– Porque é que eu tenho de saber isso? – Foi uma pergunta que, como professor, ouvi centenas ou milhares de vezes. Sempre que isso acontecia lembrava-me desta passagem, que conhecia desde os meus 18 ou 19 anos, e apetecia invariavelmente responder:
– Para saber!..
"Triste por ver que não lhe ligavam nenhuma, o alcatraz soltou um doloroso gemido. Olívia lembrou-se de repente porque é que tinha subido ao passadiço e virou-se para o pobre ferido.
– Posso apanhá-lo capitão? – perguntou ela.
– Com certeza, se não tens medo que ele te morda! - disse o capitão.
– Mas os pássaros não mordem – disse Olívia.
– Ah! Ah! Ah! é que esse pássaro não é um pássaro vulgar.
– Então o que é? – perguntou Didi.
– Não sei – disse o capitão – o que prova claramente que não é um pássaro vulgar, porque esses conheço-os eu: temos a pega, a bugigansa, o escorvém, o paneiro de xadrêz, a moedura, o gaviãozito, o cardume, a abetarda e o cantropo, o verdete das praias, o marcha-a-olho e o sempre-em-concha; além destes, podemos citar a gaivota e a galinha vulgar, que eles chamam em latim cocota deconans.
– Bolas!... o capitão sabe imenso! – murmurou Didi.
– Foi para isso que aprendi – disse o capitão. (...)"
Boris Vian, O Outono em Pequim. Tradução de Luísa Neto Jorge. Publicações D. Quixote (1989).Fernando Caldeira
1 comentário:
Excelente leitura!
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