Alunos do 12.º ano pouco preparados para o mercado de trabalho
Coisa má... muito má, dirá o comum dos mortais, condicionado para pensar que o mercado de trabalho é alfa e o ómega da educação escolar.
Passei à notícia:
"Inquérito realizado pela BCSD a 47 empresas em Portugal "...
Pergunto a mim mesma o que será "a" ou "o" "BCSD", que bastam as siglas para ser imediatamente identificada, mas que eu desconheço? Procurei (aqui) e confirmei o que a notícia me levou a inferir:
O BCSD - Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável -, fundado em 2001, é uma organização de líderes empresariais com uma visão de futuro, que propõe galvanizar a comunidade empresarial para criar um mundo que seja sustentável para as empresas, para a sociedade civil e para o ambiente.
Retenho a expressão "organização de líderes empresariais com uma visão de futuro", impressiona! Passo à leitura do texto...
Então, o "BCSD Portugal" - nicho de algo muito macro - passou um questionário a quase cinquenta empresas portuguesas e concluiu...
... que 80% "percepcionam os candidatos do 12.º ano como pouco preparados, enquanto 30% melhoram esta percepção em relação ao ensino superior" (...) 70% considerou os currículos do secundário desajustados, 70% qualificaram-no de desalinhado e 80% percepcionam estes candidatos como pouco preparados.
Sistematizando: 1) os currículos estão desajustados (às "necessidades práticas de recrutamento" das empresas inquiridas); 2) é preciso adequar os perfis (profissionais) dos alunos (às "necessidades práticas de recrutamento" das empresas inquiridas"). Isto como forma de adequar os perfis pretendidos pelas empresas e a formação escolar, para desta forma reduzir o desencontro que existe entre as necessidades das empresas e as qualificações dos alunos que estão a sair das escolas secundárias.E mais nada diziam as notícias que li. Assim fica arrumado o assunto, como se tudo estivesse certo.
Acontece que não está certo e, por isso mesmo, a sociedade deveria abrir uma discussão séria e esclarecida acerca da descaracterização da escola como escola.
A escola é a escola, as empresas são as empresas. A escola não é uma empresa e as empresas não podem continuar a pronunciar-se sobre a escola a partir da sua perspectiva e a usá-la como local de produção de trabalhadores segundo o modelo que entendem ser-lhes mais vantajoso.
A escola é uma instituição educativa para a qual a sociedade, toda a sociedade, deve contribuir, de modo altruísta porque lhe confia uma parte substancial da aprendizagem das crianças e dos jovens, antes de mais para serem pessoas, cidadãos. Este fim não é compatível com o da empresas.
Admito que em certos sectores de ensino, em patamares mais avançados, possam estabelecer-se relações com empresas, mas é a escola que, em primeira instância, tem de se pronunciar acerca do sentido e conteúdo dessa relação, e não o contrário.
5 comentários:
Essa visão com umbigo no meio do debate não bate certo com realidade. Sra Merkl apontou que Portugal benificiria muito se seguisse o modelo de ligação escola/empresa que tem dado resultados lã.
Um jovem que na escola publica de T.Vedras não tinha aproveitamento, foi com os pais para Bristol, UK onde dado as bases de ingles que tinha foi integrado; como a ligaçãoa s empresa é grande já vai começar um estagio numa das empresa indicada pela escola e pelos visto um mau aluni num lado passa a bom no outro. Claro que há custos, a recisão de contrato com professores seria enorme, por falta de turmas.
"Admito que em certos sectores de ensino, em patamares mais avançados, possam estabelecer-se relações com empresas, mas é a escola que, em primeira instância, tem de se pronunciar acerca do sentido e conteúdo dessa relação, e não o contrário." Porquê?!
A senhora professora não tem uma boa razão para justificar a sua posição, à semelhança daqueles que não tem uma boa razão quando defendem que o ensino superior não deve ser gratuito. Estão aqui dois aspectos de uma mesma coisa, quem conseguir justificar um, o outro fica "ipso facto" esclarecido.
Cumprimentos,
P.S.: Conviria saber se a Professora Helena Damião é favorável à gratuitidade no Ensino Superior, para melhor compreender o protelar nos "patamares mais avançados".
Prezado Leitor Ilfefonso Dias
Eu referia-me ao ensino não superior. "Patamares mais avançados" significa sobretudo ensino secundário.
Cordialmente,
MHD
Senhora Professora Helena Damião, em Portugal a Escola não tem uma linha condutora assente nas boas práticas pedagógicas mais universais.
Existe, mas não se admite, - para servir de estimulo e apoio estável - o exemplo duma figura maior da nossa ciência e da pedagogia. Qualquer professor de uma qualquer escola põe em causa aquilo que outras personalidades eminentes estabeleceram como as melhores práticas educativas, porque, alguns mais atrevidos, acharão que também têm esse direito... (direito que conseguem, não fora a candura e a boa fé dos pais que querem o melhor para os seus filhos).
Muitas vezes neste blog transcrevi alguns pensamentos pedagógicos do professor Sebastião e Silva, e logo apareceram os sujeitos ignorantismos a por a sua medida e a escalavrar tudo.
Também o professor Jorge Buescu, no seu ensaio da FFMS ao diminuir a figura do professor e cientista Sebastião e Silva (lá saberá porque o fez...) contribui-o para o mesmo mal. De imediato me apercebi da gravidade dessa injustiça e disse-lho aqui. Hoje, apoiava-me nas palavras do professor catedrático Jaime Carvalho e Silva (U. Coimbra) na confrontação que fiz ao professor Buescu. Pode aceder-lhe aqui esta monumental intervenção de grande interesse para todos, professores, pais e alunos.
https://www.youtube.com/watch?v=y5bQykq02c0
Em suma, temos desde há muitos anos uma Escola orientada por indivíduos, espíritos superiores, infinitamente convencidos da inteligência que lhes serve, vindos de todos os lados, que quando os outros pensam... bem mas os outros pensarão alguma coisa? É como é.
Cordialmente,
No post "A criatividade e a crítica surgem... do nada?" coloquei lá estas duas citações retiradas do video acima referido, um exemplo que materializa plenamente o que referi no comentário anterior:
“Se uma pessoa domina o que é fundamental no seu assunto e aprendeu a pensar e a trabalhar de forma independente, ela seguramente encontrará o seu caminho e além do mais será capaz de se adaptar melhor ao progresso e às mudanças que a pessoa cujo treino consistiu principalmente em adquirir conhecimentos detalhados. «Albert Einstein»
“A escola deve ter sempre como seu objectivo que o jovem ao sair tenha uma personalidade harmoniosa, não a de ser um especialista. O desenvolvimento da capacidade geral para o pensamento e julgamento independentes devem ser sempre colocados em primeiro lugar, não a aquisição de um conhecimento especial.” «Albert Einstein»
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