terça-feira, 6 de maio de 2008
Ramalho Ortigão e a educação integral dos jovens
Mais um post de Rui Baptista:
“Mens sana in corpore sano” (Juvenal, Sátiras).
Uma vez mais, debruço-me sobre “As Farpas” publicadas com o objectivo definido por Eça de Queiroz: “No estado em que se encontra o país, os homens inteligentes que têm em si a consciência da revolução – não devem instruí-lo, nem doutriná-lo, nem discutir com ele – devem farpeá-lo”. Esta vasta obra literária, de leitura obrigatória, descreve situações semelhantes às do actual contexto da vida portuguesa. Desta feita, focalizo a minha atenção, tão-só, em Ramalho Ortigão, nas palavras de João Maia, “saudável de corpo e alma”.
A Ramalhal figura, membro da Academia das Ciências de Lisboa, em censura acerba aos políticos do seu tempo, dizia que “não eram homens de ciência, nem sequer homens do mundo, por não terem princípios nem ideias gerais”, justificando a sua opinião de forma corrosiva: “Pela sua cultura de espírito estão abaixo do mais corriqueiro leitor da ‘Revista dos Dois Mundos’ e do ‘Dicionário de Laroussse’. Como cultura física, indigência igual à da cultura mental. Se falando metem os pés pelas mãos, calados metem os dedos pelo nariz. Não têm ‘toillete’, não têm maneiras, e têm caspa”.
Mas não se pense que a exprobação que faz a esta indigência sobre a cultura física se quedou por fortuita intervenção. Nada disso! Ramalho foi a personagem do panorama literário português que mais e mais vigorosas páginas dedicou às práticas físicas da juventude. Como prova inicial, este pequeno naco de prosa, indiciador de uma defesa estrénua das actividades corporais: “Em Portugal, país de magricelas, de derreados, de espinhelas caídas, nada mais importante do que a educação física… e a ginástica não é uma questão de circo nem de barraca de feira, é uma alta e grave questão de educação nacional”.
Corria o ano de 1871. Ramalho, em apelo quase patético, desiludido com a ausência de medidas dos políticos em favor de uma educação integral dos jovens (ele mesmo o diz, “não nos dirigimos aos políticos”), pede, ou exige mesmo, uma tomada de posição por parte dos pais em defesa da formação completa dos filhos:
“Leitor! Leitora! – falemos dos vossos filhos.
Eles e elas são pálidos, têm as gengivas esbranquiçadas, os dentes baços, as pestanas longas, as pálpebras oftálmicas, os cantos da boca levemente feridos, o sorriso triste, os movimentos indecisos e fracos, o olhar quebrado.
Precisam de tomar banhos frios, de comer carne ao almoço, de beber uma colher de óleo de fígado de bacalhau todos os dias, de fazer ginástica e de que se lhes corte o cabelo.
Pelo que respeita ao corpo, se vêm de um ‘bom colégio’, sabem de ginástica o suficiente para fazer dele um mau arlequim, mas nunca empregaram a sua força nos exercícios verdadeiramente úteis a um homem. Não estão habituados à fadiga das marchas, não sabem defender-se se os esbofeteiam, não sabem nadar [na Roma Antiga, em apodo aos ignorantes, dizia-se “neque natare, neque litteras”, ou seja não sabe nadar, nem sabe ler ], desconhecem os princípios mais elementares da higiene.
Nós mesmos já fomos educados assim. Vede o que estamos sendo! Vede os homens que deitámos. Vede o país que fizemos e a sociedade que construímos!
Possam os nossos filhos reclamar a felicidade a que seus pais não têm direito, apresentando-se ao futuro com merecimentos que nós não podemos invocar! Suspensão de veemências e de ironias! Trata-se da infância. Não nos dirigimos aos políticos. Conversamos honrada sinceramente contigo, leitor amigo, leitora honesta.
Pesa sobre vós uma responsabilidade tremenda. No estado em que se acha a sociedade portuguesa, a família é um duplo refúgio – do coração e do espírito. A família é dos pouquíssimos meios pelos quais ainda é lícito em Portugal a um homem honrado influir para o bem no destino do seu século. Querido leitor! O modo mais eficaz de seres útil à tua pátria é educares o teu filho. Consagra-te a ele”.
São passados quase dois séculos e meio. Mudou algo relativamente a esse tempo?
A sociedade hodierna é cada vez mais hipocinética: segundo o académico Alexander Berg, “a força muscular do homem e dos animais domésticos apenas produz 1% de toda a energia produzida e consumida na terra, quando, em meados do século XIX, era de 94%”. Os jogos tradicionais que povoaram e alegravam a infância de há décadas atrás – v.g., “a macaca” e “a cabra-cega” – estão votados ao abandono e ao esquecimento. As casas passaram a ser cubículos, sem jardins ou quintais, em que mal cabem as mobílias. O jovem que corre para o autocarro num percurso pequeno resfolega deitando os bofes pela boca. A obesidade, verdadeira pandemia que tomou conta de um número assustador de crianças e adolescentes, éo prenúncio de doenças cardiovasculares, de patologias deformativas dos ossos que rangem ao peso das “banhas”, de diabetes na idade adulta, etc., etc.
Face a este desolador panorama, os tempos deviam ser outros relativamente a um passado virado para a sebenta e para os compêndios desprezando a prática dos exercícios físicos na escola. Mas se, por um lado, evoluímos quanto à aceitação da prática dos exercícios corporais, por outro lado estamos pior por a mocidade viver atolada num sedentarismo cada vez maior com as horas de lazer passadas ao computador, a olhar para a televisão ou, até mesmo, para as moscas.
Acresce que, nos tempos que correm, para prover às necessidades da família, com o marido e a mulher empregados, escasseia o tempo dedicado aos filhos. Por todos estes e outros condicionalismos, o apelo de Ramalho mantém actualidade: “O modo mais eficaz de seres útil à tua pátria é educares o teu filho. Consagra-te a ele”.
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22 comentários:
Não percebi nada deste post!
Então não se têm batido todos os records desportivos, não há muitos mais ginásios e pessoas a praticar desporto, e as pessoas não andam preocupadas com a imagem e os músculos?
Eu farto-me de ver pessoas que nitidamente frequentam o ginásio.
Como é que se pode comparar os 1% do sec XIX com os de agora se na altura não havia centrais nucleares, carros, aviões, etc, etc?! Havia uns comboiozecos a vapor e umas maquinetas, mais nada!
Que comparação ridícula!
Não te preocupes com os putos, preocupa-te é em encontrar estatísticas que mostrem que estamos assim tão mal, eu não acredito, eu acho que os putos são fixes e jogam tanto à bola como se jogava, não é só computador.
Toma lá uma notícia a dizer que os putos em frança estão a bater todos os recordes de número de adolescentes na pesca à cana:
http://www.timesonline.co.uk/tol/news/world/europe/article3517063.ece
According to the federation, 159,000 adolescents took out a junior licence last year compared with 100,000 in 2006.
Enthusiasm was even more marked among the under-12s, with the number of licence-holders doubling to 200,000 over the past 12 months. The total number of adult anglers in France is 1.6 million —- 5 per cent more than in 2006.
Se não conhece as estatísticas que apontam para aumentos sem precedentes da obesidade, então não admira que não tenha entendido o post.
É verdade que a comparação da percentagem de energia é ridícula, mas isso não torna a observação menos verdadeira. Os health centers pululam em todo o lado, mas a verdade é que servem apra cada vez menos. As crianças, que eu saiba, não frequentam ginásios. Esses são frequentados por adultos e, mesmo entre esses, apenas por aqueles de classes mais abastadas (custa dinheiro, a quotização num). O que falta às crianças e aos jovens são as actividades típicas da idade, não é só o futebol, mas as correrias por todo o lado, as voltas de bicicleta, os trambolhões, o rebolar pelo chão, etc.
E mesmo pelo futebol, é óbvio que se joga muito menos que no passado. Na minha infância e adolescência, jogava (eu e os outros miúdos da mesma idade) à bola em todos os intervalos da escola, além dos jogos mais a sério. Também jogava na rua com os vizinhos e na praia com quem quer que andasse por ali. A única coisa que se vê mais é o desporto organizado. O desporto, ou melhor, a actividade física espontânea parece reduzida aos jogos de consolas e à internet.
Isto talvez seja difícil de fazer compreender, mas um ginásio não dá, na realidade, o tipo de actividade física a que o corpo humano se habituou a precisar ao longo da sua evolução. Um corpo humano não deveria ter os abdominais que admiramos. Um corpo humano deve ter uma determinada quantidade de gordura, porque é assim que evoluiu (consequência de precisar de reservas para alturas em que não tibesse alimento). Um corpo humano precisa de actividade física, é certo, mas é de movimentos totais, não para músculos individuais, como se exercitam nos ginásios. Basta colocar um "ginasista" contra um desportista real para ver a diferença (mesmo em desportos em que nenhum dos dois esteja à vontade).
Pesca à cana? Pelamordedeus, estamos a gozar ou quê?
jmsandre, a pesca à cana foi um exemplo para mostrar que os putos se interessam por mais coisas do que computadores e não para dar um exemplo de um desporto onde se queimam muitas calorias, pareceu-me que fui claro.
Claro que eu sei dos problemas de obesidade, é evidente.
O que eu quis dizer é que nunca houve tanta fartura de infrastuturas desportivas, informação sobre os benefícios do desporto, etc, e que há muitas mais pessoas metidas nisso, parece-me evidente.
Os putos ainda jogam à bola, se calhar até mais, e têm mais sítios para o fazer, não me digas que não, hoje em dia em qualquer terrinha há um campo.
Se há muitos obesos não é por falta de informação sobre comidas e actividades, nem se compara com há 50 anos.
Claro que também há menos actividade física, podiamos proibir os tractores e regressar à enchada e à seitoura, proibir os carros e regressar aos cavalos e aos burros, proibir elevadores, etc, e assim vocês ficavam muito contentes, não era? Além disso acabava-se com outros problemas como pulmões poluidos e stress's.
Se há obesos, não é por falta de informação.
Tem que se proibir os chocolates e bolos e voltar ao tempo da sardinha para 4, imagino que isso tenha algum efeito.
Para já, apenas, um pequeno-grande esclarecimento a "la": Berg não diz que a força muscular desenvolvida pelos homens e animais domésticos, em meados do século XIX (por exemplo, bois e cavalos) era de 1%.Diz precisamente o contrário, era de 94%. Hoje é que é de 1%. Partir desta permissa errada devirtua por completoa intenção do meu post que "jmsandre" bem compreendeu e complementou até com os jogos de futebol com bolas de trapos. Por agora é tudo.
Sim, Rui, eu percebi, enganei-me quando escrevi, mas dá para perceber o que eu quis dizer, acho eu.
Esqueci-me de dizer uma coisa: os banhos frios, de que o Eça e o Ramalho eram apologistas, são hoje em dia considerados maus para a saúde (não me apetece estar a procurar os links mas já li isso em qualquer lado).
O Eça, e o outro, também erravam, são como os outros, não são intocáveis. Se calhar a culpa não era deles, não sei em que estudos eles se basearam.
Já agora, além do futebol, os putos praticam e inventam desportos que há 30 anos não existiam, como os muitos desportos radicais, rafting, parapente, snowboarding, etc, etc.
Os problemas da obesidade não são assim tão simplórios como parece, é o que eu acho.
Não leves a mal eu dizer que a tua comparação é ridícula, é ridícula mas eu devia ter usado uma palavra mais simpática, já sei, mas às vezes falha-me a coisa.
Os putos hoje em dia jogam mais à bola que antigamente? Estou para saber onde. Nos campos é certo. Mas na rua nem por isso.
É muito bonito ficarmos deslumbrados pelas imagens que hoje em dia por aí correm dos miúdos que vão para a praia praticar bodyboard ou os que andam pelos campos de futebol. Infelizmente estes são uma minoria. O que sucede é que os youtubes e os telemóveis com câmara dão a ideia de ser constante. Seja como for, mesmo os que praticam esses desportos, apenas o fazem de tempos a tempos. Longe vão os tempos em que os miúdos tinham actividades físicas todos os dias (não falo de desporto, falo de actividade física, que são coisas bem diferentes) e não apenas aos dias de semana em que tinham a hora e meia de treino.
A obesidade foi um exemplo simples. Claro que há muito mais nesta história que a simples falta de actividade física, mas serve de exemplo claro.
jmsandre, há menos actividade física e mais actividade intelectual, há uns estudos que dizem que o valor médio do QI tem evoluido ao longo dos anos, e isso talvez se deva a mais tempo no computador e menos a jogar ao pião.
E afinal, o que é que importa mais, ser mais inteligente e mais gordo, ou burro e magro?
A resposta é simples: inteligente e gordo, porque um gaijo pode sempre abater uns quilos a fazer umas corridas ou uns desportos radicais.
Temos que ver os aspectos positivos da coisa, porque não será fácil impor às pessoas o estilo de vida de há 50 anos e proibi-las de ver tv e ler blogues.
Uma gralha resolveu ousar sobre o meu comentário a "la": "permissa". Como é óbvio, houve uma troca de letras entre o "e" e o "r". A "la", as minhas desculpas extensivas a quem me possa ter lido.
Já é preciso azar. Outra gralha: as gralhas não ousam, pousam.
E esqueci-me de dizer que apesar do tal gravíssimo problema da obesidade, a esperança de vida tem aumentado sempre, por isso nós temos é que nos convencer que estamos melhor agora, mais inteligentes, mais estimulados, mais duradouros, e também mais rechounchudos, chamemos-lhe assim.
Espero ter-vos convencido que eu é que tenho razão e que este artigo foi um artigo que é desnecessário.
Estas coisas que os velhos têm de que antigamente é que era bom dá sempre nisto...
Caro Rui Baptista, embora discorde de mais pontos do post apenas quero realizar uma pequena mas muito pertinente correcção à seguinte passagem: "A obesidade, ..., é o prenúncio de doenças cardiovasculares, de patologias deformativas dos ossos que rangem ao peso das “banhas”, de diabetes na idade adulta". A diabetes (tipo II) não é da idade adulta!Facto este, prova viva da situação alarmante em que nos encontramos actualmente: "One of the most alarming consequences of the diabetes epidemic is the appearance of Type 2 diabetes in children and adolescents. Until a decade or so ago, Type 2 diabetes was regarded as a disease of the middle aged and elderly" (Ganz, M., Prevention of type 2 diabetes, 2005. Ed. John Wiley & Sons, pag. 9)
Caro Filipe: Obrigado pelo seu comentário. Mas, em boa verdade, devo-lhe este esclarecimento: a diabetes tipo II tem uma grande relação com a obesidade e o sedentarismo (para além de uma elevada predisposição hereditária), embora, excepcionalmente, possa aparecer em indivíduos magros (a obesidade sendo uma causa predisponente não é condição "sine qua non"). Ora a obesidade e o correlacionado sedentarismo devem ser combatidos em idades jovens. O facto de aparecer em crianças e adolescentes, de há uma década para cá, torna-a deveras insidiosa e preocupante, como refere o seu comentário. Resumindo, a diabetes do tipo II deixou de ser uma doença exclusiva da meia idade, como até aqui.
Quanto a discordar de outros pontos do meu post, aceito de boa mente. Como deixou escrito Ortega y Gasset: "O que é a verdade? Do ponto de vista da verdadeira cultura, não é o mais importante de decidir; Cultura é, frente ao dogma, discussão permanente".
O meu post não assumiu, de forma alguma, uma postura dogmática. Aliás, seria estultícia da minha parte. Todavia, congratulo-me com a "discussão" que tem gerado. Gostaria que dissesse em que outros pontos não concorda para que os possa abordar num outro post que espero escrever para esclarecer e ampliar pontos de vista por mim abordados neste.E para os rectificar até, sempre que se imponha.
Já agora, a inteligência média pode ter vindo a aumentar, mas o QI médio nem por isso. O QI é uma escala em que 100 é sempre o seu valor médio, sendo representativo da inteligência média da população mundial. Aquilo que se pode dizer é que alguém com valor de QI 100 hoje será mais inteligente do que com QI 100 há um século.
Quato às razões para isto, duvido muito que tenham a ver com os computadores. A inteligência é devida essencialmente a aspectos mais biológicos que cognitivos (a agilidade mental é outra coisa, embora tenha reflexos no QI). Os computadores terão influência, mas esta reflectir-se-à mais no futuro que no presente, uma vez que os computadores apenas começaram a fazer parte da vida das populações desenvolvidas em meados dos anos 80. Já a inteligência, tem vindo a aumentar pelo simples facto de ser uma característica favorecida pela espécie humana, pelo que se terá tornado uma característica dominante na nossa evolução, sendo preferida na transmissão de genes.
Caro Rui,
Embora procurasse esclarecer e não ser esclarecido agradeço a sua atenção e parabenizo-o pela temática abordada.
Aprecio bastante a vontade demonstrada por continuar a abordagem do tema e gostaria que lançasse ao repto à discussão do "nosso modelo de desenvolvimento" (Isabel do Carmo in http://static.publico.clix.pt/pesoemedida/noticia.aspx?id=1323544&idCanal=1602" e as consequentes alterações no estilo de vida.
O "tranfer" que procurou realizar das sábias palavras de Ramalho, pouco impacto terão numa sociedade actual :
A) inundada por alimentos hipercalóricos de alta densidade energética e baixa densidade nutricinal!, por publicidade agressiva ao seu consumo, escassez de alternativas e principalmente dirigida aos mais jovens!
B)O incontornável "faça mais em menos tempo, porque efectivamente time is money", que como bem refere no seu post afecta os pais e consequentemente os filhos!
C)A "crise de valores" que faz com que o estigma causado pela obesidade seja semelhante ao de uma criança portadora de cancro!
No fundo as patologias, que bem associou ao hipocenetismo actual, são consequência do nosso "desenvolvimento". Devemos parar para pensar e reflectir numa perspectiva "wide open" e não apenas na vertente hipocinética da sociedade (sem querer desprezar o seu papel fulcral na problemática).
Continue o bom trabalho caro Rui
Caro Filipe: É sempre com prazer que respondo aos comentários. Esse prazer muito aumenta quando os comentários são feitos da forma construtiva como fez o seu e a forma elegante com que apresentou as suas razões, e a que tentarei responder num próximo post. Um abraço.
Caro Filipe: Vem hoje publicado, no "Diário as Beiras", o seguinte alerta, do Prof. Polybio Serra e Silva, catedrático de Medicina e presidente da Delegação Centro da Fundação Portuguesa de Cardiologia: "Temos que lutar cada vez mais contra a obesidade. Uma criança obesa é quase um adulto obeso, e um adulto obeso é quase um diabético".
Claro está que a obesidade está, muitas das vezes, relacionada, também, com distúribios alimentares e com uma carga genética muito grande. Quanto à carga genética nada a fazer: os pais não se escolhem antes de vir ao mundo! Ficam-nos as armas do exercício físico continuado e bem orientado, e uma alimentação equilibrada. Lutemos pois, com as armas que temos à mão! Um abraço.
Há outras coisas com que estão muito mal neste artigo, como o comentário sobre as casas. Basta ver que antes do 25 de Abril havia montes de aldeias que não tinham saneamento e a grande parte das pessoas não tinham quarto de banho nem aquecimentos, as casas eram uns casebres onde em alguns se misturavam pessoas com animais.
Se tu achas que as casas de hoje em dia são piores...
Rui, não sei se reparaste mas o mundo está cada vez melhor para nós, muito melhor, apesar de todos os problemas e todos os alaridos sobre alguns problemas, não compares o mundo de há 50 anos com o de agora. É ridículo! Não sejas demagógico.
Caro “la”: Obrigado pelo seu comentário, embora eu me preocupe por as minhas mensagens nem sempre serem devidamente compreendidas por si. “Mea culpa”?
Vejamos:
Escrevi no meu post: “As casas de hoje passaram a ser cubículos, sem jardins ou quintais, em que mal cabem as mobílias nos andares”.
Da sua lavra: “Há outras coisas com que estão muito mal neste artigo, como o comentário sobre as casas. Basta ver que antes do 25 de Abril havia montes de aldeias que não tinham saneamento e a grande parte das pessoas não tinham quarto de banho nem aquecimentos, as casas eram uns casebres onde em alguns se misturavam pessoas com animais”.
Assim, eu mais não fiz (ou quis fazer) que definir uma situação em termos espaciais relativamente às casas de hoje, relativamente às casas de ontem mais espaçosas: maior número de divisões, tectos mais altos, etc. O meu amigo entrou por um caminho de natureza sociológica e política relativamente a tempos anteriores e posteriores a 25 de Abril.
Pela complexidade do tema, e limitado por questões de número de caracteres suportados por um post quis unicamente chamar a atenção para o facto de as crianças terem pouco espaço actualmente para se movimentar (ou melhor, brincarem) em divisões pequenas. Nunca, por nunca ser, foi minha intenção pôr em causa os avanços havidos nestas décadas na melhoria habitacional do país. Mas, infelizmente, não foi um avanço que acabasse com os bairros de lata que pululam ainda pelas principais urbes portuguesas, nomeadamente Lisboa.
Comparar casas pequenas com casebres onde se misturavam pessoas com animais, não me parece fazer grande nexo. Nem essa poderia ter sido a minha intenção. No particular do combate ao sedentarismo, que assola a sociedade hodierna, esses casebres cumpriam melhor a sua função. Enquanto os andares de hoje (com aquecimentos – os que o têm - , água canalizada, etc.) estão rodeados pelas ruas com a poluição dos automóveis e os perigos de atropelamento nas próprias passadeiras, os tais “casebres” de que fala estavam rodeados de espaços livres em que as crianças podiam correr, subir às árvores, etc. Hoje as casas dos chamados “bairros da lata” estão construídas em vielas estreitíssimas e tortuosas, verdadeiros “guetos “, asfixiados pelo mundo de betão que os rodeia. Ou seja, as crianças citadinas da nossa sociedade estão sujeitas a um sedentarismo de que é difícil sair e que, apesar, das miríficas conquistas civilizacionais a tornam prisioneira de doenças que traz consigo.
Claro que eu sei que não quiseste dizer isso, é evidente.
Eu só estou a dizer que a evolução e o novo estilo de vida não se pode comparar ao antigo.
Qualquer dia vais chorar e dizer que agora as pessoas vêem mal e têm a vista estragada porque lêem muito e que antigamente isso não acontecia!
Estou a exegerar, a brincar, só quero dizer que dentro do mal e do bem que temos agora, parece-me estarmos muito melhores, e que se já não há cabra-cega, há outras coisas.
Talvez no futuro estejamos melhor ainda, com mais riqueza e com casas que voltam a ter todas jardins, ou todas com ginásios e piscinas, acredito nisso.
Se hoje somos gordos, há 50 anos havia muitos que não tinham sapatos.
Claro que seria bom que se resolvesse o problema da gordura, acredito que isso ainda vai acontecer, eu estou a tratar da minha, ainda agora fui dar uma corridinha.
Procurando complementar a seguinte passagem de JMSANdre - "Na minha infância e adolescência, jogava (eu e os outros miúdos da mesma idade) à bola em todos os intervalos da escola, além dos jogos mais a sério. Também jogava na rua com os vizinhos e na praia com quem quer que andasse por al" - , remeto o leitor para o seguinte titulo: "Futebol de Rua um beco com saíd"a, de Helder Fonseca e Julio Garganta.
“Com o desaparecimento do futebol de rua, berço da maioria dos grandes futebolistas do passado, a criança, em vez de descobrir o jogo num ambiente favorável como a rua, foi despojada do jardim de infância e submetida, em instalações desportivas, a métodos que não respeitam os seus desejos e expectativas, nem se ajustam à sua capacidade física e mental... Sempre me seduziu o conceito de futebol de rua, a sua originalidade, a sua magia e o seu enorme potencial... Deste livro, espero que o leitor possa retirar tanto proveito como eu”. Horst Wein Nesta obra releva-se a importância do contexto futebol de rua, partindo de entrevistas a Anderson, Carlos Carvalhal, Duarte Araújo, Lucho Gonzalez, Mário Zagallo, Paulo Sousa, Rui Barros, Rui Pacheco, Taí e Vítor Frade. Prefácios de Jorge Valdano, Horst Wein e Paulo Sousa".
Caro Filipe: Obrigado por esta adenda. Que saudade desses jogos de futebol em que as regras eram ditadas por nós próprios: por exemplo, o jogo termina quando uma das equipas marcar três golos!
Estes jogos eram feitos nos intervalos das próprias aulas, muitas vezes, com pedras (ou até as próprias pastas ou livros) a servirem de balizas. Entretanto, as meninas jogavam à macaca, saltavam à corda, etc. Como o desaparecimento dos jogos tradicionais portugueses apareceu (artificialmente) a Psicomotricidade, com os seus exercícios de coordenação óculo-manual (que o jogo da malha ou do berlinde tão bem cumpriam), de coordenação óculo-pedal em que os jogos de futebol (ou peladinhas) satisfaziam plenamente,de percepção espacio-temporal (outra vez o futebol - ou melhor os jogos de futebol- a terem um papel importantíssimo), etc., etc.
Hoje, nas escolas do ensino básico e secundário, de uma forma geral (as generalizações são sempre perigosas) os alunos nos intervalos das aulas correm para os bares a empanturrarem-se com alimentos altamente calóricos.
Com isto, não estou a dizer, de forma alguma, que no que respeita
às actividades gimnodesportivas organizadas, quer nas escolas quer nos clubes não se tenha evoluido. Todavia, os alunos tem o tempo com actividades ditas intelectuais de tal forma ocupado que só uma disciplina muitos grande permite levar para a frente uma educação integral preconizada por Ramalho.
Por vezes, associa-se a prática desportiva a uma menor capacidade cognitiva de quem a pratica. Nada de mais errado. Há excelentes alunos que conciliam ambas. Outros, cábulas até dizer chega não tiram rendimento escolar pelo facto de praticarem desporto, mas sim pela circunstância de não estarem vocacionados para os estudos livrescos. Há estudos que apontam para o efeito benéfico da prática de exercícios físicos no rendimento escolar das crianças. Mas isso será tema de um outro post.
As suas intervenções, caro Filipe, mereciam que lhes desse a atenção que merecem, embora um tanto "à vol d'oiseau" que os comentários justificam. Mais uma vez obrigado.
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