quinta-feira, 23 de julho de 2015

Um novo comentário ao meu post, " Uma tentativa de resposta ao comentário: Nada!" (21/07/2015)


Com  um abraço grato pelo gosto e proveito que desfrutei da sua leitura,  sem qualquer demora ou palavras desnecessárias,   publico este comentário de FMC  com  o destaque merecido e a intenção de não privar os leitores de idêntico gosto e proveito:

“Professor, agradeço a sua resposta apesar de a pergunta ter sido de retórica... O ideal não tem solução real. O Homem não se explica (ou explica-se mal) porque realmente não se compreende, porque idealmente continua a habitar o exterior das coisas e das palavras e porque não faz a menor ideia de onde vem, nem para onde vai. É um fingidor que abrilhanta o opaco sapato do que toca rabecão com um movimento repetidamente repuxado do concetual pano roto, no vaivém superficial das mãos sujas de tinta.
Agradeço também o risco que correu ao ter descido a rua, pedindo emprestado o meu rabecão para sapatear um poucochinho ao ritmo do jazz devolvendo-me virtuosamente à minha condição original... um exemplo do que o João Lobo Antunes chama de “desnatamento” dos casos complexos ou arriscados que poderão perturbar a tranquilidade de uma clínica rotineira ou arriscar a reputação pessoal e profissional do médico.” (in “Inquietação Interminável – Ensaios sobre ética das ciências da vida; Gradiva, pág. 225).

Retomando a centralidade da mesa e retirando da bandeja de prata o que me serviu, confundo-me na etiqueta de não saber que talheres segurar, tal a diversidade de alimentos com que me presenteou. Sem entrar em domínios ontológicos, eis, então, a política... com o Esteves sem metafísica à porta da Tabacaria a apreciar os círculos de fumo que saem da sua boca e a cantar lengalengas de História encadeada sobre a teoria humana de ser humano, percepcionando com estudiosa sistematicidade o fracasso de o SER, faça-se o que se fizer. Professor, quem tinha seis filhos era o Goebbels e a Magda matou-os a todos nos últimos dramáticos momentos.
Posto isto:
“Uma nação vale pelos seus sábios, pelas suas escolas, pelos seus génios, pela sua literatura, pelos seus exploradores científicos, pelos seus artistas”. Talvez... embora a genialidade seja demente e incompreensível para a maioria; a literatura cumpra a beleza anárquica da palavra e do sonho; os cientistas descubram o que sempre existiu na limitação do comprovável; os artistas se enrolem na macieira, ao mesmo tempo que caem do céu, quais anjos expulsos pela inocência, acolhidos para sempre na lucidez, uma luz que seca... Desculpe ter agora depilado o bigode de Nietzsche (piaçaba de Eça) e despojado o homem da superior alternativa de ser super, nesta minha tentativa de perceber o grande desígnio do imóvel e quasimudo Hawking, mas não resisto a puxar a toalha da mesa para ver cair, um por um, todos os pratos e copos que sustentam este cordial banquete.
Ontem, ouvi o Bagão Félix dizer que, se andarmos muito para trás, antes da primordial explosão, decerto encontraremos Deus. Portanto, atrás da explosão, Deus; à frente, nós (com Ele, sem Ele, Ele?). A explosão talvez tivesse violado a fronteira entre o inanimado e o animado, o não-humano e o humano, abrindo um túnel errático de passagem. Ficámos assim, presos a esta identidade de bosão, partícula elementar que medeia as forças (do bem e do mal). A ética não é possível neste clima... Afinal, que ordem cósmica se projeta na mundana? Política não ontológica é um palhaço sem graça. Os erros históricos devem-se à falta de graça. Graça no sentido ontológico do ser.

Um abraço.

FMC”

 

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