Meu depoimento ao jornal "As Artes entre as Letras" do Porto no n.º do 6.º aniversário:
Seis anos é um tempo longo e um tempo curto. É longo pois
foi o tempo que demorou a produzir 150 edições do jornal “As Artes entre as
Letras”, 25 edições por ano com uma regularidade espantosa. E é pouco porque
parece que foi ontem: lembro-me bem quando surgiu o número um. Tal como uma
criança que depressa passa de nasciturno a infante da escola primária, também a
publicação cultural do Porto cresceu e apareceu num piscar de olhos.
Tendo tido o privilégio
de acompanhar o “As Artes entre as Letras” desde o seu início até à actualidade
vi-o crescer. Espero tê-lo ajudado a ganhar algum corpo, com as crónicas à
volta da ciência e da cultura científica que a mãe da criança, Nassalete
Miranda, me solicitou de forma irrecusável logo por altura do parto e que lá
lhe fui dando com um ritmo que nem sempre conseguiu acompanhar a do jornal.
Ultimamente, e porque estamos no Ano Internacional da Luz,
tenho falado de aspectos científicos e culturais da luz. A luz é, decerto, um
fenómeno físico, o fenómeno que nos deslumbra no arco-íris, mas é também uma
metáfora, uma poderosa metáfora que significa
razão, entendimento, verdade. Se
Newton desvendou no século XVII o mistério do arco-íris, fazendo-o no
seu quarto e explicando-o fisicamente, o século seguinte foi justamente
denominado o século das Luzes, por se ter pensado que a racionalidade das
ciências podia ser aplicada num âmbito mais vasto, porventura às questões da
política e do Estado. Mas, logo no
início do século XIX, a reacção romântica se ergueu, não impedindo a grande vaga
da ciência, que aliás prossegue nos dias de hoje, mas chamando a atenção para
as suas limitações e para os seus perigos. Goethe recusou a teoria das cores de
Newton e tentou, embora debalde, uma teoria alternativa. Mas o mesmo Goethe
escreveu o “Fausto”, uma peça que simboliza como poucas obras literárias as
tentações em que um cientista pode cair. Goethe, nos últimos momento da sua
vida, ao pedir “mais luz!”, não queria tanto solicitar uma nova teoria física
da luz, mas mais, de um modo mais amplo, o prosseguimento do caminho, provavelmente
interminável, que a humanidade sempre percorreu em direcção à verdade. Newton e
Goethe simbolizam, cada um a seu modo, as ciências exactas e naturais e a
cultura humanista, os dois sempre em busca de mais luz. Newton, se estudou a
luz e a gravidade, entrou também nas vias da alquimia, do misticismo e da
teologia. E Goethe, se escreveu principalmente poesia, romance e drama, também
se interessou pela multifacetada Natureza: as cores, as flores e as nuvens.
Ciência e cultura, como mostraram os dois, são inextrincáveis.
Assim tem sido, desde o início, nas páginas de “As Artes
entre as Letras”. A ciência tem convivido intimamente com outras formas de cultura.
A ciência sente-se bem entre as Artes e as Letras. Muitos parabéns a “As Artes
entre as Letras”, muito obrigado Nassalete e a todos os que têm feito o jornal
crescer. Vai continuar a crescer, tenho a certeza, sempre procurando a luz..
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