sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Fuga de cérebros

O jornal inglês Financial Times publicou  um vídeo interessante sobre a fuga de cérebros em Portugal. A reportagem pode ser consultada aqui.

Sobre este tema actual, faltam números mas todos conhecem a realidade : Portugal voltou a ser (talvez nunca tenha deixado de ser) um país de emigrantes. Só que desta vez não são os menos qualificados que estão a partir. Quem parte são precisamente os que possuem níveis de educação, qualificação e experiência mais altos. E, ao contrário do que se passou nos anos 60, estes emigrantes quando partem, raramente o fazem com planos de regressar ou enviar as suas receitas para construir uma vivenda na terra natal. Muitos partem para sempre.

Os números que consultei são  insuficientes e pouco consistentes entre si, mas segundo a Portdata, só em 2011 foram cerca de 100 000 que emigraram (ver gráfico). O site do observatórido da emigração reune vários indicadores que mostram o crescimento vertiginoso da emigração (embora seja um site com uma usuabilidade péssima que o torna praticamente inútil). Se observarmos o número de doutoramentos em portugal (que cresceu quase uma ordem de grandeza em pouco mais de 10 anos) e já ultrapassou os 1000 por ano, a pergunta é: para onde vão esses doutorados, sabendo que os quadros de pessoal docente das universidades estão praticamente fechados e o sector privado não contrata doutorados?


29 comentários:

Anónimo disse...

Eis, finalmente, uma questão (à) séria:

"para onde vão esses doutorados, sabendo que os quadros de pessoal docente das universidades estão praticamente fechados e o sector privado não contrata doutorados?"

E já agora, acrescento: e quando a FCT anda a fazer cortes radicais e tem uma política de favorecimento aos doutorados não nacionais?

João Pires da Cruz disse...

Erro de perspectiva. Desde 2001 que o nosso país é, economicamente, a UE. Em rigor, ninguém está a emigrar, são apenas movimentações internas dentro do mesmo espaço económico da mesma maneira que antes vinham de Viseu para Lisboa.
E precisavam de sair tantos? Pois, atendendo que metade da circulação de dinheiro serve para pagar um estado que nem sequer coincide economicamente com o nosso país, eu diria que não.Mas o melhor é estar quieto porque já estou a ver a solução: gastar ainda mais!

Quanto aos doutorados, a situação é diferente relativamente aos licenciados, ou mestrados? Deveria?

Anónimo disse...

Erro de análise. Economicamente o nosso país é mais Angola ou o Brasil do que a Lituânia ou do que Malta. Em segundo lugar, não existe, na realidade, uma política económica comum à UE (no seu conceito de país-económico, os EUA e o México são o mesmo país). Em terceiro lugar, boa parte da emigração é para fora do espaço da UE, pelo que a afirmação: "Em rigor, ninguém está a emigrar", é simplesmente patética (a não ser que no seu rigor a Suíça, por exemplo, faça parte da UE). Em quarto lugar, estamos a falar de financiamento da ciência de um país secularmente atrasado; não estamos a falar do orçamento de estado no seu todo. Por fim, vá viver algures para o interior da Roménia e depois diga-me que é mesmo que ir de Viseu para Lisboa.

João Pires da Cruz disse...

Eu também gosto de reduzir a minha a argumentação a frases do tipo "isso é simplesmente patético". Acho que dá uma boa base de discussão e pareço um gajo muito inteligente. "Isso é simplesmente patético!"...

Anónimo disse...

mas é que é patético mesmo. De pathos, patas, portanto.

perhaps disse...

Usar o velho - e em parte falso - estribilho de que somos UE e por isso não há fronteiras e estaremos em casa onde quer que a Europa seja, é inadequada desculpa, sapato onde o pé não entra. Porque um país que exporta massiva e alegremente os seus melhores cérebros e os profissionais mais qualificados, é palerma. É palerma um governo que o permite e incentiva. Rejeitar os jovens é sempre rejeitar o futuro – e não é apenas um chavão é também uma verdade - e mais o será se nos referimos a um país com a população envelhecida. As consequências deste tipo de emigração só se verão daqui a uns anos, mas afiguram-se desfiguradas. E as crianças não se compram no supermercado. Há mesmo coisas que se não compram, se têm de construir pouco a pouco no país que temos com as pessoas que lhe pertencem. Mas nada disto importa. Um país de velhos esvai-se sem remédio, que sem renovação nada existe. Não são os portugueses que têm vocação de emigrantes, são os governos de Portugal que lha servem vezes demais como hipótese. É um alarmar na falta de horizonte. Tudo se pensa para agora, pequenino, sem abarcar a extensão das decisões. Que falta de amplitude, meus deuses.
BFS

Anónimo disse...

Acredite que goste, mas devo-lhe informar que essa parte não é parte do argumento (presumo que saiba o que isso de um "argumento"). Se quiser substitua o patético por genial e verá que o efeito é o mesmo. E repito-lhe: nem a Suiça, nem o Brasil, sem os EUA ou o Brasil fazem parte da UE. Ainda bem que a nossa emigração - especialmente de doutorados - é toda para República Checa, para a Estónia ou para o Chipre.

maria disse...

pois , mesmo que emigrar dentro da ue não seja emigrar , acontece que quem pagou a escolinha aos não emigrantes fomos nós no protectorado local... e que eu saiba não estão a não emigrar alemães e tal formados com os impostos deles para portugal. para contrabalançar.. perdemos , João , não há volta a dar :)

João Pires da Cruz disse...

Viu dados? Foi ao INE confirmar o que está a dizer? Então vá... Mas vou seguir a sua sugestão. Vou substituir o patético por genial!

João Pires da Cruz disse...

Não entendo o que encara como solução. Se deixar de formar as pessoas, se gastar dinheiro a ocupá-las em inutilidades como foi feito até 2010 com os resultados que estamos a presenciar, ...

Faz parte da nossa escolha. 95% dos eleitores Portugueses sempre se pronunciaram a favor da nossa integração na Europa. Os partidos que defenderam Maastricht ganharam sempre, os que defenderam os Euro idem, os que defenderam Sheguen idem. Faz parte. Hoje entrevistei uma rapariga da Eslováquia que quer vir para cá, no mês que vem estou a trabalhar na Suécia, no mês seguinte em Inglaterra. Sou emigrante? Ou sou simplesmente um trabalhador que circula na economia que compra o seu trabalho? A rapariga que entrevistei hoje dizia-me que não gostou de estar na Holanda mas adorou estar em Portugal. Acha que isto vai voltar atrás?

Anónimo disse...

Viu dados do INE que suportem a sua afirmação de que, em rigor, nenhum recém-doutorado foi para fora do espaço da UE nos últimos anos? Eu conheço directamente uma dezena deles; estou certo que o INE conhecerá mais umas tantas. O rigor é uma coisa tão lind. É genial!

Armando disse...

É verdade João, estamos num espaço europeu, mas não deixa de ser preocupante assistir a este saldo migracional. Há algo de muito errado em todo o sistema educacional que continua a formar pessoas para o desemprego e, pior que isso, forçar artificialmente a oferta quando não há procura, só para ficar bem nas estatísticas.

Uma coisa que não percebo é porque razão não aproveitamos estas condições únicas e mão-de-obra barata para sermos uma powerhouse de engenharia na Europa, nomeadamente no desenvolvimento de software.

Anónimo disse...

"sou simplesmente um trabalhador que circula na economia que compra o seu trabalho"

Eis que descobrimos - A prostituição é a mais velha forma de empreendedorismo.

Psst, outra coisa: em Portugal a abstenção para as legislativas tem rondado os 40% e nunca houve um referendo sobre a nossa integração na UE, logo a frase seguinte é tolinha: "95% dos eleitores Portugueses sempre se pronunciaram a favor da nossa integração na Europa."

Anónimo disse...

95% dos eleitores (foram assim tantos?) votarem em partidos que apoiavam a integração na Europa não é a mesma coisa que apoiar a integração na europa, já que a dinâmica política é multi-facetada. Também não garante que tenham razão. E desconfio que se fosse hoje essa percentagem seria significativamente mais baixa, apesar da manipulação dos media e dos poderes correntes.

Mas o mais importante é que aos apoiantes da integração europeia venderam uma narrativa bastante diferente desta realidade; seria uma europa solidária e com regras de convergência, não uma em que as regras favorecem os mais fortes e estrangulam os mais fracos.

Infelizmente a ideia errada que o dinheiro é absoluto em valor e a analogia errada de um país como uma casa de família leva a que ideias profundamente erradas do ponto de vista macroeconómico passem e sejam implementadas, com os efeitos trágicos que estão à vista. E vão continuar. É olhar para a Grécia.

E claro, há sempre uns arautos mais papistas que o papa a defender o impensável, até porque certamente não o sentem muito na pele. E claro, a sua energia é inversamente proporcional à profundidade das suas ideias, é tão mais fácil seguir por um caminho sem bifurcações - ou quando não as vemos ou queremos ver!

PG

Pedro disse...

Creio que nesta pergunta:

"Se observarmos o número de doutoramentos em portugal (que cresceu quase uma ordem de grandeza em pouco mais de 10 anos) e já ultrapassou os 1000 por ano, a pergunta é: para onde vão esses doutorados, sabendo que os quadros de pessoal docente das universidades estão praticamente fechados e o sector privado não contrata doutorados?"

encontramos a resposta para os dado do post anterior: o grosso da produção de publicações científicas é realizado por jovens investigadores. Contudo, esses não têm lugar nas universidades, povoado por gente que se tem um ou duas publicações é uma sorte. Logo, com a emigração dos primeiros, ficam os segundos e a sua baixa produtividade. E deixar a coisa ficar assim é garantir formação universitária cada vez de pior qualidade e prolongar o atraso científico. Não sendo possível retirar os que lá estão, só existe uma resposta, que é investir para manter um bom número dos que se formaram. Ao fim de algum tempo o retorno desse investimento será claro na produtividade e qualidade do ensino superior. Temos pena, mas algumas reformas estruturais há que não rimam com economia de donas de casa.

Rui Fonseca disse...

"Não são os portugueses que têm vocação de emigrantes, são os governos de Portugal que lha servem vezes demais como hipótese."

Admitamos que sim, que os governos, este e os outros, são culpados.
De qualquer modo parece que não se clarifica a questão indo por aí porque, considerando o passado recente e remoto, um bom governo é difícil de encontrar...

O que é evidente é que se produzem hoje em Portugal "cérebros" a mais e economia a menos. E também parece evidente que uma sobreprodução de "cérebros" pouca ou nenhuma influência positiva determina, só por si, no crescimento económico. Porquê? Porque, como em tudo o que cresce, o ambiente equilibrado, aquele onde todos os factores se conjugam da forma mais ajustada, é um requisito fundamental para o crescimento económico. E em Portugal este requisito, por razões múltiplas e antigas, não existe de modo competitivo, isto é, que possa confrontar-se, por enquanto, com aqueles para onde os nossos "cérebros" (uma expressão pretenciosa que denuncia uma caractarística do nosso ambiente) emigram.

Ouve-se com frequência que "esta geração é a melhor preparada de sempre" mas é uma ambiguidade. É melhor preparada que as gerações portuguesas anteriores mas não é a melhor preparada, longe disso, quando comparada com as juventudes de países concorrentes, que são, praticamente, todas. Hoje, nestas coisas, já não se jogam os títulos nos regionais mas nos mundiais.

Não se iludam: a produtividade científica em Portugal, quaisquer que sejam os critérios de medida, é comparativamente baixa apesar da evolução muito positiva observada nas últimas duas décadas.

E a discussão acerca das consequências da emigração para o território do emigrante é peregrina: a redução de potencial humano em Elvas tanto se observa no caso de um elvense (licenciado, mestrado, doutorado ou simplesmente capaz de trabalhar) emigrar para Paris como para Lisboa. A questão não é essa. A questão é outra: No dia em que houver factores de atracção em Elvas, o elvense voltará. Ele ou outro.

O problema está em saber suscitar o crescimento económico. Uma questão que passa por muitos vectores, um dos quais é a exigência. Um requisito que não parece quadrar muito bem com a nossa idiossincrasia colectiva.

João Pires da Cruz disse...

Então paramos de formar? Quando crescermos economicamente vamos conseguir parar o fluxo, até inverte-lo. Até lá, é assim. Não vale a pena chorar sobre o leite derramado.

João Pires da Cruz disse...

Eu já conhecia vários. Uma boa percentagem dos recém-doutorados ia para fora do território. E continuo sem perceber a questão dos doutorados, os licenciados é melhor? Os metalúrgicos?

João Pires da Cruz disse...

Porque os teus concidadãos decidiram ter estradas e tirar o dinheiro às pessoas para as construir.

João Pires da Cruz disse...

Para 40% das pessoas era indiferente a integração Europeia. Se quiser ver pelo contrário, veja os partidos que se opunham e pode fazer a conta pela população:2% dos portugueses opunham-se à integração europeia. Fica melhor assim, génio?
Esta gente às vezes podia pensar um bocadinho pela sua cabeça...

João Pires da Cruz disse...

Sim, estar preparado não implica de forma nenhuma que realize.

Anónimo disse...

Pior do que pensar mal, é querer enganar e sem inteligência para o fazer. E ainda por cima não compreende que está a cair no descrédito total.

Eu vou-lhe repetir bem devagarinho:

Em causa está a sua afirmação - "95% dos eleitores Portugueses sempre se pronunciaram a favor da nossa integração na Europa."

É esta frase que necessita ser provada; e é trivial provar a sua falsidade (é tal história da lógica, recorda-se?)

1- como não existem 95% dos eleitores votantes, logo não existem 95% de eleitores a favor (isso de contar como favoráveis os votos da abstenção pertence a certos regimes, sabe?)

2- como nunca houve em Portugal qualquer referendo sobre a integração na UE - bela democracia - nunca houve possibilidade de alguém "pronunciar-se a favor" ou a "opor-se", logo não existem nem 95% a favor, nem contra e a sua frase simplesmente não tem sentido.

3- se quiser fazer a trafulhice de confundir votos em legislativas com os votos num eventual referendo, irá descobrir que CDU+BE nunca tiveram, no seu conjunto, menos de 5% dos votos, logo os tais 95% também nunca não aconteceram (se quiser pode inverter e contar os votos de PSD+CDS+PS e verá que também nunca chegaram a 95%)

Para finalizar, uma nota: devo alertar-lhe que o voto directo (expressos/total de eleitores inscritos) nos partidos contra a integração europeia nas últimas legislativas atingiu os 7% e não os tais 2% que inventou para espantar; veja lá como conhece mal este país.

O seu rigor é assustador.

Anónimo disse...

Sabe quanto custa formar um doutorado? Compare com o custo de formar um metalúrgico. Tenha agora a noção que o tipo de emigração de uns e outro é diferente (estatisticamente, voltam menos doutorados do que metalúrgicos). Multiplique pelo número que saem do país e não regressam em tempo de vida profissional e descubra o péssimo negócio que Portugal anda a fazer ao deixar sair os doutorados.

Pedro disse...

O rácio pela população é genial nestes casos, que os recém-nascidos têm, certamente, uma posição sobre a integração europeia de Portugal (e, segundo o Pires da Cruz, quase certo que será positiva).

perhaps disse...

13 de setembro 22:54

Podemos ir pela negativa, deixar de formar pessoas, excluído. Ainda não apagámos o obscurantismo da ditadura à portuguesa, não podemos inflectir o movimento. Não imagino o que seja “Ocupar as pessoas em inutilidades”, até 2010. Estamos em 2013 e continuo a observar muita ocupação inútil, muito trabalho para nada, sobretudo gasto em burocracia onde campeamos. À grande e à francesa.
Não consultei os dados do INE. Mesmo assim, é um facto que esta não foi a Europa que se sonhou quando foi criada a união europeia. E mais me parece hoje, para nós portugueses, uma prisão do que uma união. Algo falhou.
O senhor pode trabalhar onde e como quiser e essa é a sua diferença em relação a quem parte empurrado e sem escolha. Quem emigrou não deseja trabalhar no estrangeiro, obriga-se a trabalhar lá por não encontrar aqui com que se sustentar. O seu caso específico não é único e está, digamos, previsto na mobilidade natural à união europeia. Repito, os números extrapolam essa situação, chamar-lhes “trabalhadores que circulam na economia que compra o seu trabalho” não me parece adequado.
Caro senhor, ninguém aqui quer voltas atrás. Mas, se comprar uma casa e ela ameaçar ruir, continua ali só porque é sua e a comprou?! E com isto, repare não estou a alijar o dever de pagar as dívidas. Que, em boa verdade, cabe a paga a quem não se abotoou com dinheiros a fundo perdido e outros que houve. E que, por infeliz acaso, são os mesmos em toda a história. Olha a sorte que temos.

João Pires da Cruz disse...

Então deixamos de os formar. É isso?

O negócio não é esse.

João Pires da Cruz disse...

Falhou? Em que sentido? Os portugueses vivem como nunca viveram, apesar da crise. Apesar da crise, pela primeira vez na história, Portugal é uma democracia economicamente viável, que produz mais que aquilo que consome.

A migração de que fala é igual à que sempre aconteceu internamente em Portugal, agora acontece no país de 300 milhões de habitantes. É natural, não vai voltar atrás, vai ser assim. Agora, podemos encarar a evolução do mundo como positiva ou ficar quieto a dizer mal da sorte como as velhinhas que foram ficando nas aldeias. Mas o resultado da evolução do mundo é uma redução da importância do território a todos os níveis, para quem fez uma união económica, mais ainda.

Anónimo disse...

Não sei a quem se refere, nem sei de onde inferiu que o negócio é esse. O negócio é aproveitar o investimento e não simplesmente ir doá-lo pelo mundo.

perhaps disse...

Se olhar melhor verificará que há sinais muito bem delineados e atentatórios da "democracia economicamente viável" que refere. Não produzimos mais do que consumimos, importamos menos do que exportamos. Não é a fluidez económica que aparenta.
Assumo: sou uma velhinha das aldeias. Fico a resmungar sem sair do lugar, maldita a sorte que me calhou.
Sobre a união económica teria bastante a dizer, mas acontece que à sexta sou propênsica a outros ambientes.

A ARTE DE INSISTIR

Quando se pensa nisso o tempo todo, alguma descoberta se consegue. Que uma ideia venha ao engodo e o espírito desassossegue, nela se co...