sábado, 11 de abril de 2015

"Não se fala latim nem no Facebook nem no Twitter"

Pour en finir avec le latin et le grec

Agradeço a referência do leitor João Viegas ao artigo do Libération acima identificado e que pode ser encontrado aqui

Sei francês mas não sei latim, pelo que, infelizmente, não pude compreender todas as "nuances" do texto, mas nele percebi uma fina e incisiva crítica ao disparate que é o afastamento desta língua dos currículos escolares em alguns países da Europa,

Efectivamente, Portugal conseguiu praticamente a sua extinção, e agora Espanha e França seguem-nos. Neste processo, o que neste países é diferente do nosso é a reacção de pessoas individuais ou em associação.

Enfim, as reformas curriculares mais recentes destes países está a impedir que uma parte substancial do conhecimento que faz parte da herança ocidental desapareça dos nossos horizontes. Há-de ficar guardada, um dia alguém a recuperará, mas as próximas gerações - quantas serão? - não terão possibilidades de usufruir dela.

Os argumentos que (ironicamente) Pascal Engel convoca no seu texto são usados (sem ironia nenhuma, de modo muito sério até) em múltiplos textos que leio, respeitantes ao que e escola deve oferecer:
- este mundo em que vivemos é completamente diferente, está em mudança, e não podemos educar para o um mundo que já passou mas para o dinâmico presente;
- o conhecimento mais erudito não serve para nada a não ser para manter o poder de certas elites, e insistindo-se nesse conhecimento estamos a aumentar as desigualdades sociais;
- esse conhecimento, para quem o quiser aprender, está disponível algures na internet, pelo que escusa de estar contemplado no currículo, o qual deve contemplar sobretudo componentes úteis, funcionais capazes de facultar a integração no mercado de trabalho;
- etc, etc, etc.

Devemos preocupar-nos.

7 comentários:

lino disse...

Não estará o autor a ser sarcástico? Olhando para o currículo parece ser a ´conclusão a tirar.

Isaltina Martins disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Isaltina Martins disse...

Respondendo ao comentário anterior.
Claro que o texto é irónico.
A ironia, quando não há um contraponto, quando nos deixa na dúvida, é perigosa. Este artigo tem, realmente, esse perigo: não há afirmações directas que nos mostrem que tudo isto é irónico. No entanto, penso que é assim que deve ser entendido. A formação académica do autor, as citações latinas constantes, o exagero no ataque, querendo mesmo apagar as inscrições latinas, acabar com o uso do alfabeto grego, mudar o nome do "quartier latin"... são coisas que raiam o absurdo, por isso, só pode ser entendido como sarcasmo. Ele quer mostrar que o latim está presente em tudo, do direito à medicina, das artes à literatura, nos monumentos arquitectónicos que os romanos deixaram, até no nome das ruas e bairros... por isso é absurdo querer apagá-lo, deixar de o ensinar...

bea disse...

Não há futuro sem passado. Que raio de tempo estaremos a tentar construir com esta supressão, é o que não entendo.

joão viegas disse...

Ola,

Folgo muito que tenham gostado. Claro que o texto é ironico. Esta muitissimo bem escrito precisamente porque é essa ironia que nos leva a compreender o que ele quer dizer: expulsar o latim (e o grego) do ensino secundario e do ensino superior, é apenas uma maneira de aceitar que os nossos estabelecimentos de ensino enxotem o saber e a inteligência para longe deles, o que equivale a torna-los perfeitamente inuteis. Ha que evitar aqui um perigoso contrasenso : proceder desta forma imbecil é o CONTRARIO de uma democratização do ensino...

Como dizia um advogado de sucesso, muito mediatico na altura e a par das ultimas modas intelectuais (chamado Cicero), o util e o bem convergem...

A primeira citação de Leibniz significa (julgo que se aplica aos professores de logica) : "eles não devem ser criticados pelo que fazem, mas por cansarem as crianças com isso". As outras são relativamente compreensiveis, ou então encontram-se facilmente na Internet com a sua tradução, salvo uma ou outra que diz respeito à historia francesa (por ex. ad usum delphini, que significa para uso do delfim, ou seja do principe herdeiro, formula estampada nos classicos antigos dados ao principe herdeiro, apos terem sido expurgados das passagens mais ousadas).

Boas

Unknown disse...

A ver a reforma que os finlandeses estão a iniciar. A ponderar tambem o declinio das sociedade que ateimam em formas napoleonicas de organização do ensino e todas as outras areas(politica, economica ). Estes direitos consuetedinarios que as mentes brilhantes de países moribundos teimam em achar o máximo , mostra um grande autismo e recusa de ver a realidade. Todos os paises que seguem esses critério estão em declinio comparado com as sociedades em que a eficiencia é a pedra basilar da sociedade.

Céu Gonçalves disse...

Se o texto é irónico ou não, não é uma questão essencial O essencial é que desperta consciências. O que se pretende ou reclama do ensino? Em Portugal já se viu.

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