quinta-feira, 7 de maio de 2015

FERNANDO PINTO COELHO (1912 – 1999)


Fernando Pinto Coelho foi um professor catedrático de Química da Universidade de Coimbra nascido na Madeira. Nos anos logo anteriores à Segunda Guerra Mundial trabalhou no Imperial College de Londres, com químicos orgânicos ilustres. De reconhecidas qualidades científicas e pedagógicas, desempenhou papel de grande relevo na formação da moderna escola de ciências de Coimbra. Eis uma ficha biográfica:

Fernando Pinto Coelho, Professor de Química na Faculdade de Ciências de Coimbra, nasceu no Funchal a 18 de Abril de 1912, filho de Augusto Pinto Coelho e Maria Lídia Costa Pinto Coelho, e morreu em Coimbra em 1999.

Fez toda a sua carreira académica na Universidade de Coimbra, intercalada apenas por alguns estágios no Reino Unido. Após ter concluído o curso secundário no Liceu do Funchal em 1930, matriculou-se na Universidade de Coimbra em 1930. Licenciou-se em Ciências Físico-Químicas 1934 e doutorou-se em 1944. Tornou-se catedrático em 1956, após concurso em que foi aprovado por unanimidade.

Ensinou várias cadeiras, a partir de 1934 como assistente (Química Geral, Química Orgânica, e Química Física) e depois de 1950 já como professor, primeiro extraordinário e depois catedrático (Química Geral, Química Inorgânica, Química Física, Química Aplicada, Química Física Geral, Química Física Complementar, Química Nuclear e Radioquímica, Metodologia da Química, Química Geral I e II e Metodologia da Química I e II). Jubilou-se em 1982, tendo ainda dado aulas até 1984. Publicou três livros de natureza pedagógica e foi sempre estimado pelos seus alunos.

 Teve fortes preocupações pedagógicas, procurando sempre melhorar o ensino da Química. Orientou estágios pedagógicos de Química na Faculdade de Ciências. Presidiu à Comissão de Actualização do Ensino da Química (no Ensino Secundário) em 1966, tendo nesta qualidade visitado em 1967 vários centros e escolas no Reino Unido a fim de observar novos projectos pedagógicos de Química. No ensino superior, colaborou na organização das Universidades de Lourenço Marques (onde foi Reitor o seu colega de Coimbra José Veiga Simão) e de Luanda. Colaborou com a Escola Superior de Tecnologia de Tomar, hoje Instituto Politécnico de Tomar, e com o Instituto Universitário dos Açores.

Entre os vários cargos administrativos que ocupou salientam-se, na sua Universidade, o de Secretário da Faculdade de Ciências (1957-1959), Director do Centro de Estudos de Química Nuclear e Radioquímica (1959-1974), e Director do Instituto Geofísico, primeiro interino (1963-1964) e depois efectivo (1964-1974).

Na sua carreira científica começou por trabalhar em Química Coloidal com o alemão Kurt Coper em 1934-1935, que então era professor em Coimbra (ver COPER, Kurt). Dedicou-se depois, em 1935-1938, a estudos de espectrofotometria de absorção com António Jorge Andrade de Gouveia (professor de Química de Coimbra que haveria de Reitor da Universidade entre 1963 e 1970)  e foi iniciado em técnicas cromatográficas por Karl Schon, outro alemão a trabalhar em Coimbra entre as duas guerras mundiais. Com vista a preparar o doutoramento investigou álcoois triterpénicos entre 1938 e 1939 no Laboratório de Química do Imperial College de Londres, sob a orientação dos Professores Sir Ian M. Heilbron, FRS (um pioneiro da química orgânica para usos terapêuticos e industriais) e Ewart R. H. Jones, FRS (outro notável químico orgânico que presidiu ao Royal Institute of Chemistry e à  Royal Society of Chemistry), tendo beneficiado de uma bolsa do British Council. A Segunda Guerra Mundial acabaria por afectar o normal curso do seu trabalho, obrigando-o a regressar a Coimbra onde defendeu a tese doutoral com base no trabalho realizado em Londres. Trabalhou em 1940-1953 no Centro de Estudos de Química, no Laboratório Químico da Faculdade de Ciências de Coimbra. Participou em diversos congressos científicos, entre os quais vários Congressos Luso-Espanhóis para o Progresso das Ciências realizados na Península Ibérica entre 1940 e 1970.

Voltou nos anos 50 a Inglaterra, tendo trabalhado com  A. G. Maddock no Laboratório de Radioquímica do Departamento de Química da Universidade de Cambridge em 1953-1954, como bolseiro do Instituto de Alta Cultura, para efectuar estudos sobre compostos organometálicos. Esteve também nessa altura no Atomic Energy Research Establishment de Harwell. Acompanhou nessa altura, de perto, os desenvolvimentos que tiveram lugar em Portugal para alargar a investigação em Química e Física Nuclear e iniciar a exploração da energia nuclear. Assim, foi bolseiro da Comissão de Estudos de Energia Nuclear do Instituto de Alta Cultura em 1954-1974. Foi delegado português às 1.ª (1958), 2.ª (1958) e 3.ª (1964) Conferências Internacionais da ONU sobre a utilização da energia atómica para fins pacíficos, realizadas em Genebra, na Suíça. Foi consultor da Junta de Energia Nuclear de 1960 a 1974.

Interessou-se ainda por problemas de Geoquímica e Geofísica. Foi membro da Comissão Nacional Portuguesa do Special Committee on Oceanic Research (SCOR) em 1961. Organizou no Instituto Geofísico de Coimbra um Centro de Estudos de Química Física da Atmosfera e de Radioactividade Ambiente. Foi, ainda, Consultor do Serviço de Bolsas de Estudo (Química) da Fundação Calouste Gulbenkian desde 1970.

Entre os seus cerca de 30 trabalhos científicos salientam-se The retention of cobalt - 60 in Vitamin B12” (1954) eQuenching of the luminescent state of lhe uranyl ion by metal ions(1976), publicados Journal of the Chemical Society.

Foram constantes os seus esforços para atrair bons alunos para a Química e para recrutar, entre os melhores, os professores de Química da sua Faculdade. Foi assim que ajudou ao desenvolvimento de uma moderna escola de Química em Coimbra: hoje o Centro de Química da Universidade de Coimbra é reconhecido nacional e internacionalmente.

Foi sócio de várias instituições: o Instituto de Coimbra (a Academia de Coimbra, que funcionou entre 1852 e 1981), do Centro Académico de Democracia Cristã (hoje Instituto Justiça e Paz) e do Círculo Universitário de Coimbra, além da Sociedade Portuguesa de Química e de várias associações científicas nacionais e estrangeiras. Foi admitido como sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa em 1979.  Em 1987 foi-lhe prestada uma homenagem em Coimbra no decorrer de um NATO Advanced Study Institute.  A Imprensa da Universidade de Coimbra publicou em 2013 um livro em sua honra, resultante de uma conferência, no qual vários colaboradores, discípulos e amigos seus o recordaram com saudade.

A Química, não só em Coimbra como no país em geral, muito deve ao seu trabalho incansável numa altura difícil em que a ciência ainda não conhecia os ventos favoráveis que haveria de receber após a Revolução de 1974.

Bibliografia:

- ALVES, Antonio C. P., BROWN, John M. and HOLLAS, J. Michael (eds.),  Frontiers of Laser Spectroscopy of Gases Proceedings of the NATO Advanced Study Institute on Frontiers of Laser Spectroscopy of Gases Vimeiro, Portugal 30 March - 10 April 1987.  Dordrecht, Boston and London: Kluver, 1988.

- FORMOSINHO, Sebastião J. e BURROWS, Hugh D. (Coordenadores), Fernando Pinto Coelho: o mestre e o professor universitário, Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2013.

- FORMOSINHO, Sebastião J.: Nos Bastidores da Ciência 20 anos depois, Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2007.
- RODRIGUES, Manuel Augusto, Memoria Professorum Universitatis Conimbrigensis, Coimbra, vol. II, Coimbra: Arquivo da Universidade de Coimbra, 1992.
http://www.uc.pt/org/historia_ciencia_na_uc/autores/COELHO_fernandopinto
 


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