sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Mercadores possidónios


Destaque para a crónica de J. L. Pio de Abreu no "Destak":

Nos tempos em que eu era ingénuo, um amigo possidónio explicava-me a fórmula do seu enriquecimento: “Comprar barato e vender caro.” Fiquei a pensar na crua simplicidade desta norma, mas também no facto de que ela nada produz, destrói a economia real e vive à custa dos desesperados que têm de vender barato e comprar caro. Mas estava longe de imaginar que, trinta anos passados, fosse essa a lei que governa o mundo.

Graças à instabilidade das Bolsas de Valores por eles provocada, os maestros da economia mundial vivem hoje à conta da máxima “comprar barato para vender caro… e depressa”. Compram agora para vender logo depois, ou chegam a vender caro o que ainda não têm, mas que poderão comprar a seguir mais barato (short selling).

Ninguém sabe já o que compra, só sabe que é aquilo que amanhã se venderá a melhor preço. A economia está completamente desligada da produção real, e o seu crescimento é ilusório. De repente pode desvanecer-se, como aconteceu na Irlanda e na Islândia, glorificadas antes pelo crescimento que tinham. Mas o pior é que o enriquecimento de uns se faz à custa do desespero dos outros.

Mais do que as pessoas e empresas, os espoliados são os Estados europeus e os cidadãos. E o que se compra para vender é o próprio dinheiro e seus derivados que circulam mais vertiginosamente do que qualquer outra mercadoria. Se ninguém puser pedras nesta engrenagem, a civilização europeia vai ser deglutida por mercadores possidónios.

J.L. Pio Abreu

3 comentários:

Anónimo disse...

Uns para os outros: cada qual mais possidónio! JCN

RC disse...

E parece que os "maestros" destas "sinfonias económicas", adoram dirigir este novo estilo. As notas musicais são substituídas pelas notas de papel e a melodia parece agradar cada vez mais a uns, em detrimento de outros, que se limitam a ouvir e a calar (neste caso; a vender para que alguém compre barato e depois venda para satisfazer o seu desejo mais profundo de enriquecimento à conta da aflição alheia).
O que diria Mozart, Beethoven e os outros, se vissem agora, o estado a que chegou a sinfonia desta economia musicada, ao toque de tanto interesse económico?!
Bem... é mais uma excelente opinião e visão do Dr Pio Abreu.

Américo Oliveira disse...

Eu acho que este senhor vivia na Mauritânia quando era ingénuo...
Ou seria no Cazaquistão?!

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