forte reação da comunidade científica face aos resultados da avaliação.
Perante os clamorosos erros apontados pela própria avaliadora (e que constituem Debate Investigação científica uma espécie de manual do que nunca se deve fazer num processo de avaliação), surgem até como moderados e sensatos os ecos da contestação.
Avaliar é conhecer para retificar e melhorar, não para punir e cortar cegamente. O sistema científico português merece outro rigor, o que significa também, melhores avaliadores. A credibilidade das instituições passa forçosamente pela credibilidade das suas acções. Face ao conteúdo da comunicação apresentada pela avaliadora supracitada, a um governo e a uma instituição sérios, não restaria outra coisa que não fosse pedir desculpa e anular todo o processo.
[1] Rosemary Deem, “Recent research evaluations in the UK and Portugal: methodologies, processes, controversies, responses and consequences”. Comunicação apresentada na CHER annual conference, ISEG, Universidade de Lisboa, 7-9 de Setembro de 2015.
Pedro Abrantes, Maria José Casa-Nova, Fernando Diogo, Carlos Estêvão, Rafaela Ganga, João Teixeira Lopes, Benedita Portugal, Sofia Marques da Silva Membros do Núcleo do Manifesto para Um Mundo Melhor (Mannifesto Internacional de Cientistas Sociais)"
segunda-feira, 21 de setembro de 2015
O QUE ANDO A LER - "HISTÓRIA PRODIGIOSA DE PORTUGAL - MAGIAS E MISTÉRIOS"
No livro "História Prodigiosa de Portugal. Magias & Mistérios (edição Verso da História, 2015), com prefácio do psiquatra Mário Simões, que se segue a um primeiro volume saído noutra editora (cuidado que a capa é parecida!) merecem particular destaque:
- a divulgação do uso terapêutico do chamado "magnetismo animal", na década de 1840, iniciada na Universidade de Coimbra, que entusiasmou lentes da Academia;
- o acolhimento em Portugal do fenómeno das "mesas-girantes", logo em 1853, em que se destacam ilustres deputados que preferiam abandonar o hemiciclo e os oradores para experimentarem as enigmáticas mesas de pé de galo!
- a "vaga espírita" de 1900, centrada no Porto, onde foi reelvante o "Jornal de Notícias", que no Outono de 1900 levou a sociedade portuense a experimentar as "séances! " em redor das mesas de pé de galo, conduzindo a uma febre de espiritismo, que logo alastrou pelo país. Apesar de ainda haver quem se dedica a essas práticas espíritas, hoje só podemos sorrir...
No século XIX era uma coisa séria, com grandes cientistas como William Crookes (o autor dos tubos de Crookes) a acreditar nessas práticas e Joaquim Fernandes fez um excelente trabalho de aqruivo que revela como a moda do espiritismo cedo chegou a Portugal, onde conheceu um êxito comparável ao de outros lados.
Subscrever:
Mensagens (Atom)
O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA
A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
«Na casa defronte de mim e dos meus sonhos» é o primeiro verso do poema de Álvaro de Campos objecto de questionamento na prova de Exame de P...