“A miséria subsiste. Como outrora. Eliminá-la completamente, não
podes. Mas vais torná-la invisível” (Theodor Adorno, 1903-1969).
Em recente aparição pública,
António Costa anunciou a intenção do Partido Socialista, na
hipótese de ganhar as próximas eleições legislativas, ressuscitar as Novas
Oportunidades.
Esta intenção deve merecer
um novo, muito necessário e animado debate público sobre as Novas Oportunidades . Segundo Séneca, “viver
significa lutar”. Lutar contra o facilitismo,
o oportunismo, o laxismo que tomou conta do sistema educativo português por se
tratar de um assunto em que se poderá vir a jogar novamente (numa espécie de roleta russa) o nível
cultural de um povo. E de que se anuncia um salutífero ressurgimento!
Vivia-se, então, um tempo
de um país a duas velocidades na aquisição de diplomas escolares. Uns, os
alunos do chamado ensino regular, viajavam em comboios ronceiros, por vezes, com
paragens/reprovações em vários apeadeiros. Outros, os das Novas Oportunidades, na
comodidade de um TGV que os transportava à velocidade de um raio, rumo a
diplomas do ensino secundário e mesmo superior, com um escandaloso facilitismo.
Claro que com isto não
estou contra oportunidades para aqueles que, por motivos vários, se viram
obrigados a abandonar o ensino regular e desejam cumprir essa etapa de uma
forma séria. Ou seja, desde que a forma de obtenção desses diplomas se não
torne num prémio para videirinhos que, decididamente, não querem estudar. E, ipso facto, exigindo direitos sem
cumprir deveres.
Mas, porque “os factos são sagrados e os comentários são livres” (máxima do jornalismo), cinjo-me a
uma intervenção escrita de Santana Castilho ( Público, 25/05/2011) que bem documenta a “exigência certificante” de
uma dissertação do ensino secundário neste elucidativo naco de prosa, que se
transcreve ipsis verbis:
“Como já se disse
anteriormente tenho um filho e uma filha, em que ele è mais velho cinco
anos…Ando sempre a fazer-lhes ver as coizas, até já lhe tenho dito se tiver a
inflicidade de falecer novo paça a ser ele o homem da casa e tomar conta da mãe
e mana, mas para ele é difícil de compreender as situações e acaba por me dar
razão e por vezes até me pede desculpa e que para a procima já não comete os
mesmos erros. Ele tem o espaço dele com a mãe em que não me intrumeto, desde
mimos e converças porque graças a Deus nem eu nem ele temos siumes um do outro
com a mãe…”
Não será que com todos estes facilitismos, que impendem sobre o sistema educativo , se estará a dar mais que razão a um famoso ministro socialista do IX Governo Constitucional? Refiro-me ao falecido Francisco Sousa Tavares e à sentença por si proferida com o desassombro que caracterizava a sua personalidade: “Estamos a formar não um país de analfabetos, como até aqui, mas um país de burros diplomados!”
Não será que com todos estes facilitismos, que impendem sobre o sistema educativo , se estará a dar mais que razão a um famoso ministro socialista do IX Governo Constitucional? Refiro-me ao falecido Francisco Sousa Tavares e à sentença por si proferida com o desassombro que caracterizava a sua personalidade: “Estamos a formar não um país de analfabetos, como até aqui, mas um país de burros diplomados!”
Ou seja, se o Partido
Socialista ganhar as próximas eleições, a miséria das Novas Oportunidades
ressurgirá. E António Costa, em época pré-eleitoral, nem sequer se dá ao trabalho
em torná-la invisível. Anuncia-a urbi et
orbi!
Adenda: O cartoon acima, publicado no Diário de Lisboa (30/05/1925), foi reproduzido neste blogue, em 28.Outubro.2010, enviado pelo meu ilustre Colega João Boaventura, falecido tempos atrás. Da respectiva lavra, foram aqui publicados vários e valiosos textos críticos sobre o sistema educativo nacional.
Adenda: O cartoon acima, publicado no Diário de Lisboa (30/05/1925), foi reproduzido neste blogue, em 28.Outubro.2010, enviado pelo meu ilustre Colega João Boaventura, falecido tempos atrás. Da respectiva lavra, foram aqui publicados vários e valiosos textos críticos sobre o sistema educativo nacional.
4 comentários:
Professor Rui Batista, porque gosto de lobos maus, fiz este para si:
No comboio ronceiro
No comboio ronceiro,
A passo de caracol,
Senta-se o mundo inteiro
Sob um tremendo sol.
Viaja o pai, viaja a mãe,
Irmãos, tios e avós,
O padre, o ateu também,
Os amigos e os que estão sós...
Viaja a filha e o filho,
Os animais de estimação,
Todos pelo mesmo trilho
Sem paragem, nem estação.
Quando trepa p’la subida
Perde tempo, o motor.
Mas o comboio puxa a vida
Seja com que força for!
Quando desce é empurrado
Por demónios e por santos,
O comboio mal amado
Cheio de risos e prantos.
É neste que vou, ainda,
Já desço lenta, anoitece...
O bilhete é só de ida
De volta, não me apetece.
E assim passa a paisagem,
Igual sempre que a mudo.
Para que serve a viagem?
Para a fazer, e é tudo!
Hora ditosa em que escrevi este meu post pela retribuição dos versos que me enviou. Bem haja!
Creio que o cartoon terá sido publicado no Diário de Lisboa de 30 de abril de 1925. Fonte: Lívia Coito, Ana Martins e João Cardoso, José Leite de Vasconcelos - Fotobiografia, Verbo, 2008, p. 214.
Prezado comentador: Só hoje tomei conhecimento da sua rectificação que muito agradeço. Errar é humano, persistir no erro é teimosia...asinina!
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