Os poetas, mesmo os mais esquecidos, voltam à vida quando são lidos e apreciados. Botto, António Botto, entra numa sala de aula do ensino secundário à margem de programa e de manuais, à margem do politicamente correcto...
Bendito sejas,
Meu verdadeiro conforto
E meu verdadeiro amigo!
Quando a sombra, quando a noite
Dos altos céus vem descendo,
A minha dor,
Estremecendo, acorda...
A minha dor é um leão
Que lentamente mordendo
Me devora o coração.
Canto e choro amargamente;
Mas a dor, indiferente,
Continua…
Então,
Febril, quase louco,
Corro a ti, vinho louvado!
- E a minha dor adormece,E o leão é sossegado.
Quanto mais bebo mais dorme:
Vinho adorado,
O teu poder é enorme!
E eu vos digo, almas em chaga,
Ó almas tristes sangrando:
Andarei sempre
Em constante bebedeira!
Grande vida!
- Ter o vinho por amante
E a morte por companheira!
António Botto in Canções
sábado, 23 de novembro de 2013
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2 comentários:
Que vinho bebem os abstémios além do da poesia nestes tempos em que mais acordados precisamos estar.
E, como escrevia Régio pensando nas cartas da mãe, as tais que relia em necessidades que se adivinham e guardava no fundo da mala, a um canto, "se não fora ter-te assim, sempre à beirinha de mim, já teria morrido , ou já teria bebido algum tinteiro de tinta" (cito de cor, se algum erro, sorry).
Mas talvez os empreendedores não gostem de poesia. Ou curtam apenas a ode triunfal. Qualquer coisa assim. Ou nada disto.
Poetas são poetas e poesia quanto amor!
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