Cristovam Pavia, pseudónimo do poeta Francisco António Lahmeyer Flores Bugalho, nasce a 7 de Outubro de 1933 em Lisboa. Filho do poeta da presença, Francisco Bugalho, passa a infância nos arrabaldes de Castelo de Vide para depois retornar a Lisboa, onde inicia a sua carreira escolar. É na capital que conhece Pedro Tamen, Rogério Fernandes, Luís de Sousa Costa e António Osório, poetas que viriam a se tornar seus amigos. Entrementes, a morte do pai é um golpe violento, do qual não mais recuperará.
Na Poesia de Pavia há a
fragrância das tílias, das glicínias, das gardénias; há a obsessão pelos
pântanos e pelo abismo; há a presença constante do passado, do presente dúbio e
do futuro sombrio, ou mesmo a sua negação; há a saudade da infância, do seu
paraíso terno; há a solidão da juventude, que compara à das glicínias durante a
noite; há o anelo de dormir até ao fim para matar o cansaço; há o amor
irrefragável pelo pai, pela mãe e pelo seu cão; há a paixão pela poesia, pelos
poetas Carlos Queiroz e Manuel Bandeira; há a desorientação e a doença que o
persegue; há a mulher amada esculpida em toda a matéria; há a discrição que
anseia e os apupos de que é vítima; e, por fim, há um beco sem saída.
Escolhi estes três poemas do
poeta:
Poema
(de uma fotografia de meu pai comigo, pequeno de meses, ao colo)
Vamos através do incêndio
Mas não temas, meu filho
Podes dormir nos meus braços frescos e fortes,
Embala-te a cadência dos meus passos.
Vamos através do incêndio
E sonhas.
Detrás das tuas pálpebras a tarde
Beija e doira as folhas dos sobreiros.
E quase me esqueço
Deste fogo puro,
P`ra te dar frescura.
Arde o meu sangue calmo.
E o meu suor, arde.
E, devagar,
Vamos através do incêndio.
Dorme, meu filho.
Êxtase Ι
Eis a minha vida:
Um sorriso entre lágrimas…
Uma lágrima entre sorrisos…
E a Poesia pairando sobre tudo!
Na Noite da minha morte
Na noite da minha morte
Tudo voltará silenciosamente ao encanto antigo…
E os campos libertos enfim da sua mágoa
Serão tão surdos como o menino acabado de esquecer.
Na noite da minha morte
Ninguém sentirá o encanto antigo
Que voltou e anda no ar como um perfume…
Há-de haver velas pela casa
E xailes negros e um silêncio que eu
Poderia entender.
Mãe: talvez os teus olhos cansados de chorar
Vejam subitamente…
Talvez os teus ouvidos, só eles ouçam, no silêncio da casa velando,
Uma voz serena de infância, tão clara e tão longínqua…
E mesmo que não saibas de onde vem nem porque vem
Talvez só tu a não esqueças.
Cristovam Pavia acaba com a vida a 13 de Outubro de 1968, com 35 anos. No mesmo dia o Brasil chora a morte de Manuel Bandeira.
(de uma fotografia de meu pai comigo, pequeno de meses, ao colo)
Vamos através do incêndio
Mas não temas, meu filho
Podes dormir nos meus braços frescos e fortes,
Embala-te a cadência dos meus passos.
Vamos através do incêndio
E sonhas.
Detrás das tuas pálpebras a tarde
Beija e doira as folhas dos sobreiros.
E quase me esqueço
Deste fogo puro,
P`ra te dar frescura.
Arde o meu sangue calmo.
E o meu suor, arde.
E, devagar,
Vamos através do incêndio.
Dorme, meu filho.
Êxtase Ι
Eis a minha vida:
Um sorriso entre lágrimas…
Uma lágrima entre sorrisos…
E a Poesia pairando sobre tudo!
Na Noite da minha morte
Na noite da minha morte
Tudo voltará silenciosamente ao encanto antigo…
E os campos libertos enfim da sua mágoa
Serão tão surdos como o menino acabado de esquecer.
Na noite da minha morte
Ninguém sentirá o encanto antigo
Que voltou e anda no ar como um perfume…
Há-de haver velas pela casa
E xailes negros e um silêncio que eu
Poderia entender.
Mãe: talvez os teus olhos cansados de chorar
Vejam subitamente…
Talvez os teus ouvidos, só eles ouçam, no silêncio da casa velando,
Uma voz serena de infância, tão clara e tão longínqua…
E mesmo que não saibas de onde vem nem porque vem
Talvez só tu a não esqueças.
Cristovam Pavia acaba com a vida a 13 de Outubro de 1968, com 35 anos. No mesmo dia o Brasil chora a morte de Manuel Bandeira.
4 comentários:
Ascensão, planos e lastima. Poeta sob o patrocínio sólido e vertente a fluidez.
Tem olhos de drama, o poeta. Olhos de lhe custar a realidade, de não ter aprendido a indiferença que nos couraça para podermos a vida.
Que o poeta não é tão fingidor assim; e o "sentir, sinta quem lê" é um puro de um fingimento.
Nunca percebi porque nascem, as pessoas...
Nem porque morrem
Entendo, a indiferença...
um bem-estar entre essas duas horas de ponta.
a indiferença não é um bem estar, mas um amorfismo impossível a quem vive. E mais a quem pensa.
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