A História está entre estas últimas. Sem relação directa com as preocupações sócio-económicas dominantes, sem parecer contribuir para a aquisição de competências úteis, como sejam, por exemplo, as de empreendedorismo, vê reduzir-se a sua importância educativa, bem patente na restrição de conteúdo e de tempo curricular.
João Gouveia Monteiro, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, consciente desta circunstância, explica, em entrevista, o papel que o saber histórico tem na compreensão do presente e na construção do futuro:
Conforme o leitor percebeu, esta entrevista foi feita, no passado ano, na sequência da apresentação da obra: "Grandes Conflitos da História da Europa, de Alexandre Magno a Guilherme, O Conquistador", editada pela Imprensa da Universidade de Coimbra.
Trata-se de uma "obra que nos propõe uma viagem por cinco momentos decisivos da história do Velho Continente, ao longo de catorze séculos. A batalha de Gaugamela, travada entre Alexandre Magno (o mais brilhante general do Ocidente antigo) e Dario III (“Grande Rei” da Pérsia), em 331 a. C. A batalha de Canas, a mais pesada derrota da história do Império Romano, ferida em 216 a. C., no sul de Itália, no âmbito da guerra pelo domínio do Mediterrâneo que opunha Roma a Cartago (liderada pelo lendário comandante Aníbal Barca). A batalha de Adrianopla, que teve lugar na atual Turquia, em 378 d. C., entre o imperador romano do Oriente e uma coligação de povos bárbaros, anunciando o inevitável advento de uma nova Europa. A batalha de Poitiers, ocorrida na Gália, em 732 d. C., e em que Carlos Martel (avô de Carlos Magno) venceu o exército do governador árabe do al-Andalus e frustrou as ambições muçulmanas de domínio da Gália. E a batalha de Hastings, travada em 1066, no sul de Inglaterra, o combate mais espetacular da Idade Média e em que o duque da Normandia, Guilherme, matou o rei anglo-saxónico, Haroldo II Godwinson, provocando uma viragem no destino das duas maiores potências europeias de então. Trata-se de um livro cuidadosamente ilustrado, que se dirige a um público muito amplo e onde a história política e a história militar se iluminam mutuamente. A obra, evocativa de grandes figuras da história antiga e medieval europeias, é sustentada por uma leitura cuidadosa das melhores fontes escritas e iconográficas à disposição do historiador (como Arriano, Políbio, Marcelino, a Crónica de 754, Guilherme de Poitiers ou a fabulosa Tapeçaria de Bayeux, entre outras)."
3 comentários:
A história como a filosofia são saberes que estruturam a mente. Aprendê-las distancia-nos da notícia efémera. E parece-me tão de relevo esta importância que dispensa possíveis adequações do passado ao presente. É uma questão de cultura geral. Ponto. De mais cultura e menos notícia. De sermos, enfim, homens com mente humana. Coisa que se vai perdendo no horizonte florestal do empreendedorismo
Tem razão, caro leitor Anónino, quando destaca o "valor em si" do conhecimento, e que, exactamente por ter esse valor, deve (tem de) ser ensinado. Há muito que deixámos de lhes prestar atenção e que tentamos exclui-lo da escola.
Mas tal valor não nega o "valor instrumentar" que o conhecimento também tem e que se traduz em desenvolver, como diz, a mente humana.
Cumprimentos,
MHD
É. Penso até que estaremos em concordância. Mas, ao ouvir o vídeo, deu-me um pouco a impressão de que existe nele um certo desejo de, por exemplo as guerras púnicas, tão distantes de nós, poderem servir-nos hoje. Mas, a lição é cada um a tomá-la, tem uma carga não totalmente objectiva; enquanto a estruturação da mente serve todos que aprendam história.
O que quis dizer é que o ensino da História é por demais importante e dispensa a demonstração de "utilidade", na aproximação que tem com o presente.
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