Meu texto, a propósito da História Trágico-marítima, inserto no manuel de Português do 10.º ano da Tetxo Editores: "Mensagens", de Célia Cameira, Fernanda Palma e Rui Palma:
Hoje, quando astronautas viajam permanentemente
em órbita da Terra, convém recordar que a primeira era de exploração e
descoberta foi protagonizada por portugueses e espanhóis, nos séculos XV e XVI,
quando eles chegaram por mar ao Brasil, à América do Norte e ao Oriente.
Os portugueses foram pioneiros na
extraordinária ousadia que é necessária para se encontrar novos mundos. Para
conhecerem o desconhecido, tiveram de deixar não só as suas famílias mas também
tudo o que lhes era familiar. Tiveram, em muitos casos, de deixar a vida: no
início dos Descobrimentos, dois em cada três homens morriam na viagem. No meio
do mar imenso, que sofregamente “comia” os barcos, os sobreviventes ficaram a
saber que a linha entre a vida e a morte era bastante ténue. Os navegadores,
para irem mais além no mar, tiveram acima de tudo de irem além de si próprios. Escreveu
Fernando Pessoa no poema Mar Português:
Quem quer passar além do Bojador / Tem de
passar além da dor. A experiência foi dolorosa, mas o certo é que esse e
outros cabos foram passados, tendo o mundo ficado maior.
A História Trágico-Marítima conta-nos, como numa reportagem em
directo, como os barcos eram, nessa época, engolidos pelo oceano ou, como
acontece nesta história de Jorge de Albuquerque Coelho, numa viagem na nau Santo António entre o Brasil e Portugal,
como os marinheiros passavam enormes provações para sobreviver. Não era apenas
a fúria dos elementos que causava a morte, era ainda a cobiça dos corsários,
que, com artilharia bem apontada, podiam ser piores do que a Natureza.
Na recente era espacial saímos da
superfície do nosso planeta, elevando-nos em direcção ao espaço. Mas, hoje como
outrora, apesar de a ciência nos ter enchido a mão de instrumentos (as
telecomunicações, o radar, o GPS), a aventura não pode ser feita sem consideráveis
riscos, exigindo por isso aos aventureiros as mesmas qualidades que antigamente.
Está nos nossos dias a ser escrita uma história trágico-espacial. Em 1967 o
astronauta soviético Vladimir Komarov era a primeira vítima no espaço ao morrer,
no regresso da Soyuz I a Terra. E, em
1986 e 2003, explodiam dois vaivéns espaciais norte-americanos, o Challenger e o Columbia, um à partida e outro à chegada, ceifando de cada vez
sete vidas. Era o ar que engolia as naves, em vez de ser o mar. Mas, tal como
antes, os desastres não diminuíram a vontade de conhecer o desconhecido. Aprendendo
com os desastres, os vaivéns voltaram ao espaço.
O astronauta da NASA John
Phillips, que protagonizou duas missões a bordo dos vaivéns, declarou: "[No passado] Navios perderam-se e
pessoas corajosas morreram, mas isso não implicou que não voltássemos a essas
partes do mundo. Passar-se-á o mesmo com
a exploração espacial." Ontem no mar, hoje no espaço, a grande
aventura humana, que consiste afinal em irmos além de nós próprios, continua.
1 comentário:
A propósito do ensino secundário, permito-me perguntar: Qual a credibilidade do sistema de ensino em Portugal?
Numa escola de ensino secundário (com 3.º ciclo e ensino secundário) está uma educadora de infância (com bacharelato em Educação de Infância e um DESE para o pré-escolar e 1.º ciclo do ensino básico) que é avaliadora do desempenho docente dos professores de todas as áreas curriculares (Português, Matemática, Inglês, Geometria Descritiva, História da Arte, etc., etc.).
Dois dos docentes avaliados pela Sra. Educadora de Infância têm doutoramento (anterior a Bolonha) na área científica de docência, pela Universidade de Lisboa e pela Universidade do Porto.
E o Sr. Ministro da Educação já sabe.
E o Conselho Nacional da Educação já sabe.
E a Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares já sabe.
E a Direcção-Geral de Administração Escolar já sabe.
E a Inpecção-Geral de Educação e Ciência já sabe.
E o Conselho Científico e Pedagógico da Formação Contínua já sabe.
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