sábado, 28 de fevereiro de 2009
A VIDA A ANDAR PARA TRÁS?
Minha crónica no "Sol" de hoje:
O filme “O Estranho Caso de Benjamin Button”, baseado num conto de Scott Fitzgerald, que acaba de ganhar três óscares da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (melhor caracterização, melhores efeitos visuais e melhor direcção artística), mostra a vida de Benjamin Button a andar para trás. O personagem, interpretado por Brad Pitt, nasce velho e morre novo. Em vez de lhe aparecerem rugas desaparecem-lhe as rugas. Será isso possível na vida real? Será possível que a vida ande para trás?
A resposta a esta pergunta é “não” e é por isso que foram necessárias boas caracterizações, bons efeitos visuais e boa direcção artística. A lei da física que impede o rejuvenescimento natural é a Segunda Lei da Termodinâmica, cujo desconhecimento foi equiparado por Charles P. Snow há cinquenta anos (a sua conferência sobre “as duas culturas” foi proferida em Cambridge a 7 de Maio de 1959) ao desconhecimento da obra de Shakespeare. Essa famosa lei afirma a irreversibilidade dos processos naturais. Quer dizer, em todos os fenómenos reais – e não apenas nos fenómenos da vida – não se pode andar para trás. Tudo acontece do modo a respeitar a seta do tempo, caminhando do passado para o futuro e não no sentido contrário. O filme da vida de uma pessoa, mostrando a evolução dela ao longo do tempo, resultará, de facto, muito estranho se for corrido ao contrário. Mas o filme “O Estranho Caso de Benjamin Button”, se for corrido ao contrário, já mostrará uma evolução plausível de Button, embora implausível dos outros.
Os físicos criaram uma grandeza para distinguir o passado do futuro. Essa grandeza, a que chamaram “entropia”, é uma medida da desordem. De acordo com a Segunda Lei, a entropia cresce necessariamente nos sistemas isolados: a desordem é maior no futuro do que no passado. Trata-se, contudo, de uma lei estatística, o que significa que são hipoteticamente possíveis violações pequenas e por pouco tempo dessa lei. A vida de Button a andar para trás não é uma violação admissível, porque é grande e por muito tempo...
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3 comentários:
Professor, não se pode considerar a vida como uma neguentropia?
Maria C., não sei que resposta o Professor dará nem quero substituí-lo, para isso falta-me conhecimento, mas já tenho pensado muitas vezes nessa questão, praticamente desde que dei no Técnico a 2.ª Lei da Termodinâmica. Na verdade a vida não poderá ser considerada uma neguentropia (mas a palavra tem graça), simplesmente porque não existe, nem pode existir, num sistema isolado sem que a sua diminuição (temporária) da entropia não seja compensada por um aumento de entropia no seu ambiente. Se a vida fosse uma neguentropia, porque não considerar um edifício ou uma obre de arte uma neguentropia, já que vão do mais provável e mais caótico para o menos provável e menos caótico. Claro que é com a ajuda dos seus construtores ou criadores, mas a vida também recorre ao exterior (alimentação, aporte de energia) para poder existir.
Duvidoso esse parágrafo final, por demasiado simplista e erróneo.
Há mesmo muito a dizer sobre o conceito de entropia, em especial se o modelo actual da física das partículas for incorrecto, como parece ser o mais provável.
Por outro lado, a matéria organiza-se espontaneamente, caso contrário o Universo nunca poderia existir da forma como o observamos.
Essa organização será a tal neguentropia de que fala o 1º comentário e ela é uma propriedade intrínseca da matéria que NÃO pode ser simplesmente explicada recorrendo à 2ª lei da termodinâmica. Isto não significa necessariamente que esta esteja errada, mas sim que o nosso conhecimento da natureza material é ainda muito incompleto e incorrecto.
Por fim, existe já um conceito matemático que permite medir esta capacidade de auto-organização ou "inteligência natural" da matéria, que corresponde ao simétrico da derivada da entropia de um sistema ou, inversamente, à velocidade de variação da neguentropia.
Mas isto só faz mesmo sentido se admitirmos, como digo acima, que o edifício actual da Física está errado num ponto muito fundamental. Há algo simplicíssimo referente às partículas que ainda não compreendemos: o seu tempo de semi-vida, a matéria NÃO é eterna! E isto faz toda a diferença e, no entanto, é um autêntico ovo de Colombo que irá revolucionar toda a ciência.
Logo, um novo paradigma nos espera, aquele onde a inteligência é inseparável das outras propriedades físicas do universo, porque é ela a responsável pelo aumento espontâneo da ordem que conduz à vida, a máxima improbabilidade tornada possível!
Já agora, e desenvolvendo um pouco mais este raciocínio, o físico Schrödinger, no seu livro "What is life?", considera o conceito termodinâmico da "desordem a partir da ordem" em paralelo com o princípio evolutivo da natureza "ordem a partir da desordem" e ainda o da vida como "ordem a partir da ordem".
Este sim, é o triângulo completo e não apenas a tal seta unívoca do tempo, que não consegue explicar a evolução natural, já que está suportada numa visão incorrecta da matéria.
Para já chega, convém apenas aguçar a curiosidade de quem não se contenta com (pseudo)verdades feitas e regurgitadas, estamos ainda TÃO longe de começar a entender o que tudo isto é!!!
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