Poema de As Moradas (Segunda)
apenas um instante e as coisas mudam-se
umas nas outras enlaçadas,
então ocorre perguntar: porque não começa
a vida? noite após noite, os vastos
entrepostos alcatroados permanecem vazios,
e é possível, de longe, avistar as fogueiras
que a chuva ateia, e debaixo do lodo os corpos
abandonados pela guerra.
o universo, dirás, expande-se
e contrai... mas entretanto
já a folha corrói o desejado,
e a doença do verme anima o verso.
como esperar? são pálidas as bocas
a vídeo no vinil e na placenta,
e se perdeu a vaga parecença
da paisagem.
vamos por aí fora, ao deus dará, vertidos
em rima tosca,
serão sempre horas de partir, de beijar,
de voltar a casa para um jantar de madrugada,
de ir ao cinema pra esquecer, de ficar
solto numa esquina, esquecido,
depois basta deitar fora toda a água parada
e será verão.
entretanto nos caminhos caminham
máquinas hidráulicas, surpresas
com o ténue destino da terra.
condições as melhores para a pesquisa,
a sondagem da luz, o resultado
do quartzo incandescente,
os símbolos mudos de uma
teoria.
«calculo como asas poderiam
levar no ar um homem, como a água
sustentaria as mais pesadas rochas.
basta uma cola fina como o vento.
um tecido de vidro transparente.
as botas de marfim dos sem-sossego.»
3 comentários:
Que bonitos poemas! Obrigada.
Poesia no seu melhor. Parabéns.
Queria poder ver.
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