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"... a gamificação de ambientes da aprendizagem está ganhando apoio entre os educadores que reconhecem que os jogos efetivamente projetados podem estimular grandes ganhos de engajamento, produtividade, criatividade e aprendizagem autêntica (...) Ao trabalhar em projetos autodirigidos, onde os alunos pensam criticamente e comunicam de forma eficaz, eles dominam o núcleo do conteúdo acadêmico alinhado com as habilidades do século XXI."
NMC Horizon Report: Edição Educação Básica, 2014.
As crenças são ideias a que nos afeiçoamos e que tomamos por verdades, ainda que não tenham suporte científico ou, mesmo, lógico. Fazem parte de nós, precisamos delas; sem crenças a nossa vida seria pouco interessante... Mas elas têm um lugar, e é nesse lugar que as devemos manter. Se queremos estudar física, antropologia, filosofia ou pedagogia é preciso estarmos muito atentos ao que pensamos e perguntarmos com frequencia: será uma crença ou será um dado objectivo?
Em todas as áreas do saber que exigem objectividade, mesmo aquelas que se afirmam robustas, as crenças rodam e, sempre que podem, insinuam-se como certezas (é esta a sua tendência). Há que ter uma permanente atenção a isso mesmo.
Lamentavelmente, na Educação, esse campo sem fronteiras, que tudo acolhe e onde tudo se mistura, as crenças têm um campo aberto e o seu estatuto é tal que reduz qualquer dado científico a cinzas. E, depois, há épocas em que uma ou duas são invariavelmente invocadas, aparecem em tudo quanto é discurso e documento...
Confesso que cada vez tenho menos paciência para explicar que isso não é Pedagogia. Abro, no entanto, uma excepção para notar que duas delas, ligadas à criatividade e à crítica, voltaram em grande força com este afã que é (re)introdução dos computadores na escola. Agora é que vai ser: os meninos têm o conhecimento à mão, logo vá se lhe dizer que criem e que tenha uma atitude crítica.
Como se tal fosse simples... Não é: para se conseguir um desempenho criativo e crítico dos alunos em relação a um certo conhecimento ou conjunto de conhecimentos há um caminho a percorrer... Criatividade e crítica são capacidades de topo e não de partida. Evidentemente que devem ser trabalhadas desde o início da escolaridade, espera-se que se vão aperfeiçoando e consolidando, mas o processo requer técnica de ensino e não dispensa a aquisição e a compreensão de conhecimento relevante.
Melhor explicação do que a que eu possa dar, tem-na dado uma multiplicidade de autores, alguns deles portugueses, e desde há muito tempo, mas todo o esforço explicativo parece ser inglório... Ainda assim, transcrevo uma explicação muito clara dada por Amâncio da Costa Pinto.
O ensino deve estimular a criatividade e o espírito crítico. A aquisição e a acumulação de conhecimentos são irrelevantes.
"Há nesta afirmação, uma crença subtil errada, veiculada por um grande número de educadores encartados, que é a seguinte: O espírito crítico e o espírito criativo podem surgir do nada, quase que por geração espontânea. Como criticar pare-ce fácil e não exige grande esforço, há quem proponha deambular peripateticamente como os sofistas na ágora de Atenas, pavoneando o espírito crítico sobre a realidade que nos rodeia. São à nossa moda os críticos de café. É altamente improvável - diria mesmo impossível - que uma pessoa sem conhecimentos de história possa formular hipóteses criativas, inovadoras e sérias sobre a compreensão de acontecimentos passados. E o mesmo se passa em qualquer outra ciência. Mesmo nas artes, é excepcionalmente possível que uma criança exprima o traço e a forma de um Picasso, mas não tem espírito crítico nem é criativa sobre o porquê das formas de pintar que usa, nem qual o seu enquadramento na evolução da arte de representar. Entretanto e para que não restem dúvidas, gostaria de precisar que um dos objectivos mais nobres do ensino é o desenvolvimento da criatividade e do espírito crítico. Mas este objectivo não se consegue sem uma massa de saber prévio, sob pena de se tornar desinteressante e inútil. O desenvolvimento da criatividade e do espírito crítico não pode ser um objectivo final, mas um objectivo a alcançar por etapas no âmbito dos conhecimentos a adquirir. Além do mais, a competência no saber, o espírito crítico e a criatividade são específicas de uma área do saber e desenvolvem-se fundamentalmente no âmbito dessas áreas. Dificilmente as competências críticas e criativas numa área se generalizam a outras áreas do saber, não porque falte competência crítica e criativa, mas antes porque falta conhecimento prévio."
[Pinto, A. C. (1997). Pedagogia do esforço: Sete crenças educacionais em análise. Psicopedagogia, Educação e Cultura, 1 (2), pp. 357-363].
4 comentários:
Foi com muito gosto, proveito e atenção que li este texto.
Só gostava que me explicassem como pode haver espírito crítico sem conhecimentos!
Penso que como a ignorância grassa por este país então estamos num país de críticos e criativos!
Não tenha dúvida... É só ver a criatividade que por aí vai... Não somos governados por "criativos"?! E a criatividade que grassa no (des)Acordo Ortográfico?!
“Se uma pessoa domina o que é fundamental no seu assunto e aprendeu a pensar e a trabalhar de forma independente, ela seguramente encontrará o seu caminho e além do mais será capaz de se adaptar melhor ao progresso e às mudanças que a pessoa cujo treino consistiu principalmente em adquirir conhecimentos detalhados. «Albert Einstein»
“A escola deve ter sempre como seu objectivo que o jovem ao sair tenha uma personalidade harmoniosa, não a de ser um especialista. O desenvolvimento da capacidade geral para o pensamento e julgamento independentes devem ser sempre colocados em primeiro lugar, não a aquisição de um conhecimento especial.” «Albert Einstein»
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