sexta-feira, 2 de abril de 2010
«There is no question that the demand is there for Latin»
Segundo notícia publicada pela BBC News no passado 17 de Março, o prefeito de Londres, Boris Johnson, está interessado em promover o ensino do Latim nas escolas estatais, por considerar que o estudo desta língua é notoriamente benéfico para os jovens, e que 40% das escolas privadas o contemplam com sucesso inegável. Cumpre-se , assim, mais uma etapa do interesse que a Grã-Bretanha tem manifestado pelo incremento do estudo desta língua nos vários níveis de ensino, nos últimos anos.
Leia-se aqui.
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10 comentários:
Estava mais que na hora de se voltar a estudar Grego. Moderno.
Pelos vistos há quem queira latim, in aeternum ;)
Mas ainda haverá quem ponha e dúvida... a utilidade do latim?!... Só se for nos meios (ir)responsáveis pela educação em Portugal, ou seja, os partidários do "homo chapiens"! JCN
O Dr. Luís de Sousa Rebelo, leitor de Português no King’s College da Universidade de Londres, a propósito do Colóquio sobre o Ensino do Latim, realizado em 1973, de 17 a 19 de Maio, pelo Instituto de Estudos Clássicos e Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos, da Faculdade de Letras de Coimbra, na impossibilidade de participar no evento, e no pressuposto de que, em 2010, o De Rerum Natura abordaria o tema no post “There is no question that the demand is there fot Latin”, enviou uma carta para ser lida no Colóquio e, posteriormente, neste post, para explicar as razões que levaram, e consequentemente ainda levam,
“… a Inglaterra a manter e a promover o ensino dos idiomas clássicos aos níveis médios e superior:
“A experiência que ao longo dos quinze anos, pude acompanhar nas universidades da Grã-Bretanha, pode resumir-se nas seguintes vantagens que concede o estudo do Latim num país que não pertence à grande família românica:
a) maior facilidade na compreensão das nomenclaturas ou terminologias técnico-científicas, assim como dos idiolectos vigentes numa grande sociedade industrial
b) aguçamento do espírito analítico, tanto no exame dos conceitos de civilização e cultura, como no da formação da estrutura da língua materna ou estrangeira;
c) excepcional facilidade no aprendizado das Línguas Modernas, como se pôde verificar ao seguir o progresso entre turmas de alunos que estudavam um idioma clássico e as que o não tinham como disciplina;
d) maior e imediata integração na cultura da comunidade do que a que foi observada entre aqueles que não tiveram o Latim no seu currículo de estudos;
e) maior capacidade oral e na expressão escrita entre os alunos que conheciam um idioma clássico; maior rigor na expressão e superior capacidade na organização das ideias e do discurso;
f) efeitos psicológicos decorrentes dessa incapacidade articulatória e expressiva foram notados entre aqueles que não estudaram um idioma clássico, e se revelaram na gradual tensência para o mutismo, o isolamento e um ensimesmamento que, no dizer dos psicólogos britânicos, ia levando, nos casos extremos, a uma alalia voluntária.
Eis alguns pontos principais que permitem advogar eloquentemente o ensino do latim e da cultura latina. Reconheceu-se que, sem o seu estudo, se tornará incompreensível o sentido da nossa civilização, a sua história e as instituições que nos regem, as normas jurídicas que comandam a nossa existência, a Arquitectura, a Arte, a Iconografia, a Religião, a Literatura de todos os séculos e de todos os tempos. Renunciar ao Latim seria voltar ao obscurantismo. (…)”
(in Actas do Colóquio sobre o Ensino do Latim, ed. Faculdade de Letras, Coimbra, 1973, pp 351-353)
Termina aqui os considerandos justificativos da reinclusão do Latim preconizados Pelo Dr. Luís de Sousa Rebelo, em 1973, reinserção que a BBC News renova passados 37 anos.
Dos meus tempos de Liceu conservo ainda estas preciosas
referências:
"Do Latim ao Português e a Língua como Expressão Literária. Noções elementares de acordo ccom o programa do 2.º ciclo dos Liceus."
J. Nunes de Figueiredo, Prof. Metodólogo do Liceu Normal de Coimbra, e
A. Gomes Ferreira, Prof. Metodólogo do Liceu Normal de Lisboa
Porto Editora, s. data
"Fábulas de Fedro. Tradução literal"
I Parte - Para uso dos alunos da 3.ª classe do curso dos liceus.
II Parte - Divisão e classificação das orações e das palavras para uso dos alunos da 4.ª e 5.ª classes do curso dos liceus conforme os programas em vigor.
O autor identifica-se apenas por E.X.
Livraria Enciclopédia
Lisboa, 1928
"Fábulas de Fedro" (5.ª classe, 10.ª edição)
Anotadas por F.A. Xavier Rodrigues, Prof. do Liceu de Passos Manuel
Ed. Centro Tipográfico Colonial
Lisboa, 1936
A propósito do Dr. Luís de Sousa Rebelo apreciar o estudo do latim pelos ingleses, apesar do inglês não constituir uma língua românica, há quem considere que O latim influenciou a língua inglesa, e quem defina quais:
«As áreas de conhecimento mais afectadas foram as de organização social e política. Exemplo disso pode ser visto nas palavras:
GOVERNO: attorney, authority, crown, empire, govern, minister, nation, parliament, prince, revenue, state, tax.
DIREITO: accuse, adultery, court, crime, defendant, judge, jury, justice, legal, plaintiff, prison, property.
MILITAR: arms, army, artillery, battle, captain, company, defend, enemy, officer, peace, navy, sergeant, soldier.
RELIGIÃO: angel, baptism, clergy, miracle, prayer, saint, salvation, sermon, service, temptation, trinity, virgin.
SOCIEDADE: art, bracelet, charity, couple, dance, fashion, fur, jewel, marriage, romance, society, vacation.
CULINÁRIA: beef, boil, broil, butcher, dine, fry, mutton, pork, poultry, roast, salmon, stew, veal.», além de outros considerandos.
Gostaria de acrescentar que já pude observar como ingleses, alemães ou austríacos compreendem algumas palavras /frases de português, apenas pelo conhecimento de raízes latinas!
Ou não fosse o português... originário do latim! Que grande poder de observação! JCN
Sacha Guitry escreveu, num artigo subordinado ao título "A vida dos vocábulos", e a este propósito:
"A maior parte das vezes, a mãe é latina, e não raro, o pai é inglês ou francês"
Quem quiser ler o artigo pode fazê-lo na rubrica "Crónica da Semana", com que abre a Ilustração Portuguesa, de 25.03.1922.
No fundo, caro Dr. João Boaventura, tudo é indo-europeu. JCN
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