Minha entrevista dada à jornalista Paula Lagoa do Jornal de Leiria:
P- Em que medida a promulgação do Ano Internacional da Luz é uma mais-valia?
R- O Ano Internacional da Luz é uma ocasião única para unir, motivar e educar em volta
de um fenómeno físico essencial para tudo e para todos. A luz tem a ver com a saúde, as comunicações, o ambiente, a economia, a
sociedade em geral. O Ano, aprovado pelas Nações Unidas, chama-se não só da luz como das
tecnologias da luz, que hoje estão de facto omnipresentes, seja a luz visível ou invisível. A luz entra-nos em casa não só
pelas janelas e pelas lâmpadas mas também pelos cabos ópticos que trazem a Internet e a televisão. Ligamos e desligamos
a televisão com infravermelhos. Servimo-nos de lasers para ouvir CD.
Comunicamos com a ajuda de telemóveis,
que recorrem a microndas, também muito úteis nos fornos de cozinha e nos radares. Usamos
ondas de rádio para transmissões à distância. Fazemos raios X para ver o interior
do nosso corpo. As Nações Unidas sugerem que este século seja o século da luz,
dominado pelas tecnologias da luz (a fotónica), tal como o século passado foi
o século dos electrões, dominado pelas tecnologias dos electrões (a electrónica).
P - Considera que subvalorizamos a importância da luz nas nossas vidas?
R- Sim, a luz está tão presente que podemos dizer que não damos por ela. Sem ela
não veríamos nada do mundo à nossa volta e, de tão habituados que estamos a ela, "não a vemos".
Para reconhecer o valor da luz, não há nada como experimentar o escuro, as trevas.
Valorizamos mais a luz quando ela não existe. De facto, o nosso sentido da visão, que se deve
a um sistema óptico natural que evoluiu ao longo de milhões de anos para captar ao máximo a luz
que a nossa estrela emite ao máximo (a luz chamada visível), é o grande intermediário entre
o nosso cérebro e o mundo. Os olhos são o posto avançado do cérebro, e o processamento
cerebral começa logo neles. Com o precioso auxílio desse sentido observamos o mundo e com o
apoio do cérebro compreendemos o mundo. De posse dessa compreensão, alteramos
o mundo para nele vivermos com maior conforto. Conseguimos, por exemplo, através da
iluminação artificial, transformar a noite em dia.
P- - De todos os aspectos em que a existência de luz é fundamental qual destacaria?
R- É difícil destacar algum. Mas gosto de enfatizar, entre todas as tecnologias da luz, a invenção do laser.
Demorou dezenas de anos antes que essa ideia luminosa, no sentido literal e no sentido
figurado, fosse posta em prática. Em 1960, quando se fez o primeiro laser de luz visível - já tinha sido feito um de microondas-
o laser não servia para nada a não ser para mostrar que Einstein estava certo quanto à sua ideia de produzir
luz intensa e coerente. Era uma invenção à procura de uma aplicação. Não encontrou uma mas muitas. Hoje usamos o laser
para tudo e mais alguma coisa: desde cirurgias oftalmológicas até à depilação, desde as impressoras
até aos códigos de supermercados, desde os apontadores nas escolas até às festas nas discotecas.
É impressionante!
P- Viveríamos sem luz?
Pode-se viver com luz reduzida, mas é extremamente difícil. De facto, a própria vida deve-se à luz. Se
não fosse a fotosíntese, a transformação da energia presente na luz solar em energia química, as
plantas não poderiam existir. E sem plantas não existiriam animais, incluindo os seres humanos.
Devemos, portanto, a nossa existência à luz. Num certo sentido somos "filhos da luz".
P- Que tipo de animais seríamos se não tivéssemos luz?
Sem luz não seríamos humanos. Há animais que conseguem ver no escuro, como os morcegos, graças a um processo
de adaptação biológica. "Eles vêem com os ouvidos", disse o primeiro cientista que, no século XVIII,
descobriu o fenómeno da ecolocalização, que se baseia em som e não em luz.
Mas só nas histórias aos quadradinhos e no cinema é que existe
o homem morcego...
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