segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Cristovam Pavia


Cristovam Pavia, pseudónimo do poeta Francisco António Lahmeyer Flores Bugalho, nasce a 7 de Outubro de 1933 em Lisboa. Filho do poeta da presença, Francisco Bugalho, passa a  infância  nos arrabaldes de Castelo de Vide para depois retornar a Lisboa, onde inicia a sua carreira escolar. É na capital que conhece Pedro Tamen, Rogério Fernandes, Luís de Sousa Costa e António Osório, poetas que viriam a se tornar seus amigos. Entrementes, a morte do pai é um golpe violento, do qual não mais recuperará.

Na Poesia de Pavia há a fragrância das tílias, das glicínias, das gardénias; há a obsessão pelos pântanos e pelo abismo; há a presença constante do passado, do presente dúbio e do futuro sombrio, ou mesmo a sua negação; há a saudade da infância, do seu paraíso terno; há a solidão da juventude, que compara à das glicínias durante a noite; há o anelo de dormir até ao fim para matar o cansaço; há o amor irrefragável pelo pai, pela mãe e pelo seu cão; há a paixão pela poesia, pelos poetas Carlos Queiroz e Manuel Bandeira; há a desorientação e a doença que o persegue; há a mulher amada esculpida em toda a matéria; há a discrição que anseia e os apupos de que é vítima; e, por fim, há um beco sem saída.

Escolhi estes três poemas do poeta:
Poema 
(de uma fotografia de meu pai comigo, pequeno de meses, ao colo) 

Vamos através do incêndio
Mas não temas, meu filho
Podes dormir nos meus braços frescos e fortes,
Embala-te a cadência dos meus passos. 
Vamos através do incêndio
E sonhas.
Detrás das tuas pálpebras a tarde
Beija e doira as folhas dos sobreiros.
E quase me esqueço
Deste fogo puro,
P`ra te dar frescura.
Arde o meu sangue calmo.
E o meu suor, arde. 
E, devagar,
Vamos através do incêndio. 
Dorme, meu filho. 

Êxtase Ι 

Eis a minha vida:
Um sorriso entre lágrimas…
Uma lágrima entre sorrisos…
E a Poesia pairando sobre tudo! 

Na Noite da minha morte

Na noite da minha morte
Tudo voltará silenciosamente ao encanto antigo…
E os campos libertos enfim da sua mágoa
Serão tão surdos como o menino acabado de esquecer. 
Na noite da minha morte
Ninguém sentirá o encanto antigo
Que voltou e anda no ar como um perfume…
Há-de haver velas pela casa
E xailes negros e um silêncio que eu
Poderia entender. 
Mãe: talvez os teus olhos cansados de chorar
Vejam subitamente…
Talvez os teus ouvidos, só eles ouçam, no silêncio da casa velando,
Uma voz serena de infância, tão clara e tão longínqua…
E mesmo que não saibas de onde vem nem porque vem
Talvez só tu a não esqueças. 

 Cristovam Pavia  acaba com a vida a 13 de Outubro de 1968, com 35 anos. No mesmo dia o Brasil chora a morte de Manuel Bandeira.

4 comentários:

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Ascensão, planos e lastima. Poeta sob o patrocínio sólido e vertente a fluidez.

Anónimo disse...

Tem olhos de drama, o poeta. Olhos de lhe custar a realidade, de não ter aprendido a indiferença que nos couraça para podermos a vida.

Que o poeta não é tão fingidor assim; e o "sentir, sinta quem lê" é um puro de um fingimento.

Semelhanças disse...

Nunca percebi porque nascem, as pessoas...
Nem porque morrem

Entendo, a indiferença...
um bem-estar entre essas duas horas de ponta.

Just me disse...

a indiferença não é um bem estar, mas um amorfismo impossível a quem vive. E mais a quem pensa.

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