quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Nos passos de Darwin


Informação chegada à caixa de correio do De Rerum Natura:

O Reitor da Universidade de Coimbra e o Director do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra têm a honra de convidar V. Ex.ª para a inauguração da exposição temporária NOS PASSOS DE DARWIN, que terá lugar pelas 18h00 do próximo dia 3 de Março de 2012, no Museu da Ciência(Colégio de Jesus). Os locais por onde Charles Darwin viajou revisitados pela objetiva do viajante e jornalista Gonçalo Gadilhe.

Relembre-se que o cientista tinha como objetivo completar o levantamento cartográfico da Patagónia e da costa da Terra do Fogo, Chile, Peru e dalgumas ilhas do Pacífico mas não ficou por aí: durante a expedição, realizou observações detalhadas e recolheu diversos espécimes que desencadearam as ideias da sua teoria da evolução e que apresentou na obra "A Origem das Espécies." A exposição que ocorre no âmbito da XIV Semana Cultural da Universidade de Coimbra e conta com o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia e da Fundação Calouste Gulbenkian,pode ser vista até 31 de maio, de terça-feira a domingo.

Livre como em liberdade


Richard Stallman, o grande guru do software livre e presidente da Fundação para o Software Livre, está em Portugal. A sua entrevista ao Público acaba abruptamente, mas vale a pena conhecer as suas ideias contra-corrente.

Hoje estará às 14h no Instituto Superior Técnico, em Lisboa.

Como curiosidade, os sete pecados mortais do Windows, uma das campanhas da Fundação para o Software Livre.

ESTÁ QUASE A SER 29 DE FEVEREIRO

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Uma peça em muitos atos

Novo texto de João Boavida:

A reforma, ou aposentação é, como se sabe, uma circunstância particular, embora cada vez mais geral, que acarreta consigo inúmeras situações, umas dramáticas outras caricatas, umas hilariantes, outras comoventes. Outras, muitas, dir-se-ia que inexistentes, porque muito do que a caracteriza e em muitas das situações mais correntes o significativo delas é o simples passar do tempo, o estar ou ir estando, o deixar correr, porque outra coisa não se pode fazer.

A princípio ainda queremos, (os que querem), depois já não podemos, mesmo querendo, (e mesmo que ainda podendo), depois já nem queremos nem podemos. Ou seja, o melhor dela, ou quase tudo dela, em muitos casos, é o ir indo, porque outra coisa não se pode fazer, ou não se quer fazer, ou não se sabe como que fazer. O que tem muitos sentidos, não só o de que o tempo passa e não se pode parar, mas também o de que, com ele, apesar de se estar esgotando, se caminha para uma síntese, um cúmulo de experiências que só o tempo dá, à medida que tira, como se o próprio tempo se retirasse em cada um de nós.

E isto é dramático, porque há um limite que se acrescenta e se esvai, que se torna mais densa e ao mesmo tempo se dilui, e que, por isso, é triste, mas também pode ser reconfortante e, em muitos casos, transfiguradora e até catártica. O que, felizmente, já muitos reformados perceberam, mas o número dos que ainda não o compreenderam, ou não têm condições de o compreender, é demasiado. Infelizmente.

Desejada por muitos, temida por muitos outros, invejada por quase todos os que ainda lá não estão, e que talvez já não a queiram quando chegar a sua vez, a aposentação multiplica casos, perspectivas, vivências, sabedorias, manias, demências, injustiças, frustrações, azedumes, solidões e recompensas, que a literatura não tem explorado tanto quanto o potencial dela podia levar a efeito. Talvez porque os produtivos ainda lá não estão, e os que lá estão já não são produtivos, ou assim o entendem os outros, ou até, muitas vezes, eles próprios. Situação e estado da mais profunda contradição: temos mais tempo quando já não temos muito tempo, temos mais sabedoria quando já ninguém nos ouve, podemos ser mais úteis quando passa subliminarmente, em todos os discursos, a inutilidade, ou quase, dos que nela estão.

Um livro recente de Albano Estrela (Histórias de reformados com solidão à vista. Lisboa, Indícios de Oiro, 2011) parte da perspectiva do reformado que se observa e que observa os outros reformados, que pensa a sua situação e a projeta e recupera, nos outros. Mas fá-lo de uma maneira não erudita, nem pesada, mas através de histórias que de algum modo traduzem as inúmeras situações que a reforma produz. A reforma é aquilo que cada reformado for capaz de ser, ou de fazer com ela, ou de viver e ser a partir dela e através dela. A reforma ganha assim o estatuto de ambiguidade e multiplicidade que a linguagem e a mentalidade geral ainda não percebeu bem.

Todos falam hoje do envelhecimento ativo, muitos são os que precisam cada vez mais dos pais e dos avós (ou seja dos reformados) por razões económicas, logísticas, educativas, e muitas outras. Mas isso não significa que percebem, ou sejam capazes de compreender tudo o que a situação de reformado implica, em termos psico-afetivos, e sociais, tudo o que possibilita, ou devia possibilitar, tudo o que contém ou devia conter.

Estas "histórias de reformados com solidão à vista" fazem literatura sem o querer fazer, ou dando a ideia de que o não querem fazer, o que, como se sabe, é às vezes a melhor maneira de fazer boa literatura. Numa linguagem simples, fluente, elegante, histórias curtas umas vezes aparentemente banais, outras inéditas, quase sempre inesperadas, vão produzindo um quadro complexo, multifacetado, rico, de um estado social e afetivo que pode ser tudo menos linear ou simples, muito menos, fácil. A complexidade está lá, mas subentendida, escondida por debaixo do correr dos dias, das atitudes e dos casos. Livro “leve” que nos deixa a pensar, livro revelador de um universo que passa por nós, que anda à nossa volta e que muitos casos ultimamente ocorridos nos demonstram poder ser muito mais dramático do que habitualmente se pensa.

João Boavida

Aquilo que os olhos vêem

Mensagem chegada à caixa de correio do De Rerum Natura:

Aquilo que os Olhos Vêem ou o Adamastor
de Manuel António Pina
Edição/reimpressão: 2012
Páginas: 56
Editor: Angelus Novus
ISBN: 9789728827861
8,00€

Sinopse

A história é contada, em finais do primeiro quarte do séc. XVI, pelo físico e astrólogo Mestre João, que regressa, velho e doente, a Portugal, depois de muitos anos no Oriente, e que, à passagem do Cabo da Boa Esperança, recorda os acontecimentos de que fora, aí, testemunha muitos anos antes. A acção narrada por Mestre João passa-se no mar, em 1501, no interior de uma nau da frota de Pedro Álvares Cabral, que o mesmo Mestre João acompanhara na sua viagem, primeiro, ao Brasil e, depois, pela rota de Vasco da Gama à Índia. Regressando à Índia, a nau recolhera então na Angra de S. Brás, perto do Cabo da Boa Esperança, onde fazia aguada, um náufrago (Manuel) que contou uma história fantástica e terrível.

Einstein estava certo: A velocidade da luz no vácuo é a velocidade máxima de transmissão de interação



Veja matéria abaixo:

RELIGIÃO NA CAMPANHA ELEITORAL AMERICANA


Destaque habitual para coluna What's New WN), de Robert Park

"1. THE 13TH CRUSADE: "TAKING UP THE CROSS" IN 2012 AMERICA.

At the start of the bewildering Republican Primary process everyone agreed that the overriding issue would be jobs and the economy. But a week before Super Tuesday, with jobs the economy recovering, Rick Santorum is calling for a holy war: "I don't believe in an America where the separation of church and state is absolute." He should take a minute to read the First Amendment. Meanwhile, Franklin Graham, son of Billy, questions the Christian credentials of both Mitt Romney and Barack Obama. Halfway around the world, two American officers were shot dead in Afghanistan in "retaliation" for the inadvertent burning of Korans, which of course harmed not a living soul. Here in Maryland, the Legislature sent a gay-marriage bill to Governor O'Malley, which he will sign. That won't hurt anyone either. Next door in Virginia, the State Senate voted to suspend consideration of a bill defining life as beginning at conception, which is the position of to the Roman Catholic Church. The law would instantly create millions of one-celled persons. Perhaps they would be granted souls by heaven, citizenship by the state, and be counted in the census along with millions of frozen embryos? Or would the frozen embryos have to wait till they thaw? Based on a different reading of Genesis, a Jewish zygote wouldn't be a person for another nine months. How do we resolve this? Under case law, protection of a fetus by the state begins only after the fetus is capable of surviving outside the womb. As WN pointed out in the last issue (15 Feb 2012), freedom of religion is not up for discussion. Gods do not compromise.

2. AMNIOCENTESIS: WHO FIGURED IT WOULD BE A CAMPAIGN ISSUE?

Last Sunday on Face the Nation, Rick Santorum opposed amniocentesis testing of an embryo in the womb. One of the great advances in modern diagnostic medicine, amniocentesis can be used to diagnose certain severe medical handicaps long before full-term. On the grounds that bad news might lead a woman to terminate her pregnancy, Santorum, who opposes abortion for any reason, would deny a women the right to make that decision. Santorum, of course, is not a candidate for the test."

Robert Park

NASCIDO PARA VIVER


Informação da Fundação Francisco Manuel dos Santos:

Portugal foi um dos países que mais rapidamente diminuiu a sua Taxa de Mortalidade Infantil, sendo actualmente uma das melhores do mundo.

Como chegámos até aqui? O que foi preciso mudar para estarmos hoje ao lado dos países mais desenvolvidos? “Nascido para viver” é um filme que fala deste caminho.

Não perca a exibição, no dia 28, às 22h na SIC Notícias no Contracorrente, seguido de debate com Maria do Céu Machado e Lincoln da Silva.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

OBRA DE JOAQUIM DE CARVALHO NA NET


Trancrevemos notícia do Campeão das Províncias sobre a afixação na Net da obra do filósofo e historiador de ciência Joaquim de Carvalho:

Joaquim de Carvalho: Vida e obra do filósofo e historiador na Internet

"A vida e obra do filósofo e historiador Joaquim de Carvalho, natural da Figueira da Foz, está reunida num sítio na Internet (joaquimdecarvalho.org) disponível desde hoje (dia 10), data em que se assinala o 80.º aniversário da atribuição da mais alta condecoração francesa, o título de Cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra.

A iniciativa concretizada pela Medipédia tem o apoio do Casino Figueira, que assim quis “dar corpo ao projecto de preencher uma lacuna relevante do imaginário nacional, num acto de cidadania empresarial”, em relação a “um português de rija têmpera, de espírito de dimensão universal, de alta densidade pensadora, criativa e partilhante”.

“Ignorar Joaquim de Carvalho, ladear o que significa este nome é uma postura de auto empobrecimento. Provavelmente não consciente. Crivelmente involuntário. Mas garantidamente real e impeditivo de um percurso rumo ao progresso, ao desenvolvimento, ao mais e ao melhor, valores dos muitos a que Joaquim de Carvalho dedicou e entregou uma vida - a sua”, justifica o Casino Figueira.

Pensador e ensaísta, erudito e professor, Joaquim de Carvalho foi, nas quatro décadas que vão de 1918 a 1958, ano da sua morte, uma das maiores figuras, em Portugal, dos estudos a que se dedicou, e em todos estes domínios deixou a marca duradoura da sua personalidade de excepção”, lê-se no web site.

Joaquim de Carvalho, professor da Universidade de Coimbra, nasceu na Figueira da Foz, em 10 de Junho de 1892, e foi agraciado com doutoramento honoris causa pelas universidades de Salamanca. Montpellier e Rio de Janeiro."

Sobre a ciência no teatro


Já está à venda a revista "Sinais de Cena", n.º 16, que inclui um dossier temático sobre ciência e teatro, onde se pode ler o artigo "O que torna Darwin Dramático?" de Mário Montenegro, actor, encenador, dramaturgo e director artístico da companhia de teatro marionet. Traduziu recentemente Sr. de Chimpanzé, de Júlio Verne [marionet, 2010] (na imagem, cena da peça no Museu de Ciência de Coimbra) e Cálculo, de Carl Djerassi [Imprensa da U.C., 2011]. Trancrevemos a entrada desse artigo, esperando abrir o apetite para o resto:

"Por volta dos anos 80/90 do século XX houve uma espécie de big bang no teatro. Desde essa altura o número de peças que explora temas da ciência tem vindo a expandir-se de modo exponencial. Uma diferença essencial entre este big bang e a teoria homónima que tenta explicar o começo do universo é que neste caso já algo existia antes da explosão. É possível assinalar algumas peças de teatro que anteriormente já integravam temas científicos nos seus enredos, mas estas peças são, no contexto da produção dramática global - continuando com a analogia astrofísica - uma espécie de radiação de fundo no sentido de algo que já existia mas que, a determinada altura, ganhou um significado específico. Exemplos bem conhecidos são a Vida de Galileu, de Bertolt Brecht (1938 [1970]), ou Os físicos, de Friedrich Dürrenmatt (1962 [1965]). As duas peças estão ancoradas nas figuras de importantes cientistas da nossa história e, entre outras coisas, reflectem sobre a responsabilidade social dos cientistas como indivíduos e, através deles, sobre a mais universal responsabilidade da Ciência.

Este fenómeno, nalguns casos bastante alicerçado e impulsionado pela comunidade científica, tem tido ramificações interessantes, nomeadamente através de acontecimentos paralelos à peça de teatro, como sejam os colóquios e conferências em torno não só do texto dramático mas também dos assuntos científicos por ele abordados.

Há, através deste subgénero teatral [1], uma aproximação das tradicionais “duas culturas” (Snow 1959). E esta é uma aproximação prática, em que diferentes linguagens e métodos de transmissão de conhecimentos destes dois campos se relacionam e interpenetram.

Mas porquê este súbito interesse do Teatro por temas científicos? E porquê neste momento? A motivação para este encontro parte dos dois intervenientes. Do lado da Ciência, a vontade de uma maior e mais próxima interacção com a sociedade tem-na levado a procurar novas formas de comunicação (Djerassi 2002, Rose 2003), sendo o Teatro ou, em muitos casos, a dramatização de questões, personagens ou acontecimentos científicos, algumas das formas que encontrou para o fazer. A apresentação de pequenas peças dramáticas em conferências e congressos científicos, a oferta de representações em torno da Ciência por parte de museus e centros de ciência, são exemplos desse esforço consciente de aproximação à sociedade por parte da Ciência. Um caso exemplar é o da fundação norte-americana Alfred P. Sloan que desde 1998 financia a criação e produção de peças de teatro de tema científico e tecnológico [2]. Assim como o são os casos de cientistas-escritores que decidem expor questões relacionadas com a Ciência sob a forma de texto dramático - como fazem, por exemplo, o químico norte-americano Carl Djerassi ou o físico canadiano John Mighton.

Do lado do Teatro, os dramaturgos abordam a Ciência não só sob o ponto de vista de uma análise ética ou das suas consequências, como no caso das referidas obras de Brecht e Dürrenmatt, mas parece existir também uma introdução da Ciência nas obras dramáticas por estarem criadas as condições para uma melhor aceitação, por parte do público de teatro, dos temas e linguagens científicos, facto a que não será alheia a generalização de certos assuntos pelos meios de comunicação social.

Os dramaturgos, poderão também encontrar na Ciência uma fonte de novos mitos e metáforas, e, eventualmente, uma visão mais profunda do ser humano no universo (Shepherd-Barr 2003, Barnett 2005); poderá ainda existir a procura, por parte dos produtores de teatro, de novos campos de actuação, não só pela pertinência e actualidade de alguns temas científicos (ligados à biologia celular, à física de partículas, à astronomia) com implicações imediatas na sociedade, mas também como forma de alargar o seu campo de financiamento, estendendo-o a instituições de índole científica e educacional, indo de encontro aos anseios de maior aproximação à sociedade destas comunidades. (...)"

Mário Montenegro

Notas:

1 Apesar de ser um fenómeno recente, vários estudos referem-se às peças de teatro de tema científico (“science plays” ou “science-in-theatre”) como configurando um novo subgénero dramático. Ver a este respeito Djerassi (2002), Shepherd-Barr (2006), Montenegro (2007) e Zehelein (2009).
2 Informação sobre o programa de promoção da cultura científica através do teatro da Alfred Sloan Foundation pode ser encontrada aqui [consultado em 16.10.2011].

Referências bibliográficas

- BARNETT, David (2005), “Reading and Performing Uncertainty: Michael Frayn’s Copenhagen and the Postdramatic Theatre”, Theatre Research International, Vol. 30, Nr. 2, pp. 139-149.
- BEGORAY, D. & Stinner, A. (2005), “Representing Science Through Historical Drama – Lord Kelvin and the Age of The Earth Debate”, Science & Education, Vol. 14, Nr. 3-5, pp. 457-471.
- BRECHT, Bertolt (1970), Vida de Galileu, trad. Yvette Centeno, Lisboa, Portugália Editora.
- DJERASSI, Carl (2002), “Science and Theatre”, Interdisciplinary Science Reviews, Vol. 27, Nr. 3,Autumn, pp. 193-201.
- DÜRRENMATT, Friedrich (1965), A visita da velha senhora e Os físicos, trad. Irene Issel e Jorge de Macedo, Lisboa, Portugália Editora.
- MAGNI, Francesca (2002), “The Theatrical Communic-action of Science”, JCOM – Journal of Science Communication, Nr.1, March, pp. 1-14.
- MONTENEGRO, Mário (2007), Texto dramático de tema científico: o caso particular de Carl Djerassi, tese de mestrado, Porto, Universidade do Porto.
- ROSE, S. P. R. (2003), “How to (or not to) Communicate Science”, Biochemical Society Transactions, Vol. 31, Part 2, pp. 307-312.
- SHEPHERD-BARR, Kirsten (2006), Science on Stage: From Doctor Faustus to Copenhagen, Princeton, Princeton University Press.
- SNOW, C. P. (1959), The Two Cultures, Cambridge, Cambridge University Press.
- ZEHELEIN, Eva-Sabine (2009), Science: Dramatic. Science Plays in America and Great Britain, 1990-2007, Heidelberg, Winter.

Sementes de Ciência - Prefácio e Índice


Publicamos o prefácio e o índice de "Sementes de Ciência", Livro de Homenagem a António Marinho Amorim da Costa, com vários artigos sobre história da ciência em Portugal e no mundo, que acaba de sair na Imprensa da Universidade de Coimbra, sendo editores Sebastião J. Formosinho e Hugh D. Burrows:

Prefácio

A História da Ciência é um domínio bem consolidado e respeitado. Mas de igual relevância é ser um campo de investigação que proporciona aos seus cultores uma interface para o que C. P. Snow descreveu como «as duas culturas», as ciências e as humanidades. Dela resulta um benefício para as duas áreas e proporciona um excelente meio para atenuar os efeitos dos aumentos de especialização que caracterizam o contínuo progresso do conhecimento na senda que o homem traçou para conhecer cada vez mais e melhor a Natureza e os seus fenómenos.

Esta obra colige nove artigos sobre história da ciência de diferentes autores em homenagem ao Prof. António Amorim da Costa, por ocasião da sua jubilação académica como Professor Catedrático de Química da Universidade de Coimbra. Amorim da Costa é um homem das «duas culturas», caso raro no panorama universitário português. Vai para 30 anos, enveredou com perseverança pela investigação em paralelo nas áreas que cultiva, química-fisica molecular e história da química. Uma navegação, por vezes, em mar alteroso, num ambiente universitário organizado à volta de Faculdades e Departamentos marcadamente especializados. Isto confere-lhe uma posição única no que diz respeito à história da ciência, pois as suas investigações tiveram impacto entre os seus pares em ambos os campos, mormente nos domínios da história da química.

Completou os seus estudos de liceu na área de Geografia, a que se seguiu o cursar com distinção o curso de Filosofia e Teologia no Instituto Superior Missionário do Espírito Santo na Torre da Aguilha em Carcavelos. Seguidamente voltou-se para a ciência, tendo concluido os estudos secundários para aceder ao curso da licenciatura em Química na Universidade de Coimbra, que completou em 1970. É contratado como assistente de química e inicia a sua investigação sob a orientação do Professor Fernando Pinto Coelho, em estudos de complexos de urânio por recurso à Ressonância Magnética Nuclear.

Após esta iniciação à investigação, prossegue a sua formação académica na Universidade de Southampton, Inglaterra, onde prepara o seu doutoramento (Ph. D.) sob a supervisão do Professsor Graham J. Hills em estudos de mudanças de fase por recurso a técnicas de Rayleigh–Brillouin de dispersão de luz. Com o seu regresso à Universidade de Coimbra, lecciona em campos tão variados como a Radioquímica e a História e Filosofia da Ciência, e prossegue as suas investigações nos domínios da espectroscopia vibracional e da história da ciência. Esta obra está focalizada precisamente no segundo destes domínios, sendo de destacar que foi um dos membro−fundador quer da Sociedade Portuguesa de História e Filosofia das Ciências quer do Núcleo de História da Química da Sociedade Portuguesa de Química.

Em reconhecimento das suas contribuições importantes na área, a tónica dos capítulos que amigos e colaboradores de António Amorim da Costa trazem a este livro vai desde facetas da história da ciência relacionados com a química e da sua pré-história, através da alquimia, a iatroquímica, o período do flogisto, a química pneumática e finalmente a história da química quântica e mecânica estatística em tempos mais próximos do nosso. Há uma ênfase muito particular nos aspectos históricos do desenvolvimento da química em Portugal e no Brasil.

No entanto a química não se desenvolveu de forma isolada, e as contribuições para este livro abordam áreas adjacentes, como a electricidade, a medicina, a óptica e a mineralogia. Além disso, a história não lida apenas com factos. Diz respeito também a pessoas, as mulheres e os homens que cultivaram estas disciplinas, como o Luso-Brasileiro do século XVIII, o engenheiro José Fernandes Pinto Alpoim, ou o químico português do século XIX Coimbra Professor da Universidade de Coimbra Thomé Rodrigues Sobral, e muitos mais. Desejamos que estes “pedaços” da história das ciências venham enriquecer a nossa compreensão e reconhecer as contribuições feitas por António Amorim da Costa para a área.

Sebastião Formosinho e Hugh Burrows

Prefácio

I. Amorim da Costa – O Historiador de Química - Décio Ruivo Martins
II. Uma História de Ciência - Raquel Gonçalves-Maia
III. Algumas considerações históricas e historiográficas sobre os documentos da hermética árabe medieval - Ana Maria Alfonso-Goldfarb
IV. Fermat e a polémica em torno da óptica - Augusto José dos Santos Fitas
V. O Engenheiro Setecentista Luso-Brasileiro José Fernandes Pinto Alpoim - Carlos A. L. Filgueiras e Teresa C. C. Piva
VI. As produções naturais no Brasil - Colônia e Brasil - Reino: a química na interface com a história natural, a medicina e a mineralogia - Márcia H.M. Ferraz
VII. Leprosy in Portuguese India: an Interaction between Public Health Policy and National Politics - António Manuel Nunes dos Santos, Christopher Damien Auretta
VIII. Dissolving Uncertainties in Water: electric fishes, Volta’s alarm bell, Humphry Davy, and a dynamical science - David Knight
IX. Aspects from the history of quantum chemistry - Kostas Gavroglu, Ana Simões
X- Farmácia e Saúde em Portugal no dealbar do século XIX - João Rui Pita, Ana Leonor Pereira

ECOS EXPRESSIONISTAS

Existiu Expressionismo em Portugal. Responde Fernando Rosa Dias, o autor do livro "Ecos Expressionistas na Pintura Portuguesa entre Guerras" (Campo da Comunicação), que será lançado no Museu do Chiado no próximo dia 1 de Março, pelas 18 h, com apresentação de Raquel Henriques:

"A arte portuguesa entre-Guerras acompanha um tempo político nacional entre o desgaste da Primeira República e a afirmação do Estado Novo. Ela sucede ao fim da época mítica das primeiras vanguardas que deixou, entre Amadeo de Souza-Cardoso, Santa-Rita ou Cristiano Cruz, esforços míticos de acerto cultural. Mais calmo seria o imediato primeiro pós-Guerra, enquanto definhavam as possibilidades de acerto da Primeira República.

Outro projecto emergia com o Estado Novo e a imediata afirmação do Secretariado de Propaganda de António Ferro com novas esperanças para os artistas modernos. Se falamos do expressionismo entre-Guerras não é no sentido em que ele tenha sido nossa expressão, mas exactamente porque, por não o ter sido, foi a expressão mais próxima de uma alternativa à apatia mundana dos anos 20 e à acomodação ao Secretariado de Propaganda Nacional. Se recuamos ao tempo mítico dos anos 10, e ao círculo do Orpheu e do que várias vezes se chamou futurismo, é para encontrar aí um excesso de vanguarda para o próprio espaço português onde, mesmo que algo ecleticamente, um sentido expressionista se proporcionou. No fundo trabalhamos três tempos. Um primeiro tempo da Primeira República que para nós foi a inclusão dos casos vanguardistas dos exilados da Primeira Guerra, um segundo tempo ou segunda metade da Primeira República e da sua crise, a do primeiro pós-Guerra que é o da mundanidade artística dos anos 20; e a década seguinte relativa à afirmação e época de ouro do Estado Novo que é a mais importante do nosso ensaio. Porém, estes mesmos tempos são tratados pelas excepções que essa linha expressionista conseguiu agregar na sua travessia. (…)

Não podendo ser uma situação cultural, o expressionismo foi acontecendo em casos culturais: seja como acidente cultural em Amadeo, devaneio lírico em Júlio, drama em Eloy, ou alienação metafísica em Alvarez. Assim, mais que facto cultural, teve melhor sentido histórico como sucessão de espaçados actos culturais."

CONVERSA SOBRE A PLANTA MAIS ANTIGA DO MUNDO


Informação recebida de Luís Azevedo Rodrigues:

O terceiro programa Ciência Viva à Conversa já está on-line, para ser ouvido ou descarregado. Es
ta semana falou-se do ser vivo mais velho, a Posidonia oceanica, com cerca de 100 mil anos. A apresentação foi feita pela investigadora Ester Serrão, do CCMAR: aqui.

Programas anteriores: aqui.
Na Rádio Universitária do Algarve. Quintas – 08:15, 12:15, 15:15

Luis Azevedo Rodrigues Coordenador da Rede de Centros Ciência Viva - Algarve

"O ARTISTA", UMA HOMENAGEM AOS VELHOS TEMPOS DO CINEMA MUDO

45 novas obras sobre clássicos on-line


Informação da Imprensa da Universidade de Coimbra:

Os Classica Digitalia têm o gosto de colocar à disposição dos seus leitores 45 novas obras, editadas anteriormente em formato impresso, elevando assim para 105 o número total de volumes disponíveis. Trata-se de uma iniciativa comum da Imprensa da Universidade de Coimbra (IUC) e do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos, com o apoio da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (que cedeu os direitos de reprodução de algumas obras).

Parte destes livros encontra-se já fora de circulação, mas outros podem ainda ser adquiridos, em versão impressa, através do site da Imprensa da Universidade de Coimbra. Os volumes disponíveis para venda na IUC facultam informação sobre o preço a que estão a ser comercializados.

Delfim Leão
(Diretor Técnico dos Classica Digitalia)

NOVOS VOLUMES DISPONIBILIZADOS

1. História, cultura e literatura gregas


- Pulquério, Manuel de Oliveira, Problemática da tragédia sofocliana (Coimbra, 21987). 153 p.

- Ferreira, José Ribeiro, Da Atenas do séc. VII a.C. às reformas de Sólon (Coimbra 1988). 125 p.

- Ferreira, José Ribeiro, Participação e poder na democracia grega (Coimbra, 1990). 155 p.

- Morais, Carlos, Expectativa e movimento no Filoctetes (Coimbra, 1991). 176 p.

- Oliveira, Francisco de, & Silva, Maria de Fátima Sousa, O teatro de Aristófanes (Coimbra, 1991). 249 p.

- Fialho, Maria do Céu G. Z., Luz e trevas no teatro de Sófocles (Coimbra, 1992). 230 p.

- Soares, Carmen Isabel Leal, O discurso do extracénico. Quadros de guerra em Eurípides (Coimbra e Lisboa, 1999). 127 p.

- Ferreira, José Ribeiro (coord.), Plutarco, educador da Europa (Porto e Coimbra, 2002). 377 p.
Hiperligação: https://bdigital.sib.uc.pt/jspui/handle/123456789/114

- Ferreira, José Ribeiro & Leão, Delfim Ferreira, Os fragmentos de Plutarco e a recepção da sua obra (Coimbra, 2003). 264 p.

2. História, cultura e literatura latinas


- Oliveira, Francisco de, Les idées politiques et morales de Pline l'Ancien (Coimbra, 1992). 438 p.

- Leão, Delfim Ferreira, As ironias da Fortuna. Sátira e moralidade no Satyricon de Petrónio (Coimbra e Lisboa, 1998). 162 p.
Hiperligação: https://bdigital.sib.uc.pt/jspui/handle/123456789/86

- Brandão, José Luís Lopes, Da quod amem. Amor e amargor na poesia de Marcial (Coimbra e Lisboa, 1998). 158 p.

- Ferreira, Paulo Sérgio, Os elementos paródicos no Satyricon de Petrónio e o seu significado (Coimbra e Lisboa, 2000). 163 p.

- Gonçalves, Carla Susana Vieira, Invectiva na tragédia de Séneca (Coimbra e Lisboa, 2003). 171 p.
Hiperligação:

- Brandão, José Luís, Pimentel, Cristina & Leão, Delfim F., Toto notus in orbe Martialis. Celebração de Marcial 1900 anos após a sua morte (Coimbra e Lisboa, 2004). 327 p.
Hiperligação:

3. Estudos medievais e renascentistas


- Osório, Jorge Alves: A Oração sobre a Fama da Universidade (1548). Prefácio, introdução, tradução e notas (Coimbra, 1967). 193 p.

- Silva, Maria Margarida B. G. & Ramalho, Américo da Costa, Cataldo Parísio Sículo. Duas orações (Coimbra, 1974). 151 p.

- Vieira, Dulce da Cruz & Ramalho, Américo da Costa, Cataldo Parísio Sículo. Martinho, Verdadeiro Salomão (Coimbra, 1974). 161 p.

- Ramalho, Américo da Costa, Estudos camonianos (Coimbra, 1975). 155 p.

- Matos, Albino de Almeida, A oração de sapiência de Hilário Moreira (Coimbra, 1990). 129 p.

- Santoro, Mario, Amato Lusitano ed Ancona (Coimbra, 1991). 203 p.

- Pereira, Belmiro Fernandes, As orações de obediência de Aquiles Estaço (Coimbra, 1991). 181 p.

- André, Carlos Ascenso, Um judeu no desterro. Diogo Pires e a memória de Portugal (Coimbra, 1992). 197

- Pinho, Sebastião Tavares & Ferreira, Luísa de Nazaré (Coords.), Anchieta em Coimbra – Colégio das Artes da Universidade. Vol. I (1548-1998) (Porto, 2000). 461 p.

- Pinho, Sebastião Tavares & Ferreira, Luísa de Nazaré (Coords.), Anchieta em Coimbra – Colégio das Artes da Universidade. Vol. II (1548-1998) (Porto, 2000). 452 p.

- Pinho, Sebastião Tavares & Ferreira, Luísa de Nazaré (Coords.), Anchieta em Coimbra – Colégio das Artes da Universidade. Vol. III (1548-1998) (Porto, 2000). 446 p.

-Dias, Paula Cristina Barata, Regula Monastica Communis ou Exhortatio ad Monachos? (Séc. VII, Explicit). Problemática, tradução e comentário (Coimbra e Lisboa, 2001). 188 p.

- Urbano, Carlota Miranda, A oração de sapiência do Pe. Francisco Machado SJ (Coimbra – 1629). Estudo, tradução e comentário (Coimbra e Lisboa, 2001). 202 p.

- Marques, Susana, Dois epitalâmios de Manuel da Costa (séc. XVI). Introdução, tradução, notas e comentário (Coimbra e Lisboa, 2005). 146 p.

4. Estudo e ensino das línguas clássicas


- Fonseca, Carlos Alberto Louro, Iniciação ao grego (Coimbra, 21987). 282 p.

- Fonseca, Carlos Alberto Louro, Sic itur in Vrbem. Iniciação ao Latim (Coimbra, 72000). 412 p.

- Actas do Congresso. As Línguas Clássicas, Investigação e Ensino. Vol. I (Coimbra, 1993). 321 p.

- Actas do Congresso. As Línguas Clássicas, Investigação e Ensino. Vol. II (Coimbra, 1995). 342 p.

- Ferreira, José Ribeiro & Dias, Paula Barata (coord.), Som e imagem no ensino das Línguas Clássicas (Coimbra, 2003). 376 p.

5. Perenidade dos estudos clássicos


- Ramalho, Américo da Costa & Nunes, J. de Castro, Catálogo dos manuscritos da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, relativos à Antiguidade Clássica (Coimbra, 1945). 116 p.

- Actas do Congresso Internacional. As Humanidades greco-latinas e a civilização do universal (Coimbra, 1988). 667 p.

- Actas do Colóquio. Medeia no drama antigo e moderno (11 e 12 de Abril de 1991) (Coimbra, 1991). 243 p.

- Silva, Maria de Fátima Sousa (coord.), Representações de teatro clássico no Portugal contemporâneo, Vol. I (Coimbra e Lisboa, 1998). 256 p.

- Silva, Maria de Fátima Sousa (coord.), Representações de teatro clássico no Portugal contemporâneo, Vol. II (Coimbra e Lisboa, 2001). 441 p.

- Silva, Maria de Fátima Sousa (coord.), Representações de teatro clássico no Portugal contemporâneo, Vol. III (Coimbra, 2004). 189 p.

- Actas do I Congresso da APEC. As raízes greco-latinas da cultura portuguesa (Coimbra, 1999). 463 p.

- Ferreira, José Ribeiro (coord.), A Retórica greco-latina e a sua perenidade. Vol. I (Porto, 2000). 485 p.

- Ferreira, José Ribeiro (coord.), A retórica greco-latina e a sua perenidade. Vol. II (Porto, 2000). 515 p.

- Oliveira, Francisco de (coord.), Penélope e Ulisses (Coimbra, 2003). 436 p.

- Ferreira, José Ribeiro (coord.), Labirintos do mito (Coimbra, 2004). 149 p.

Gregor Mendel - Há quem chame pai a outro mas a Genética Moderna não pode fazê-lo


Novo post convidado de Alexandra Nobre, professora de Biologia da Universidade do Minho:

“Os meus estudos científicos têm-me proporcionado grande satisfação e estou convencido de que não vai demorar muito, até que todo o mundo reconheça os resultados do meu trabalho”
(Gregor Mendel)


26 de Fevereiro de 2012 – Noticiário da hora do almoço – “Dez por cento da população mundial (há até mesmo quem refira 30%) chama pai a quem não o é na verdade e, em Portugal, os institutos públicos fazem cinco testes de paternidade por dia.”

Um problema que vem de longe. De sempre diria eu… E para sempre há-de continuar já que, por mais que neguem, a nossa espécie é promíscua, nada a fazer. Bem, a não ser os tais testes de paternidade. E como o seu a seu dono, devemos pegar o “touro pelos cornos”, isto é, fazer uso da genética e encontrar o pai, que isto de andar a chamar pai a outro não é simpático. Nem desejável. E juntando as palavras pai e genética, esbarro em pensamento no pai da Genética Moderna, (Johann) Gregor Mendel de seu nome.

Johann Mendel (Gregor só depois de frade) nasceu a 22 de Julho de 1822, em Heizendorf, Morávia, filho do meio (eram três) de um casal de camponeses sem grandes recursos, único rapaz ainda por cima, que desde cedo se viu impelido a trabalhar para alimentar o seu interesse pelas ciências naturais. Era uma pena! Queria estudar, dava provas de talento e inteligência, os pais auxiliavam no que podiam e Mendel fazia o que podia para ajudar. Desde logo como jardineiro e apicultor na quinta onde vivia e já na família há mais de 130 anos. Em 1840 entra no Instituto de Filosofia da Universidade de Olomouc para, em dois anos (acabaram por ser três porque adoeceu), estudar Matemática, Física, Ética, Filosofia e… Pedagogia. Queria ser professor. Chegou mesmo a leccionar numa escola local como professor substituto de Física. Sentia-se bem, levava jeito entre os alunos, mas não passou no exame que o qualificava para exercer a profissão. Não fosse a sua linda irmã mais nova Theresia a ceder parte do dote, talvez por, além de um grande coração, ter também outros dotes que tal permitiam, e os seus estudos teriam ficado pelo caminho.

Em 1843, com 21 anos, enceta o trilho para frade no mosteiro Agostiniano de Brno por influência do seu professor e amigo Friedrich Franz - “his only chance of realizing his intellectual ambitions”, o que lhe permitiu estudar teologia, filosofia e ciências naturais à medida da sua bolsa. Muito parca, convenhamos. Uns anos mais tarde, com o apoio do abade Napp, segue para Universidade de Viena, onde, mais uma vez, tem enorme sucesso nos estudos (agora Física, Química e Biologia) e, mais uma vez também, torna a chumbar no exame de qualificação. O destino tem desígnios... Não fosse o nervoso miudinho que dele se apoderava nestes momentos cruciais em que era perscrutado por trás dos doutos óculos dos ilustres examinadores e nunca teria ido parar os jardins do mosteiro onde realizou as suas famosas experiências. Uns jardins com dois hectares. Dois campos de futebol só para ele onde “meteu golos” com ervilhas! E com abelhas também, embora muito menos gratificantes já que as rainhas têm comportamentos de acasalamento muito menos controláveis que as redondas sementinhas.

Há séculos que os agricultores cruzavam animais e plantas de modo empírico com vista a favorecer certos caracteres desejáveis. Os naturalistas de meados do século XIX defendiam que tudo na Natureza tinha uma explicação científica. Acreditava-se que as características estavam armazenados em partículas no corpo dos progenitores e que eram misturadas na descendência. Mas como? Mendel demonstrou em ervilheiras que a passagem de certos caracteres à descendência seguia padrões determinados a que deu o nome de Leis da hereditariedade (Leis de Mendel). Os seus resultados/proporções eram de tal modo “bons de mais para ser verdade” que Mendel chegou a ser acusado de desonestidade e de forjar valores que melhor se adaptassem ao modelo que defendia. E não era para menos! Senão vejamos. Mendel, que nunca teve sorte com os bilhetes de lotaria que frequentemente comprava, foi um sortudo sem tamanho na escolha dos caracteres das ervilhas/ervilheiras com que estudou a hereditariedade e estabeleceu as suas leis. Analisou sete características contrastantes (forma e cor da semente, forma e cor da vagem, posição da flor, tamanho do caule e cor do tegumento da semente) tendo concluído que eram herdadas independentemente (2.ª Lei de Mendel - Lei da segregação independente dos caracteres). Na verdade, isto só foi possível porque, sorte das sortes, as características eram codificadas por sete genes localizados em outros tantos cromossomas independentes (há aqui uma pequenina nuance mas sem qualquer efeito prático e não vale a pena complicar). Perante tanta característica seleccionável numa ervilheira, digam-me lá se isto não foi uma fortuna sem tamanho. E mais! Sabendo nós, mas não ele, que as ervilhas têm sete pares de cromossomas, então, entre tiro no escuro, golpe de mestre, iluminação divina ou conjuntura astral, não sei bem o que lhe chamar.

Em 1865 apresenta as suas experiências de hibridação com plantas na Sociedade de História Natural de Brno onde recebeu pouco mais do que umas palmadinhas nas costas e algumas linhas envergonhadas na imprensa local. Homem de fé, não esmorece e, no ano seguinte, publica as suas convicções no artigo científico Versuch ueber Pflanzenhybriden (em inglês, Experiments on Plant Hybridization), hoje um artigo seminal da ciência, mas nem o esforço de enviar cópias a cientistas espalhados pelos quatro cantos Europa fez com que o seu trabalho subisse a palco. Talvez o grande problema estivesse no brilhantismo de Mendel e no obscurantismo da restante comunidade científica. Quem o mandou responder a perguntas que só mais tarde vieram a ser feitas? Nos 35 anos seguintes este artigo foi vagamente citado por botânicos interessados na hibridação de plantas e só ao virar do século é que as suas ideias/teorias, redescobertas em simultâneo e independentemente por três cientistas (de Vries, Correns e Tschermak), vieram a fundar a Genética Moderna e a alcançar o lugar que lhes era devido.

Em 1968 é eleito vice presidente da Sociedade de Ciência Natural e também abade do mosteiro, posição esta que ocupa até à sua morte como um ilustre desconhecido a 6 de Janeiro de 1884, ele, sem dúvida um dos grandes nomes das ciências biológicas do século XIX que só postumamente ganhou fama. Aliás, durante a sua vida, Mendel foi muito mais reconhecido pelos seus dotes de meteorologista do que propriamente no campo do melhoramento de plantas. Durante mais de 27 anos fez o registo diário da velocidade e direcção do vento, precipitação, entre outras variáveis, registos ainda hoje preservados no Instituto Hidrometeorológico de Brno. Já a mesma sorte não tiveram os seus papéis e cadernos de apontamentos, queimados após a sua morte pelo novo abade. Parece que enquanto governou o mosteiro foi sobrecarregado com inúmeros problemas administrativos, entre eles uma disputa com o governo civil quanto à aplicação de impostos especiais às instituições religiosas, disputa esta da qual não interessava deixar rasto. Raio dos impostos! Tanta informação que nos teria dado tanto jeito...

Temos de Mendel uma ideia romântica construída de jardins, flores e ervilhinhas, uma ideia pincelada a verde e amarelo e sentida com texturas lisa e rugosa. Mas temos que admitir que estamos errados. Esmiuçar 29 000 plantas em sete anos, de tesoura numa mão, pincel na outra e lupa sabe-se lá onde, num clima com temperatura média entre os -5 ºC e os 20 ºC, tem muito pouco de romântico. Mendel era um “guerreiro”, um experimentador meticuloso e um visionário. Vaticinou “os meus estudos científicos têm-me proporcionado grande satisfação e estou convencido de que não vai demorar muito, até que todo o mundo reconheça os resultados do meu trabalho”. Sem dúvida! O que são 35 anos perante todo o mundo e para todo o sempre?

Alexandra Nobre

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Uma Semente na Sinfonia da Vida



Crónica para a imprensa regional:

Na semana em que a Universidade de Coimbra comemora 722 anos desde a sua fundação, o mote para esta crónica parte de uma semente.

Com o sentido musical imerso na “Dança com Pássaros” de António Pinho Vargas (Prémio Universidade de Coimbra 2012), a semente de que parto é aquela que cientistas conseguiram fazer germinar e desenvolver em planta florida da espécie Silene stenophylla.

Esta semente aguardava há trinta mil anos pelas condições propícias à sua germinação. Congelada em tocas, de hibernação de esquilos, encontradas hoje entre os 20 a 40 metros de profundidade em territórios do nordeste da Sibéria, “aguardava” por mão humana. O trabalho efectuado por uma equipa de investigadores liderada pelos russos S. Yashina e D. Gilichinsky foi publicado on line, no passado dia 21 de Fevereiro, na prestigiada revista Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (PNAS).

Não deixa de ser estimulante a esperança de paz na imagem de uma planta florida, fruto do trabalho efectuado por cientistas da Academia das Ciências Russa, possa ser hoje divulgado ao mundo numa revista da Academia das Ciências Norte Americana! E pensar que um outro frio teria impedido que isto fosse possível há um instante atrás - 30 anos - comparado com os trinta mil anos de espera por condições apropriadas para iniciar o programa inscrito no genoma aninhado naquela semente! Este facto faz das plantas da espécie S. stenophylla os mais antigos organismos multicelulares actualmente viáveis, fósseis vivos renascidos!

Esta semente ressoa imediatamente em harmónicos da importância incalculável que existe no Banco de Sementes do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Iniciado há 240 anos por um dos mais dinâmicos e ilustres directores do Jardim Botânico, o Professor Júlio Henriques (1838-1928), o Banco de Sementes é o maior em Portugal e reúne hoje cerca de 50% das espécies nativas da Flora Portuguesa, algumas delas ameaçadas de extinção.

Em 1868, Júlio Henriques funda igualmente o catálogo dessas sementes intitulado Index Seminum et Sporarum, o qual continua até hoje a ser publicado e actualizado anualmente. Numa percepção avançada para a época, diríamos hoje, da necessidade em garantir a preservação da biodiversidade floral através da recolha e armazenamento de sementes, aquele ilustre botânico e naturalista intensifica a troca de plantas com os principais Jardins Botânicos de todo o mundo, como por exemplo os da “distante” Austrália. De facto, o Banco de Sementes é uma das muitas riquezas do Jardim Botânico e jóia do património da vida protegida no seio da Universidade de Coimbra, catalisador de um ímpar e singular intercâmbio científico que nos permite ter hoje sementes de espécies que se encontram em risco de extinção no seu local nativo.

Este facto impregna o jardim com fragrâncias de migrações futuras de alguma das sementes que preserva com o maior respeito pela biodiversidade do planeta.

Tal como o maravilhamento contagiante da música de António Pinho Vargas nos convida a migrações até novos horizontes de descobertas, novos destinos para um conhecimento sustentado, qual semente paciente que pode fazer renascer a esperança de um novo sorriso a florir junto da aparência do fim.

António Piedade

O que vale a vida?

Ontem, numa notícia da televisão, dizia-se terem morrido mais portugueses acima dos 65 anos em período recente do que no mesmo período do ano passado. Uma hipótese avançada pelo jornalista foi a falta de cuidados médicos atempados.

Entrevistado, um técnico de saúde com cargo de grande responsabilidade disse que poderiam estar envolvidos outros factores como o frio dos últimos meses. E, de seguida, tentando, talvez, repor a confiança do público, disse que, daqui para o futuro, saber-se-á exacta, rapida e centralmente a causa e hora de morte das pessoas, o seu sexo, idade e outras mais coisas que houver de importante para saber. E como? Simples: os médicos deixarão de passar certidões de óbito em suporte de papel e, em vez disso, usarão o suporte informático.

Fiquei eu e ficou o país descansado! Poderemos morrer de causas que a ciência e a técnica é capaz de superar, mas o que é isso comparado com o facto de passarmos a ter estatísticas exactas, completas e na hora?

"OU"

A história da educação ocidental deixa-nos perceber que o ensino, seja qual for o momento em que o consideremos, é uma actividade polémica, pelo facto de se rodear de controvérsias, que ciclicamente são retomadas: as que na contemporaneidade nos ocupam já se encontravam bem delineadas na Antiguidade, percorreram as Idades Média e Moderna, atravessaram a Pós-modernidade. O futuro, seja ele qual for, não as eliminará.

Concentrando-nos no presente, e considerando que a educação escolar diz respeito a todos, tais controvérsias convocam as mais variadas sensibilidades (políticas, sociais, económicas, filosóficas, epistemológicas, axiológicas, religiosas, científicas, ideológicas, artísticas, pedagógicas, profissionais, etc.). O que acontece é que no seio dessas sensibilidades convocam-se argumentos que, em geral, formam antinomias: o ensino deve ser isto OU deve ser aquilo? Se for isto NÃO PODE ser aquilo.

A partícula "OU" tem-se revelado bastante eficaz para apartar “uns” e “outros”, para extremar e, mesmo, antagonizar, as posições. Por isso, quando o ensino reclama um consenso, a tarefa de debate e apuramento de ideias fortes para o conduzir torna-se muito difícil, para não dizer, impossível. Isto acontece com grande nitidez a partir de um certo patamar. Explico-me.

Todos, ou muitos, estarão de acordo que as crianças e os jovens devem ir à escola (deixemos os adultos de fora).

Os desacordos começam a emergir quando perguntamos: Para que é que devem ir à escola? As respostas, cada uma delas afirmativa quanto baste, são variadas: Para se prepararem para a vida; Para serem cidadãos responsáveis; Para desenvolverem a auto-estima e o auto-conceito; Para adquirirem conhecimentos; Para aprenderem um ofício; Para descobrirem o seu próprio conhecimento; Para aprenderem a aprender…

Os desacordos continuam quando passamos para outra pergunta: Qual deve ser o objecto de aprendizagem? O mesmo quanto às respostas: Conhecimentos; Competências; E, a serem conhecimentos, os que se revelem úteis; De modo algum: os mais eruditos; Os conhecimentos locais e regionais emprimeiro plano; Não, porquanto os de pendor universal são fundamentais; E, a serem competências, as que permitem resolver problemas do quotidiano e criar; De maneira alguma, pois as que estão implicadas na memorização e no raciocínio lógico têm prioridade…

Os desacordos persistem quando perguntamos: Como é que os sujeitos devem aprender: As metodologias devem ser “activas” sob o ponto de vista da acção do aluno; Devem ser “significativas” sob o ponto de vista pessoal e social; Devem ser reprodutivas; Devem ser de aplicação; Devem ser inovadoras; Devem ser “tradicionais”; Devem ser diversificadas; Devem ser individuais; Devem ser colaborativas…

O mesmo para a avaliação, para os recursos, para a organização do espaço, para a distribuição do tempo, para tudo…

Estas consideração são a propósito da discussão pública do Despacho n.º 17169/2011, de 12 de Dezembro, que propõe uma revisão curricular. Essa discussão decorreu até finais de Janeiro de 2012 e recebeu 1628 contributos dos mais variados parceiros educativos.

A sua análise revela, com grande clareza, essas tais antinomias, sinal de que persistimos no OU.

Como sociedade, teríamos muito a ganhar se, para discutirmos a essência e os desígnios da educação, nos informássemos um pouco mais, na esperança de que a informação permita superar pelo menos alguns aspectos que nos dividem para nos concentramos naquilo que nos une.

Para tanto, e à medida que ia analisando os referidos contributos, ocorreu-me um título: Teoria da Educação: Concepção antinómica de educação, da autoria de José Maria Quintana Cabanas. Com grande acuidade este professor da Universidade Nacional de Ensino a Distância (Madrid) sistematiza e debate as ideias que temos sistematicamente separado com a tal partícula OU.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Não se trata de reproduzir o passado

Em Janeiro passado realizou-se, em Portugal, o I Colóquio de História da Alimentação na Antiguidade, numa colaboração entre o Mestrado em Alimentação – Fontes,Cultura e Sociedade da Faculdade de Letras de Universidade de Coimbra,a Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra e a Associação Cultural Thíasos. Pelanovidade e interesse da iniciativa, o De Rerum Natura falou com Carmen Soares,professora do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, e um dos organizadores.

Em que medida a História da Alimentação contribui para esclarecer as raízes da nossa cultura Ocidental?

A identidade de cada indivíduo e, a uma escala maior, da cultura que o molda e que ele produz define-se, também, pelo que genericamente podemos chamar de “Alimentação” (entendendo esta categoria no sentido amplo que os Antigos Gregos davam a “dieta”, mais uma palavra e conceito gregos que entraram no nosso património imaterial). Isto é, a História da Alimentação faz-se através do estudo não só do que se come, mas sobretudo de um “modo de vida” (gr. diaita;lat. regimen), cujo eixo central é a alimentação e para o qual concorrem as práticas de sociabilização e os cuidados com o corpo e o espírito associados ao comer.
Ninguém questiona que o que tradicionalmente se entende por Cultura Ocidental contempla hábitos alimentares/dietéticos distintos do que, por oposição, se poderá denominar, usando mais uma dessas grandes categorizações, de CulturaOriental.
Em suma, conhecer as Cultura Ocidental implica conhecer a Alimentação, ou melhor, a Dieta Ocidental (que se faz, verdadeiramente, da soma de várias dietas). Para tal, importa sempre partir das raízes da questão, naturalmente, do Mundo Antigo (greco-romano e judaico-cristão).

No anúncio do vosso Colóquio referia-se que essa História é relativamente recente em Portugal. Isto significa que noutros países tem tradição?

Significa sim! Muito particularmente na vizinha Espanha, em França, em Itália e Inglaterra. Aliás, foi um master partilhado por universidades dos três primeiros países que serviu de “inspiração” à criação do curso de 2.º ciclo de estudos que actualmente se oferece na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (Alimentação – Fontes, Cultura e Sociedade).
Se do ponto de vista da oferta formativa de ensino universitário os primeiros passos nesta área do saber são recentes, do ponto de vista da produção científica nacional já contamos com uma mais longa tradição. De facto, vários investigadores se têm dedicado a estudar e divulgar a História da Alimentação ao público nacional. Permito-me destacar os nomes incontornáveis de Inês Ornellas de Castro (da Universidade Nova de Lisboa), para o período da Roma Antiga, e Maria José Azevedo Santos, para a Idade Média em Portugal (da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra).

Também se salientavam nesse anúncio as ligações que a temática da alimentação faculta, entre disciplinas universitárias com a sociedade. Que relevância têm tais ligações para a imagem dos Estudos Clássicos num tempo em que o utilitarismo dita o que a Universidade deve ou não investigar?

Do ponto de vista amplo e transversal em que está a ser pensado e executado na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (sob a forma de uma oferta curricular de 2.º ciclo) o estudo daAlimentação, é óbvio que, ao aliar os domínios da História, das Artes (em particular da Literatura e do Cinema) e do Turismo, se orienta para os apelos que pressentimos na sociedade civil. Os alunos que se inscrevem neste curso provêm das mais diversas áreas, sendo que predominam os oriundos da Restauração e da Indústria Hoteleira. Na verdade, munidos que estão de uma série de instrumentos e saberes práticos, exclusivamente enquadrados na contemporaneidade, esses alunos sentem falta de uma perspectiva histórica séria (isto é, fundamentada no estudo das fontes a partir dos originais). E é precisamente neste último aspecto que se encontra a pertinência e importância assumida pelos Estudos Clássicos na transmissão de conhecimentos fidedignos e assentes numa investigação séria das raízes culturais do actual património histórico da alimentação. Se queremos proporcionar à comunidade, em geral, e aos agentes especializados nos domínios vários da Alimentação, em particular, um acesso ao conhecimento da dinâmica histórica (actual e não fossilizada num passado desconhecido, mal conhecido ou até ignorado) que lhe subjaz, os Estudos Clássicos (e os Medievais…, para falar nos âmbitos cronológicos habitualmente mais esquecidos ou secundarizados) têm a sua “função utilitária” mais que justificada!

Poderia contar-nos uma curiosidade ou referir-nos uma ideia forte que tenha sido aflorada no Colóquio?

O colóquio contou com uma participação de público bastante numerosa e de proveniência diversa (além dos alunos, muitas pessoas sem ligações institucionais à universidade, do país e do Brasil). Penso que da paleta de abordagens feita sobre a Alimentação na Antiguidade (com destaque para as perspectivas literária, histórica e arqueológica) se tornou evidente que, apesar de cronologicamente convidarmos o público a fazer uma viagem de pelo menos 25 séculos para trás, se falou de questões actuais (a arte culinária, os cozinheiros, os banquetes, a indústria de conserva de peixe, as propriedades dos alimentos, benéficas e prejudiciais à saúde dos indivíduos, as prescrições religiosas sobre o comer, a literatura culinária, o vegetarianismo).
A “curiosidade” do colóquio, entendida como “originalidade”, consistiu nesta actualidade da temática, que se traduziu na realização de uma ceia greco-romana na Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra. Aí foram servidos, num ambiente de recriação do banquete, pratos inspirados no receituário que as fontes dosantigos Gregos e Romanos nos deixaram.
Não se trata de reproduzir o passado (o que seria impraticável e inútil), mas sim de pôr o passado a falar com o homem de hoje, numa linguagem que este entende e na qual revê a sua identidade cultural.

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...